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Vários autores (Bogdan & Biklen, 1994; Lüdke & André, 1986; Triviños, 1987; Yin, 2001) caracterizam e discutem a utilização do método de estudo de caso em ciências sociais e educação, especialmente, dentro da abordagem qualitativa.

Lüdke e André (1986) apontam que um estudo de caso tem clareza quanto aos contornos, nítidos e definidos, do caso que se pretende estudar, afirmando que “quando queremos estudar algo, que tenha valor em si mesmo, devemos escolher o estudo de caso”

(p. 17). Yin (2001) demonstra que a opção por esse método deve ser feita sempre que o pesquisador estiver determinado a responder questões tipo “como” ou “porque” de um fenômeno. Bogdan e Biklen (1994) também demarcam que um estudo de caso se caracteriza pela delimitação do tema e usam a analogia de um “funil” para explicar que, nas pesquisas qualitativas, as perguntas que melhor se adequam nunca são muito específicas. O pesquisador começa pelo campo mais amplo, procurando indivíduos ou localidades que podem vir a se converter em sua temática de estudo e, a partir daí, elencam e recolhem os dados, escolhem aspectos a serem aprofundados e pessoas a serem entrevistadas.

As características fundamentais de um estudo de caso, segundo Lüdke e André (1986) são: (i) objetivar a descoberta – ponderando que o conhecimento não é algo acabado, mas, que se “faz e refaz constantemente” (p. 18); (ii) dar ênfase à interpretação do contexto – visando à compreensão mais completa e complexa do objeto de estudo, considerando sua contextualização; (iii) construir um quadro completo e profundo da realidade – preocupando-se com a “complexidade natural das situações, evidenciando a inter-relação dos seus componentes” (p. 19); (iv) garantir a multiplicidade de fontes de informação –

diversos informantes, situações e momentos; (v) revelar experiência vicária e permitir generalizações naturalísticas – ou seja, possibilidade de substituir o caso estudado pelos casos que outros investigadores pretendem estudar, dando lugar ao conhecimento

“experiencial do sujeito” (p. 19); (vi) representar diferentes e conflitantes modos de ver as situações sociais – dentro da perspectiva de que a realidade depende do ângulo em que é analisada, não existindo uma que seja mais verdadeira; e (vii) gerar relatórios com linguagem mais acessível que os demais relatórios de pesquisa - os relatos apresentam estilo informal e narrativo.

Nesse estudo, percebemos que as características do método de estudo de caso se aplicam, primeiro por que corrobora com Yin (2001) no sentido em que pergunta “como as práticas do NUGEDIS refletem nas construções das representações de gênero das mulheres estudantes do Proeja”? Notadamente também encontramos as características fundamentais especificadas por Lüdke e André (1986), pois se objetivou: a descoberta de uma realidade única (i), com ênfase na interpretação do contexto (IFFar-SB e curso Técnico em Cozinha Proeja) (ii); há aprofundamento do nível em que a situação altera e provoca mudanças (reflexo nas construções de suas representações de gênero) (iii); foram utilizadas diferentes fontes (documentos e literatura, entre outros) (iv); há preocupação de que os dados revelados nesse estudo permitam que as demais unidades do IFFar possam deles se utilizar para complementar e qualificar as ações dos demais núcleos de gênero e diversidade sexual existentes em todos os campus da instituição (v); demonstra os reflexos dessas práticas em representações desses/dessas mulheres, reconhecendo que essa é uma parte da realidade do IFFar-SB (vi); e na forma como os resultados são apresentados, pretende-se que haja amplo entendimento (vii). Os aspectos ponderados sobre o estudo de caso aqui relatados estão mais detalhados a seguir.

Também é necessário pontuar que este estudo converge para com o que Lüdke e André (1986) e Yin (2001) consideram como principais fases de um estudo de caso, quando as separam em três: (I) aberta ou exploratória; (II) sistemática e delimitativa; e (III) analítica.

Os autores também ponderam que não existem contornos nitidamente definidos para cada um desses momentos. Dependendo do pesquisador ou do objeto de estudo essas fases podem se interligar, se sobrepor ou mesmo pode haver um retorno a alguma delas.

2.3.

L

OCAL DE ESTUDO E PARTICIPANTES

Como local do estudo se elegeu IFFar-SB. Essa escolha é uma soma de dois fatores determinantes, primeiro, que como docente do quadro efetivo do IFFar-SB, desde a sua fundação em 2010, há um alinhamento da pesquisadora com o seu projeto educativo, oferecendo uma “educação pública, gratuita e de qualidade” aos seus e às suas estudantes, por isso, havia o desejo de buscar solucionar questões ligadas ao fazer docente e à visão de mundo.

Em segundo lugar, a participação nesse programa de estudos é financiado, em parte, através do Programa Institucional de Incentivo à Qualificação Profissional em Programas Especiais dos Servidores do IFFar (PIIPQE) e, embora não houvesse no edital desse programa8 a obrigatoriedade de realizar a pesquisa no âmbito institucional, parece justo que o investimento da instituição na qualificação profissional de seus servidores e servidoras seja revertido para a própria instituição. Escolher esse local para a realização dessa investigação é também uma forma de contribuir para a qualificação do IFFar.

O IFFar-SB oferece oportunidade de formação para pessoas em diversas fases da vida, bem como em diferentes momentos de sua trajetória formativa. A instituição possui cursos técnicos integrados ao ensino médio, durante o período diurno. Nesses cursos estão matriculados adolescentes de 14 a 17 anos. Para o público adulto são oferecidas formações de nível técnico subsequente, de graduação e pós-graduação, bem como o Curso Técnico em Cozinha Proeja.

Esse último é frequentado, principalmente, por estudantes mulheres. As estudantes são quase sempre mulheres adjetivadas: mães solo, empregadas domésticas, provedoras da família.

Além disso, é preciso pontuar que essa pesquisa também se situa temporalmente, sendo analisadas as ações do NUGEDIS-SB e seu impacto sobre as participantes nos anos 2016, 2017 até julho de 2018. Esse recorte temporal foi necessário para delimitar, tanto o período de existência do núcleo quanto à trajetória das alunas do Proeja no IFFar-SB, bem como a projeção do tempo disponível para a escrita dessa tese.

8 Edital interno do IFFar no 249/2016, disponível em: http://www.iffarroupilha.edu.br/editais/item/1696-edital-n%C2%BA-249-

2016-processo-de-sele%C3%A7%C3%A3o-para-o-programa-institucional-de-incentivo-%C3%A0-qualifica%C3%A7%C3%A3o-profissional-em-programas-especiais-dos-servidores acesso 09/06/2018.