• Nenhum resultado encontrado

Visões de mundo: um panorama das crenças e atitudes dos/das estudantes sobre a diversidade sexual e a identidade de gênero

Considerando que a atividade promovida pelo NUGEDIS “Roda de Conversa “LGBTT+: a Diversidade Importa” alcançou 58,5% dos sujeitos inquiridos, uma das ações com maior adesão de público, é pertinente compreender como os/as estudantes têm compreendido os conceitos debatidos em torno dessa problemática e, como isso, têm ou não sido incorporado em suas vivências.

A análise dos dados obtidos em relação a estas afirmações foi subdividida nos subpontos: 3.4.2.1 Homoafetividade e cotidiano e 3.4.2.2 Identidade de Gênero e cotidiano – foi analisada a assertiva “uma pessoa que nasceu com pênis pode se sentir uma mulher e ser reconhecida como mulher” (as demais assertivas sobre esse tema são analisadas no subponto 3.5 desse capítulo).

3.4.2.1.Homoafetividade e cotidiano

Como já mencionado nesse estudo a homoafetividade tem sido reconhecida como um direito humano fundamental da pessoa, através de diversos tratados internacionais, mesmo que o assunto venha sendo alvo de diversas polêmicas no Brasil, especialmente no que tange à escolarização regular (Reis & Eggert, 2017). Por isso, considera-se pertinente perceber como os/as estudantes do Curso Técnico em Cozinha Proeja do IFFar-SB têm convivido com essas diferenças, dentro e fora do espaço escolar. Aqui é também importante retomar que, 95,2% dos respondentes declararam-se heterossexual, apenas 1 mulher (2,9%) declarou-se bissexual e 1 homem (14,3%) declarou-se homossexual. Apesar de serem minoria nos espaços acadêmicos, a diversidade sexual está presente e é importante que a escola como formadora e vetor de mudança social tanto acolha essa diversidade e, talvez mais importante, incentive a socialização dos grupos minoritários em seu cotidiano, promovendo o respeito à diversidade.

Para análise desse bloco consideraram-se respostas as seguintes assertivas (gráfico 45):

A orientação sexual das outras pessoas não me incomoda;

Já fui preconceituoso com homossexuais; e

Não vejo problemas em trabalhar com pessoas que sejam homossexuais.

Na assertiva “a orientação sexual das outras pessoas não me incomoda” da totalidade dos inquiridos, 61,9% tendem a concordar, 16,7% sentem-se indiferentes a essa questão e

21,4% tendem a discordar dessa assertiva. Entre os homens, 28,6% deles tendem a se sentirem incomodados, 28,6% deles são indiferentes a essa questão e 42,9% não se incomodam. Entre as mulheres, 20,0% tendem a se sentir incomodadas, 14,3% são indiferentes e 65,4% não se incomodam com a orientação sexual de outras pessoas.

Quando indagados se já foram preconceituosos com homossexuais, da totalidade dos sujeitos inquiridos, 61,9% tendem a negar essa afirmação, 19,0% sentem-se indiferentes a questão e 19% tendem a concordar já ter agido com preconceito. Entre os homens, 42,9%

tendem a discordar, 42,9% tendem a concordar enquanto 14,3% sentem-se indiferentes.

Entre as mulheres, 65,7% tendem a discordar, 20,0% sentem-se indiferentes e 14,3%

tendem a concordar já ter perpetrado algum tipo de preconceito com pessoas homossexuais.

Quanto a encarar a orientação sexual como um problema para o trabalho conjunto, da totalidade dos inquiridos, 21,4% encaram a sexualidade dos outros como um problema, 19,0% sentem-se indiferentes, enquanto 59,5% não encaram a sexualidade alheia como um problema para o trabalho em conjunto. Dos homens, 14,3% discordam parcialmente, 14,3% sentem-se indiferentes e 71,4% tendem a concordar com a assertiva. Entre as mulheres, 22,9% percebem a orientação sexual como um problema, 20% sentem-se indiferentes a essa questão e 59,5% tendem a concordar que isso não é um problema para o trabalho em equipe.

Gráfico 45 – Percepção dos inquiridos sobre orientação sexual, por sexo

Fonte: Inquérito aplicado

Ainda, na sociedade brasileira, o problema do preconceito sobre a orientação sexual e as implicações desses preconceitos e discriminações sobre a diversidade sexual, é

persistente, como já apontado anteriormente nesse estudo. Aqui é interessante observar que, entre os homens, uma parte deles não sente problema em trabalhar com orientações sexuais diversas da sua (71,4%) mesmo assim, boa parte deles (42,3%) admite já ter tido algum tipo de preconceito com outras orientações sexuais. Já entre as mulheres, 59,5% não sentem problema em trabalhar com pessoas com orientações diferentes das suas e apenas 14,3% admitem já ter sido preconceituosa.

A impressão que se tem ao analisar esses dados é que os homens não entendem que muitas de suas práticas machistas acabam por ser preconceito, enquanto para as mulheres, o entendimento é mais diverso.

3.4.2.2.Identidade de gênero e cotidiano

Se gênero é um conceito fluido (Veiga & Pedro, 2015), quando se fala de identidade de gênero essa fluidez ainda está em construção e, ao que parece, suas transfigurações são inesgotáveis – visto que, o ser humano e suas particularidades também são incontáveis.

Resumidamente se pode dizer que a identidade de gênero é o modo como cada sujeito adapta-se às estruturas sociais, independentemente do sexo biológico com o qual nasceu.

As pessoas que se identificam com seu sexo biológico e transitam socialmente, a partir dele são chamadas cisgênero, enquanto aquelas que não se reconhecem de acordo com as estruturas socioculturais e politicamente determinadas pelo seu sexo biológico são chamadas transgêneros. Além dessas, ainda existem pessoas que não se identificam nem com as identidades atribuídas ao masculino nem com àquelas atribuídas ao feminino, estudos utilizam termos como “queer”, “andróginas” e até mesmo “transgêneros” para denominá-las (Jesus, 2012).

A identidade de gênero independe tanto do sexo biológico (pênis/vagina) tanto quanto da orientação sexual (hétero/homo/bissexual), assim, uma pessoa que tenha nascido com um pênis pode se sentir uma mulher, ser reconhecida como mulher e ter relacionamentos sexuais e afetivos com mulheres (ou seja, nasceu com um pênis, gosta de mulheres e é, por isso, homoafetiva) (Jesus, 2012).

Apenas recentemente a identificação de gênero diferente daquela com a qual nasceu (biológica) deixou de ser considerada um transtorno, uma doença. Durante muito tempo e, em diversos países do mundo ocidental as pessoas transgênero foram perseguidas e assassinadas, inclusive, pelo estado – e, em muitos países, isso ainda acontece (Hammarberg, 2015).

Assim, como acontece com mulheres, a violência contra pessoas de orientações sexuais diversas da dominante (heterossexual) e de identidades de gênero diferentes da dominante (cisgênero) é extremamente alta, exatamente por terem, como aspecto de sua formação humana, formas diversas de ser/estar no mundo (Reis & Eggert, 2017; Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2019).

Compreender como os/as estudantes do curso Proeja percebem conceitos sobre a identidade de gênero (visto que, no ambiente escolar que frequentavam no período desse estudo, não havia entre eles nenhuma pessoa transgênero) é importante para perceber como as atividades realizadas pelo NUGEDIS-SB têm contribuído com suas formações para a cidadania.

Para análise desse subponto considerou-se a resposta da seguinte assertiva (gráfico 46):

Gráfico 46 – Percepção dos inquiridos quanto à identidade de gênero, por sexo

Fonte: Inquérito aplicado

Uma pessoa que nasceu com pênis pode se sentir uma mulher e ser reconhecida como mulher?

Essa pergunta é importante porque hoje, em diversas instâncias do âmbito legal, isso já é uma realidade (Martins & Angelin, 2017), porém, além dos marcos dos direitos civis, é necessário perceber como isso vem sendo aceito (ou não) cultural e politicamente, a fim de prevenir a discriminação contra essas pessoas (Reis & Eggert, 2017).

Quanto a essa assertiva, da totalidade dos sujeitos, 23,8% tendem a discordar, 21,4%

são indiferentes e 54,8% tendem a concordar. Entre os homens, 42,9% tendem a concordar, 28,6% são indiferentes e 28,6% tendem a concordar. Entre as mulheres, 20,0%

tendem a discordar da assertiva, 20,0% são indiferentes e 60,0% tendem a concordar com a afirmação.

Não é surpresa que os homens sejam mais resistentes a aceitar essas diferenças,

“masculinidade frágil” e “masculinidades em crise” têm sido termos utilizados em estudos que investigam a resistência dos homens (que vivenciam a heteronormatividade) em aceitar e conviver com orientações sexuais e outras expressões de gênero (Bonácio, 2012;

Paiva, 2016).

Embora as relações de cultura e historicidade sejam complexas, pode-se afirmar que as estruturas heteronormativas são ameaçadas pelos movimentos feministas, no sentido que, atualmente, as mulheres vêm buscando e ocupando cada vez mais espaços antigamente reservados aos homens, brancos e heterossexuais. As mulheres têm se levantado, e se destacado – é importante lembrar que o movimento feminista e a globalização, de certa forma, têm imposto a visibilidade das conquistas femininas – em diversas áeras, por isso nascem expectativas sobre seus papéis políticos e sociais protagonistas, pois elas estão se infiltrando “nos sistemas simbólicos masculinos num momento em que estes são destrutivos em relação à vida humana, à paz entre as nações e à sociedade organizada” (J.

S. Almeida, 2011).