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5.6.1 Considerações Gerais

A escolha de alguns conflitos para ilustrar este trabalho buscou abranger diferentes tipos de problemas ambientais, como poluição dos recursos hídricos; desmatamentos; averbação de reserva florestal legal e reposição de vegetação; queimada urbana; poluição sonora; poluição industrial e impactos causados pela implantação de novos empreendimentos necessários ao desenvolvimento econômico e social.

Além disso, procurou-se demonstrar diferentes aspectos dos conflitos ambientais e as formas de utilização dos instrumentos legais existentes, como o Inquérito Civil e o Termo de Ajustamento de Conduta, para equacioná-los.

Como os Promotores de Justiça têm autonomia e independência para exercerem suas funções, a resolução de conflitos ambientais, em cada comarca, fica extremamente dependente do perfil e do comprometimento dos mesmos com as questões ambientais. A apresentação desses breves estudos de caso não representa a análise detalhada dos mesmos, mas objetiva ilustrar algumas alternativas para a resolução de conflitos ambientais, bem como os resultados que vêm sendo obtidos, no sentido de demonstrar a viabilidade da estratégia de atuação do Promotor de Justiça do Meio Ambiente da Comarca de São Carlos – SP, por meio de construção de consenso, realizando negociações no desenvolver do Inquérito Civil, resultando na assinatura de Termos de Ajustamento de Conduta, além de apresentar, também, algumas dificuldades e soluções encontradas.

5.6.2 Desmatamento, Averbação de Reserva Florestal Legal e Reposição de Vegetação O conflito ambiental caracterizado por desmatamento e ausência de averbação de reserva legal florestal  que contribuiu de forma significativa para a degradação das propriedades rurais  é bastante significativo na Comarca de São Carlos – SP. A obrigação da averbação da reserva florestal legal tem o objetivo de garantir nos Estados da Região Sudeste, a manutenção de vegetação florestal nativa em 20% da área total das propriedades rurais.

Desde 2001, no escopo do Planejamento Estratégico da Promotoria de Justiça do Meio Ambiente da comarca, uma das prioridades foi e ainda é, a manutenção dos maciços florestais existentes e a recuperação de áreas para garantir a averbação da reserva florestal legal. O trabalho objetiva resgatar parte da vegetação original da região constituída de cerrado e Mata Atlântica, criar corredores de fauna, criar e manter condições para a biodiversidade e auxiliar na proteção e manutenção de recursos hídricos.

A estratégia adotada compreende a averbação da reserva florestal legal das propriedades rurais da comarca e a recuperação da vegetação, havendo a possibilidade de compra de áreas com vegetação, em outras propriedades, desde que na mesma micro-bacia hidrográfica para compor a reserva florestal legal das propriedades totalmente

degradadas em função da anterior exploração econômica. A recuperação ambiental ocorre também em APP.

Todo o trabalho relativo à manutenção e recuperação da vegetação natural, definido no planejamento estratégico como prioritário, é realizado em conjunto com o DEPRN, que realiza o apoio ténico ao Ministério Público.

De uma forma geral, conforme levantamento realizado nos Inquéritos Civís instaurados na Promotoria de Justiça do Meio Ambiente da Comarca de São Carlos – SP, no período de 2001 a 2004, os desmatamentos maiores resultaram de um processo que vem ocorrendo ao longo do tempo, para utilização das terrras para o cultivo, principalmente de cana-de-açucar e laranja. Em propriedades menores ocorrem danos em função de contrução de barragens, de abertura de estradas e construção de edificações. Em outros casos, áreas já em fase de regeneração, são utilizadas para pastagem, capinadas ou atingidas por incêndio.

O início do processo de avaliação e definição de medidas necessárias, referentes a desmatamento, reposição de vegetação natural e averbação de reserva florestal legal, procurando resolver os conflitos oriundos dos mesmos, pode se dar basicamente de três formas (DEPRN, 2003): fiscalização, emissão de Auto de Infração Ambiental (AIA), Boletim de Ocorrência (BO) e multa efetuada pela Polícia Ambiental que é encaminhada ao Promotor de Justiça do Meio Ambiente, que instaura o Inquérito Civil e solicita ao DEPRN laudo técnico; denúncia anônima à Polícia Ambiental, ao DEPRN ou às vezes diretamente à Promotoria de Justiça; vistoria e fiscalização do DEPRN, que normalmente é voltada para os conflitos mais relevantes, resultado do maior conhecimento técnico dos representantes do órgão, que realiza a fiscalização técnica. A terceira alternativa é a utilizada para atender ao Planejamento Estratégico do Promotor de Justiça do Meio Ambiente da Comarca de São Carlos – SP. Em todas as situações, no entanto, a apuração se dá no corpo do Inquérito Civil.

O principal foco da atuação conjunta são as grandes propriedades. Com base no Código Florestal de 1965 e em Mapas Topográficos do IBGE, de 1971, resultantes de levantamento realizado em 1965, iniciou-se trabalho que compreende fiscalização; abertura de Inquérito Civil; audiências com proprietários rurais para buscar o consenso no tocante à recuperação das matas e averbação das reservas florestais legais; vistorias nas áreas para verificar a extensão dos danos e necessidades de recuperação; projetos de recuperação das áreas; fiscalização e monitoramento após a assinatura do Termo de

Ajustamento de Conduta. Esse trabalho objetiva a regeneração das propriedades que foram desmatadas ilicitamente a partir da vigência do Código Florestal de 1965.

A Promotoria de Justiça do Meio Ambiente da Comarca de São Carlos – SP é a pioneira na atuação conjunta e na busca pela resolução desses conflitos voltada realmente para os benefícios ao meio ambiente (DEPRN, 2003).

A equipe técnica do DEPRN de São Carlos - SP tem verificado o crescente número de Promotores de Justiça interessados em resolver os conflitos ambientais. Esta atuação conjunta tem permitido a troca de conhecimento técnico-jurídico entre Promotores de Justiça e técnicos do DEPRN, resultando em soluções melhores e mais rápidas dos conflitos. No que diz respeito à conscientização da sociedade, o DEPRN entende que a mesma vem ocorrendo de forma razoavelmente rápida, mas que o ponto de partida da consciência ambiental foi tão pouco significativo, que a conscientização ainda não é um fator relevante na preservação do meio ambiente, o que pode ser ilustrado com a seguinte frase (DEPRN, 2003): “Se dependêssemos só da opinião pública, eu acho que estaria tudo no chão, não teríamos mais florestas”  o que demonstra a necessidade de atitude proativa, tanto dos Promotores de Justiça do Meio Ambiente, quanto dos técnicos das instituições de gestão e fiscalização ambiental.

O DEPRN de São Carlos atende área que inclui 22 Municípios, de Descalvado até Borborema. A regional de São Carlos - SP procura atuar de forma coordenada com o Ministério Público da região, objetivando alcançar resultados ambientais melhores e em menor tempo.

A equipe da regional de São Carlos é composta de 7 pessoas, 5 técnicos e 2 administrativos. Todos conhecem o trabalho conjunto com o Ministério Público e respeitam a mesma linha de atuação. Os casos prioritários são resolvidos pela equipe técnica. Os demais casos são tratados parcialmente pela equipe técnica e parcialmente por prestadores de serviço que fazem as vistorias e elaboram relatórios técnicos. À medida que a confiança no trabalho dos prestadores de serviço se desenvolve, eles passam a apoiar alguns casos mais significativos e a equipe do DEPRN analisa os dados para tomar as decisões (DEPRN, 2003).

A função institucional do DEPRN é o licenciamento ambiental e o apoio técnico ao Ministério Público, principalmente na elaboração de laudos. Porém, a equipe da regional de São Carlos - SP procura exercer também a função de fiscalização florestal, no sentido de somar esforços ao trabalho realizado pela Polícia Ambiental. Esta forma de atuação ocorre para melhorar o desempenho na fiscalização, com o trabalho da

Polícia Ambiental complementando o trabalho do DEPRN e vice-versa. De forma geral, a Polícia Ambiental não é proativa em relação à fiscalização, atuando com base em denúncias. Porém, as denúncias recebidas referem-se a pequenas propriedades e, na maioria das vezes, resultantes de conflitos de vizinhança, com danos pouco significativos, sem levar em conta as ações mais impactantes.

Após a fiscalização, o AIA e o BO são encaminhados às Promotorias de Justiça, que então solicitam a fiscalização técnica ao DEPRN. Os casos de conflito relativos às pequenas propriedades também são atendidos, mas após o encaminhamento dos casos relativos às grandes propriedades, pois o interesse público de preservação é maior nas grandes propriedades (DEPRN, 2003).

A informação do DEPRN, a respeito da forma de atuação da Polícia Ambiental, pode ser comprovada pela pesquisa realizada, uma vez que, os Inquéritos Civís iniciados por AIA e BO da Polícia Ambiental, geralmente referem-se a pequenos danos, pequenas propriedades e os laudos encaminhados pelo DEPRN não são realizados pela própria equipe, mas por prestadores de serviço contratados pela instituição.

Além disso, o DEPRN encontra-se tecnicamente mais bem equipado, com todo o mapeamento da vegetação e das áreas averbadas, atualizados até 2001, apresentado na Figura 5.7, como resultado de projeto financiado pelo CNPq e desenvolvido pelo Laboratório de Avaliação e Planejamento Ambiental (LAPA) da UFSCar, com informações georreferenciadas da área; conhecimento dos proprietários rurais e dos locais mais impactados, o que facilita a fiscalização.

Atualmente, a equipe técnica tem consciência de que se tivesse deixado a fiscalização somente a cargo da Polícia Ambiental, imensas áreas de vegetação teriam sido desmatadas, principalmente devido à característica de atuação da instituição.

Na Comarca de São Carlos – SP, praticamente todos os casos de propriedades vistoriadas são encaminhados à Promotoria de Justiça do Meio Ambiente e algumas vezes também à Polícia Ambiental, e a resolução do conflito observa alguns passos básicos. Ao receber as informações do DEPRN ou da Polícia Ambiental, o Promotor de Justiça do Meio Ambiente providencia a abertura do Inquérito Civil e inicia-se o processo de negociação para a resolução do conflito ambiental, o que é realizado para cada uma das propriedades rurais.

FIGURA 5.7 – Mapa de Vegetação da Comarca de São Carlos - SP com Reserva Florestal Legal Averbada Fonte: Lapa – UFSCar/DEPRN – São Carlos - SP, 2003

310 215 310 215 ANALÂNDIA LUIZ ANTÔNIO DESCALVADO D istrito de Santa Eudóxia ITIRAPINA SÃO CARLOS D istrito de Água Verm elha SANTA LÚCIA RINCÃO BROTAS IBATÉ ARARAQUARA AMÉRICO BRASILIENSE R IBEIR ÃO BO N ITO 7.605.000 7.600.000 7.545.000 310 318 Área alagada

Área desmatada antes de 1969 Área desmatada (1969 a 1983)

Área desmatada (1983 a 1989) Área desmatada após 1989 Vegetação nativa regenerada após 1989 Vegetação nativa remanescente

Área remanescente e averbada como reserva legal Área regenerada após 1989 e

averbada como reserva legal Área averbada como reserva legal,

mas desmatada ilegalmente

Área urbanizada Rios, ribeirões e córregos Represas

Estradas Rodovias Estradas de ferro

LEGENDA

Base Cartográfica: IBGE (1989) 1:50.000

Informações: Departamento Estadual de Proteção aos Recursos Naturais (DEPRN/São Carlos) Elaboração: Laboratório de Análise e Planejamento Ambiental/ UFSCar

Organização: Angela Terumi Fushita, 2003 - CNPq: 181.168/02

Supervisão: Dra. Adriana Catojo Pires - LAPA/UFSCar - SMDS/ Prefeitura Municipal de São Carlos CNPq.: 38.0276/01-1 Eng. Vitor Emanuel Giglio Ferreira - DEPRN/São Carlos

Prof. Dr. José Salatiel Rodrigues Pires - LAPA