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Segundo os estudos de Carter e Bélanger (2005), o e-Gov aumenta a conveniência e a acessibilidade dos serviços e informações do governo para os cidadãos. Os autores desenvolveram um estudo que integra construtos do TAM, teoria de difusões de inovação e modelos de confiança na Web, para formar um modelo de fatores amplamente utilizados na literatura; porém, em modelos diferentes, que influencia a adoção de iniciativas de e-Gov pelos cidadãos. Nesse estudo, foi investigada a aceitação e uso dos cidadãos em relação a 2 sistemas de e-Gov, sendo o primeiro deles pertencente a um departamento de veículos motorizados, e o segundo, a um departamento de tributação financeira. A amostra de estudo abrangeu 105 cidadãos, dos quais 96% eram usuários frequentes de Internet e 83% usavam serviço de e-Gov constantemente. Pelos resultados, infere-se que a facilidade de uso, a compatibilidade e a confiabilidade percebidas são preditores significativos da intenção dos cidadãos de usar um serviço de governo eletrônico.

Rana et al. (2016) revisaram criticamente 9 modelos de mensuração de aceitação e intenção de uso de tecnologia para propor um modelo para avaliar o nível de aceitação e uso de um sistema de reclamações públicas do governo indiano. Os construtos selecionados pelos autores compõem um modelo semelhante ao UTAUT, com a adição do construto ansiedade. Para validar o modelo mensuração, os autores utilizaram um questionário com 82 afirmativas e coletaram a opinião de 419 cidadãos indianos. Nesse estudo, a expectativa de desempenho obteve o maior poder de influência na atitude para usar e-Gov, ao passo que a condições facilitadoras foi a variável com o menor poder de influência e nível de significância. O modelo dos autores propôs novas relações de influência entre os construtos do UTAUT, como a mensuração da influência da variável condições facilitadoras sobre a intenção comportamental e sobre a expectativa de desempenho. Além dessa relação, os autores conseguiram provar a influência da expectativa de esforço sobre a expectativa de desempenho. Outro dado importante relatado no estudo foi que os moderadores podem não ser universalmente aplicáveis a qualquer contexto e, portanto, podem não ser relevantes em algumas situações de avaliação de aceitação e uso.

Berlilana, Hariguna e Nurfaizah (2017) também propuseram um modelo de mensuração de aceitação e uso de e-Gov com base no UTAUT. O modelo de mensuração proposto pelos autores avalia a intenção comportamental de uso dos cidadãos para usar serviços de e-Gov da Indonésia. Foi utilizado um questionário com 21 afirmativas, no qual foi obtido um total de 279 participantes. A expectativa de esforço foi a variável que exerceu a

maior influência sobre a intenção comportamental de uso, com um coeficiente de 0,81 e um nível de significância inferior a 0,1%. Assim como nos outros estudos, a variável condições facilitadoras apresentou o menor poder de influência na intenção comportamental de uso, com o peso de caminho 0,14 e um nível de significância menor que 1%. A influência da variável expectativa de desempenho sobre a intenção comportamento de uso foi confirmada; no entanto, apresentou baixo poder de influência, com um valor de 0,16 para o peso de caminhos. Nesse estudo, também é demonstrado que as variáveis inseridas no UTAUT possuem alta de probabilidade de serem confirmadas na análise do modelo de equações estruturais.

Naranjo-Zolotov et al. (2018) fizeram uma adaptação do modelo UTAUT com a adição de variáveis de motivações pessoais, diferenças individuais e capital social. O modelo foi validado em uma análise da aceitação e uso de um serviço participação online em uma cidade de Portugal. Os dados para mensuração do modelo foram coletados por meio de um questionário com 44 afirmativas, o qual colheu 200 respostas. A influência social foi considerada não significativa, o que contraria achados de estudos sobre o uso de tecnologias de e-Gov. Os autores acreditam que isso seja consequência de muitos participantes, não do serviço analisado. A expectativa de desempenho, a expectativa de esforço e as condições facilitadoras foram consideradas significativas em relação à intenção de usar a participação eletrônica. A expectativa de esforço teve influência confirmada para um nível de significância inferior a 10%, além disso, ela obteve o coeficiente de caminho de 0,1, considera baixo por Hair et al. (2009). Além disso, os autores não conseguiram confirmar se a confiança no governo exerce alguma influência na intenção de uso.

Ali et al. (2018) investigaram os fatores de privacidade que influenciam a adoção de serviços de e-Gov no Paquistão, para o qual os autores fizeram uma adaptação do modelo UTAUT com duas variáveis de privacidade. As variáveis adicionadas ao UTAUT estão representadas pelo construto risco de privacidade e preocupação de privacidade; ambas exercem influência sobre a intenção comportamental de uso. Os dados foram coletados a partir de pessoas que usaram serviços de e-Gov na nuvem. O questionário utilizado na coleta de dados continha 24 afirmativas e coletou 380 respostas válidas. Com a mensuração do modelo, foi identificado que a expectativa de desempenho obteve um peso de caminho de 0,11 e um valor t de 2,268, mostrando que a hipótese de influência sobre a intenção comportamento de uso foi aceita, mas com baixo valor de explicação. A variável condições facilitadoras apresentou o melhor resultado, com um peso de explicação de 0,31 da intenção comportamental de uso e um nível de significância de 5,691 para o valor t. Os autores não

utilizaram o valor p para medir a significância. Os pesquisadores mostraram que as variáveis de privacidade possuem influência negativa na intenção comportamental de uso.

Verifica-se que teorias comportamentais e teorias de sistemas de informação foram utilizadas para predizer, com sucesso, os fatores que podem influenciar o uso de serviços eletrônicos por usuários que possuem algum nível de deficiência. Por exemplo, Liu (2014) utilizou a Teoria de Confirmação de Expectativa, o Modelo de Aceitação de Tecnologia e Teoria do Comportamento Planejado para explicar a intenção de idosos entre 50 e 65 anos, em Xangai, de continuar utilizando serviços em redes sociais. Desse modo, constatou-se que o fator satisfação é um forte preditor na intenção de continuidade de uso, seguido dos fatores utilidade do serviço e confirmação das expectativas.

Venkatesh et al. (2011) também utilizaram a Teoria da Confirmação de Expectativa, juntamente com a Teoria Unificada de Aceitação e Uso de Tecnologia, aplicando-as em um estudo longitudinal com 3159 cidadãos de Hong Kong que acessam 2 serviços de e-Gov, concluindo que o fator confiança nos serviços é um dos principais preditores de aceitação e uso, juntamente com a expectativa de desempenho, satisfação e confirmação de expectativas.

A partir dos estudos relatados, tem-se a premissa de que as organizações podem disponibilizar aplicações e serviços digitais adequados às necessidades dos cidadãos, com base no conhecimento de fatores que interferem na aceitação e uso dos serviços eletrônicos. Esses fatores possuem importância por auxiliarem com informações no direcionamento de políticas públicas para a inclusão e aperfeiçoamento dos serviços públicos prestados aos cidadãos. Por exemplo, a importância dos fatores de confiança traz a necessidade de os governantes disponibilizarem declarações seguras sobre a segurança dos serviços, disponibilizar serviços precisos, confiáveis e sem erros.

Já os fatores referentes à facilidade de uso e satisfação permitem identificar que os usuários desejam interfaces fáceis de usar e que os isentem de passos complexos ou que possam levar a ter erros procedimentais. Além disso, é necessário que os usuários tenham instrução e incentivos para usar os serviços. Confirmação de expectativas é o fator que analisa a visão do cidadão antes e após do uso do serviço eletrônico, verifica como o uso será comunicado a outros usuários e se pretende continuar a fazer uso do serviço. A confirmação da expectativa pode ser utilizada para inserir ou retirar características que trazem insatisfação os usuários ou que não permitem visualizar valor no serviço.

Por fim, os estudiosos mostram que, apesar dos benefícios do e-Gov, o sucesso e aceitação de iniciativas de e-Gov dependem da disposição dos cidadãos em adotar essa inovação. Para isso, as agências governamentais devem primeiramente entender os fatores que

influenciam a aceitação das pessoas com deficiência visual, para prover serviços acessíveis a toda a sociedade. Diante desse contexto, percebe-se a importância de incluir as pessoas com deficiência visual no processo de desenvolvimento de serviços de e-Gov. A partir de relatos de experiências de uso, dessas pessoas, é possível coletar informações que podem ajudar na implementação de funcionalidades que atraiam a intenção de uso de outras pessoas com deficiência visual, nos serviços de e-Gov.

3 METODOLOGIA

Nesta seção, é exposto o percurso metodológico adotado no desenvolvimento da pesquisa para responder à pergunta norteadora desta pesquisa: “existem fatores que influenciam a aceitação e intenção de uso de governo eletrônico por pessoas com deficiência visual?”. Em consonância com o percurso metodológico também é exposto o lócus, focus, natureza, tipo e a finalidade em que se configura a pesquisa. Em seguida, o objeto de estudo é explicado, bem como a constituição da amostragem, procedimentos metodológicos e como os dados coletados foram analisados e interpretados.