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Estudos e conferências nacionais/internacionais sobre literacia estatística

Fundamentação teórica

E STATÍSTICO

2.4.3. Estudos e conferências nacionais/internacionais sobre literacia estatística

Ao longo das últimas três décadas, diversos estudos a nível internacional, de uma forma ou de outra deram o seu contributo, quer para melhorar a forma como a Estatística é lecionada, no sentido de conjuntamente com uma lecionação académica potenciar a tão almejada literacia estatística, quer no sentido de detetar lacunas ao nível desta competência.

Entre os anos 80 e 90, o relatório Cockcroft (1982), produzido no âmbito do

Cockcroft Committe - um estudo sobre a educação matemática no Reino Unido, que

viria a ficar conhecido pelo nome do seu autor veio a dar um forte contributo ao currículo oficial inglês e posteriormente a outros países, fornecendo linhas orientadoras para uma lecionação efetiva da Estatística.

Neste estudo defende-se que a Estatística não deve ser encarada como um conjunto de procedimentos e técnicas, mas como uma atitude, uma forma de pensar perante dados; sugere-se a utilização de dados reais ao invés de criar dados reais fictícios e o trabalhar com temas como Biologia, Geografia ou a Economia para potenciar a compreensão da Estatística.

Outra contribuição de suma importância para a Estatística deve-se à associação americana de professores - National Council of Teachers of Mathematics (NCTM). A esta se devem os documentos com influência internacional: Principles and standards of

school mathematics: working draft (NCTM, 1998) e o Curriculum and evaluation standards for school mathematics (NCTM, 1989), traduzido pela Associação de

Professores de Matemática (APM), que fornecem diretrizes importantes sob a forma como a Estatística deve ser lecionada, indicando aspetos que se prendem com os temas a tratar e as dinâmicas a seguir, de acordo com a faixa etária dos alunos.

Nomeadamente, no que diz respeito ao 3º ciclo do Ensino Básico, o National

Council of Teachers of Mathematics, deixa como desafio a consolidação e

aprofundamento das ideias, conceitos e procedimentos de anos anteriores. Acrescenta uma explícita recomendação para a análise exploratória de dados com elaboração de tabelas, diagramas e gráficos, como forma de desenvolver capacidades de argumentação e espírito crítico.

O documento Curriculum and Evaluation Standards for School Mathematics (NCTM, 1989) constitui uma das propostas curriculares com maior repercussão a nível mundial. Foi o produto de várias investigações, estudos e esforços para fomentar a literacia dos jovens, levadas a cabo nos Estados Unidos da América, pelo National

Council of Teachers of Mathematics (NCTM) e reuniu orientações diversas que

objetivaram incrementar a educação matemática. Este documento constituiu-se um marco histórico, pois tentou articular, pela primeira vez, os objetivos dos professores com os responsáveis pelas políticas de educação. Após a sua edição surgiu, em 1991, os

Professional Standards for Teaching Mathematics, publicado pela NCTM, incluindo

recomendações para um ensino efetivo da Matemática. Quatro anos mais tarde, é divulgado um documento que viria a arrumar algumas das ideias anteriores, elencando objetivos a partir dos quais as práticas metodológicas dos professores podem ser medidas - Assessment Standards for School Mathematics (1995).

Estes três documentos ficaram conhecidos a partir de 1997 por Standards 2000

Project, altura em que foi criada uma comissão com o objetivo de, periodicamente, os

rever e avaliar. Para isso, e durante alguns anos, a comissão que integrou um grupo responsável pela redação, consultou e analisou diversos documentos, tais como: diversos currículos, investigações no âmbito da educação matemática e foram sendo publicados, documentos relativos a práticas educativas, entre outros. Em outubro de 1998, este trabalho colaborativo, com intervenção de diversos investigadores que poderam ir consultando os drafts online, estava concluído, o que motivou a criação do livro Principles and Standards for School Mathematics. Este recurso didático, disponível a professores, educadores e investigadores, reúne informações e orientações que podem e devem ser utilizadas para promover a aprendizagem da Matemática, o seu ensino e adequar a sua avaliação. Nos dias de hoje, este estudo continua a ser uma

referência para o ensino da Matemática e implicitamente para o ensino da Estatística, pois este é um dos temas a que é dada significativa importância e destaque.

No que concerne a conferências que foram um marco para a promoção e desenvolvimento da educação estatística, há a salientar duas que no meu ponto de vista foram de grande importância. A primeira, Conferência Mundial sobre Ciência para o século XXI: um novo compromisso realizada a julho de 1999 em Budapeste, com o apoio da UNESCO (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) e do ICSU (International Council for Science), aludiu para a necessidade de se promover e fomentar a literacia, abarcando todos os sectores que integram a sociedade, por forma a melhorar, quer a integração, quer a participação de todos os cidadãos. Nasceu deste encontro a Declaração sobre a ciência e o uso do conhecimento científico e a Agenda para as ciências – uma base de ação (Unesco, 1999). Esta última com o papel orientador para que as metas elencadas na declaração fossem alcançadas. Entre os objetivos propostos, realçam-se a necessidade de intercâmbio, partilha e divulgação de informação de cariz científico e de conhecimento, aproveitando os meios tecnológicos disponíveis, de forma a fomentar a literacia em todas as suas expressões.

A segunda, realizada dois anos mais tarde - Conferência Internacional sobre

Ensino das Ciências, Tecnologia e Matemática (UNESCO, 2001) alertou para a

necessidade de um pensamento e raciocínio críticos sobre ciência, tecnologia e Matemática de forma a que sejam capazes de exercer uma cidadania responsável e consciente, fazendo e considerando opções que se baseiam em decisões válidas e fundamentadas.

Apesar da longa caminhada em rumo de uma educação estatística eficaz e plena, que não descure a formação de indivíduos estatisticamente literados, tal como Shaughnessy, Garfield e Greer (1996) defendem:

“(…) é essencial lembrar a importância de continuar a investigar formas de facilitar o raciocínio estatístico dos alunos, a compreender como o conhecimento estatístico é construído e a preparar os professores (…)” (p. 231).

Além disso, e de acordo com C. Batanero (2000):

“(…) é preciso experimentar e avaliar métodos de ensino adaptados à natureza específica da Estatística, dado que nem sempre é possível transferir princípios gerais do ensino das matemáticas (…)” (p. 32).

A educação estatística tem-se afirmado como uma área do saber com ação e em ação. Neste sentido, todas as contribuições que por todo o mundo vão surgindo, sejam

elas através de conferências, da publicação de estudos ou de meros drafts de trabalhos em curso, ou investigações em larga escala, onde se analisa de forma mais ou menos abrangente a literacia de jovens ou adultos, têm permitido pequenos passos que se espalham pelo mundo e que lentamente se vão espelhando nos currículos de Matemática, favorecendo uma preparação estatística holística e efetiva dos jovens.