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CAPÍTULO 4: DISCUSSÃO

4.2. Estudos futuros

A fase inicial deste projeto de investigação fez-se acompanhar por inúmeras questõeseinterrogações,sobretudosobreapossibilidade de, pela primeira vez em Portugal, se utilizaram os procedimentos de VSM para promoção da fluência na leitura que, no contexto internacional apresentavam evidências crescentes da sua eficácia. Estas questões motivaram-nos a desenhar o presente estudo. E considera-se que os seus resultados contribuíram, de certo modo, para esboçar algumas respostas. Porém, o seu maior contributo talvez resida nas infindáveis questões que dele surgiram, que incentivam à continuação da investigação nesta área e que apontam algumas direções a seguir no futuro. Atendendo a que a investigação nacional no domínio da leitura ainda se encontra a dar os primeiros passos, por comparação com outros países, é necessário continuaresta caminhadaampliando-a. Em primeiro lugar, considera-se essencial a realização de estudos normativos, com uma amostra representativa da população portuguesa, de modo a construir valores de referênciadafluêncianaleitura,talcomodiversosinvestigadorestêm salientado(e.g., Tristão, 2009). Este estudo é fundamental, particularmente, no momento em que o Ministério da Educação homologa as NovasMetas Curriculares de Português (Buescoetal., 2012), onde são apresentadososobjetivosdefluêncianaleituraaatingir "de formaimprescindível" (p.6), que se têm revelado valores deveras discrepantes dos dados recolhidos nas escolas portuguesas, nos últimos anos (Gonçalves, 2012b). A urgência destes valores de referência (representativos) é reforçada não só pela sua utilidade para a prática psicopedagógica, mas também para fins de investigação.

Outralacunasentidaprende-secomaausênciadeformasprecisasparadeterminar o grau de lisibilidade de textos para a língua portuguesa, as quais seriam úteis para verificar a adequação dos textos utilizados para os vários anos de escolaridade. Neste sentido,

salienta-se a necessidade de construir fórmulas de avaliação da lisibilidade adequadas à língua portuguesa, à semelhança das existentes para outras línguas(e.g.,índicedeFlesch). Assimcomoodesenvolvimento de estudos para aperfeiçoar a qualidade de instrumentos de avaliação da lisibilidade como o desenvolvido por Silva (2011) que, tendo sido utilizado neste estudo, apresentou um reduzido acordo na classificação dos professores.

Também no âmbito da intervenção na leitura, considera-se importante ampliar a investigação nacional sobre a eficácia da implementação quer das estratégias mais frequentemente utilizadas na promoção da fluência na leitura (e.g., leituras repetidas) como de estratégias menos convencionais e que se têm revelado promissoras em contexto internacional (e.g., tutoria a pares, teatro de leitores, VSM). Poderá ser também particularmente interessante desenvolver e avaliar a eficácia de programas de intervenção que promovam a fluência na leitura em articulação com outras componentes da leitura como o vocabulário e a compreensão (e.g., Hitchcock et al., 2004), ou expandindo a instruçãodafluênciaaodesenvolvimentodecompetências de metafluência (Reutzel, 2012).

Relativamente à utilização do VSM enquanto estratégia de promoção da fluência na leitura, existe ainda um longo caminho a desbravar não só no sentido de conhecer melhor os seus efeitos, mas também de determinar os seus limites e potencialidades. Embora o número de estudos sobre a eficácia do VSM nas mais diversas problemáticas tenha vindo a crescer (exemplo disso é o facto de no início deste ano ter sido editado um número da revista Psychology in the Schools exclusivamente sobre esta temática), são ainda poucos os estudos que utilizam este procedimento na aprendizagem da leitura, permanecendo muitas perguntas por clarificar.

Por um lado, levantam-se questões práticas acerca da sua implementação. Que tipo de edição de vídeo será mais eficiente em termos de custos e benefícios? Que duração e características (e.g., música, texto) os vídeos devem apresentar? Qual o número de sessões de VSM que se revela mais eficaz? Quais são os seus limites em termos de idade ou competências cognitivas dos observadores? Até onde é possível ir relativamente à discrepância entre o desempenho atual e o observado no modelo?

Por outro lado, sabe-se ainda pouco sobre os efeitos da observação de imagens do próprio sucesso futuro, na aprendizagem. De acordo com a literatura, parece existir um contributo do aumento das crenças de autoeficácia (Buggey, 2007). No entanto, tem-se revelado difícil estudar este possível efeito mediador das crenças de autoeficácia, uma vez que até aos 10 anos, poucas crianças conseguem avaliar com precisão o seu desempenho académico (Henk & Melnick, 1995). No âmbito deste projeto, procurou-se ainda construir

um instrumento de avaliação da autoperceção enquanto leitor adaptado da escala Reader Self-Perception Scale (RSPS, Henk & Melnick, 1995) para um formato de entrevista, com menornúmerodeitensecomumaescaladeresposta de 3 pontos com representação gráfica. Contudo, este instrumento apresentou valores de consistência interna reduzidos (alphade Cronbach de .46), colocando em causa uma análise precisa dos dados recolhidos. Assim, salienta-se a necessidadededesenvolvermaisestudosnosentidodemelhorarasqualidades psicométricasdesteinstrumento,bemcomotestarformasdeavaliaçãodaautoeficáciaque nãoenvolvamoautorrelatodascrianças(e.g.,hetero-observaçãoporadultos).

Se por um lado é interessante compreender melhor o efeito combinado do VSM com procedimentos de leitura assistida na fluência na leitura oral, por outro, conhece-se ainda pouco do seu efeito isolado na aprendizagem destas competências. Neste sentido, considera-se pertinente desenvolver estudos cujos designs experimentais permitam a comparação de ambos os efeitos (i.e., introduzindo uma condição exclusiva de VSM).

Nos últimos tempos, muito se tem discutido acerca dos efeitos do VSM que não são observáveis pelo desempenho. Por exemplo, alguns investigadores (Margiano, Kehle, Bray, Nastasi & DeWees, 2009) têm apontado a possibilidade de a aprendizagem de novas competências resultar de um efeito mediador do visionamento das imagens de sucesso que, ao produzir alterações na memória autobiográfica do observador, possibilita o armazenamento de evidências de que consegue e é capaz.

Estasconstituemapenasalgumas das questões que surgiram ao longo do presente trabalho. Questões que nos motivam a procurar respostas e (por que não?) novas questões que contribuam não só para ampliar o saber da literatura sobre a temática da leitura, mas sobretudo, para o desenvolvimento de melhores práticas educativas que promovam a evolução contínua de todos os alunos. É sobre elas que nos debruçaremos de seguida.

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