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CAPÍTULO 4: DISCUSSÃO

4.3. Implicações para a prática psicoeducacional

À luz do Projeto IDEA (Gonçalves, 2012a), o presente estudo nasceu do desejo de fazer mais e diferente, de implementar novas práticas de instrução da leitura que contribuíssem para ajudar os alunosasuperardificuldades, a conhecer e confiar nas suas competênciase potencialidades, impulsionando-os numa rota de evolução contínua. Este ambicioso desejo motivou-nos a procurar na literatura algumas das estratégias de melhor eficácia documentada, no âmbito da promoção da fluência na leitura. Mediante a análise dos resultados da implementação de algumas destas estratégias, levantam-se algumas

considerações que poderão ser relevantes para a prática educacional e psicopedagógica no domínio da instrução da leitura.

Em primeiro lugar, este estudo demonstra um dos principais pressupostos do Projeto IDEA: a noção de que todos podem fazer IDEA, isto é, "Investigar as Dificuldades para que haja Evolução na Aprendizagem" (Gonçalves, 2012, p.10). No âmbito deste projeto, não foram apenas os investigadores que avaliaram o desempenho da leitura dos participantes. Através de procedimentos de avaliação com base no currículo, os próprios alunos (durante o programa) e a professora (na fase de generalização) experimentaram medir a fluência na leitura e monitorizaram o seu progresso. Estes procedimentos de avaliação e monitorização da fluência, além de relativamente simples de aprender e utilizar, têm revelado bons indicadores de validade e precisão (Fuchs & Fuchs, 2001), assumindo-se como uma mais-valia para a prática psicopedagógica.

Por um lado, constituem ferramentas de avaliação que permitem facilmente descrever o desempenho na leitura de um largo número de alunos, possibilitando a identificação precoce de dificuldades na leitura, o planeamento de uma intervenção educativa atempada, a monitorização do progresso e a aferição do cumprimento dos objetivos estabelecidos (Tristão& Gonçalves, 2012). Enquanto instrumento de avaliação, a avaliação com base no currículo obedece a procedimentos estandardizados que devem ser implementados com o máximo rigor. Pelo que se destaca a importância de serem integrados na formação dos professores (Spear-Swerling & Sternberg, 2001).

Por outro lado, também constituem meios de intervenção, na medida em que a monitorização do progresso e o estabelecimento de objetivos pessoais produzem reatividade nos alunos, incentivando-os a superar-se de dia para dia, numa perspetiva de melhoria contínua (Tristão& Gonçalves, 2012). Neste sentido, reitera-se a pertinência de integrar a utilização destes procedimentos na instrução da leitura, podendo ser utilizados facilmente em contexto de sala de aula pela professora e pelos próprios alunos a pares, ou em contexto familiar, com os pais.

Uma outra implicação que pode ser retirada deste estudo prende-se com a urgência de implementar, nas escolas portuguesas, respostas de intervenção que vão ao encontro das necessidades específicas de cada aluno, numa lógica RtI, para que todos possam progredir. Note-se que embora a implementação de práticas de diferenciação pedagógica seja ainda pouco frequente em Portugal, algumas escolas têm produzido esforços notáveis no sentido de adequar as suas respostas educacionais às características dos seus alunos. Tome-se como exemplo, a Associação Ester Janz que organiza a sua instrução da leitura

nos três níveis de intervenção propostos pelo modelo RtI (Tristão, 2012); ou o Projeto Fénix, difundido um pouco por todo o país, que oferece um apoio de intensidade diversificada aos alunos com maiores dificuldades, de modo a prevenir e combater o insucesso escolar (Ministério da Educação, 2009).

Apesar de o programa Leitores do Futuro ter sido concebido para uma resposta de nível II, considera-se que as estratégias de que faz uso poderão ser vantajosas em qualquer nível de intervenção, desde que sejam implementadas numa ótica positiva com foco no sucesso e na melhoria contínua. Em primeiro lugar, reforçando a importância de uma instrução geral de qualidade, considera-se de grande pertinência a utilização de estratégias de treino e modelagem da leitura em contexto de sala de aula, em diferentes formatos (e.g., leituras repetidas, leitura em coro, tutoria a pares, teatro de leitores), uma vez que apresentam benefícios para todos os alunos, com e sem dificuldades. Por último, podem também ser utilizadas em contexto de intervenção psicopedagógica individual onde, além das diversas estratégias que o programa propõe, se destaca a implementação de procedimentos de VSM. Estes procedimentos poderão constituir uma mais-valia no apoio a alunos com dificuldades mais evidentes, principalmente na medida em que possibilitam queestesalunos,comhistorial de fracasso na leitura, se observem a ler com sucesso. Ao promover o desenvolvimento de crenças de autoeficácia positivas, espera-se que os alunos se motivem mais para a leitura, e invistam e persistam na superação das suas dificuldades.

Embora até há relativamente pouco tempo, os materiais necessários à edição de vídeos se encontrassem pouco acessíveis para o público em geral, com o desenvolvimento tecnológico, o seu acesso está cada vez mais facilitado quer em termos económicos como em userfriendliness. Basta ter uma câmara de filmar e um computador, que geralmente já traz instalado um software de edição de vídeos (e.g., iMovie, Windows Live Movie Maker); e, portanto, captar as imagens e despender cerca de 30 a 45 minutos na edição do vídeo. Neste sentido, perante resultados tão otimistas da implementação do VSM na promoção da fluência na leitura (ou noutra problemática), não se encontram motivos para que estes procedimentos não sejam mais utilizados em contexto educacional. Por outro lado, é possível utilizar meios alternativos para a automodelagem, como o formato áudio. Recentemente, alguns projetos começam a ganhar forma no sentido de desenhar softwares de treino da leitura de sight words que, através do reprodução da voz do aluno, (re)construam imagens do sucesso evidenciado no treino ou do sucesso a alcançar no futuro, em tempo real (e.g., Dowrick, 2003, citado por Dowrick, 2012).

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