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IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA (HIV), VÍRUS DA HEPATITE B (VHB) E VÍRUS DA HEPATITE C (VHC)

1.6. ESTUDOS REFERENTES AO RISCO BIOLÓGICO E OS PROFISSIONAIS DA SAÚDE

Dados internacionais

Jagger et alxliii analisaram 326 acidentes com agulhas e observaram, que

69,6% ocorreram após o uso de agulhas e antes do seu descarte e 13,2% durante ou após o descarte das agulhas. Um terço dos acidentes foi decorrente do reencape.

xli Tarantola et alxliv realizaram estudo em Paris, na França, que avaliou dados de 1995 a 1998, referente a 7.649 acidentes notificados à medicina do trabalho em 61 hospitais; os enfermeiros e estudantes de enfermagem foram os mais acidentados (60%); a maioria dos acidentes (77,6%) foi com instrumento perfurocortante. Houve decréscimo significativo, nas exposições ocupacionais nos últimos dois anos do estudo que pode ser atribuído a política de redução de risco.

Evans et al realizaram um estudo na Inglaterra entre julho de 1997 a junho de 2000 que avaliou 813 trabalhadores da saúde expostos a sangue de pacientes infectados com HIV e/ou hepatite B e/ou hepatite C. Ocorreu uma soroconversão em 293 exposições para HIV, e nenhuma soroconversão entre 462 exposições ao vírus da hepatite C xlv .

Ippolito et al descreveram 19.860 exposições ocupacionais entre trabalhadores da área da saúde na Itália de janeiro de 1994 a junho de 1998, 77% das quais foram percutâneas; 28% de todas exposições tinham fonte sabidamente infectada (HCV 63%, HBV 11%, HIV 11%, HCV e/ou HBV e/ou HIV 13%). Nenhuma soroconversão ao VHB foi observada durante o estudo no período. A taxa de transmissão após acidente mucocutâneo ao HIV foi de 0,43 (IC 95% 0,05 – 1,53) e após exposição percutânea foi de 0,14 (IC 95% 0,03 – 0,41). As taxas de transmissão para o vírus da hepatite C foram semelhantes para exposição percutânea (0,39%) e mucocutânea (0,36%) xlvi.

Em relato do CDC com dados do NASHxlvii (National Surveillance System

for Hospital Health Care Workers), entre junho de 1995 e julho de 1999 foram

xlii Destes, 83% foram percutâneos; 44% envolveram enfermeiros e 30% acometeram médicos. Em relação ao local de ocorrência do acidente, 30% ocorreram em enfermarias, 29% em centros cirúrgicos e 14% em unidades de terapia intensiva. Menos de 30% dos funcionários expostos a uma fonte soropositiva para HIV e/ou HCV seguiram o acidente por mais de 20 semanas. Para cerca de 20% de todos os acidentes, foi iniciada a profilaxia pós- exposição, sendo que 53% receberam zidovudina e lamivudina e 36% foram medicados com zidovudina, lamivudina e indinavir.

Os dados coletados e analisados pelo EPINetxlviii, outro programa norte- americano de monitoramento de acidentes ocupacionais que recebeu dados de 47 hospitais, forneceram um panorama bastante interessante do ano de 2002. A taxa de acidentes perfurocortantes variou de 27.1 a 17.7 por 100 leitos ocupados por ano, entre hospitais de ensino e não de ensino, respectivamente. Entre os acidentes perfurocortantes, os enfermeiros foram responsáveis pelo maior número de notificações (40,7%) e cerca de 60% das exposições ocorreram na enfermaria ou no centro cirúrgico. Cerca de 41% das exposições ocorreram durante injeção intramuscular ou subcutânea ou colete de sangue. O paciente fonte era conhecido em 91.5% das exposições. Cerca de 30% das exposições envolveram uma agulha com dispositivo de segurança.

Dados Nacionais

Estudo de Souzaxlix, realizado no município de São Paulo, avaliou cinco hospitais de grande porte no ano de 1996 quanto à incidência de acidentes ocupacionais com materiais perfurocortantes ocorridos entre a equipe de

xliii enfermagem e os fatores de risco que interferiram na ocorrência destes acidentes. Neste período, foram relatados 373 acidentes perfurocortantes, ocorridos em 6.535 profissionais de enfermagem. Os acidentes acometeram principalmente as mulheres (89%) e ocorreram, geralmente, após 4 horas de trabalho nas unidades de internação. As agulhas foram responsáveis por 77,0 % dos casos e o uso de luvas foi relatado em apenas 46,1% dos acidentes. 26,5% dos acidentes ocorreram por descarte inadequado, 19,3% durante medicação ou venopunção e 10,5% durante o reencape. Os fatores de risco, avaliados em 89 entrevistas com profissionais da equipe de enfermagem, foram relacionados às situações de risco real (ausência de material apropriado e sobrecarga de atividades; classificadas como responsabilidade do empregador); risco suposto (falta de conscientização apesar dos programas de educação continuada) e residual (responsabilidade individual do profissional, como utilização dos equipamentos de proteção individual).

Em um hospital universitário da cidade de São Paulo, foi realizado estudo transversal que se baseou em entrevistas com 1.096 profissionais e estudantes da área da saúde, no período de 18 meses. Entre os entrevistados, 21,5% relataram acidente com material biológico nos últimos 12 meses e 4,9% nos últimos 30 dias. As categorias mais acometidas com acidentes nos últimos 12 meses foram a dos estudantes de medicina do 5º e 6º anos (55,4%), seguidos pelos residentes (44,5%); médicos assistentes (24,1%) auxiliares e técnicos de enfermagem (14,7%); pessoal de limpeza (11,3%); técnicos de laboratório (10,5%); enfermeiros (10,2%) e atendentes de enfermagem (3,6%). Os acidentes perfurocortante foram os mais freqüentes (80,5%), principalmente

xliv com agulhas (74,1%) e o sangue foi o material mais envolvido (79,7%). Oitenta e dois por cento dos profissionais usavam luvas no momento do acidentel.

Outro estudo, realizado em um hospital geral de ensino, vinculado a Universidade Federal de São Paulo, estudou 2344 acidentes notificados entre junho de 1992 a dezembro de 2001. Neste estudo, o tipo mais freqüente de acidente foi de exposição percutânea (75,34%), com agulhas (64,16%) e o auto-acidente durante punção (45,56%). Durante o estudo, houve um caso comprovado de soroconversão para hepatite Bli.

Estudo desenvolvido no Instituto de Infectologia IIERlii avaliou retrospectivamente 326 profissionais da saúde com acidentes atendidos no período de janeiro a dezembro de 2000. Cento e quarenta e três (43,9%) eram auxiliares de enfermagem, 43 (13,1%) eram médicos e 42 (12,9%), auxiliares de limpeza. 38 profissionais (11,7%) trabalhavam no IIER e 288 (88,3%) vieram de outros serviços. Destes, 119 (41,3%) eram de serviços privados e 20,5% dos acidentados trabalhavam a menos de 6 meses na função na qual se acidentaram. 73 (22,4%) referiram acidentes prévios, embora apenas 33 (45,2%) tenham realizado acompanhamento sorológico no acidente anterior. 238 (73,2%) tinham pelo menos uma dose de vacina contra hepatite B, embora destes, apenas 123 (51,7%) tivessem três ou mais doses de vacina e somente 27 (21,9%) destes tivessem conhecimento da resposta sorológica à vacina. Apenas 95 (29,1%) foram atendidos até duas horas após o acidente. Quanto ao tipo de exposição, 291 (89,5%) foram percutâneas e 25 (8,3%) de mucosa. O material biológico mais envolvido nos acidentes notificados foi o sangue (62,2%) e as agulhas foram o principal instrumento, em 218 casos (67,1%). A

xlv fonte do acidente era conhecida em 231 casos (71,1%), dos quais 65 (28,3%) eram sabidamente soropositivo para o HIV, 6 (2,6%), HbsAg positivo e 8 (3,5%) possuíam anticorpos contra o VHC (anti-VHC). O uso de imunoglobulina hiperimune contra hepatite B (HBIg) foi indicado em 108 casos (33,2%) e a PPE com ARVs foi indicada em 276 casos (84,9%); 76,8% dos profissionais referiram algum efeito colateral com o uso da PPE. O seguimento ambulatorial, de pelo menos seis meses, foi completado em 179 pacientes (55,1%). Não foi diagnosticado soroconversão para nenhum agente infeccioso.

Em outro trabalho realizado no IIER, foram avaliados 326 acidentes ocorridos em 2000 e o abandono ao seguimento do programa. 146 (45%) acidentados abandonaram o seguimento. Não houve correlação entre o abandono e o município de residência do acidentado, acidente prévio, tipo de hospital de origem do acidentado (privado ou público), o fato de o acidente ter ocorrido no IIER, o tempo de trabalho do profissional na função atual, o tipo de acidente (percutâneos ou não percutâneos), o fato de o acidente ser decorrente de procedimento vascular ou o fato de haver sangue visível na agulha. Também não houve correlação entre abandono e o acidente ter ocorrido com fonte conhecida, com o fato de a fonte ser portadora do HIV ou ter aids ou ser portadora do VHB; tampouco houve correlação entre abandono e a gravidade do acidente. Nenhuma relação foi estabelecida entre: o profissional ser previamente, vacinado com três doses de vacina contra hepatite B, uso de medicações regulares, antecedentes psiquiátricos, uso de medicamento anti- retroviral ou de ter apresentado efeitos colaterais aos mesmos. Os acidentados

xlvi do sexo masculino tiveram maior risco de abandonar o seguimento que os do sexo femininoliii.

Gir et al realizaram, no ano de 1996, investigação com objetivo de identificar a ocorrência de acidentes de trabalho com material perfurocortante potencialmente contaminado, entre enfermeiros e auxiliares de enfermagem de um hospital de ensino geral do interior do Estado de São Paulo. Foram entrevistados, 80 enfermeiros e 80 auxiliares que trabalhavam nas unidades de internação de Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Ginecologia e Obstetrícia, Centro Cirúrgico, UTI Pediátrica, ambulatórios gerais e unidades de emergências. Dos 80 (100%) enfermeiros entrevistados, 41 (51,2%) referiram ter sofrido algum acidente ocupacional com material perfurocortante no período de 1990 a 1996. Quanto aos auxiliares de enfermagem, 34 (42,5%) referiram já ter tido algum tipo de acidente com material perfurocortante. Quanto ao instrumento causador do acidente, 40 enfermeiros (97,6%) e 33 auxiliares de enfermagem (97,6%) referiram exposição percutânea com a agulhaliv.

Nishioka et al realizaram estudo em 1997 visando avaliar a prevalência de acidentes entre obstetras e anestesistas de uma cidade do sudeste do Brasil. Entre os anestesistas, 50% concordaram em participar do estudo; esta participação foi de cerca de 42% entre os obstetras. Cerca de 65% dos anestesistas e 80% dos obstetras referiam ter sofrido pelo menos um acidente perfurocortante nos 12 meses anteriores a pesquisa. O principal agente das lesões entre os anestesistas foi a agulha de medicação (89%) e, entre os obstetras, a agulha de sutura (57%) e lâminas (28%). O risco de exposições, calculado para os anestesistas no período de 12 meses, foi de 11 acidentes por

xlvii 10.000 anestesias ou 17 por 10.000 punções venosas. Entre os obstetras, o risco estimado foi de 2 acidentes por 100 procedimentoslv.

Reis et al estudaram exposições perfurocortantes entre estudantes de terceiro e quarto ano de graduação em hospital universitário do interior do Estado de São Paulo e observaram que, entre 124 universitários avaliados com entrevista semi-estruturada, 50 (40%) referiam já ter sofrido tal tipo de exposição. A maior parte das exposições (83%) ocorreu com material não- contaminado. Observou-se ainda que a maioria dos estudantes acidentados era vacinada contra hepatite B previamente ao acidente (48 de 50 acidentados)lvi.

Em estudo desenvolvido por Gutierrez et al, em hospital universitário localizado na Cidade de São Paulo, no período de agosto de 1998 a janeiro de 2002, 404 profissionais acidentados foram avaliados por médico e enfermeiro em consulta de emergência, tendo sido encaminhados para acompanhamento. Entre os acidentados, 47,8% eram auxiliares de enfermagem, 10,6% auxiliares de limpeza e 9,4% internos de medicina. 83,0% dos profissionais expostos foram avaliados pelo médico responsável pela profilaxia em até 3 horas apos o acidente. O sangue foi envolvido em 76,7% dos casos e o paciente-fonte era conhecido em 80,7% dos casos. 80 (24,5%) das fontes tinham evidencia sorológica de infecção por, pelo menos um agente; 16,2% tinham sorologia positiva para HIV. Sessenta e sete porcento da população estudada completaram o acompanhamento proposto e o abandono foi maior entre profissionais da limpeza. Nenhuma soroconversão foi confirmadalvii.

xlviii Caixeta e Branco estudaram a ocorrência de acidentes de trabalho em profissionais de saúde de seis hospitais públicos de Brasília no período entre 2002 e 2003, através de entrevista com instrumento semi-estruturado. Foram avaliados 570 profissionais de saúde, selecionados aleatoriamente. 75% dos entrevistados eram do sexo feminino. 39% dos profissionais referiam ter sofrido um acidente de trabalho com material biológico. Esses profissionais foram questionados quanto ao conhecimento sobre biossegurança, ocorrência de acidente de trabalho, aceitação da quimioprofilaxia e teste sorológico anti-HIV. Dentistas, médicos e técnicos de laboratório acidentaram-se mais, em comparação com farmacêuticos e enfermeiros. As situações relacionadas aos acidentes de trabalho com maior aceitação e adesão ao uso da quimioprofilaxia foram sorologia positiva e carga viral intensa do paciente-fontelviii.

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