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Sendo assim, sou influenciada pelos contextos concretos em que estou inserida e assumo papéis sociais diante das situações, seja na família; na escola; no grupo de amigos; no trabalho;

nas mídias e redes sociais etc. Nessa perspectiva, busco uma identidade que ao mesmo tempo atenda às expectativas sociais e também aos meus anseios individuais. Constantemente estou em negociação entre a padronização dos comportamentos ou das representações coletivas que a sociedade ou o outro espera de mim, tanto na vida pessoal quanto profissional e, ao mesmo tempo, reajo por meio da minha subjetividade, de acordo com as minhas expectativas pessoais e concepções de mundo a tais representações e papéis que me são atribuídos.

Por meio da reflexão apresentada, considero que a identidade é uma tentativa de reconhecimento de si mesmo e do seu lugar no mundo. Tenho como pressuposto que as identidades são plurais, encontram-se em processo de constituição permanente. Dessa forma, são mutáveis e dinâmicas, constantemente construídas, interiorizadas, desconstruídas e reconstruídas durante nossa vida; são marcadas pelas histórias de vida, pelo contexto histórico, social e cultural, pelas experiências e vivências pessoais e profissionais de cada pessoa.

formação e pelo status de determinada profissão dentro de um contexto histórico e social. Nessa perspectiva, a identidade é construída ao longo da vida e se constitui por meio da interação com os outros. Ela perpassa a história de vida pessoal e profissional, a formação inicial e continuada e as experiências profissionais. É um processo complexo “[...] que envolve as dimensões do sujeito e do social, o passado e o presente, o biográfico e o relacional” (PLACCO, SOUZA, 2017, p. 13).

Diante das reflexões apresentadas, acredito que a constituição da minha identidade como CPG é um constructo social e ao mesmo tempo particular, vinculado às minhas experiências formativas e aos percursos profissionais relacionados ao meu lócus profissional.

Dessa forma, ela envolve a minha história de vida e as minhas experiências vivenciadas no exercício da minha atividade profissional cotidiana.

Na busca por maior entendimento sobre a constituição do meu processo identitário, apoiei-me em autores das Ciências Humanas que concebem a identidade como um processo de reformulação e mudança que têm sua base nas influências psicossociais e históricas, como Ciampa (2007), Hall (2011), Bauman (2005) e Dubar (2005).

Ciampa (2007), do campo da psicologia social, compreende a identidade como metamorfose (constante transformação), destacando a história pessoal dos sujeitos, história estas permeadas pelo contexto histórico e social. Segundo o autor, identidade é movimento e tem caráter dinâmico. A visão do autor supera a ideia de identidade como algo dado, estático, parado e imutável. Nessa concepção, o sujeito constitui sua identidade na sua relação com a sociedade. Ele valorizava a dimensão da individualidade de cada pessoa diante de seus grupos.

A visão de Ciampa (2007) retrata a importância da investigação sobre a minha experiência atuando como CPG, na qual a minha história particular, os meus desafios e as minhas experiências pessoais e profissionais vivenciados como CPG se tornam relevantes e vão constituindo a minha identidade, dentro de um determinado tempo e lugar de atuação.

No campo da sociologia, Hall (2006) descreve as mudanças históricas na concepção de identidade: a identidade não está essencialmente no sujeito, mas é produto da história e, consequentemente, da cultura. A identidade unificada, completa, segura e coerente não existe mais. Segundo o autor, no contexto da modernidade estão cada vez mais fragmentadas e descentradas. No contexto moderno, o sujeito assume, então, identidades diferentes em diferentes momentos, ou seja, as identidades se deslocam constantemente e este movimento

tem características positivas, pois desestabiliza identidades estáveis do passado e possibilita o desenvolvimento de novos sujeitos.

Conforme os estudos de Hall (2006), compreendo que as identidades são múltiplas e se deslocam conforme os diferentes momentos da vida do indivíduo ou de sua trajetória por meio das mudanças históricas e dos novos significados que os sujeitos agregam e atribuem às suas vidas. Dessa forma, exercendo a função de Coordenadora Pedagógica Geral, passei por um processo de mudanças profundas e conceituais sobre o meu papel na escola e na comunidade escolar, diante do contexto pandêmico. Tais transformações na minha vida pessoal e profissional me possibilitaram uma reinvenção de mim mesma, marcada pelas experiências vivenciadas nos anos de 2020/2021 e por consequência a constituição de uma nova identidade.

Outro autor importante nas Ciências Humanas sobre a constituição das identidades é Bauman (2005). Ele contribui com os estudos sobre as “identidades líquidas”. Segundo o autor, não há tempo na modernidade para formas estáveis de identidade. As mudanças na sociedade são rápidas e aceleradas e as identidades se transformam na presença de diferentes ideias e na necessidade de escolhas contínuas. Desse modo, a identidade se revela como invenção e não descoberta; é um esforço, um objetivo, uma construção. Conforme Bauman (2005), na modernidade líquida, há uma infinidade de identidades à escolha, e outras ainda para serem inventadas. Com isso, só se pode falar em construção identitária enquanto experimentação infindável.

Ao refletir sobre os estudos de Bauman e sobre o meu papel como Coordenação Pedagógica Geral na escola, enxergo-me como uma identidade volátil, dinâmica, em constante processo de adaptação, diante das constantes mudanças e escolhas contínuas do meu cotidiano.

Vivendo a rotina em um ritmo frenético de experimentações, com exigências de reações rápidas e objetivas, sem muito pensar ou refletir sobre as ações.

Por meio dos autores citados, compreendo que o processo de constituição da identidade docente é contínuo, transformador, dinâmico e plural que acontece ao longo da vida e está relacionada ao contexto histórico, às interações sociais e profissionais, à história de vida e pessoal dos indivíduos, à sua cor, raça, gênero, cultura, religião, classe social, escolhas e às trajetórias pessoais e profissionais, entre outros aspectos.

Essa reflexão comprova que a identidade tem caráter dinâmico e relacional, que são múltiplas, constituídas como resultado da história da pessoa, da relação com seu contexto

histórico-social e de seus projetos de vida. Dessa forma, extrapola a ideia da existência de um sujeito único, passivo e inflexível mediante o tempo, as interações e a sociedade que o cerca.

No processo de compreensão da minha constituição identitária, outro autor de relevância é Dubar (2005). Por meio dos seus estudos, aponta a identidade como uma construção individual e subjetiva, mas também social e coletiva, constituída em um tempo histórico, marcada por tensões entre a percepção que o indivíduo tem de si e a representação que o outro tem sobre ele. Para o autor, as identidades constroem-se durante os processos de socialização no trabalho e na educação, dentro das instituições.

(…) a vida de trabalho é feita, ao mesmo tempo, de relações com parceiros (patrões, colegas, clientes, público, etc.) inseridas em situações de trabalho, marcadas por uma divisão do trabalho, e de percursos de vida, marcados por imprevistos, continuidades e rupturas, êxitos e fracassos. A socialização profissional é, portanto, esse processo muito geral que conecta permanentemente situações e percursos, tarefas a realizar e perspectivas a seguir, relações com outros e consigo (self), concebido como um processo em construção permanente. (DUBAR, 2005, p. 2012).

Segundo Dubar (2005, 2012), a identidade é um processo complexo e permanente. Os processos identitários são heterogêneos, inseparáveis, complementares ou contraditórios. Nessa dinâmica, consideram-se os processos biográficos – identidade para si (o que o indivíduo diz de si mesmo, o que pensa ser ou gostaria de ser), e os processos relacionais – identidade para outro (quem o outro diz que eu sou, a identidade que o outro me atribui).

Marcelo (2009) corrobora com Dubar (2005, 2012) e compreende a constituição das identidades como um fenômeno relacional que acontece no terreno do intersubjetivo. Assim:

[...] a identidade não é um atributo fixo para uma pessoa, e sim um fenômeno relacional. O desenvolvimento da identidade acontece no terreno do intersubjetivo e se caracteriza como um processo evolutivo, um processo de interpretação de si mesmo como pessoa dentro de um determinado contexto. (MARCELO, 2009, p. 114). Para o autor, as identidades acontecem no terreno intersubjetivo, constituídas por meio das interações e relações que o indivíduo estabelece nos seus contextos de atuação. Ela não é fixa e se constrói por meio das relações, interações e histórias vividas pelos indivíduos no percurso da vida. Trata-se de um processo evolutivo de interpretação e reinterpretação de si.

Portanto, por meio das reflexões apresentadas, posso afirmar que a identidade do CPG não está dada. Ela reflete o seu contexto de atuação e historicidade; está em constante mudança,

é dinâmica, individual e coletiva, pessoal e social; está em processo de interpretação, perpassa o meu fazer pedagógico, a minha formação e experiência profissional, assim como, envolve minhas ideologias, crenças e concepções sobre o lugar que ocupo na escola, bem como as representações que tenho de mim mesma, do meu papel e da função da coordenação pedagógica no contexto escolar.