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Fazer a análise compreensiva-interpretativa da minha própria escrita representa um duplo desafio. O primeiro desafio está relacionado ao caráter autobiográfico da pesquisa, pois trata-se de uma investigação sobre a minha própria prática e exige uma autorreflexão crítica sobre a minha função na escola. O segundo diz respeito ao objetivo de pesquisa e à análise dos diários para compreender os processos de constituição da minha identidade profissional como Coordenadora Pedagógica Geral (CPG). Esse processo de compreensão envolve historicidade, tempo, espaço, experiências, vivências, legislações, sentidos e significados de quem ocupa o lugar de CPG e suas concepções sobre a função do coordenador pedagógico na escola.

Por meio da pesquisa autobiográfica e do uso do diário como dispositivo de pesquisa, busco contar, reelaborar e compreender como se dá a constituição da minha identidade profissional por meio do meu fazer pedagógico como CPG, atuando na rede municipal de Belo Horizonte nos anos de 2020 e 2021.

A partir das produções escritas no diários e considerando os referenciais teóricos que sustentam a minha pesquisa, optei pela análise compreensiva-interpretativa proposta por Souza (2004), que contempla os três tempos de análise - o tempo de lembrar, de narrar e de refletir

sobre o vivido. Esse processo possibilitou compreender a constituição da minha identidade como CPG, por meio das experiências decorrentes do meu fazer pedagógico e das minhas trajetórias pessoais e profissionais.

Segundo Souza (2006a), os sujeitos investigados expressam por meio das suas narrativas, os significados que atribuem aos seus processos formativos e às suas experiências vivenciadas na sua trajetória individual e coletiva. Desta forma, a análise compreensiva-interpretativa tem como intuito evidenciar a minha relação como CPG e o meu fazer pedagógico, bem como as minhas narrativas em forma de diário revelam significados e sentidos acerca da minha experiência humana.

Desse modo, para analisar a minha experiência humana, utilizo a ideia de temporalidade biográfica (SOUZA, 2014, p. 41), interpretando as minhas narrativas a partir de um tempo biográfico que considera o lembrar, o narrar e o refletir sobre o vivido.

Para a análise interpretativa das fontes utilizei a ideia metafórica de uma leitura em três tempos, por considerar o tempo de lembrar, narrar e refletir sobre o vivido. Desta forma, a interpretação aconteceu desde o momento inicial da investigação-formação tanto para o pesquisador, quanto para os sujeitos envolvidos no projeto de formação.

(SOUZA, 2006a, p. 79).

Utilizo a leitura em três tempos, proposta por Souza (2006a). Esta interpretação dos diários respeita as singularidades da minha história de vida e da minha história coletiva. Os três tempos de análise da experiência compreensiva-interpretativa propostos por Souza (2006a, p.

79) dialogam e mantêm aproximações e singularidades com a minha pesquisa.

O Tempo I: pré-análise (lembrar): centra-se na organização e leitura das narrativas, para em seguida, avançar na leitura cruzada, a fim de apreender marcas singulares, regularidades e irregularidades do conjunto das histórias de vida-formação.

O Tempo II: construção de análises de unidades temáticas (narrar): é realizada a leitura temática (analítica) que caracteriza unidades de análise descritivas.

O Tempo III: análise compreensiva-interpretativa (refletir): é realizada a leitura interpretativa do corpus da pesquisa, buscando compreender as concepções sobre as práticas pedagógicas e os saberes docentes.

Dentro da perspectiva adotada por Souza (2014), busco por meio da leitura dos meus diários compreender e interpretar as histórias sobre o meu vivido como CPG, construindo

análises sobre o meu fazer pedagógico, saberes e experiências. Nesse processo, tomo a mim mesma como objeto de reflexão, em um movimento de autoanálise.

Os três tempos propostos por Souza (2014) permitiram-me uma leitura analítica e interpretativa dos meus diários produzidos de forma a “[...]apreender sutilezas, o indizível, as subjetividades, as diferenças e as regularidades históricas que comportam e contém as fontes (auto)biográficas” (SOUZA, 2014, p. 44).

Conforme o autor, a história de vida pode ser construída a partir do texto em sua totalidade ou centrada na análise temática, nas unidades de significação e nos excertos que representem ou revelem regularidades ou irregularidades narradas pelos sujeitos, seja individual ou coletivamente. Elas necessitam de constante retorno aos registros, releituras e reinterpretações para compreender os percursos, as trajetórias e as experiências de vida dos sujeitos, mediante o agrupamento de unidades de significação.

A construção de critérios de análise nasce articulada aos processos de leitura cruzada, leitura analítica e leitura compreensiva-interpretativa, implicando-se no modo como cada sujeito elege para narrar ou escrever sobre si, suas referências socioculturais, as regularidades e irregularidades históricas dos percursos e trajetórias de vida-formação, bem como pelo aprofundamento narrativo, frente a interioridade, exterioridade e a subjetividade de cada narrativa. (SOUZA, 2014 p. 45).

Dessa maneira, a análise dos meus diários faz emergir informações e significados sobre o Coordenador Pedagógico Geral. Essa análise compreensiva-interpretativa me permitiu um exercício de problematização e de reflexão sobre a minha atuação como CPG, busquei compreender os processos, as trajetórias e práticas, assim como as regularidades e irregularidades do percurso formativo e subjetividades, por meio de movimentos introspectivos, retrospectivos e prospectivos possibilitados pela escrita narrativa.

A análise das minhas narrativas como CPG se dará na perspectiva de compreender e de interpretar os sentidos e significados do meu processo de contar e de interpretar as minhas histórias narradas. Dessa forma, como narradora, articulo minhas experiências, meus conhecimentos e minhas subjetividades, buscando compreender-interpretar os sentidos e os significados da minha prática.

Na análise dos diários, busco articular minhas experiências narradas, organizando e estruturando os acontecimentos, segundo a minha percepção. Assim sendo, torno-me objeto de reflexão para compreender, então, a minha constituição identitária.

3 COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA: CENÁRIOS E CONTEXTOS

Atuando como Coordenadora Pedagógica Geral (CPG) na rede municipal de ensino de Belo Horizonte, vivenciei as constantes mudanças nas políticas educacionais no contexto pandêmico e pós-pandêmico. Tais mudanças refletiram no meu papel como CPG na escola e no papel dos(as) coordenadores(as) pedagógicos(as), docentes, famílias e estudantes.

Como Coordenadora Pedagógica Geral, passei por um processo de ressignificação da minha função, diante do contexto de pandemia. Neste período de 2020 a 2021, o CPG assumiu um papel de liderança e de coordenação entre seus pares e tornou-se responsável juntamente com a direção e os demais coordenadores da escola, pela organização, pelo auxílio e pela formação dos docentes, assim como foi necessário realizar contato com as famílias e interagir com os estudantes.

O processo de promover um espaço para a formação e reflexão de uma equipe de professores no período de distanciamento social não foi uma tarefa fácil, uma vez que exigiu habilidades e saberes do CPG, para manter o funcionamento da escola em contexto remoto.

Além disso, discutir novas perspectivas de aprendizagem mediadas pelas ferramentas tecnológicas demandou formação, trabalho coletivo e aprendizagens significativas sobre as novas perspectivas de ensinar e de aprender.

Nesse sentido, a minha ação cotidiana como CPG em contexto remoto, estava relacionada à articulação do trabalho docente para a melhoria no processo de ensino- aprendizagem escolar. Para tanto, foi necessário estar atenta às necessidades da direção da escola, do projeto político pedagógico da rede de ensino em que atuo, das legislações e normativas do período, da escola, do corpo docente, dos estudantes e da comunidade escolar.

Para tanto, acompanhei e monitorei as rotinas escolares, os encontros dos segmentos de professores, o planejamento e as práticas pedagógicas, tendo em vista o atendimento aos estudantes e a aproximação escola-comunidade.

Dessa maneira, para auxiliar na compreensão sobre a minha constituição identitária como Coordenadora Pedagógica Geral (CPG) e refletir sobre os significados da minha atuação em contexto de pandemia, fez-se necessário um breve histórico da coordenação pedagógica no Brasil: da supervisão escolar ao coordenador pedagógico, nos seus diferentes cenários e contextos de atuação.