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3. APORTES METODOLÓGICOS

3.2. Etapa de Campo

A rede estadual de educação de Pernambuco atualmente está composta por três perfis de escola, cada uma correspondendo a um perfil de formação ou atendimento escolar. Existem as escolas Regulares, que atendem estudantes dos anos finais do ensino fundamental e aos do ensino médio, funcionando em dois ou mais turnos; existem as Escolas de Referência em Ensino Médio – EREM, que atendem exclusivamente o ensino médio, funcionando com carga horária em tempo semi-integral ou em tempo integral; e as Escolas Técnicas Estaduais – ETE, de carga horária integral, estas podem ter o formato de ensino médio integrado, atendendo estudantes egressos do ensino fundamental ou no formato subsequente ao ensino médio atendendo estudantes que concluíram o ensino médio.

As escolas Regulares representam cerca de 70% da rede estadual de educação (PERNAMBUCO, 2014), mas devido ao perfil da Política Educacional em curso, este número tende a diminuir, por meio da municipalização do ensino fundamental, de modo que o estado assuma o ensino médio com exclusividade.

Considerando o fato de serem as escolas Regulares as mais numerosas da rede; e que a política de priorização do ensino médio em vigor no estado talvez tenda a relegar estas escolas à categoria de escolas menos prestigiadas, optamos por defini-las como campo empírico desta pesquisa.

Além de ampararmos nossa definição de campo empírico no fato de as escolas regulares representarem a maior parcela da rede estadual, nossa definição também levou em consideração as contribuições das pesquisas de Soares Neto et. al. (2013: 81) nas quais o autor “propõe uma escala para aferir a infraestrutura escolar”.

Os Autores desenvolveram uma metodologia de base estatística que lhes permitiu “categorizar as escolas em termos de suas estruturas materiais”, utilizando- se dos microdados do Censo Escolar da Educação Básica. Mais precisamente, os autores selecionaram 24 itens/variáveis presentes no questionário do Censo:

para caracterizar a infraestrutura, foram utilizados dois blocos de itens, Caracterização e Infraestrutura e Equipamentos, que englobam desde a variável 32 (água consumida pelos alunos) até a variável 41d (Acesso à Internet). Neste intervalo, foram adotados alguns procedimentos como descritos na sequência. (p. 83)

Os procedimentos aos quais a citação se refere estão vinculados à ressignificação e organização dos itens dos questionários do censo escolar como, por exemplo, a supressão da dimensão da qualidade da água ou da energia, pois a metodologia adotada pelos autores pressupõe o uso de itens dicotomizáveis – passíveis de serem categorizados em SIM ou NÃO. Em resumo, nesta metodologia os autores consideram apenas a existência dos itens e não a sua qualidade.

Com base num conjunto de 24 itens e mediante a aplicação estatística por eles elaborada, os autores constroem quatro categorias/níveis possíveis de classificação da infraestrutura escolar, a saber:

1 – Nível Elementar: Nesta categoria estão escolas que possuem apenas os elementos indispensáveis para se considerar um espaço como sendo uma escola, ou seja, energia elétrica, sanitário, água, cozinha e esgoto;

2 – Nível Básico: Esta categoria considera os elementos do nível anterior mais o fato de haver ambiente específico para o funcionamento da direção escolar e pela existência de equipamentos como TV, impressora, computadores e DVDs, por exemplo;

3 – Nível Adequado: A escola para ser considerada pertencente a este nível, além dos equipamentos e condições presentes nos níveis anteriores, demanda a existência de salas para professores, laboratório de informática, quadra poliesportiva e acesso a internet, por exemplo;

4 – Nível Avançado: Neste nível, estariam as escolas que contemplam todos os itens anteriores acrescida da existência de laboratório de ciências e condições de atendimento a estudantes com deficiência, por exemplo.

Em recente pesquisa, o Observatório de Políticas e Gestão da Educação Pública – OBSERVA -2 vem trabalhando com um Banco de Dados, organizado e sistematizado pelo professor Soares Neto e sua equipe, no qual constam as

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O Observatório, coordenado pela Professora Doutora Márcia Angela Aguiar, no âmbito do PPGE/CE/UFPE, desenvolve várias pesquisas e o relatório de pesquisa que apresenta um panorama da situação infraestrutural das escolas de Pernambuco (no prelo).

informações sobre a situação das escolas estaduais de Pernambuco que responderam ao Censo Escolar entre 2011 e 2014, dentro da supracitada escala para medir a infraestrutura escolar. Foram extraídos do Banco de Dados, especialmente os dados referentes ao estado de Pernambuco.

Tendo acesso ao referido Banco de Dados, e analisando as informações relativas ao ano de 2014, nos valemos das seguintes informações para balizar a definição das Escolas Regulares como campo de nossa pesquisa: a) 46% destas escolas estão situadas na cidade do Recife; b) destas, 42% são consideradas pertencentes ao nível Básico dentro da metodologia de Soares Neto et. al. (2013) e 17% aparecem como pertencentes ao nível Elementar.

Além de representarem o maior número de escolas da rede estadual e, respectivamente, da capital, estava entre elas o maior percentual de escolas em situação de infraestrutura limitada ou insuficiente no ano de 2014, segundo os dados sistematizados por Soares Neto et al.(2013).

A partir disto, decidimos trabalhar com 04 escolas estaduais regulares classificadas no nível Elementar, segundo as informações do Banco de Dados disponibilizado pelo autor para o ano 2014. Todas são escolas localizadas em bairros da periferia da capital pernambucana.

Definido o campo empírico, partimos para realiza a coleta de dados. Nesta fase optamos por relatos verbais escritos, com duas fontes diretas: 04 Gestores, sendo um por escola, por meio de Entrevistas semiestruturadas.3

Outra fonte direta foi composta por estudantes do 9º ano do ensino fundamental e/ou do ensino médio. Ao todo, por meio da aplicação de questionário fechado (survey) alcançamos 67 meninas e meninos.

No tocante à escolha e validação de tais fontes/sujeitos, nos orientam as considerações de Luna (2000) a respeito da pesquisa baseada em relatos verbais, chamando atenção para a necessidade de escolhermos fontes o mais direta possível, menos por uma ruptura com a “variabilidade” e ou “subjetividade” das informações e dados coletados, próprias das pesquisas sociais, e mais como

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Em uma das escolas diretora e vice-diretora preferiram que a entrevista fosse realizada com as duas ao mesmo tempo, ao que não nos opomos, e uma outra gestora não autorizou a gravação da entrevista. Nenhuma das situações prejudicou a realização da pesquisa, ainda que na segunda situação a resistência em realizar a entrevista tenha impactado na ampliação do corpus dos textos a serem analisados. Não obstante, as informações resultantes daquela entrevista, não podendo ser analisada por falta de um registro rigoroso, contribuíram para balizarem o conjunto dos dados no momento de sua análise, como poderá ser percebido no capítulo destinado à apresentação da análise de dados.

estratégia de refinamento capaz de atribuir à pesquisa maior rigorosidade. Neste sentido, o autor destaca três características básicas a serem consideradas na definição dos sujeitos (coletivos ou indivíduos): 1º) sujeitos que tenham a informação; 2º) Que sejam capazes de verbalizar, oralmente ou por escrito, dependendo da técnica a ser aplicada; 3º) Que tenham disposição e disponibilidade em fazer o relato - no nosso caso, por meio de respostas a questionários e da participação em entrevista.

Assim, ao escolhermos tais sujeitos, esperávamos ter uma percepção mais abrangente do problema a ser investigado, expectativa presente na definição do método, das técnicas e instrumentos a serem utilizados por nós.

Em se tratando de uma Pesquisa Social, nos propomos ao exercício de uma “partilha densa” (CHIAZZOTTI, 2003) com sujeitos que vivem uma mesma dimensão da realidade, a partir de lugares sociais e políticos distintos. O sentido de densidade, por nós atribuído, está vinculado ao tipo de relação que se estabelece com os sujeitos da pesquisa em seus ambientes, e menos à quantidade de sujeitos participantes; mais ao de saber partilhado e construído a partir da relação estabelecida, e não da quantidade de informação coletada; mais pela melhor fruição da experiência vivenciada no contato direto com o outro em parte de sua realidade, que pela extensão temporal deste contato.

A partilha, neste sentido, vem a ser uma condição sine qua non em um fazer científico que, reconhecendo a realidade como multifacetada e a experiência humana como complexa, busca se constituir, segundo o mesmo autor, enquanto uma prática válida e necessária na construção da vida social. Neste sentido, justifica-se nosso esforço em ouvir diferentes vozes para com elas dialogarmos, mediatizados pelo tema desta pesquisa e tendo a escola como ambiente, “como lugar e como território” (VIÑAO, 2005). Onde, e a partir do qual, a política constrói seus escopos e se concretiza (AZEVEDO, 2004).

Para a consecução de nossos objetivos utilizaremos de três técnicas de coleta de dados: Entrevista, enquanto relação social de comunicação, mas com a especificidade de carregar em si uma intencionalidade científica, pressupondo um exercício de construção, na perspectiva de Bourdieu (1997), segundo a qual não havendo inocência epistemológica, em crítica à proposição e perspectiva positivista de entrevista, deve ser feito um esforço para “conhecer e dominar” atos e efeitos de construção da realidade. A entrevista, assim, é denominada como uma Interação

Densa, caracterizada por uma “série de trocas”, demandante de uma escuta ativa, atenciosa e atenta; e entrevistas estruturadas em formato de Questionário, compreendido como um instrumento mediador da comunicação social (RICHARDSON, 1999), partindo também de uma abordagem segundo a qual os dados “são criados e não apenas coletados [visto que] a maneira como os dados são procurados determina a natureza dos dados recebidos” (BABBIE, 2003:193 – grifo nosso), na intenção de nos aproximarmos da percepção dos estudantes das escolas campo sobre a infraestrutura da sua escola e identificar possíveis efeitos da política.

Realizamos, ainda, registros fotográficos dos espaços das escolas, menos enquanto objeto de análise, mais como suporte de memória do pesquisador e parâmetro de percepção por parte dos leitores-pares; daí a opção de disponibilizá- las em anexo.