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8. POLÍTICA DE INFRAESTRUTURA ESCOLAR EM PERNAMBUCO NO ATUAL

8.1. Vetores da Política de Infraestrutura Escolar em Pernambuco

8.1.3 Pacto Pela Educação (2011)

Vimos anteriormente como já nos primeiros anos da primeira gestão Eduardo Campos (2007-2010) as bases e ações que iriam dar a contextura da educação naquele governo se encontravam bem delineadas e bem estruturadas no campo da prática já no ano de 2007. Vimos, ainda, que tal perspectiva se fez materializar em um documento denominado Programa de Modernização da Gestão Pública - Metas para Educação, de 2008.

Este documento apresentava o modelo de gestão a ser experenciado no campo da educação pela rede estadual como um todo, bem como sua concepção de educação, que integrava ensino médio à formação da classe trabalhadora em tempo escolar ampliado, com jornadas de tempo integral ou semi-integral. Aquele documento continha as bases da política educacional desenvolvida no período que, por sua vez, refletem algumas das ações previstas no Programa PROESCOLA/EDUQ e dão as bases que irão fundamentar o Projeto EDUCAR/PERA, ambos discutidos por nós neste capítulo.

A experiência com os Projetos supracitados no campo da educação, contribuindo para a consolidação das metas estabelecidas para o período da primeira gestão, aliada a experiência no campo da segurança pública onde se estruturou uma política de monitoramento permanente das ações e resultados, denominado Pacto Pela Vida, nortearão a nova materialização da gestão da educação a partir de uma metodologia de gestão denominada Pacto Pela Educação- PEE.

caracterizado enquanto Programa de Gestão Por resultados com geração de valor público, na forma de Pacto de Resultados, que segundo o Art. 7 do mesmo decreto, “são metodologias específicas aplicadas em programas multissetoriais (...) com a finalidade de obter a melhoria em indicadores de qualidade dos serviços públicos”.

Valor Público, por sua vez, é definido como sendo o conjunto dos resultados que remetam à eficiência na aplicação de recursos públicos, aliados à qualidade dos serviços prestados bem como ao bem-estar social. Segundo esta lógica, o Valor Público se expressa por meio de indicadores de resultados. Para a educação foram definidos como indicadores de resultados IDEB e o IDEPE, respectivamente (Idem: Art.3º). Significando a subordinação de todas as ações do Estado no campo educacional em nível estadual aos referidos instrumentos de avaliação.

A principal diretriz do PPE vincula-se à consolidação de uma educação inclusiva para a formação da cidadania e para o mundo do trabalho (PERNAMBUCO, 2011) que, por se tratar de um estratégia de caráter multissetorial, se desdobra nas seguintes diretrizes setoriais: Qualidade da educação, para todos e com equidade; melhoria do ensino, das aprendizagens e dos ambientes e ampliação do acesso. Cujo objetivo seria Garantir educação pública de qualidade e formação profissional. O que seria possível por meio da melhoria dos indicadores de qualidade de avaliações de desempenho educacional. Dentre os princípios por nós identificados, os mais centrais são Meritocracia e Foco nos resultados.

Esta breve descrição, até aqui, já nos permite identificar que as diretrizes, objetivos e princípios, são idênticos aos presentes nos outros dois vetores. O mesmo acontece com as metas presentes nos documentos analisados, que vão da ampliação ao acesso da educação básica (urbana e rural), passam pela formação de professores, pela melhoria da qualidade da educação básica chegando até a melhoria da gestão da rede escolar. Por outro lado, introduz outros elementos, como a centralidade do acesso à educação integral, passando pela ampliação da educação profissional e acesso ao ensino superior.

Tanto a educação em tempo integral, como prática, quanto a formação profissional, enquanto discurso, estão bem presentes nos textos do Projeto EDUCAR analisados por nós. Isto se deve em partes ao fato de as diretrizes dos programas de governo para o campo da educação terem este foco e pelo fato de o EDUCAR ter se desenvolvido nas duas gestões Eduardo Campos, sendo concluído apenas em 2016 já na gestão Paulo Câmara.

Estes dois fatores, tendo como fundamento as menções feitas ao Pacto Pela Educação nos documentos do Projeto, fazem do Pacto, ao mesmo tempo, resultado e impulsionador das ações do Projeto EDUCAR. Resultado por ter sido desenvolvido para a gestão 2011-2014, ou seja, após o início do EDUCAR e já contemplando muitos aspectos estabelecidos no desenho do Projeto, cujo um dos indicadores previa o desenvolvimento de uma estratégia para o campo educacional capaz de ser direcionada para a identificação de ações prioritárias e favorecedora da definição de indicadores de gestão (WORLD BANK, 2008; 2016). Impulsionador por ter servido de base, enquanto estratégia de gestão do setor educacional consolidada para o monitoramento e avaliação do desempenho das ações e resultados do EDUCAR a partir de 2013, ano de reestruturação do Projeto passando a enfocar o PPE como a metodologia representativa da reestruturação do enfoque educacional para o estado, (WORLD BANK, 2013; 2016) consolidando-se como a metodologia de vetorização e monitoramento das políticas educacionais no estado a partir de 2011.

Sua materialização se dá por meio do estabelecimento de metas e da produção de informações e dados estatísticos na condição de indicadores da qualidade da rede estadual. Inicialmente previa atender 300 Escolas de Referência do Ensino Médio – EREMs e Escolas Técnicas Estaduais – ETEs, com baixo desempenho no índice estadual para o ano 2010, monitorando-as a partir de indicadores de resultados e da “avaliação bimestral da escola para acompanhamento das notas dos estudantes (...) sendo validadas por uma avaliação semestral externa” (PERNAMBUCO, 2011:03) e de processos constituídos pela frequência de aluno e professores, pela relação entre aulas previstas e as efetivamente realizadas e pelo cumprimento do currículo da rede. Uma engenharia pautada na gestão para os resultados.

A metodologia inclui uma série de planos e ações visando oferecer melhores condições de aprendizagem aos alunos de Pernambuco; Ajudando-os a obter melhores resultados em exames externos nacionais e internacionais, como o SAEPE, SAEB, ENEM e PISA; E contribuindo para melhorar o status dos indicadores de educação. O PPE utiliza estratégias de RBM, com monitoramento mensal de metas rotineiras e planos estabelecidos para melhorar o desempenho das escolas públicas. (WORLD BANK, 2016:31;58).

Como mencionamos no início deste tópicos, dentre os princípios que regem o Pacto Pela Educação estão a meritocracia, o desempenho/performatividade e foco nos fins/resultados. Com isto, uma das expectativas por parte do Governo consistia

em incorporar mecanismos de gestão empresarial, ampliando a competitividade no âmbito da escola e dos professores, conforme podemos evidenciar na citação a seguir:

Com base no sucesso do Pacto pela Vida (PPV), o governo também implementou o PPE como parte deste modelo inovador de RBM. Uma das estratégias do PPE foi a adoção do Bônus de Desempenho Educacional (BDE), que é um incentivo dirigido a todo o pessoal da escola. Este programa também recebeu apoio técnico do Banco. Para receber o Bônus, as escolas devem atingir, pelo menos, 50% da meta projetada para o período. (Idem, p.3).

Tudo isto sob o argumento de que tais medidas poderiam contribuir para a melhoria do desempenho de professores, estudantes e, consequentemente, se constituindo no testemunho da boa educação do estado, sob uma lógica de punição e recompensas. Em outras palavras “a monitorização contínua das actividades a nível escolar, juntamente com os resultados do SAEPE e do IDEPE, permite o estabelecimento de incentivos baseados no desempenho para as escolas que cumpram os objectivos previstos” (idem, p.60)

Dentro deste contexto a pergunta que procuramos responder foi onde entra a dimensão da infraestrutura escolar a partir do PPE, sendo ele o vetor central das ações do Estado para a educação em nível local?

Até aqui acreditamos ter conseguido trazer os elementos que evidenciam a relação entre o desenvolvimento desta nova estratégia e os vetores discutidos nos tópicos anteriores, sendo possível afirmar que há um apoio desta metodologia naquilo que vinha sendo desenhado e proposto nos Projetos e que por sua vez refletiam as prioridades do Governo desde a primeira gestão.

Por outro lado não existem muitas informações nos documentos consultados que apontem as ações que seriam e/ou foram desenvolvidas a partir especificamente da elaboração do Pacto no tocante a infraestrutura escolar, exceto por aquelas inseridas no Projeto EDUCAR e que foram submetidas à adequação dentro dos Padrões Básicos, cujos aspectos já foram discutidos por nós. Isso em virtude de que inicialmente a previsão do PPE era contribuir para a ampliação do acesso a educação estadual básica, rural e urbana, com foco específico para o ensino médio especialmente em carga horária integral.

Dada a concepção e publicização do PPE enquanto um eixo estruturador da política educacional do estado a partir da segunda gestão Eduardo Campos (2011-

2014) e da primeira e atual gestão Paulo Câmara (2015 – 2018), acreditamos que pesquisas posteriores podem vir a contribuir na identificação e análise de tais ações. Haja vista que a ampliação do acesso e do tempo escolar deveria passar, necessariamente, pela reestruturação dos espaços e ambientes escolares.

O PPE continua a ser o principal instrumento para monitorar e fazer ajustes nas políticas e programas de melhoria da qualidade, eficiência e equidade da educação. Além disso, várias atividades do projeto já foram integradas nas escolas públicas estaduais como o programa de padrões básicos, o PDE e o SAEPE. (WORLD BANK, 2016: 18)

Neste sentido, ao contrário do que possa parecer, é que o tratamos como um vetor específico da política de infraestrutura escolar e não unicamente como elemento de contexto, mesmo que nesta pesquisa ainda não tenha sido possível ampliar o delineamento e análise do seu escopo em relação a este quesito.

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Os dados documentais apresentados e analisados até então permitiram identificar elementos da Política de Infraestrutura escolar em Pernambuco na atualidade, ao menos no que concerne às concepções e desenho das propostas para a ação do Estado. Ou seja, Parâmetros - que nós definimos como sendo o conjunto daquilo que delineia a concepção e conceituação da política - e Medidas - entendidas por nós como o conjunto dos elementos que subsidiam a concretização e materialização das políticas - norteadores da política educacional no geral e para a infraestrutura escolar em específico.

Os parâmetros por nós identificados podem ser representados por aquilo que anteriormente apresentamos como sendo os princípios da política, quais sejam o Gerencialismo, a Modernização da Gestão, a Gestão Para Resultados, a Meritocracia, a Responsabilização, conformando um projeto de educação enquanto serviço aos moldes do mercado. São eles, ao mesmo tempo, o conjunto de conceitos que tem fundamentado a concepção das políticas educacionais local e globalmente, bem como a sua materialização, perpassando as diversas medidas previstas pelas três ultimas gestões estaduais.

A política de infraestrutura escolar inserida neste contexto, enquanto uma linha de ação do estado, não foge à regra e passa a ser pensada como um dos componentes capazes de reforçar o modelo de escola e educação a partir dos

parâmetros supracitados. Por conseguinte, suas Medidas traduzidas a partir do Programa de Padrões Básicos - requalificação de escolas, pequenos reparos e reformas, aquisição de mobília, materiais e equipamentos – conforme mapeado neste trabalho, também repousam sob tal perspectiva. O que, ao nosso ver, transforma o espaço escolar em um indicador.

Não há dúvida que concordamos com o fato de que a infraestrutura escolar seja um qualificador das práticas educativas escolares; todas as nossas discussões neste trabalho seguem esta direção, que é, por sua vez, contrária a direção na qual o espaço escolar é posto nos documentos.

Desta feita, se fosse para realizarmos uma breve caracterização da política de infraestrutura escolar em questão iniciaríamos ressaltando seu caráter orgânico e bem estruturado dentro de uma estratégica nacional, ilustrado pelo FUNDESCOLA e de uma estratégia local, que tem a educação como área prioritária e impulsionadora de indicadores sociais e econômicos. Ou seja, está inserida dentro de um panorama maior das normatizações e orientações da União e compondo a arquitetura do projeto político em nível estadual. Isto a torna, ao mesmo tempo, frágil, suscetível às intempéries conjunturais da macropolítica devido seu caráter de política de governo; e forte por figurar com destacado papel dentro do escopo geral da política local.

A falta de um corpo conceptual próprio da política capaz de inserir a infraestrutura escolar como dimensão pedagógica faz com que o espaço escolar seja tido como um meio, um insumo, resultando em medidas que descreveríamos como rudimentares ou primárias/elementares na composição de um espaço de aprendizagem. Falta-lhe um corpo próprio.

Isto, ao nosso ver, se dá pela sua subordinação ao foco no resultado, nos fins, nos dados e não nas pessoas.

Ressaltamos o caráter provisório e circunscrito ao corpus documental aqui analisado, de nossas afirmações. Estas, por sua vez, serão complementadas, no tópico seguinte, pela análise de outro conjunto de dados, a partir do qual pretendemos captar e analisar algumas percepções dos atores da política no terreno da escola, ampliando o espectro do nosso olhar sobre o objeto de pesquisa.

8.2. O que dizem os atores? – Percepção sobre a política de infraestrutura escolar.

Neste tópico discutiremos os dados coletados nas 04 escolas campo de pesquisa, caracterizadas por serem escolas regulares, que não funcionam em tempo

integral e podendo vir a ter mais de um nível de ensino, conforme justificado no capítulo 02, ao descrevemos a metodologia da pesquisa. Todas situadas na cidade do Recife, sob a gestão da Gerência Regional de Educação – Recife Sul, devido as suas respectivas localizações geográficas.

Foram sujeitos desta pesquisa estudantes do último ano do Ensino Fundamental e do Ensino Médio com os quais realizamos a aplicação de questionário (survey); bem como gestores escolares (diretores e vice-diretores), com os quais realizamos entrevistas semiestruturadas.

A ideia central é reunir e analisar informações com base nas diversas vivências e lugares ocupados no cotidiano da vida escolar, objetivando apreender a percepção dos atores a respeito da política de infraestrutura escolar.