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Esta etapa consistiu-se na coleta de dados por meio de entrevistas semiestruturadas para compreender o processo de marcação de consultas nos pontos de atenção do município, e buscar esclarecer as causas das faltas às consultas agendadas.

No caso desta pesquisa, foram consideradas algumas premissas que, por definição, remetem às informações essenciais para elaborar um raciocínio que pudesse levar à conclusão de um estudo.

As entrevistas como técnica de coleta de dados são adequadas às pesquisas que têm seu foco na obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, sentem ou desejam, fazem ou fizeram, bem como suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes (GIL, 2014).

A entrevista semiestruturada possui roteiro e perguntas previamente estabelecidos, mas ocorre um diálogo contínuo entre o pesquisador e o sujeito, com o objetivo de atender aos objetivos da entrevista. Para Minayo (2014), este tipo de entrevista deve resultar na obtenção de dados considerados essenciais que contemplem a abrangência das informações esperadas.

Para contemplar o terceiro objetivo, foram analisadas as falas dos profissionais de saúde para compreender a dinâmica da marcação de consultas no território e o processo de marcação de consultas para a AE, sendo possível elaborar um esquema onde são visualizadas as etapas deste procedimento. Esta temática também foi apresentada na forma de artigo na seção de Resultados e Discussão, compondo, portanto, o Artigo 3.

Por fim, para alcançar o que se propõe no último objetivo, foi realizada a análise temática das entrevistas com os profissionais e com os usuários, a fim de expor as concepções destes atores a respeito do acesso e das causas do absenteísmo dos usuários aos serviços de saúde, sendo apresentada na seção secundária dos Resultados e Discussão.

5.2.1 Fases da coleta dos dados qualitativos

Foram realizadas quarenta e duas entrevistas semiestruturadas, sendo dezesseis profissionais (lotados nas UBS e na Regulação municipal) e vinte e seis usuários (um de cada especialidade médica disponibilizada pela SESA).

Partindo da premissa de que é possível que haja fragilidades no processo de marcação de consultas e nos encaminhamentos para as especialidades médicas, foi necessário compreender a forma com que esta marcação é realizada, bem como as condições em que são feitos os encaminhamentos, pois poderiam apontar fatos geradores do absenteísmo dos usuários.

Para isso, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os profissionais de cinco UBS (uma de cada região administrativa), sendo, portanto, cinco gerentes, cinco médicos e um profissional que atua no processo de agendamento dos encaminhamentos para consultas na Atenção Especializada (AE), totalizando onze profissionais das UBS.

Também foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os profissionais do setor de Regulação do município, envolvidos no direcionamento dos usuários na busca pela consulta especializada, compreendendo um coordenador, três médicos reguladores e um operador do SISREG, totalizando cinco profissionais.

As entrevistas com os profissionais das UBS foram realizadas de forma individual, e ocorreram na estrutura da própria UBS, sendo na sala da gerência ou consultório médico. Já os profissionais do setor de Regulação foram entrevistados de forma individual nas dependências da SEMSA.

Na intenção de impossibilitar a identificação destes entrevistados, os profissionais das UBS e do setor de Regulação do município foram identificados neste estudo como Gerentes de Unidade (GU), Médicos de Unidade (MU), Recepção de Unidade (RU) e Profissionais da Regulação (PR), seguidos pela numeração elaborada de forma aleatória de 1 a 5 no caso dos GU e MU e PR.

Considerando a premissa de que há uma tendência de culpabilizar os usuários pelo absenteísmo às consultas agendadas, a escuta destes atores sociais foi de grande importância para alcançar os objetivos do estudo. Assim, os usuários entrevistados foram selecionados por meio do sorteio de um nome de cada especialidade disponibilizada pelo relatório do SISREG.

As entrevistas com os usuários foram realizadas por meio de ligações telefônicas, sendo esclarecido que as ligações estavam sendo gravadas, bem como explicitados os motivos do contato e os objetivos da pesquisa. Optou-se pelo critério de iniciar as ligações a partir do mês mais recente para os meses anteriores, na intenção de reduzir o viés de memória. Estes usuários foram identificados com a sigla “U”, seguida pelo número correspondente à entrevista registrada.

Os critérios de inclusão foram: a existência de telefone de contato no cadastro da solicitação, ter idade maior de 18 anos e aceitar, de forma verbal, que está de acordo em participar da pesquisa após os devidos esclarecimentos. Também foram

incluídos aqueles que se declararam responsáveis pelos usuários a serem entrevistados.

Após estarem de acordo em participar da pesquisa, foram consideradas válidas as entrevistas em que era respondida a principal pergunta que se referia às causas pelas quais o usuário entrevistado não compareceu à consulta. Assim, a negativa de resposta a qualquer uma das demais questões não invalidava a entrevista.

Foram consideradas como sem sucesso as tentativas de contato com o usuário cujo número registrado tenha passado por três ligações em momentos diferentes, e que não tenha atendido a nenhuma delas.

Para Gil (2014), a entrevista por telefone apresenta vantagens em relação à entrevista pessoal. Dentre estas, destacam-se os custos reduzidos para realização do contato, a facilidade na seleção da amostra, a rapidez na execução e a maior aceitação dos moradores de grandes cidades por temerem abrir a porta de sua casa para estranhos.

As entrevistas com os profissionais e as ligações telefônicas foram gravadas por meio do aplicativo de gravação de áudio do telefone celular (Gravador de Voz

Samsung) para que as entrevistas pudessem ser transcritas em seguida.

Todos os entrevistados que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com exceção dos usuários, cujo TCLE fora substituído pelo consentimento verbal gravado.

5.2.2 Análise dos dados qualitativos

A análise das informações obtidas pelas entrevistas deu-se por meio da análise temática, que é uma técnica simples e considerada apropriada para investigações qualitativas em saúde (MINAYO, 2014).

A análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido, focos de uma comunicação, denominados temas e que podem ser representados por uma palavra, uma frase, ou um resumo. O processo da análise desdobra-se em três etapas, a pré-análise, a exploração do material e o tratamento e interpretação dos resultados (MINAYO, 2014).

Na pré-análise são retomadas as premissas e os objetivos iniciais da pesquisa, determinando-se a unidade de registro, a unidade de contexto, os recortes, a forma de categorização e codificação e conceitos teóricos mais gerais que orientarão a análise (MINAYO, 2014).

Na exploração do material busca-se encontrar as categorias, que são as expressões ou palavras mais significativas, realizando a classificação e a agregação dos dados específicas do tema estudado (MINAYO, 2014).

No tratamento dos resultados e interpretação, o pesquisador propõe inferências e realiza interpretações que são relacionadas com o quadro teórico inicial, além de poder identificar novas dimensões de interpretação (MINAYO, 2014).

No caso deste estudo, foram definidos como indicadores os temas referentes ao acesso dos usuários aos serviços de saúde e o procedimento de marcação de consultas (envolvendo o processo de trabalho empregado neste tema), as causas do absenteísmo e seu desdobramento pelo ponto de vista dos profissionais, e as causas do absenteísmo e seu desdobramento pelo ponto de vista dos usuários.