ETCC E FUNÇÕES EXECUTIVAS

No âmbito esportivo, um estudo conduzido por Liu et al, avaliou o mecanismo da ETCC no desempenho de atletas profissionais de remo utilizando de avaliações de função executiva, percepção de fadiga, potência do limiar de lactato e força muscular isocinética, bem como a coleta de dados de ressonância magnética funcional. Doze atletas foram divididos aleatoriamente em dois grupos: baixa estimulação (1mA) e alta estimulação (2mA) e receberam 10 sessões de ETCC vinte minutos ao dia. Como resultado final os autores perceberam melhora nos testes de desempenho cognitivo nos dois grupos, porém não houve diferença significativa entre eles109. Se compararmos os resultados de Liu et al, com o de nosso trabalho, percebemos neste último, que também houve melhora no desempenho cognitivo dos atletas que receberam ETCC se analisarmos o grupo isoladamente. No entanto, não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos ETCC e controle na melhora do desempenho cognitivo quando comparado entre eles. O estudo de Liu et al, descreve algumas limitações como amostra pequena, mas principalmente de não possuir um grupo simulado, portanto, devendo-se ter cautela na generalização de seus achados.

Em modalidades esportivas individuais, Borducchi et al, avaliaram o uso da ETCC em dez atletas profissionais de três modalidades diferentes (judô, natação e

ginástica rítmica), que receberam estimulação anódica (2 mA) por 20 min no CPFDL esquerdo por dez consecutivos dias úteis. Os autores observaram um efeito positivo da ETCC no desempenho cognitivo, incluindo uma melhora significativa na atenção alternada, sustentada e dividida e nos escores de memória. Porém, este estudo também contou com uma amostra pequena e não havia comparação com grupo controle simulado7.

Um estudo recente, realizado com 36 ciclistas masculinos, a fim de avaliar o efeito da ETCC no desempenho de exercício individual em três sessões separadas, correspondendo a três condições de estimulação: anódica, catódica e sham, sendo administrada antes de cada teste durante 20 min a uma intensidade de corrente de 2,0mA, com eletrodo anódico colocado sobre o CPFDL e o catódico no ombro contralateral não observou melhora no desempenho bem como informaram que nem a frequência cardíaca, nem a atividade eletroencefalográfica foram afetadas por ETCC110_.

Em populações clínicas, meta-análises e revisões sobre os efeitos da ETCC aguda na cognição realizadas até agora fornecem resultados mistos sobre sua capacidade de modular o desempenho cognitivo. Enquanto alguns estudos relatam efeitos benéficos pequenos a moderados111–113, outros relatam nenhum efeito usando ETCC em uma única sessão em humanos jovens saudáveis114 ou quando os indivíduos realizam tarefas de memória de trabalho113_{. No entanto, devido a vários} modelos experimentais relacionados a configurações de eletrodos, intensidades, durações, tamanho do eletrodo e dependência do estado, nenhum pressuposto geral sobre a eficácia parece ser válido até que mais clareza seja coletada52,115.

Brunoni e Vanderhasselt conduziram uma revisão sistemática e meta análise de estudos sobre os efeitos da estimulação cerebral não invasiva (ETCC e estimulação transcraniana magnética repetitiva) no desempenho cognitivo de indivíduos saudáveis e pacientes clínicos. A área de estimulação considerada para análise foi o córtex pré-frontal dorsolateral, mesma região estimulada no presente estudo. Os resultados apontaram que a estimulação cerebral não invasiva é efetiva em melhorar o desempenho cognitivo116. Interessantemente, quando analisado apenas a ETCC foi verificado que há uma melhora apenas do tempo de reação, mas não da quantidade de erros, achados que corroboram em parte com o encontrado no presente estudo, uma vez que no teste de trilhas, houve uma redução gradativa no número de erros do grupo ETCC do primeiro ao sétimo dia e do sétimo ao décimo

quarto dia. Porém, tal efeito não se observou no teste de Stroop de Cores e Palavras, onde houve redução do número de erros do primeiro ao sétimo dia, porém essa diminuição não se manteve constante do sétimo ao decimo quarto dia. Umas das possibilidades sugeridas para explicação dessa melhora seletiva é o desenho do experimento de forma cruzada. Nesse sentido, a participação no mesmo experimento múltiplas vezes poderia resultar em uma melhora da acurácia devido ao aprendizado com a repetição da tarefa. Com relação à precisão das respostas, em adultos jovens, a mesma revisão informa que não é incomum que o tempo de reação melhore, mas que a ETCC anódica resulte em falta de benefícios para a precisão do desempenho116.

Alguns autores sugerem que os efeitos resultantes da ETCC foram propostos para serem mais prontamente observados com tarefas complexas117,118. Estudos mostraram que demandas maiores nos sistemas cognitivos durante a ETCC tiveram um efeito significativo no desempenho pós-estimulação, indicando que a tarefa e o momento da estimulação é um adicional fator crítico a considerer119_{. Não} apenas o CPFDL esquerdo, mas também o CPFDL direito poderia ser uma área alvo potencial para melhorar o desempenho cognitivo e particularmente nos componentes de tarefas mais complexos120.

Há também algumas evidências de que a ETCC pode modular a capacidade de inibição quando o hemisfério do córtex pré frontal direito é estimulado por ETCC anódica com duração de 10 a 20 minutos, conforme indicado pela melhor inibição da resposta (isto é, tempos de reação)52,121,122_{. Em contraste, ao usar o teste de Stroop,} o aumento do desempenho foi identificado pela ETCC anódica CPFDL direita e pela ETCC anódica CPFDL esquerda123. As melhorias anódica iniciadas por ETCC (hemisfério direito e esquerdo) foram observáveis até 2 semanas após a sessão de estimulação. Outro estudo que também utilizou o teste de Stroop e uma configuração de eletrodo de ETCC catódica (esquerda) e anódica (direita), observou um efeito positivo na velocidade de resposta124. Um estudo adicional também mostrou que apenas a ETCC catódica sobre o CPFDL direito, mas não a ETCC anódica, influencia o controle da impulsividade125.

Em nosso estudo não houve diferença entre o grupo intervenção e controle no TSCP, porém ao analisar o grupo intervenção separadamente, observou-se melhora do desempenho no tempo de reação do dia 1 ao dia 7 e do dia 1 ao dia 14. Não foram observados melhora no tempo de reação do dia 7 ao dia 14, o que pode

levantar a discussão do efeito cumulativo da estimulação e sugerir para estudos futuros que utilizem doses de manutenção entre as sessões a fim de poder analisar o efeito cumulativo da ETCC.

Embora até o momento existam algumas evidências de que a ETCC possa modular as funções executivas, a divergência nos diferentes protocolos de estimulação (intensidade, duração e tempo), a alta variabilidade entre os sujeitos, sugerindo que os efeitos da ETCC são dependentes de fatores individuais, como o estado instantâneo do cérebro126,127 ou variações genéticas128, bem como uma meta-análise contrastante114, faz-se necessário mais pesquisas para se ter certeza de como as funções executivas são moduladas pela ETCC.