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40 Figura 6: Hospital da região oeste Catarin ense

ETNOGRÁFICA

FORMAÇÃO DAS ALUNAS: O COTIDIANO E OS ENTRE LUGARES DO LABIRINTO

Um labirinto arquitetado como um espaço físico chamado hospital, ganha forma com suas salas, quartos e outras dependências que anunciam um ritual instituído, um campo de prática integrado à formação das alunas, as futuras enfermeiras. Por isto consideram que este labirinto é um lugar de vivências, coabitado por vidas e mortes. Essa descrição atrela o hospital à metáfora do labirinto, o qual se tece no cotidiano onde acontece um conjunto de procedimentos para proporcionar aos pacientes, sujeitos centrais em cada dobradura, conforto e bem-estar. Eis porque as experiências de todos os dias operam a partir de afazeres ritualizados, do ir e vir de pacientes, profissionais da saúde e familiares.

Essa tessitura apresenta um cenário imerso nos entre lugares do labirinto, o que me leva a pensar nas rotinas que transfiguram o aprender-fazer das alunas e enfermeiras. A noção de transfigurar-se de acordo com Maffesoli (2011), traz a possibilidade que cada um possa ser o que ainda não é, de que os cenários possam ser alterados nessa metamorfose que provoca transformações e considera novas e maneiras de pensar, de agir, de sentir. Para o autor “nada está em linhas duras ou distintas, tudo funciona com base na ambiguidade” (p. 39).

Mas, de que cotidiano falamos? Daquele feito múltiplos conteúdos, tanto os de senso comum, o corriqueiro, quanto os mais complexos, uma reunião dos atos habituais e permanentes que uma pessoa desenvolve no decorrer do seu dia. Para Maffesoli (1997), indica uma relação espaço-temporal na qual se dá essa vivência, e onde o cotidiano conforma diferentes dimensões relacionado com a capacidade (disposição afetiva) de sentir em comum o mundo em movimento. O labirinto torna-se, de muitos jeitos, um campo de afirmações nas quais parece caber os diversos estilos singulares aos sujeitos que nele transitam. Para Maffesoli (2011, p. 188), o cotidiano tem uma estética “que contamina o conjunto da vida e torna-se uma parte nada desconsiderável do imaginário contemporâneo”.

Nos ritos institucionalizados estão os procedimentos habituais que contemplam a vestimenta, a luva, o avental, a técnica da

medicação, o banho, a sequência do curativo, a visita médica em seu quase (des) file ritualístico pelos corredores do hospital, seguidos pelos residentes, pelas alunas e enfermeiras, enfileiradas com seus prontuários e registros em mãos, ocupados em configurar a ordem ritualizada do labirinto. No senso comum, a rotina é entendida como aquilo que se realiza sempre da mesma forma; rotina matinal, um itinerário, caminho habitual, que se faz todos os dias6.

No tensionamento que este cotidiano provoca no labirinto, o cuidado qualificado é balizado pela disposição afetiva e os modos de sentir e ser em comum com o outro. Nesse entremeado ganha importância a capacidade das alunas e das enfermeiras, que se expressa no domínio da técnica, no controle das informações registradas e prescritas, na assimilação dos diagnósticos e os medicamentos que precisam ser ministrados para garantir a vida do paciente.

O médico, historicamente está em destaque na hierarquia desses ordenamentos e a sociedade espera dele uma atitude de ordem e poder. Um poder-saber constituído e autorizado pelo labirinto, “que em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior „adestrar‟; ou sem dúvida adestrar para retirar e se apropriar ainda mais e melhor” (FOUCAULT, 1979, p. 153). Como essa aluna sente o estado de ser paciente, de ser médico, essa rotina esfriada chamada internação, imbricada (da e na) enfermidade? Esse mundo ali?

Explorando os entre lugares que Souza (2011, p. 03) traz como o momento de “raptar outras saídas numa ação de desler, deslocar, descentrar, desconstruir; tirar ou mudar de lugar, numa perspectiva de rever as premissas e os princípios”. Há aí contornos de um cotidiano pelo qual as alunas trilham no labirinto, numa disposição afetiva por vezes esfriada de afetividade e bem querer, isso sem responsabilizar docentes ou a matriz curricular do curso, mas, segundo os dados evidenciados nesta pesquisa, devido a existência de um espaço entre a concepção da formação e a vivência das alunas no cotidiano do hospital. Na relação entre a formação e o cotidiano hospitalar, denota- se um espaço historicamente conformado, a partir do positivismo- cartesianismo e um modelo médico organicista.

Perguntar é preciso: o que as alunas fazem para sobreviver no labirinto cotidianizado? Que fios usam? As alunas e enfermeiras vislumbram linhas de fuga como potência possível, e nesse meandro,

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encontrariam o fio que as levariam num movimento de questionamento da rotina.

Eu atendi uma paciente que pediu que queria uma enfermeira para dar banho na mãe dela, devido ser idosa, mas a rotina não permite escolhas no hospital. Tem que ser o que tem naquela hora, porque banho tem horário para ser dado e se não tiver uma enfermeira ou aluna para fazer, ninguém se preocupa com a vontade do paciente. Isso me deixa pensativa quando estou em estágio. Não podemos fazer nada? (Diana, 19 maio, 2015).

Me parece que as enfermeiras não conseguem acompanhar o trabalho da equipe e olhar para o paciente como um indivíduo que também está ali com seus direitos. O direito ao cuidado também inclui as pequenas coisas, como a escolha pelo horário do banho, da visita, da informação, do respeito. A enfermeira poderia organizar e planejar seu tempo e oferecer atenção e afeto ao paciente e sua família. Talvez fazer uma supervisão com o olhar para o outro com maior atenção. Eu trabalho na área e vejo que vamos tocando a rotina como dá, mas o paciente merece mais de nós (Afrodite, 05 de maio, 2015).

As alunas lutam no labirinto para encontrar o fio de Ariadne, mas, as rotinas e a falta de uma direção, ou supervisão de enfermagem, mais integradas ao curso impedem outros movimentos possíveis. De acordo com as falas das alunas, uma enfermeira mediadora com disposição afetiva e ação efetiva faria o papel desse mediador, criando as linhas de fuga dentro do labirinto. A mediação com a família, o paciente e a equipe de enfermagem, seria uma rota viável nesse percurso no qual o paciente ocupa o seu papel, se apresenta obediente e submisso na hierarquia hospitalar.

Para as alunas, os dispositivos afetivos que operam o estar- junto-com os demais membros da equipe e o paciente, permeiam esse cotidiano instituído por diferentes dimensões. Na rotina esfriada que as envolve e sequestra seus corpos, impedindo-as de constituírem suas linhas de fuga de (DELEUZE, 1998). Estas indicariam rotas e brechas para escapar das regularidades que, aos poucos, se transformam em

mandatos internalizados, tanto para a obediência, quanto para a rebeldia (MORAES, 2014, p. 39). Reverberam um movimento de ser capaz de sair do convencional, escapar do estabelecido como pontos fixos, partir de uma distribuição nômade, para alterar o percurso do cotidiano entendido por elas como

O dia a dia das tarefas, muitas coisas por fazer e repetida vezes, todos os dias, pegar o plantão, ver os prontuários, sem mexer ou desorganizar uma pasta do lugar, porque depois o médico vai passar e tem que estar tudo no lugar certinho... olha as vezes a gente sente-se impotente ainda porque como é aluna, às vezes sabe que muita coisa não pode fazer ou que não faz direito. Muita cobrança e muitas rotinas que não pode ser feito de outro jeito. Temos que nos transformar todo dia, para fazer do jeito que o hospital quer, que o professor quer. Você recebe ordens e é vigiado o tempo todo. Sabe, depois que acaba o estágio, você fala "nossa, podia ter feito daquele jeito diferente, mais com mais afeto, mais sensível. (Afrodite, 14 maio, 2015).

Retomo o locus de enunciação desse capítulo, que apresenta um contorno no cotidiano e na formação, para dizer deles, para retomar uma pergunta: os processos de esvaziamento no labirinto hospitalar, são da ordem do cotidiano? Isso me faz pensar como se dá a interpretação desse cotidiano, sentido pelas alunas e visto como uma ordem sistematizada de tarefas e normas a serem cumpridas por todos da equipe, com um sentido de obediência submissão, e uma compreensão de rotina instituída. Para Maffesoli (1997, p. 170), numa concepção mais abrangente da vida cotidiana, talvez se possa falar, a esse respeito, de solidariedade orgânica, pois os pequenos rituais cotidianos confortam o sentimento de pertença, a impressão de fazer parte de uma comunidade. A aluna destaca a ordem instituída e as ações vigiadas e remete o aspecto anunciado por Foucault (1987), o hospital como local de vigilância e controle.

Nesse sentido, as alunas buscariam a inserção no espaço do labirinto, através da reprodução do modelo, ou seja, repetem os rituais na tentativa de pertencerem a esta comunidade-tribo. Ao reproduzirem o cotidiano, ela legitima no grupo a sua presença e isso lhe conforta, lhe dá segurança, trazendo um “ganho secundário”, pela aceitação no

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grupo. Isto refere-se a “natureza social dos sentimentos e é neste quadro que se exprime a paixão, que as crenças comuns são elaboradas, ou simplesmente, que se procura a companhia daqueles que pensam e sentem como nós (MAFFESOLI, 1997 p. 18 -19). Para elas a rotina é compreendida como cotidiano, sentindo-se vigiada pelas normas do hospital, do professor, sobrecarregada dos afazeres. A concepção da ordem remete ao labirinto numa perspectiva de organização e ritual adotado pelos membros da equipe que nele estão inseridos. Seria importante às alunas a inserção em experiências de um reencantamento do mundo, Maffesoli (1997, p. 171), sob a perspectiva de retomarem a disposição afetiva nessa ordem e poder estabelecidos.

As alunas deveriam aprender a sobreviver no cotidiano desse modelo? Ou mudar a realidade? Percebemos o quão dura é a missão de transfigurar essa realidade “posta” e já pensamos em aceitá-la, mas criando mecanismos para viver nela.

O cotidiano apresenta uma estética, esta entendida como a capacidade de sentir em comum o mundo em movimento, o qual, aliado a ética, compõe a sensibilidade necessária para a realização de novos mundos, onde caibam todos, independentemente dos lugares sociais em que cada um está situado. A solidariedade, o cuidado, a com-paixão são alguns dos atributos que enlaçam uma gestão centrada na vida (SOUSA; MIGUEL; LIMA, 2011). Ao conceder uma entrevista7 sobre pós-modernidade, tribos urbanas e estética, Maffesoli (2011), compartilha:

Quando eu digo estética é no sentido etimológico da palavra (stesis em grego), é esse partilhar emoções, partilhar paixões, o que eu quero mostrar é que esse meio social que se vive e se vê como tribo é um partilhar de emoções.

Essa norma envolta no cotidiano e vivida pelas alunas é compreendida aqui como forma de poder, algo que circula, que só funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali, jamais está nas mãos de alguns, ou é apropriado como uma riqueza ou um bem. O poder é uma forma de relação e funciona e se exerce em rede (FOUCAULT, 2003, p. 183). O autor nos mostra que instituições, as quais intitula de sequestro, como o hospital e a escola, exercem o

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poder de forma capilar, alcançando suas extremidades, em suas últimas ramificações. Perceptível em suas formas e instituições mais regionais e locais, e por consequência, um poder disciplinar que produz saber, mantém-se, é aceito e praticado por todos os membros da instituição numa relação hierárquica (FOUCAULT, 2003).

Nessa concepção, a rotina vivenciada pelas alunas, aborda um caráter de normalização e poder exercido pelo hospital, quando implanta regras organizadas e sistematizadas, esvaziando a essência do cuidado num cotidiano vivido pelas alunas.

Eu vejo como uma rotina de cuidados a fazer com o paciente, família. No começo eu ficava bastante ansiosa e com medo do contato com o paciente, ter que conversar e saber da vida dele. E isso se repete todo dia, penso as vezes... será que será sempre assim depois de formado? Não podemos fazer diferente? (Maya, 15 junho, 2015).

Quando chego no estágio do hospital, já sei o que tem que fazer, não penso muito, apenas faço e mostro para a professora e assim, passa a manhã ou a tarde. Eu executo as tarefas, os cuidados, levo os exames do paciente, vou na farmácia e isso é a rotina, é como vejo o cotidiano. Todo dia fazemos as mesmas coisas. Eu gostei bastante, ainda mais que eu tive o reconhecimento de um paciente e isso foi muito legal. Até então eu não sabia da minha importância e o que eu signifiquei no cuidado do paciente (Maya, 18 março, 2015).

Nos relatos ficam evidenciados, em um primeiro momento a percepção que as alunas têm do contexto que integra a rotina instituída e a vontade que expressa de deslocar-se para desconstruir a norma. Também a alegria evidenciada pelo paciente e seus familiares após os cuidados realizados, caracterizando a potência da qualidade afetiva que pode ser vivida na relação do estar-junto-com. Maffesoli (1997), argumenta que todos esses rituais cotidianos, aos quais não se presta atenção, que são mais vividos do que conscientizados, raramente verbalizados, são eles, de fato, que constituem a verdadeira densidade da existência individual e social, chamado de socialidade.

No labirinto-hospital, a arquitetura física e a formação das alunas provocam reflexões que são demarcadas por um espaço-escola

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destinado também à aplicação das aprendizagens curriculares. Aí são fomentados os encontros que fazem emergir narrativas, conversas, atitudes, modos de ser-estar na equipe, no grupo pesquisado. Para Hart e Arrias (2013, p. 16), estar no labirinto requer “entender seu funcionamento e buscar apoio para sair dele, ou fazer dele um outro espaço para viver. Alguém poderia dizer: por que sair? Por que mudar? Estou confortável no interior dele”! Mas não é assim para todos/as, especialmente para as alunas do curso de enfermagem, que entendem que o hospital-labirinto, assim como a escola torna-se “um espaço fechado, recortado, vigiado em todos os seus pontos, onde os indivíduos estão inseridos num lugar físico, os menores movimentos são controlados, e todos os acontecimentos são registrados” (FOUCAULT, 1979, p. 174).

Como integrante da equipe de formação das alunas que estão no curso de enfermagem, ao longo da pesquisa ouvi muitos relatos que trouxeram um desacomodar de certezas, que não foi confortável. Estes relatos apontavam um forte desejo de sair do labirinto, mesmo desconhecendo onde estaria o fio para auxiliar a encontrar as portas. Narravam potências e ausências que estavam latentes nesse labirinto- hospital, escola de formação e vivências, o que tornava possível identificar saídas, oportunidades de aproximação, alinhados em diferentes processos onde ocorriam as atividades relacionadas às propostas curriculares.

No percurso de formação das alunas, os fios se enredam nos aspectos históricos da profissão, os quais ficaram evidenciados em vários relatos durante os encontros com o grupo. Questões como o gênero feminino ainda predominante na formação da enfermagem e as relações de poder individualizadas pelo saber médico em relação a enfermagem, bem com, à própria condução do processo formativo pelas docentes.

Nesse estágio eu saía do hospital chorando... chorando, chorando... para supervisionar um estágio, o professor tem que ter didática antes de tudo... ele tem que saber como lidar com os alunos. E tem o fato, do que encontramos no hospital e como somos preparados para isso (Flora, 13 junho, 2015).

Acho que algumas questões são bem importantes no aspecto da nossa formação, como essa visão que temos do médico. Como

ainda são poucos enfermeiros homens na profissão, eu acho que por isso esse temor ainda é mais forte. Nós mulheres infelizmente nos submetemos bem mais (Isis, 16 abril, 2015). Rebusco, a partir de Kruse (2003, p. 21), aponta que no percurso histórico da profissão, as mulheres desempenham papeis designados culturalmente a elas. Dessa forma, seu processo de formação tem uma íntima relação com esses papeis. Isso está diretamente relacionado com a manutenção e a reprodução das relações do poder, em especial as de gênero. Mesmo com mudanças, esta questão, ainda se mantem quase intocável na trajetória da profissão. Nesse labirinto imbricado por relações e com vivências, o fio de Ariadne se constitui tricotado de intenções formativas. Ficam evidenciados os aspectos arraigados de uma trajetória pautada na reafirmação de um saber que diz das enfermeiras.

Produzir alinhavos com estes elementos é entrecortar contextos que tornaram e tornam possíveis entender como se instituiu a formação das enfermeiras, a partir da sua origem, nos grupos nômades primitivos e com um trabalho feminino marcado pela “prática do cuidar”. No itinerário da profissão entre o período colonial e o início do século XX, vemos que na época da colonização a enfermagem foi exercida com base em conhecimentos empíricos e que os cuidados àqueles que adoeciam eram praticados por mulheres religiosas, voluntárias leigas e escravas. Com o cuidar nas mãos das religiosas, fundam-se, por volta de 1543, as primeiras Santas Casas de Misericórdia8, com o intuito de abrigar pobres, órfãos e enfermos miseráveis, propondo um atendimento exclusivamente curativo (GEOVANINI, 2002).

Configura-se assim uma enfermagem intuitiva que se caracterizava por atividades elementares e autônomas, independente de qualquer aprendizado, com objetivos mais curativos que preventivos. Era dada pouca atenção ou mesmo considerados simplificados os requisitos para o exercício das funções de enfermeira, não havendo, portanto, exigência de qualquer nível de escolarização para aquelas que a exerciam. A prática de saúde passou por diferentes momentos e os espaços reservados às práticas de saúde eram

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Santas Casas de Misericórdia, casas de saúde que realizavam o atendimento aos doentes, com intuito apenas curativo e que deram origem aos hospitais e instituições de saúde.

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insalubres depósitos de doentes, onde homens, mulheres e crianças utilizavam as mesmas dependências, amontoados em leitos coletivos (GEOVANINI 2002, p. 54).

Nesse período, a prática de enfermagem era considerada um serviço doméstico, o que contribuiu para torná-la indigna e sem atrativos para as mulheres de casta social elevada. Há muitos aspectos na prática da enfermagem contemporânea que se inspiram nas marcas da história, como a predominância feminina na profissão e a submissão das mulheres que a exerciam, as questões insalubres nos hospitais, os riscos das constantes infecções, os corredores com amontoados de corpos doentes, fragilizados, torturados pela dor e, por vezes, sem identidade.

Nestes contornos, me volto para as questões do cuidado no cotidiano atual, alinhando tecituras com o presente da enfermagem e um passado de marcas profundas, demarcando o contexto da mulher na profissão e sua inserção durante a evolução do saber. Na escolha da profissão as alunas do curso de enfermagem entram na universidade, muitas vezes sem a certeza de que querem de fato atuar como enfermeiras, por vezes utilizam como porta de entrada para migrarem para outros cursos. Ainda é presente alguns aspectos não atrativos da profissão, devido a baixos salários, condições desiguais na carreira e carga de trabalho elevada, porém essa premissa ainda se dá nas diferentes profissões, nas quais a mulher está inserida.

Os profissionais da área da saúde identificam, através de suas vivências, que o processo de cuidar historicamente recebe fortes influências do pensamento cartesiano, principalmente com relação às questões que envolvem o corpo humano. Um corpo que, em muitas circunstâncias pode ser comparado a uma máquina onde os profissionais de saúde o consideram apenas em seu aspecto biomecânico, sem vontade própria, sem desejos e sem o reconhecimento da intencionalidade do movimento humano, o qual é explicado através da mera reação a estímulos externos, sem qualquer relação com a subjetividade (DOLTO, 1992).

Nesse sentido, pode-se dizer que atualmente a enfermagem se vê diante de um grande desafio, encontrar fios que possam tecer a união de saberes do corpo e do cuidado, com o desejo de estar-junto- com o outro numa disposição afetiva que permita novos olhares. Um olhar centrado na pessoa e sua singularidade profissional. Buscar nas potências do cotidiano as possibilidades de caminhar no labirinto, sem as amarras dos rituais impostos pela rotina fraturante do hospital.

FOUCAULT (2007, p.39), ressalta que uma das formas mais superficiais e mais visíveis de realizar o controle é aquela que se coloca sob o nome de “rituais”. Este fixa preceitos e estabelece ações que forjam um cuidado mecanizado, sistemático e envolto de repetições. Há uma tensão que se dilata no jogo do saber-poder, já que os ritos fundadores emergem como verdades de um campo de saber e colocam as alunas e enfermeiras no labirinto, com precárias possibilidades para acharem os fios que as conduza o repensar das

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