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2. REVISÃO DE LITERATURA: OS DETERMINANTES DO IDE E A RELAÇÃO

2.3. Evidências empíricas sobre a relação do IDE com crises financeiras

A relação de crises financeiras com o IDE em países em desenvolvimento ainda foi pouco analisada em estudos empíricos. Dos trabalhos existentes, a maioria está relacionada a estudos qualitativos dos efeitos da crise financeira na Ásia (1997) sobre os fluxos de IDE. Também, há alguns trabalhos quantitativos relacionando a atual crise do subprime e os níveis do investimento.

Athukorala (2003) examinou qualitativamente o comportamento do IDE durante a crise asiática nas cinco economias mais afetadas na região (Tailândia, Malásia, Indonésia, Coréia do Sul e Filipinas), focando nas mudanças sobre esse investimento desencadeadas para o gerenciamento da crise. Também, buscou examinar as tendências sobre os fluxos de IDE no processo de recuperação e o desempenho das filiais de multinacionais no reajuste econômico. Seu trabalho mostrou que o IDE se manteve relativamente estável como fonte de capital durante a crise. E mesmo após a crise, ao contrário das visões pessimistas, não resultou em descontinuidade nos fluxos para a região, apesar do declínio no início das turbulências. Além disso, as filiais de empresas multinacionais foram fundamentais para amenizar o colapso econômico na região e facilitar o processo de recuperação.

Em outro estudo qualitativo, Loungani e Razin (2001) expuseram que o IDE se mostrou resistente durante a crise financeira na Ásia; principalmente no Leste Asiático, esses investimentos se mantiveram mais estáveis. Em contrapartida, outras formas de

capital privado, como o capital de portfólio e os fluxos de dívidas, sofreram grandes quedas no mesmo período. Adicionalmente, o estudo compara essa situação com a crise no México (Efeito Tequila, 1994-1995), em que o IDE também se manteve resistente às turbulências econômicas ocorridas. Para esses autores, essa característica do IDE durante as crises financeiras levou muitos países em desenvolvimento a considerá-lo como boa fonte de capital privado.

O trabalho de Thangavelu et al. (2009) mostrou o comportamento e limitações dos fluxos de IDE em países do Leste/Sudeste asiático durante a crise financeira de 1997. De acordo com os resultados do estudo, essas economias se recuperaram da crise através do crescimento econômico conduzido pelo desempenho das exportações. Porém, esse crescimento da produção não foi suficiente para conter os déficits governamentais crescentes e a queda nos fluxos de IDE, nos primeiros anos da crise. Como o IDE seria importante fonte para manter o crescimento, os referidos autores questionaram a sustentabilidade desse crescimento no pós-crise.

Lipsey (2001) analisou qualitativamente o comportamento dos fluxos de IDE em três crises financeiras: a crise da dívida na América Latina (1982), a crise no México (1994) e a crise nos Tigres Asiáticos (1997). Segundo esse autor, os fluxos de IDE nos países afetados se comportaram de forma diferente dos outros tipos de capital privado. O IDE teria sido muito mais estável que o capital de portfólio e outros investimentos. Nessa direção, Graham e Wada (2000) relataram que a crise mexicana em 1995 teria confirmado tal postura ao mostrar que os fluxos de IDE originados dos Estados Unidos se mantiveram estáveis no período. Durante os primeiros anos de impacto da crise, o Efeito Tequila, houve queda na entrada de novos investimentos no país, mas não ocorreu a saída do investimento anteriormente existente.

O trabalho de Ucal et al. (2010) tratou diretamente a relação da atual crise financeira e os fluxos de IDE nos países em desenvolvimento. Através de um modelo de regressão semiparamétrico de 148 países, no período de 1995 a 2008, esses autores analisaram se os fluxos de IDE foram afetados antes e depois da crise financeira internacional e em que extensão esses fluxos foram afetados. Os resultados do modelo indicaram que os fluxos de IDE nos países em desenvolvimento tiveram grande elevação nos anos que antecederam a crise e caíram nos anos subsequentes a ela. Por esses resultados, os autores citados concluíram que a crise impactou negativamente sobre os fluxos de IDE.

Dornean et al. (2012) analisaram a relação da atual crise financeira internacional e os fluxos de IDE em 10 países do leste e centro europeus. Através de um modelo de regressão com dados em painel do período de 1994-2011, esses autores perceberam que existe relação entre o efeito da crise financeira e a interação entre o crescimento econômico e os níveis de IDE nos diferentes países. Pelos resultados, há influência positiva e estatisticamente significativa do crescimento econômico sobre os níveis de IDE. Ademais, a dummy incluída no modelo para captar o efeito da crise financeira apresentou impacto negativo e estatisticamente significativo sobre os níveis de IDE.

Com uma análise mais microeconômica, Alfaro e Chen (2010) examinaram a resposta diferenciada de empresas à recente crise financeira internacional, com ênfase no papel do IDE na determinação do desempenho econômico das firmas. De forma mais específica, essas autoras utilizaram uma base de dados com mais de 12 milhões de estabelecimentos em diversos países, no período anterior e posterior a 2008, para investigar como as multinacionais responderam à crise em comparação com as firmas locais. Os resultados indicaram que, no geral, as multinacionais tiveram desempenho, em média, melhor que os competidores locais, mesmo com algumas diferenças em relação ao papel do IDE.

Segundo Alfaro e Chen (2010), o papel do IDE varia significativamente com a incidência da crise nos países receptores e nas sedes. Filiais de multinacionais localizadas em países que sofreram quedas mais acentuadas na produção agregada, na demanda e nas condições de crédito, tiveram grande vantagem sobre as firmas locais. Já as matrizes em países com grande incidência da crise (EUA e países da UE) tiveram desempenho menos satisfatório. No entanto, as multinacionais que se engajaram em atividades com ligações verticais ou fizeram severas restrições financeiras exibiram melhores respostas do que as firmas locais. Finalmente, ser parte de uma grande rede multinacional leva a um desempenho econômico superior em períodos de crise. Por esse estudo, as referidas autoras tentaram mostrar o papel importante e complexo do IDE como resposta microeconômica, a fim de minimizar os aspectos negativos da crise financeira.

Como pode ser observado nesta seção, a relação de crises financeiras e o IDE ainda é controversa e pouco estudada na literatura empírica. Os trabalhos relativos à crise asiática mostraram comportamento do IDE mais estável, enquanto os poucos trabalhos que analisaram a recente crise financeira apontaram para uma relação negativa

da crise com o IDE. Além disso, alguns estudos relataram o importante papel desempenhado pelo IDE no período de recuperação pós-crise.

Tal indefinição empírica sobre a relação entre crises financeiras e o IDE pode estar relacionada à ausência de fundamentação teórica geral e consistente sobre o tema. Além disso, esse fato pode indicar que diferentes tipos de crise conduzem a diferentes comportamentos do IDE. O fato é que mais de sete anos após o início da recente crise financeira (subprime) ainda existem poucos trabalhos sobre a temática e há espaço para análises mais profundas e que resultem em contribuições teóricas.

3. PANORAMA DO IDE NA AMÉRICA LATINA E EM PAÍSES