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4. METODOLOGIA E FONTES DE DADOS

4.3 Procedimentos econométricos

4.3.2 Testes de raiz unitária em painel

Até recentemente, os estudos de estacionariedade em painel eram bastante limitados. No entanto, com o aumento da disponibilidade de dados por países e ao longo do tempo, cresceu o interesse por essa perspectiva. Dentro dessa literatura, o estudo da estacionariedade31 nas séries de dados ocorre, no geral, para painéis em que N (unidades) e T (tempo) são grandes. Especialmente, à medida que T→ ∞ surge à preocupação com a não estacionariedade das séries e a estimação de regressões espúrias, ou seja, sem relações de causalidade (BALTAGI, 2005).

30Apesar de não ser um pré-requisito para a operacionalização do estimador de painel dinâmico, é

possível realizar testes para detectar a heterocedasticidade no modelo. O teste de Wald, por exemplo, calcula a estatística de Wald modificada, e considera em H0 a variância do erro homocedástica. A

estatística do teste apresenta distribuição qui-quadrado com Ng graus de liberdade (WOOLDRIDGE,

2010).

31Uma série de dados é dita estacionária se, no geral, apresenta uma média constante e variância também

constante. Dessa forma, choques sobre essas séries acabam sendo temporários, já que os efeitos são dissipados ao longo do tempo e as variáveis retornam a seu equilíbrio inicial. No caso de séries não estacionárias, estas não apresentam uma média de longo prazo e sua variância tende a aumentar com o passar do tempo (GUJARATI, 2006; BUENO, 2008).

De forma geral, regressões que apresentam séries não estacionárias podem ser espúrias e produzir estimadores não eficientes. Para Baltagi (2005), o uso de dados em painel pode evitar o problema de regressões espúrias. Diferente da literatura de séries temporais, as regressões espúrias de dados em painel podem gerar estimativas consistentes do parâmetro de interesse se, de fato, N e T → ∞. Isso porque a média do estimador de painel ao longo das unidades e a informação nos dados independentes de cross-sections aumentam a robustez das estimativas em comparação com as séries temporais puras (BALTAGI, 2005).

Normalmente, os testes de raiz unitária em painel são apresentados através de um processo autorregressivo (AR(1)), como a seguir:

= � , − + ′ + (24)

em que é um vetor composto pelas variáveis explicativas, inclusive possíveis efeitos individuais ou termos de tendência específicos para cada unidade de i; é o termo de erro i.i.d. Quando |ρ|< 1, considera-se fracamente estacionário. Se |ρ|=1, então contém raiz unitária.

A expressão em (24) é normalmente expressa através de uma regressão equivalente baseada no procedimento ADF (Augmented Dicky-Fuller), como a seguir:

∆ = , − + ∑ = � ∆ , − + ′ + (25)

em que ∆ = − , − , sendo o coeficiente de interesse = � − com p defasagens utilizadas no termo em diferença, ∆ , − , variando para cada unidade em i.

Para esse caso, a hipótese nula a ser testada implica que todas as séries individuais do painel contêm raiz unitária, ou:

= = � � = , … , � (26)

Ao considerar essa hipótese nula, os testes de raiz unitária em painel se diversificam a partir da possibilidade de duas hipóteses alternativas que podem ser testadas (BREITUNG; PESARAN, 2005):

= = = = < (27)

= < , … , < � ≤ � (28)

A hipótese é conhecida alternativa homogênea, por pressupor que o coeficiente do termo autorregressivo é comum para todas as unidades de corte transversal do painel. Já a hipótese pressupõe que uma parte N0 do total das N

séries individuais do painel é estacionária com coeficientes autorregressivos diferentes (pelo menos uma cross-section sem raiz unitária) e, por isso, é chamada de alternativa heterogênea.

Os testes de raiz unitária que consideram a hipótese alternativa empilham (pooled) as observações de todas as unidades de corte transversal antes de construir a estatística do teste. Por sua vez, os testes que partem de consideram combinações das estatísticas obtidas separadamente em cada corte transversal, a exemplo da média das estatísticas individuais ou de seus p-valores (BREITUNG; PESARAN, 2005).

A literatura sobre raiz unitária em painel apresenta vários testes derivados desse modelo geral: teste de Levin, Lin e Chu (LLC) e teste de Breitung, que consideram a hipótese alternativa homogênea; teste de Im, Pesaran e Shin (IPS); e os testes de Fisher, que consideram a hipótese alternativa heterogênea. Todos esses testes partem do pressuposto de independência nas cross-sections e por isso são conhecidos como testes de primeira geração.

Neste grupo de testes de primeira geração, encontra-se ainda o teste de Hadri baseado no multiplicador de Lagrange (LM), que testa uma hipótese nula contrária à dos demais testes, ou seja, em H0 não há raiz unitária em nenhuma das séries do painel. Já a

hipótese alternativa é de que há raiz unitária no painel. Segundo Baltagi (2005), esse teste é uma generalização do teste KPSS comum em séries de tempo.

Entre os testes de primeira geração não há desempenho dominante entre esses. Sabe-se que na presença de tendência linear o poder de todos diminui expressivamente. Também, quando não há independência entre as unidades de corte transversal, esses testes perdem poder e tendem, com grande frequência, a rejeitar a hipótese nula de não estacionariedade (contrário para o teste de Hadri).

Para verificar independências ou ausência de correlação entre as unidades e o erro, Pesaran (2003) propôs um teste (teste CD) baseado em uma média dos coeficientes de correlação em pares dos resíduos obtidos a partir de regressões individuais (MQO)

dentro do painel. A hipótese nula é de independência nas cross-sections contra a hipótese alternativa de correlação nas unidades. A estatística do teste é dada por:

= √ � (∑ − ∑ = + �̂

= ) (29)

em que �̂ representa os pares residuais obtidos pro MQO, baseados em T observações para cada � = , … , �. O teste é robusto mesmo com séries não estacionárias e em pequenas amostras.

Diante da possibilidade de correlação nas unidades individuais, novos testes de raiz unitária foram desenvolvidos, considerando a dependência nas cross-section; são os chamados testes de segunda geração. A maioria desses testes ou soluções considera a existência de um fator comum afetando os erros e as séries individuais de forma diferente. São os testes: Moon e Perron (2005), Bai e Ng (2004), Phillips e Sul (2003) e Choi (2001). A principal ideia desses testes é eliminar ou contornar o fator comum para, assim, aplicar os tradicionais testes residuais sobre as variáveis filtradas. Contudo, o teste mais difundido nesta segunda geração lida de forma mais simples com a questão da dependência nas cross-sections do que a estimação por fatores. Esse teste foi proposto por Pesaran (2005), baseado na usual regressão ADF, utilizando a média defasada das cross-sections e sua primeira diferença para capturar a dependência que surge através do modelo. Esse teste também é conhecido como Cross-Sectionally Augmented Dickey-Fuller (CADF) (BALTAGI, 2005). Uma regressão CADF simples pode ser expressa como:

∆ = + �∗

, − + ̅ − + ∆̅ + (30)

em que ̅ é a média no tempo t de todas as N observações. Após estimar a regressão CADF para cada unidade i no painel, Pesaran (2005) calcula a estatística t sobre o valor defasado (CADFi), para obter a estatística do teste (CIPS):

A hipótese nula do teste assume que todas as séries são não estacionárias. Esse teste também evita distorções de tamanho e é robusto mesmo na presença de correlação serial e tendência linear. No caso da correlação serial, para contorná-la, na regressão CADF (31) devem ser acrescentadas defasagens da variável dependente. A ordem de defasagens pode ser definida ao utilizar os tradicionais critérios de Akaike ou Schwarts. Ademais, o teste se aplica mesmo em painel desbalanceado (quando falta observações ao longo de i ou t).

Ainda é necessário enfatizar que tanto os testes de primeira geração quanto os testes de segunda geração, independentemente da hipótese alternativa utilizada, os resultados são de difícil interpretação, caso a hipótese nula seja rejeitada (o contrário para o teste de Hadri). Isso ocorre porque esse resultado mostra apenas que parte expressiva dos cortes transversais apresenta séries estacionárias. De outra forma, os testes não indicam o número de séries estacionárias e nem quais as cross-sections apresentam estacionariedade (BREITUNG; PESARAN, 2005).

Apesar da dificuldade de interpretação, a verificação da estacionariedade é importante neste trabalho, especialmente porque, na presença de raiz unitária, os estimadores de painel dinâmico tendem a ser inconsistentes. Cameron e Trivedi (2005) argumentaram que o estimador de Arellano-Bond (1991) é ineficiente e inconsistente com séries não estacionárias. Contudo, suas extensões, como o GMM sistema, tendem a produzir estimativas menos eficientes, mas ainda assim consistentes.

Neste trabalho, optou-se por realizar os testes de primeira geração, IPS, Fisher (ADF) e Hadri, que estão entre os testes mais aplicados na literatura e também o teste de segunda geração Pesaran (CIPS), assim como o teste para detecção de correlação entre as unidades e o erro.