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Evolução da cobertura florestal nativa (1989 1999) – bacia da Billings

No documento NA PENÍNSULA DO BORORÉ, NA BILLINGS (páginas 82-87)

CAPÍTULO III – O LÓCUS DA PESQUISA: PENÍNSULA DO BORORÉ

Mapa 4: Evolução da cobertura florestal nativa (1989 1999) – bacia da Billings

Fonte: Instituto Socioambiental, 2002.

Dessa forma, a cidade de São Paulo chegou a 1970 em condições críticas de saneamento, levando o governo do Estado a enfatizar o controle de poluição das águas, com respaldo institucional. Foi criado, em 1987, o Conselho Estadual de Recursos Hídricos, com a missão de propor a política estadual do Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos e a formulação do Plano Estadual de Recursos Hídricos.

A crescente preocupação com os recursos naturais remanescentes, na década de 1990 – aliada à atuação contestatória dos movimentos ambientalistas, com representações institucionais, sociais e na mídia –, conduziu à oposição sistemática aos novos empreendimentos que implicassem redução do patrimônio natural. Essa conscientização ambiental com o recurso água se expressou na Lei 9.034 (Plano Emergencial de Recursos Hídricos 1994/1995), que regulamenta o uso racional da água, à recuperação de sua qualidade e à idéia de gestão de recursos hídricos com reordenamento demográfico e industrial, para aliviar as pressões sobre a demanda hídrica.

O manejo sustentável do recurso, apoiado em instrumento de planejamento, direcionou a política estadual de recursos hídricos. Nesse contexto, o Projeto de

Despoluição do Tietê, do governo do Estado de São Paulo, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, em implantação desde 1991, objetiva a coleta e tratamento dos esgotos urbanos e industriais da RMSP para controlar a poluição das águas da bacia do Alto Tietê.

A resolução conjunta SMA-SES 3/92 suspendeu, temporariamente, o bombeamento das águas do Rio Pinheiros para o Reservatório Billings, conforme interpretação do Artigo 46 das Disposições Transitórias da Constituição do Estado e as ressalvas do Artigo 2º, que visavam a evitar danos decorrentes do excesso ou falta d’água no sistema hídrico da bacia do Alto Tietê ou de bacias a ela interligadas. Do ponto de vista exclusivo da utilização do Reservatório para abastecimento público, a paralisação de todo e qualquer bombeamento de águas do Rio Pinheiros seria a melhor solução, desde que acompanhada do saneamento ambiental do entorno do Reservatório.

Dos inúmeros planos de controle da poluição (propostos desde a década de 50 e jamais implantados), o abastecimento de água potável é a preocupação central. Investimentos vultosos para a busca d’água (como reversões de água entre bacias hidrográficas) fazem que, hoje, 90% da população dessas bacias tenha água potável em casa. A discussão sobre novas formas – sistema de flotação – de despoluição do Rio Pinheiros reproduz o debate a esse respeito, uma vez que os esgotos continuam a ser despejados, sem tratamento, no referido aqüífero.

A outra solução apontada pelo Comase, em 1992, seria recuperar o Reservatório Billings para usos múltiplos, apostando no efetivo tratamento das águas do Alto Tietê. Nessas condições, seria possível retirar no mínimo 10 m3/s para abastecimento público da RMSP, além de controlar as cheias da bacia do Rio Pinheiros, gerar energia em Cubatão e fornecer água para a população da Baixada Santista e para as indústrias do pólo petroquímico de Cubatão. Afora a participação no sistema interligado, a alternativa do pólo industrial é o consumo de energia da Usina de Itaipu, com pagamento em dólar.

Hoje, a Usina Henry Borden opera no limite mínimo de potência, quando não sofre panes, por falta de pessoal para operacionalizar as máquinas, impedindo-as de parar; sua paralisação não é total, porque isto significaria prejuízos crescentes. A localização estratégica, junto ao parque industrial existente, possibilitaria o rápido acionamento e a plena potência, quando da ocorrência de distúrbios na rede de

transmissão que possam causar desligamento de carga (blecaute). A intensificação das restrições e a prioridade no aproveitamento dos recursos hídricos, além da captação das águas da Represa Billings pela Sabesp, restringem ainda mais o volume d’água, afetando as regras operativas da Usina.

O I Plano Estadual de Recursos Hídricos, anterior ao Censo de 1991, acenava para uma situação caótica e mesmo desesperadora para o atendimento das demandas de água na primeira década deste novo século. Já em 1993, alguns indicadores apontavam a tendência de arrefecimento do crescimento populacional na RMSP e na Baixada Santista, assim como Estado de São Paulo e no Brasil como um todo. Qualquer intervenção na RMSP teria correlação direta com o aspecto global da metrópole, recaindo em um contexto regional de interferências que devem ser avaliadas dentro dessa escala.

O ritmo de crescimento urbano da metrópole não é acompanhado pela implantação de sistemas de coleta e tratamento de esgotos, o que resulta em lançamento permanente de dejetos e efluentes urbanos e industriais nos principais cursos d’água, sem nenhum condicionamento prévio. A ocupação urbana das várzeas dos rios, a impermeabilização do solo, a canalização retificada de córregos, o assoreamento dos cursos d’água e o lançamento de lixo neles são as causas primeiras de inundações, cuja freqüência e intensidade aumentam a cada ano. A poluição das águas da bacia do Alto Tietê é a origem dos conflitos de uso, principalmente no Reservatório Billings.

O crescente comprometimento da Billings pelo bombeamento das águas do Tietê e de seus afluentes, que recebem os esgotos sem tratamento e o lixo gerado pela cidade em crescimento, começou a mostrar suas graves conseqüências ambientais em poucos anos. Segundo o Instituto Socioambiental, nos primeiros anos da década de 1970, a Cetesb iniciou as operações de remoção da mancha anaeróbia presente na Represa e em 1982 foi interceptado o braço do Rio Grande, com a Barragem Anchieta, devido aos sérios problemas de contaminação por algas potencialmente tóxicas, de modo a garantir a continuação do abastecimento de água do ABC, iniciado em 1958.

Deve-se considerar, assim, que a recuperação da qualidade das águas, associada ao controle das cheias, poderá permitir uma ampla gama de alternativas de usos múltiplos do Reservatório, como pesca, recreação e lazer, geração de

energia elétrica e abastecimento industrial. O desenvolvimento sustentável das referidas bacias depende da recuperação da qualidade de suas águas.

A viabilização de usos múltiplos da Represa (proposta pelo consórcio Hidroplan) supõe o saneamento e o controle de cheias, permite o aumento da capacidade geradora do sistema com oferta d’água condizente – isolando o corpo central do Reservatório –, possibilita o lazer na região, o uso racional do solo com irrigação e alguns usos industriais. O ponto de partida é a definição do uso prioritário das águas da Billings para o abastecimento público, considerando sua localização estratégica, altitude favorável e capacidade suficiente para suprir, com pequenos investimentos, boa parte da demanda atual em diversos municípios da RMSP. Dentro das propostas do Projeto Billings, estudam-se as possibilidades de compatibilização dos demais usos do Reservatório com a primazia estabelecida para o recurso hídrico.

A partir de 1970, começou-se a notar a presença de espuma nos rios. Artigo de Gogueira (1996) indica que a péssima qualidade de água do Rio Tietê não permite que essa formação de espuma seja degradada pelas bactérias e, quando ocorre uma brusca variação de declividade, como na barragem de Pirapora, verifica- se a formação de espuma. Dos locais que apresentam grande formação de espuma na bacia do Rio Tietê, destacam-se: Represa Billings, Reservatório Pirapora e Rasgão e Usina Elevatória de Traição. A caminho de Pirapora do Bom Jesus (54 km de São Paulo), o Rio Tietê amplia suas margens, até então comprimidas pelo espaço urbano paulistano. A Barragem de Edgard de Souza acolhe suas águas totalmente sem vida, depois de receber boa parte do esgoto produzido pela capital rumo ao interior paulista; a contribuição de seu afluente, o Juqueri, também poluído, faz crescer seu volume. A presença de detergente na água – o Estado de São Paulo contribui com 55% do consumo nacional de detergentes, ou 15.000 ton/ano – altera a sua tensão superficial, destrói a camada de muco dos peixes, interferindo na respiração, e é tóxica.

Verifica-se, também, efeito corrosivo nas estruturas metálicas e no concreto, além de provocar a morte da vegetação ciliar (por encobri-la com compostos provenientes da espuma). Constatou-se que a formação de espuma está relacionada ao fenômeno de atividade superficial, pela concentração de compostos

orgânicos. Além disso, a alta toxicidade encontrada na espuma indica o agrupamento de substâncias orgânicas altamente nocivas.

No período de 1988 a 1992, a quantidade de entulho retirado das grades das usinas da antiga Eletropaulo aumentou à razão de 20% ao ano. Assim, a suspensão da reversão e do bombeamento do Canal Pinheiros, deixando o Rio seguir seu curso natural, carreia esses detritos, especialmente nos períodos de chuvas intensas, com enchentes e inundações, para o Canal Pinheiros e para as bacias do Alto e Médio Tietê. O Canal Pinheiros recebe a contribuição de 20 afluentes (entre córregos e drenos), sendo os maiores contribuintes o Córrego do Morro do “S” e o Córrego do Pirajuçara. Do material desassoreado do Canal Pinheiros, segundo dados internos coletados pela antiga Eletropaulo, 5% correspondem a resíduos urbanos, com parte significativa de entulhos da construção civil. Além disso, aproximadamente 10.000 m3 de material composto por lixo e detritos são retirados anualmente das barreiras flutuantes localizadas no Canal, bem como das grades de proteção das usinas elevatórias de Traição e Pedreira. Estudos realizados por amostragens pela referida empresa indicam que os resíduos são compostos, principalmente, por materiais de construção (66,8%), metais (2,2%), borracha (8,9%), pneus e plásticos (13,10%). São também encontrados madeiras, papéis e papelão, couros, emborrachados, embalagens diversas – vidros, latas, plásticos –, tecidos e restos vegetais.

No tocante aos efeitos na população, além dos estéticos, ocorre a emanação de gases, com odores similares ao do esgoto séptico, muito desagradável, causando dores de cabeça, náuseas e perda de apetite. Assim, ficam os habitantes expostos aos metais pesados e microorganismos (coliformes, pseudômonas e salmonelas), uma vez que a espuma carregada pela ação dos ventos apresenta altas concentrações destes organismos compostos, com potencialidade para afetar a saúde. Esse novo quadro exige uma série de modificações capazes de garantir a viabilização sociopolítica dos empreendimentos, uma vez que apenas a viabilização técnico-econômica não garante mais a sua implantação.

3.1.3. Os Atores Sociais: População e Ocupação do Solo

O padrão de urbanização da RMSP sofreu alterações ao passar de um crescimento explosivo, entre 1950 e 1970, para um processo de desaceleração demográfica, com perspectiva de crescimento zero, de estagnação. As grandes levas de migração, esboçadas nos anos de 1960 e 1970, só declinaram nas décadas seguintes, com taxas de crescimento, no conjunto dos municípios da bacia da Billings, menores do que no restante do Estado.

O tipo de urbanização predominante caminhou para o aumento da mancha urbana para áreas cada vez mais distantes, deixando grandes vazios que serviram à especulação imobiliária. A partir de 1970, e especialmente na década de 1980, esses vazios começaram a ser preenchidos, tornando a área urbana mais consolidada e mais homogênea. O ritmo e o padrão de crescimento justifica a crônica insuficiência de infra-estrutura, de controle de uso do solo ou de ordenamento espacial, característica de um “padrão periférico“ ou subordinado de urbanização. O mapa sobre o uso do solo na bacia hidrográfica da Billings dá, de imediato, uma dimensão visual da ocupação.

No documento NA PENÍNSULA DO BORORÉ, NA BILLINGS (páginas 82-87)