4.1 A Indústria do Calçado – Enfoque no contexto português
4.1.3 Evolução da indústria portuguesa de calçado
Em 2007 a indústria portuguesa de calçado contribuiu com cerca de 0.5% para a produção
mundial de calçado e com cerca de 7.6% para a produção europeia (em pares de sapatos)
(APICCAPS, 2009). Tal como a indústria europeia, também Portugal tem vindo a perder quota
na produção mundial, embora no contexto europeu se tenha verificado uma tendência para o
crescimento da quota de produção da indústria portuguesa, a partir de 1995, tendência apenas
contrariada no período 2004 a 2007, no qual Portugal voltou a perder, embora ligeiramente,
quota de produção.
América 16% Oceânia 1% Europa 34% África 4% 0 China 28% Outros 17% Ásia 45% Oceânia 0% América 8% Europa 7% África 1% 0 China 64% Outros 20% Ásia 83%Fonte: APICCAPS (2009); SATRA (1995, 1999, 2002, 2005, 2007)
O sector português de calçado é especializado em calçado de couro (cerca de 88%, em volume
de produção, em 2008 (APICCAPS, 2009)) de média-alta qualidade (Medon e Ferrão, n.d.). No
que respeita ao calçado em couro, Portugal é o sétimo maior exportador mundial, com um total
de exportações de 1,27 milhões de dólares americanos (sendo o quarto país europeu do ranking,
a seguir à Itália, Alemanha e Espanha) (APICCAPS, 2008). O contributo das exportações
portuguesas de calçado para as exportações portuguesas de mercadorias foi de 3.33% em 2005
(INE, 2007) e de 3.38% em 2007 (APICCAPS, 2009; INE, 2008). Ainda assim, as empresas
portuguesas de calçado, principalmente as PME’s. continuam, tal como as suas congéneres
italianas (Memmo, 2009), a fazer exportação indirecta, a qual constitui uma forma mais flexível
e menos onerosa de entrar nos mercados.
Cerca de 95% da exportação do calçado português é dirigida ao mercado europeu, no qual a
França aparece como o principal comprador (27% do total das exportações portuguesas), logo
seguido da Alemanha (com um peso total de 20%). Ainda com pesos significativos no leque de
mercados servidos por Portugal, aparecem a Holanda (12%), Reino Unido e a Espanha (10%
cada).
Nuno Cardeal
96
Quadro 4.2 – Evolução dos principais mercados das exportações portuguesas (1000 Euros)
Ano 2001 2005 2006 2008
Exportações Valor % Valor % Valor % Valor %
França 334,477 20.91 294,662 25.89 320,890 27.52 346680 26.85 Alemanha 417,929 26.13 219,858 19.32 236,671 20.30 264285 20.47 Holanda 148,769 9.30 120,596 10.60 124,124 10.64 159272 12.34 Reino unido 321,195 20.08 171,666 15.08 157,063 13.47 127557 9.88 Espanha 48,098 3.01 84,841 7.45 96,539 8.28 123373 9.56 Dinamarca 56,840 3.55 53,236 4.68 44,995 3.86 56835 4.40 Bélgica 41,102 2.57 24,068 2.11 23,558 2.02 28066 2.17 Itália 12,957 0.81 11,284 0.99 13,069 1.12 20473 1.59 Suécia 39,853 2.49 18,475 1.62 17,524 1.50 18803 1.46 Irlanda 14,566 0.91 16,836 1.48 16,889 1.45 16278 1.26 Rússia 2,593 0.16 11,957 1.05 14,084 1.21 13863 1.07 EUA 62,018 3.88 31,783 2.79 21,947 1.88 10683 0.83 Outros 98,933 6.19 78,933 6.93 78,760 6.75 104,845 8.12 Total 1,599,330 100.00 1,138,195 100.00 1,166,113 100.00 1,291,013 100.00 Fonte: APICCAPS (2008, 2009)
Contrariando o que se passa na generalidade dos países europeus, o sector português do calçado
tem registado um saldo amplamente positivo na balança comercial. Todavia, e como resultado
por um lado da redução das exportações (embora este fenómeno pareça ter sofrido uma inflexão
nos três últimos anos) e, por outro, do aumento das importações. Nos últimos anos, o saldo da
balança comercial apresenta uma tendência de deterioração da performance.
Gráfico 4.5 – Evolução da balança comercial do calçado português
Fonte: APPICAPS (2009); (INE)
Estrutura da indústria
A indústria contava em 2008 com cerca de 1400 empresas fabricantes de calçado, na sua
esmagadora maioria pequenas empresas (a média de trabalhadores tem demonstrado uma
tendência de decréscimo, tendo atingido o valor de 26 trabalhadores em 2008). Cerca de 85% do
total das empresas é classificada como micro ou pequena (PROINOV, 2001). Os fabricantes de
calçado empregavam, em 2008, cerca de 35800 pessoas.
Gráfico 4.6 – Evolução do número de empresas e do emprego
Fonte: APICCAPS (2009) 0 500000 1000000 1500000 2000000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 m il E u ro s Anos
Exportações Importações Balança comercial
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 0 500 1000 1500 2000 1998 2000 2002 2004 2006 2008 N º d e t ra b a lh a d o re s N º d e e m p re sa s Anos Empresas Emprego
Nuno Cardeal
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Gráfico 4.7 – Evolução do número médio de trabalhadores
Fonte: APICCAPS (2009)
A evolução do número de empresas nos últimos 10 anos acompanha a evolução da produção de
calçado. Do mesmo modo que a produção nacional verificou uma redução com algum
significado dos seus níveis de produção, também o número de fabricantes foi reduzido em cerca
de 12%, num espaço de 8 anos.
Gráfico 4.8 – Evolução da produção
Fonte: APICCAPS (2009)
A indústria de calçado localiza-se em três pólos industriais (GEPIE, 1995). O pólo industrial de
Felgueiras e Guimarães (pólo 1) é caracterizado por ter empresas de maior dimensão, ser
orientado predominantemente para os mercados externos e tecnologicamente o mais avançado.
25 27 29 31 33 35 N º d e t ra b a lh a d o re s Anos Nº médio de trabalhadores 50000 60000 70000 80000 90000 100000 110000 120000 1100000 1300000 1500000 1700000 1900000 2100000 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 1 0 0 0 p a re s 1 0 0 0 E u ro s Ano Valor Quantidade
Até meados dos anos 90 as empresas deste pólo produziam
essencialmente grandes encomendas. O pólo de São João da
Madeira e Vila Nova de Gaia (pólo 2) contém empresas de
menor dimensão cuja produção se destina maioritariamente
ao mercado nacional. O pólo 3, da Benedita, é especializado
em calçado de segurança e para utilização profissional.
Nos anos mais recentes a indústria de calçado tem
evidenciado uma preocupação com a melhoria das
qualificações do pessoal ao serviço. Em 1999, o pessoal ao
serviço com habilitações inferiores ou equivalentes ao 2º
ciclo do ensino básico era de 48%. Essa percentagem baixou,
em 2005, para 39%. Neste mesmo período, a percentagem de
pessoal com habilitações equivalentes ou superiores ao 3º ciclo básico aumentou de 13 para 19%.
A incorporação de pessoas com habilitações ao nível do ensino superior aumentou de 0.8% para
1.3% (MTSS, 2005; 2003; 1999).
No período de 1999 a 2008 verificou-se uma substancial redução da incorporação de aprendizes
e de pessoal não qualificado, por substituição essencialmente de profissionais semi-qualificados
e por quadros e chefias.
Gráfico 4.9 – Evolução dos níveis de qualificação do pessoal
Fonte: APICCAPS (2009); MTSS (2005; 1999; 2003) 0 10 20 30 40 50 60 1999 2003 2005 2008 % A n o s
Aprendizes e prof. não qualificados
Prof. Semi qualificados Prof. qualificados Quadros e chefias