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1 INTRODUÇÃO

5.1 Análise Geoambiental em Sub-bacias Hidrográficas do Alto Vale do Rio

5.1.2 Evolução e dinâmica socioambiental

A análise do processo histórico de ocupação demográfica do sertão nordestino e as práticas e estruturas econômicas decorrentes, ensejaram a que se compreendesse neste estudo como se consolidou a dinâmica de uso do solo na área de abrangência das sub- bacias, e a partir daí, pudesse se indicadas as evidências do mau uso dos recursos naturais.

De maneira geral, a fixação do “homem branco” na região em foco, pela atividade da criação de gado, reflete o contexto econômico da época e sua relação com os recursos naturais, ali sempre uma atividade sobrepujava as demais, pelo interesse econômico do colonizador de ocupar os espaços com melhores condições naturais.

A retirada do gado bovino do litoral para o interior do Brasil denota a busca de espaço e pastagem, elementos importantes que, na perspectiva da exploração dos recursos naturais, significa solo (terra) e vegetação. Junto a estes, podem ser agregados algumas características específicas e outros elementos, entre os quais a seguinte situação: a terra com certa umidade para desenvolvimento de pastagem, e, nas proximidades, a ocorrência de água - elemento imprescindível para o desenvolvimento da vida.

No contexto para o vale do Jaguaribe, o processo histórico de fixação do homem e expansão das práticas econômicas evidencia os seguintes aspectos na relação homem- natureza:

- na busca de concessões de terras, os fazendeiros expandiram seus domínios ao longo do vale e seus afluentes, preferencialmente pelas terras férteis e mais úmidas;

- o conflito étnico-cultural teve grande evidência, pela espoliação dos grupos indígenas das suas terras . Mas traz implícitas as bases dos conflitos ambientais, quando estes são repelidos das terras úmidas para as mais secas;

- a concepção econômica da sociedade que se estruturava estabeleceu que as áreas de melhores condições naturais na região deviam ser destinadas basicamente à criação de gado, o que totalmente contrário à concepção indígena;

- o crescimento da população, por necessidade alimentar, direciona o uso do solo também para a agricultura de subsistência. A partir daí revelam-se os conflitos ambientais pois, no mesmo espaço, passam a concorrer: terra fértil e água para irrigação natural das culturas e terra úmida, pastagem e água para a criação de gado;

- neste conflito, sempre tiveram maior importância os interesses econômicos. Não importavam as limitações naturais que já eram evidenciadas a cada período de estiagem. Os indígenas percebiam e por isso travavam conflitos para reconquistar suas terras e garantir sua sobrevivência;

- enquanto cresciam o número de cabeças de gado e o contingente populacional também aumentava, a pressão sobre os recursos naturais. Sobre a vegetação pela extração de madeira e lenha; sobre o solo, no uso da terra, pelas novas culturas agrícolas- como o algodão -, e sobre os recursos hídricos disponíveis nos rios e riachos.

- Este fato agrava cada vez mais as relações de conflito ambiental, pois a monocultura algodoeira, assim como o gado, exigiu o melhor dos recursos naturais necessários de maneira intensa e rápida, já que ainda no séc. XIX, a atividade pecuária perde sua importância econômica.

Dessa maneira, o que fica para a região do vale do Jaguaribe, especificamente na área de abrangências das sub-bacias estudadas, é uma estrutura socioeconômica com predomínio da relação homem-natureza com dinâmica desarmônica, com forças antagônicas.

De um lado, o grupo minoritário fortalecido pelo capital para exploração dos recursos naturais em favor de suas ambições econômicas; e do outro lado, o grupo majoritário constituído por descendentes de vaqueiros, escravos e indígenas, que buscam desenvolver atividades econômicas na região em menor escala de produção, na intenção de garantir a sobrevivência da família.

Na atualidade, pode-se constatar que a dinâmica demográfica e econômica na área de abrangências das sub-bacias em estudo foi cada vez mais incrementada. Ali o contingente populacional exerce intensa pressão sobre os recursos naturais, pelo modo como trabalham suas atividades, dentro do modelo econômico vigente. E, assim, agravou e implementou os impactos ambientais decorrentes da relação homem-natureza.

Com a produção econômica baseada nas leis de mercado e a ofertar apoio às atividades destinadas às demandas de mercado externo nacional ou como suprimento de matéria-prima, as atividades agropecuárias praticadas na região sempre foram voltadas a obter elevadas produções. Assim, incidem cada vez com maior ônus aos recursos naturais, já muito fragilizados pelo uso ao longo deste tempo.

Dessa maneira, os problemas ambientais atuais decorrentes da dinâmica socioeconômica atual nas áreas de abrangências das sub-bacias em estudo, entre outros aspectos, expressam as seguintes manifestações:

- o sobrepastejo, acarretado pela técnica predominante aplicada há mais de cinco séculos na região e pelo elevado número de cabeças de gado por área de pastejo. Isto porque a movimentação de grandes rebanhos entre as áreas para pastagem e para dessedentação muito contribuem para a degeneração da cobertura vegetal, na perda do capeamento do solo (camada mais fértil), através de processos erosivos em razão de pisoteios contínuos e, conseqüentemente, constituem volumes de sedimentos carreados até os canais de drenagem;

- a agricultura e o extrativismo vegetal, com pouca ou nenhuma orientação técnica adequada às condições naturais da região. Além de provocar os problemas acima mencionados, traz à tona outros aspectos;

- a limpa do terreno, através de queimadas e retirada da vegetação em áreas declivosas, contribui para a destruição dos micronutrientes (microorganismos) do solo, que o tornam mais infértil, e também para a aceleração de processos erosivos nas vertentes, os quais, favorecem consideravelmente a ocorrência de solos desnudos;

- o ritmo de retirada de madeira e outros produtos no extrativismo vegetal, junto aos problemas há pouco evidenciados, têm levado à queda da biodiversidade e destruição da caatinga e da mata ciliar. O fato foi constatado in loco pela expressão de baixo adensamento da mata, a apresentar aspecto de faixa mais estreita e avanço da caatinga arbustiva, ou constitui pequenas manchas intercaladas a áreas de vegetação de baixo porte a rasteira, e ainda solos desnudos.

O panorama das manifestações dos impactos ambientais para cada sub-bacias analisada está expresso na parte que trata especificamente das vulnerabilidades.

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