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1 INTRODUÇÃO

3.1 Fundamentação Teórico Metodológica

Os conflitos de uso dos recursos hídricos e demais recursos em bacias hidrográficas provocam na atualidade discussões, no sentido de alcançar-se um cenário de menor desperdício e de seu melhor aproveitamento, em regiões de clima úmido e mais ainda naquelas regiões de clima seco, onde há maior escassez desses bens.

Neste sentido, a realização de estudos analíticos em bacia hidrográfica é importante, tanto para a caracterização do meio físico quanto para a compreensão de sua dinâmica.

A análise do presente estudo está apoiada nas orientações metodológicas de abordagem quantitativa para bacias de drenagem, inter-relacionada com esboços metodológicos de estudos geoambientais, desenvolvidos no âmbito do Estado do Ceará, a fim de tratar sobre a fragilidade ambiental em bacias hidrográficas do semi-árido do Brasil.

Sendo a área do estudo proposto relacionada às condições gerais para o semi-árido, torna-se possível a utilização desta técnica em unidades geoespaciais, como bacias, sub- bacias e microbacias hidrográficas. Através de interações de fatores morfopedológicos, de cobertura vegetal e hidrográficos, por exemplo, apresenta as condições temporais do ambiente, quanto à dinâmica natural e/ou vulnerabilidade em razão de interferências antrópicas.

A quantificação morfométrica em bacias hidrográficas é uma concepção metodológica, divulgada inicialmente em ROBERT E. HORTON (1945), que logo recebe várias contribuições, através de pesquisas de seguidores, como STRAHLER (1952); V. C. MILLER (1953); WISLER & BRATER (1964); SHERE (1966); SCHEIDEGGER (1968); WAY (1978), citados em CHRISTOFOLETTI (1980) e Ministério de Obras Públicas y Urbanismo – Madrid (1972).

No Brasil, CHRISTOFOLETTI (op.cit.:1980); LIMA (1986) e ROCHA (1997), entre outros, expressaram a importância do uso de parâmetros quantitativos para análise em bacia hidrográfica. De igual forma, no Estado do Ceará foram realizados estudos de

planejamento em bacias hidrográficas, envolvendo o vale do Jaguaribe, pela SUDENE/ASMIC (1967); CAVALCANTE et al (1990); outros.

Os parâmetros quantitativos em bacias hidrográficas constituem um meio de análise das condições hidrológicas que, associadas a outros elementos de sua estrutura, permitem a compreensão das dinâmicas naturais e evolução de fenômenos decorrentes das intervenções antrópicas. Assim, KLOFFER (1976) analisou o comportamento de padrão de drenagem através de imagens fotogramétricas e orbitais, além de utilizar parâmetros quantitativos, como densidade de drenagem e freqüência de rios em análise de solos originários do Arenito Bauru, dos Municípios de Lins e Marília (SP) e no Planalto Ocidental do Planalto de São Paulo.

Com o objetivo de fundamentar o uso de índices morfométricos, CHRISTOFOLETTI (1980) relaciona a hierarquização fluvial, que estabelece a classificação dos cursos d'água; a análise linear, relacionada às medições efetuadas ao longo das linhas de escoamento; a análise de área, que corresponde às medições planimétricas e lineares; e análise hipsométrica, referidas às proporções ocupadas por determinados tipos de rochas, em relação às faixas altimétricas.

Na avaliação das influências litológicas e topográficas na classificação de bacias hidrográficas no Planalto Ocidental Paulista, CESAR (1982) ressalta que os estudos relacionados à drenagem fluvial podem levar à compreensão de numerosos problemas, notadamente de caráter geomorfológico, em função de constituírem processos morfogenéticos dos mais ativos na esculturação da paisagem.

VERISSÍMO et al (1996), na bacia do rio Passaúna-PR, utilizou parâmetros de densidade de drenagem e densidade de rios, inter-relacionados com características físicas e de uso do solo, para obtenção de características ambientais nos diferentes compartimentos, e a partir daí, demonstrou a potencialidade de erosão de cada um deles.

Estudos integrados na abordagem sistêmica foram iniciados por BERTALANFY (1932), com a Teoria Geral dos Sistemas que, abrangendo diferentes áreas do conhecimento científico, propõe compreensão do todo, passando a trabalhar partes e objetos de estudo de maneira ordenada, unificando-as em uma interação dinâmica.

Nesta perspectiva, a análise sistêmica foi introduzida no contexto das ciências ambientais que trabalham com elementos da natureza, a fim de melhor se compreender a evolução dos processos físicos e biológicos que mantêm o equilíbrio de determinado sistema ambiental, e assim subsidiando análise de possíveis evoluções decorrentes da dinâmica natural, em associação com as interferências do homem, por meio de práticas que proporcionam sobrevivência e desempenho econômico.

Dentre os estudos sistemáticos, destaca-se os de BERTRAND (1972), com classificação taxonômica de paisagens, através da análise interativa dos complexos naturais e sociais, indicando os seis níveis hierárquicos para as unidades de paisagens superiores (zona, domínio e região natural) e inferiores (geossistemas, geofácies e geótopo).

TRICART (1977) tratou da análise ecodinâmica, demonstrando que a “gestão dos recursos devem ter por objetivo à avaliação do impacto de inserção da tecnologia humana no ecossistema”. Ele explicita que se deve, verificar a sustentabilidade do ambiente à extração de recursos ou ainda determinar as medidas de exploração com maior produtividade, sem degradação ambiental.

Neste contexto, o estudo integrado em bacia hidrográfica torna-se um instrumento de grande valia no planejamento de uso múltiplo de seus recursos. Corroborando o pensamento CHRISTOFOLETTI (1979), esta funciona como um sistema geoambiental não isolado, recebendo constantes fluxos de água e detritos que levam ao seu funcionamento. A estrutura do sistema determina sua evolução e arranjo, os quais, inter-relacionados aos processos e fatores naturais e antrópicos, refletem alterações contínuas e processuais em escala têmporo-espacial.

Reafirmando tal importância, TROPPMAIR (1989), citando ELHAI (1968), mostra a inviabilidade de estudar-se os elementos da natureza de forma isolada, devendo-se fazê-lo dentro de uma visão integrada. Expressa ainda ser este um dos motivos pelos quais ganham forças os estudos desenvolvidos sob a óptica da caracterização, estrutura e dinâmica da paisagem.

No que diz respeito à aplicação de estudos de abordagem sistêmica no Estado do Ceará, destacam-se as contribuições de SOUZA (1981; 1983; 1998 e 2000), OLIVEIRA (1989); GOMES et al (1995); OLIVEIRA et al (1990, 2000 e 2001) entre outros.

SOUZA (1981) em estudos sobre as principais implicações geomorfológicas para a caracterização ambiental, propõe esboço de zoneamento dos geossistemas nas bacias hidrográficas do Acaraú-Coreaú. Na verdade, expressa um “misto de conceitos de geossistemas e geofácies que podem ser enriquecido com pesquisas interdisciplinares”.

De acordo com este pesquisador, o zoneamento dos geossitemas “representa o principal subsídio para que sejam procedidas as discussões relacionadas com as unidades de manejo e as limitações do potencial ecológico” (op. cit. p:159).

Em contribuição à visão conjunta da realidade territotial e sócio-espacial para o Estado do Ceará, SOUZA et al (2000) apresentaram critérios modernos do zoneamento físico e da visão integrada da gestão do território, sendo mostrados as bases naturais e um esboço de zoneamento geoambiental, levando em consideração regiões naturais do Estado. Assim, levantaram para o Sertão dos Inhamuns e Alto Jaguaribe as seguintes condições e vulnerabilidades – “ambiente de transição com tendência à instabilidade nos setores mais densamente degradados; vulnerabilidade moderada a alta; com evidências isoladas de processos de desertificação”.

Ainda dentro das contribuições, OLIVEIRA (1990) realizou estudo com zoneamento geoambiental no Município de Quixeramobim – CE, e ressaltou a importância do uso desta técnica, quanto ao estabelecimento de diagnóstico dos recursos naturais e para a avaliação de potencialidades e limitações em uma área qualquer.

Identificou geossistemas, sob a perspectiva de fatores morfopedológicos, relacionando diretamente elementos e condições lito-estratigraficas, geomorfológicas e pedológicas, estabelecendo 10 unidades geoambeintais que receberam denominações a partir da topomínia local.

Em estudos mais recentes, OLIVEIRA et al (2000) através do grupo Ecologia de Paisagem do Programa WAVES, detectam 3 níveis de riscos de degradação ambiental para

o Município de Tauá; com valores de 1 – baixos, para área de 341, 64 km2; 2 – médio, com 1.435,96 km2; 3 – alto, para 1.197.04 km2 de área, e 4- muito alto, com 42.43 km2 de área.

Em estudo na serra de Uruburetama no Ceará, OLIVEIRA (2001) interrelaciona abordagem metodológica usual em estudos edafológicos com técnicas de análise da paisagem e delimitações de unidades cartográficas. Apresenta os solos existentes na região, analisando sua variabilidade e distribuição espacial e fatores determinantes, para compreender a dinâmica e suas relações de interdependência com os demais componentes da paisagem regional.

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