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Até o final do século XVIII, a ocupação de Rondônia era realizada através da atuação de missões jesuíticas. Uma ocupação mais efetiva foi sentida já no século XIX, quando migrantes nordestinos chegaram à região para trabalhar com a borracha. Além disso, a construção da Madeira- Mamoré veio contribuir para o crescimento dos núcleos urbanos de Porto Velho e Guajará-Mirim. O extrativismo vegetal, a produção de borracha e a coleta de Castanha-do-Pará foram as atividades econômicas do Território até 1960.

O Decreto-lei n° 5.225, de I o de fevereiro de 1943, foi de extrema importância para o crescimento da produção da borracha pois regularizava a situação militar das pessoas que eram enviadas à Amazônia para trabalhar com a sua extração. O mundo estava em guerra e o suprimento de borracha era fundamental para os países aliados. Os "Soldados da Borracha", em sua maioria trabalhadores nordestinos, proporcionaram a geração de riqueza para seringalistas, comerciantes, intermediários diversos, importadores e exportadores ligados à borracha (Calvente, 1980). Além disso, eles também contribuíram para a construção de várias obras urbanas através da aproximação indireta da renda pelo Estado.

Após o ciclo da borracha, teve-se início a exploração de cassiterita, melhorando as atividades comerciais de Porto Velho. O término da construção da rodovia Cuiabá/Porto Velho (BR-364) foi marcado pelo início de um fluxo migratório muito grande, composto principalmente de pequenos agricultores, trabalhadores de parceria e trabalhadores volantes do meio rural; geralmente nascidos no Nordeste ou descendentes de estrangeiros que migraram para o Brasil para trabalhar nas fazendas de café no início do século XX. Os migrantes eram oriundos principalmente do Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e São Paulo, para onde já haviam migrado antes (IBGE, 1991). O primeiro grande fluxo de migrantes para o Estado foi registrado na década de 1960/70, quando,

em virtude do garimpo da cassiterita, a população alcançou a marca de 69.792 habitantes. Na década seguinte, 1970/80, a população de Rondônia passou de 111.064 para 491.069 habitantes, indicando a transformação causada pelos projetos de colonização organizados pelo INCRA. A evolução populacional de Rondônia pode ser vista na Tabela 1.

TABELA 1

População Residente Rural e Urbana Rondônia - 1950/1991 Ano População Rural População Urbana Total 1950 23.119 13.816 36.935 1960 36.606 30.186 69.792 1970 51.500 59.564 111.064 1980 262.530 228.539 491.069 1991 473.365 659.327 1.132.692 FO N T E : IB G E, 1989 e 1991

O processo de ocupação do Estado de Rondônia foi, portanto, originado a partir do estabelecimento de projetos de colonização agrícola. Em 1945, a criação da Colônia Agrícola do IATA deu início a uma série de ações do Governo Federal no sentido de resolver o problema da baixa densidade demográfica do então Território do Guaporé. Em 1949 foi criado o Núcleo Agrícola do Candeias, em 1954 o Núcleo Agrícola Nipo- Brasileiro, entre outros (Lisboa, 1990). A iniciativa governamental não surtiu o efeito desejado pois além dos solos serem pobres, não foi dada a assistência técnica necessária bem como insumos, financiamentos e transportes, fatores indispensáveis para o desenvolvimento de um núcleo agrícola. A conseqüência deste processo foi o abandono das colônias, podendo até hoje serem vistos vários sítios abandonados próximos a Guajará-Mirim.

Em 1963, o Estatuto da Terra entrou em vigor e estimulou, dentre outros fatores, o crescimento do número de trabalhadores rurais volantes, que são assalariados, mas, por não estarem envolvidos em uma relação de

trabalho fixa, evitava o pagamento dos encargos sociais por parte do empregador rural. Este fator somado à erradicação dos cafezais em 1965 e às intempéries climáticas, favoreceu e até mesmo instigou a migração para áreas de fronteira agrícola.

A colonização p or empresas privadas foi iniciada em 1964 com as empresas Calama e a Itaporanga S/A, que ocuparam uma área maior do que a que lhes pertencia, gerando invasões em terras "disponíveis", ou seja, as indígenas e os seringais. Perdigão e Bassegio (1992) citam o caso da também empresa colonizadora Guaporé Agroindustrial S/A, a GAINSA, que distribuía 300.000 ha e só possuía 11.000 ha. Outros exemplos são: a Ramon Chaves que queria a regularização de 724.000 ha, e a Santos Cia que com 11.650 ha, queria regularizar 600.000 ha (Perdigão e Bassegio, 1992). Além disso, uma série de obstáculos também impediu o sucesso deste tipo de colonização, como a regularização fundiária, endemias regionais e o aumento excessivo do número de migrantes.

Inicialmente, port ant o, houve o estímulo à migração por parte do Estado, que previa a distribuição, organização e assentamento dos colonos nas terras; administração do projeto através do fornecimento de educação, saúde, habitação rural, infra-estrutura física; formação de empresas cooperativas e apoio na comercialização e na obtenção de crédito. Se a princípio houve esse estímulo oficial, o mesmo foi sendo cortado quando um fluxo espontâneo de migrantes começou a surgir, passando o Governo e o INCRA a adotarem medidas visando reduzir a migração. Foram criados outros projetos para absorver este fluxo, sem contudo fornecer os benefícios pr op o st os inicialmente. Até 1979 pelo menos 20.000 famílias estavam legalmente assentadas, estando pelo menos 30.000 famílias sem o acesso a terra (Calvente, 1980).

Em 1970, a criação do Programa de Integração Nacional deu início a colonização dirigida na Amazônia, e tinha por principal função diminuir as tensões sociais no N or de ste através do assentamento dos colonos nas rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém. O insucesso do Programa se deu por vários motivos, entre eles: a exigência de capacitação técnica, a

migração excessiva gerando ocupação de áreas impróprias, os conflitos emergentes e a incapacidade do INCRA de atender aos colonos. Em 1976, o governo mudou sua polítrca, -passando a ocupar a Amazônia através de grandes e médias empresas capitalistas, destinando 66.000 ha para projetos agropecuários, 72.000 ha para projetos florestais e 500.000 ha para projetos de colonização; o que tornou Rondônia bastante atrativa, ainda mais depois da Transamazônica.

O início das atividades do INCRA se deu com o Decreto-lei n° 1.164 de I o de abril de 1971, que declarava indispensáveis à segurança e ao desenvolvimento nacionais, terras devolutas situadas na faixa de 100 km de largura de cada lado do eixo de rodovias na Amazônia legal. A prioridade foi a BR-364, e o INCRA atuou através dos PICs (Projetos Integrados de Colonização), PADs (Projetos de Assentamento Dirigido) e PARs (Projetos de Assentamento Rápido. Os PICs foram melhor programados, e pelo menos teoricamente selecionavam os colonos, faziam a demarcação dos lotes, abriam as estradas e davam assistência e orientação. Nos PADs, os colonos deveriam possuir situação econômica melhor, e o governo só abriria algumas estradas como investimento máximo. Os PARs surgiram para atender aos pequenos produtores. Eram lotes de 50 ha, onde existiam somente as picadas e não mais as estradas de acesso, sendo que a infra- est rutura estava condicionada à fase de produção. Junto com os PADs, foram licitadas três grandes glebas de 500 a 2.000 ha cada lote, são elas (Perdigão e Bassegio, 1992):

Corumbiara, situada em Pimenta Bueno, com 1.674.693 ha;

Gleba Garças, situada ao longo da BR-364, entre Porto Velho e Rio Branco, com 84.500 ha;

Gleba Burareiro, próxima ao PAD de mesmo nome e destinada ao plantio do cacau, com 227.609 ha.

Apesar de terem por função o cultivo agrícola, os detentores dessas terras preferiram guardá-las como Reserva de valor esperando os investimentos em infra-estrutura necessários para valorizá-las.

A Gleba Corumbiara envolvia os municípios de Pimenta Bueno, Vilhena, Espigão d'Oeste, Colorado do Oeste, Cerejeiras e Rolim de Moura, sendo que 216 foram licitados em 1972 e 390 em 1975 (Perdigão e Bassegio, 1992). Na Gleba Burareiro, 299 lotes foram adquiridos entre 1977 e 1979, e nas Glebas Bàixo Candeias e Igarapé Três Casas em Porto Velho, mais de 100 lotes também foram adquiridos através de licitação. Este processo gerou a concentração de terra nas mãos de poucos, pois muitos se utilizavam de terceiros para comprar terras. Como resultado, temos que apenas nove proprietários estão ocupando aproximadamente 6% das terras de Rondônia (ver Tabela 2), que são 24,3 milhões de há. Destes 6%, apenas 0,11% são aproveitados. Pelo menos 8 milhões de hectares estão nas mãos dos 2.000 maiores proprietários do estado, sendo que 25% das terras possuem pro priet ários que não residem em Rondônia. Ou seja, há uma grande concentração de terras no Estado.

TABELA 2