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Extrativismo e Desenvolvimento Sustentável na Amazônia : o caso da reserva extrativista do Rio Ouro Preto, Guajará-Mirim - Rondônia

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Departamento de Sociologia

Programa de Pós-Graduação em Sociologia - Mestrado

Área de Concentração: Estado e Sociedade

EXTR ATIVISMO E DESENVOLVIMENTO

SUS TEN TÁVEL NA AMAZÔNIA:

O Caso da Reserva Extrati vista do Rio Ouro Preto,

Guajará-Mirim - Rondônia

Autora: Luciana Rocha Leal da Paz

Orientadora: Deis Elucy Siqueira

(2)

c o n tin u a m c a tiv o s esquecidos

e contudo p r o fu n d a m e n te irm ãos

das coisas p oderosas, p e r m a n e n te s

como as á g u a s

,

os v e n to s e a esp era n ça

.

\ e m v e r comigo o rio e suas Ceis.

Vem a p r e n d e r a ciência dos re bojos

,

v e m e sc u ta r os cânticos n o tu rn o s

no m ágico siCêncío do igapó

coberto p o r estreías de esmeraCda.”

T M L A Ç O 'DE 'MELLO

(3)

memoriam), amigo querido e companheiro de caminhada na década de setenta da UnB.

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me guiou pelos cam inhos acadêmicos, am pliando meus horizontes, fazendo-me sair da Geografia para conhecer mais um pouco essa ciência que ele tanto amou...

Aos meus pais, Luis Augusto e Lisínia, pelo amor, dedicação, apoio e exemplo que sempre me deram; aos meus irmãos Marcelo e Lenícia pelo carinho e paciência durante todo este período.

Aos seringueiros, esse povo sofrido e corajoso que está sendo capaz de en fren tar e m udar o seu destino, esse povo forte que não esmoreceu mesmo diante de todo o passado de violência e desrespeito.

(5)

O alívio e a satisfação de ver mais uma etapa vencida, mais um trabalho realizado, vem junto com a vontade de agradecer a todos aqueles que nos

ajudaram, direta ou indiretamente, nesta longa jornada. Para não ser injusta, eu começo agradecendo àqueles que me acompanharam durante este tempo, que me ajudaram quer seja com informações pertinentes ao tema, quer seja com um sorriso ou um gesto de carinho.

Agradeço inicialmente a Deus por ter-me dado esta oportunidade de crescer mais um pouco, e em especial à professora Deis Elucy Siqueira, que tornou este crescimento possível e que deu verdadeiro sentido a palavra orientação. Sem a sua luz segura e firme, teria sido muito difícil achar o caminho a seguir.

A professora Vania Lucia Di Lascio, que me acompanhou desde a graduação, como minha professora e mentora, e que se tornou uma grande amiga. A sua dedicação, paciência e carinho foram de fundamental importância para a profissional que sou hoje. Obrigada, acima de tudo, por ter acreditado em mim!

Ao professor Marco Alfredo Di Lascio, que com sua visão de futuro (“sustentável” ) permitiu-me visualisar um novo mundo, abrir novas portas. Devo a ele muito mais do que posso mencionar com simples palavras. Seus ensinamentos ultrapassaram os limites da Universidade, atingindo minha vida como um todo, me ensinando a ser forte e a não desanimar. Ele realmente me ensinou a pescar!

À professora Laura Maria Goulart Duarte, que acompanhou esta

Dissertação desde o seu começo, fornecendo valiosas sugestões e

contribuições, ao professor Danilo Nolasco C. Marinho, por ter aceitado compor minha Banca de Mestrado, e a todos os professores do Departamento

de Sociologia da UnB. Agradeço igualmente aos funcionários do

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Aos colegas da pós-graduação, em especial a Adriana e Inaê, pelas sugestões valiosas em todas as fases da elaboração deste trabalho, pela amizade sincera, paios momentos alegres, e pelos maravilhosos sorvetes “anti- stress” do meio da tarde...

A Associação dos Seringueiros da Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto, na pessoa do presidente, o Sr. Jorge da Silva Costa, que pemitiu o acesso a área e aos documentos da instituição, facilitando imensamente meu trabalho. Aos seringueiros em geral, e especificamente aos que entrevistei, por permitirem minha entrada em suas vidas, fazendo perguntas por vezes inoportunas e indiscretas, mas que sempre eram respondidas com atenção.

Ao IBAMA e ao CNPT, Centro Nacional para o Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais, na pessoa do Sr. Adalberto Iannuzzi Alves, que atendeu prontamente a todas as minhas inúmeras solicitações, fornecendo informações fundamentais para esse estudo.

À Noely Vicente Ribeiro, César Valdenir Teixeira e Marcelo Alessandro Nunes, graduandos em Engenharia Cartográfica pela UNESP de Presidente Prudente e estagiários do Centro de Sensoriamento Remoto do CNPT- IBAMA, pela atenção e pelo inestimável material cartográfico.

Ao Sr. Isaac Bennesby, pelo apoio logístico em todas as idas ao campo, bem como pelas informações prestadas e pela visita a Rondex e a Rondonbor.

Ao CNPq, pela ajuda financeira, sem dúvida imprescindível para viabilizar este trabalho.

“Valeu a Pena? Tudo vale a p e n a Se a alm a não é pequena. Quem quer p a s s a r além do B o ja d o r

Tem que p a s s a r além da dor. D eus ao m ar o p e rig o e o abism o deu,

M a s nele é que se espelhou o c é u ”. FERNANDO PESSOA

(7)

Este trabalho mostra como se dá a relação entre extrativismo e desenvolvimento sustentável, pela análise da Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto, situada no município de Guajará-Mirim, Rondônia. Dessa forma, busca- se aqui verificar se as Reservas se constituem em uma opção que assegure boas condições de trabalho e de vida para a população amazônica, ao mesmo tempo em que contribui para a preservação do meio ambiente. Procura-se mostrar a dinâmica das diferentes atividades produtivas realizadas dentro de uma proposta de Desenvolvimento Sustentável, especialmente no que se refere às relações entre extrativismo e agricultura. A agricultura contribui de forma significativa para a manutenção da sustentabilidade das Reservas Extrativistas na medida em que diversifica a produção, permitindo a recuperação das árvores seringueiras e fornecendo os bens básicos para a sobrevivência mínima dos seringueiros. Verificou-se que houve uma visível melhoria na qualidade de vida, através do acesso à educação, saúde, bens de consumo, meios de transporte, a uma infra-estrutura que permite uma vida cada vez mais digna. Ao mesmo tempo, houve o estabelecimento de práticas para a preservação dos recursos naturais ao longo do tempo, como a rotação de culturas.

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This work shows how the relationship between extractivism and sustainable development occurs through the analysis o f the Ouro Preto

River Extractive Reserve, located next Guajará-Mirim, Rondônia.

Accordingly, the purpose o f it is to fínd out if the Reserves are an option that guarantee good work and life conditions for the Amazonian population, at the same time that facilitate the environmental preservation. Also, the study presents the dynamics o f the different productive activities accomplished inside a Sustainable Development proposal, specially in relation to the extractivism - agriculture association. The agriculture contributes significantly to the maintainance o f the Extractive Reserves’ sustainability because it diversifies the production and, by doing so, allows the recovering o f the rubber trees and gives the basic goods for the minimal survival o f the rubber-tappers. There was a noticeable improvement on the standards o f living in terms o f education, health, consumption goods, transportation, and substructure that allows a life even more self- respecting. At the same time, there was the stablishment o f practices for the preservation o f the natural resources through time, like crop rotation.

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AGRADECIMENTOS

RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I: Considerações Teóricas

1 - Extrativismo e Reservas Extrativistas

2 - Movimentos Sociais, Política Social e Estado 3 - Políticas Públicas para Rondônia

4 - Desenvolvimento Sustentável 5 - Agricultura Sustentável

CAPÍTULO II:

A Área em Estudo: Rondônia,

Guajará-Mirim e Reserva Extrativista do Rio Ouro

Preto

1 - Evolução Econômica de Rondônia 2 - Histórico de Guajará-Mirim

3 - Guajará-Mirim

4 - A Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto

01

08

10 17 24 27 36

45

48 60 62 64

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1 - Análise dos Dados do Cadastro da Associação 73

1.1 - Extrativismo 75

1.2 - Agricultura 76

1.3 - Criação de Animais Domésticos 83

2 - Análise dos Dados da Pesquisa de Campo 85

2.1 - Qualificação da Amostra 85

3 - Indicadores do Desenvolvimento da Reserva 103

3.1 - Diversidade 103

3.2 - Agricultura 107

3.3- Produtos Extrativistas 111

4 - Indicadores do Desenvolvimento Sustentável

(Reflexões à Guisa de Conclusões) 112

5 - E Quanto ao Futuro? (Reflexões Conclusivas) 132

BIBLIOGRAFIA

136

ANEXOS

144

Anexo

I

- Lista dos Seringueiros por Comunidade

Anexo II - Lista de Produção da Reserva por Comunidade Anexo III - Figuras

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TABELA 1 População Residente Rural e Urbana - Rondônia - 1950/1991 49

TABELA 2 Maiores Latifundiários de Rondônia 52

TABELA 3 Situações de Alguns Projetos de Reforma Agrária - INCRA - 1986 57

TABELA 4 População Residente por Situação de Domicílio, por Área e

Densidade Demográfica Segundo os Municípios - Rondônia - 1991 64

TABELA 5 Total dos Entrevistados por Comunidade 86

TABELA 6 Divisão dos Seringueiros Titulares por Faixa Etária (%) 88

TABELA 7 Estado de Origem dos Entrevistados 90

TABELA 8 Tempo dos Entrevistados na Reserva 90

TABELA 9 Motivo da Vinda para a Reserva 90

TABELA 10 Ocupações Anteriores 91

TABELA 11 Atividades Atuais 91

TABELA 12 Motivos da Valorização da Propriedade 96

TABELA 13 Renda Mensal (R$) 96

TABELA 14 Produção/Consumo 97

TABELA 15 Preparo para o Cultivo 97

TABELA 16 Tempo de Uso da Terra 98

TABELA 17 Destino para a Área que não Produz 98

TABELA 18 Formas de Energia Utilizadas 99

TABELA 19 Recursos Naturais 101

TABELA 20 Meios de Comunicação 101

TABELA 21 Utilização dos Equipamentos de Guajará-Mirim 103

(12)

GRÁFICO 1 Produção de Seringa e Castanha por Comunidade 76

GRÁFICO 2 Culturas Temporárias 77

GRÁFICO 3 Culturas Permanentes 80

GRÁFICO 4 Café 80

GRÁFICO 5 Criação de Animais Domésticos 84

GRÁFICO 6 Comunidade dos Entrevistados 86

GRÁFICO 7 Idade dos Entrevistados 87

GRÁFICO 8 Idade dos Seringueiros Cadastrados 88

RELAÇÃO DE MAPAS

MAPA 1 Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto - Colocações 68

MAPA 2 Aptidão Agrícola IV

MAPA 3 Pedologia IV

MAPA 4 Geologia IV

MAPA 5 Geomorfologia IV

MAPA 6 Antropismo IV

(13)

FIGURA 1 Projetos de Colonização em Rondônia 54

FIGURA 2 Imagem de Satélite da Reserva Extrativista do Rio Ouro

Preto 67

FIGURA 3 Família de Seringueiros da Reserva III

FIGURA 4 Acesso por via terrestre ao Ramal do Pompeu III

FIGURA 5 Caminhão da ASROP indo para a Reserva III

FIGURA 6 Seringueiro ao chegar da floresta com quase 70 quilos de

castanha nas costas III

FIGURA 7 Plantação de Mandioca e Milho na Reserva, com a floresta

ao fundo I II

FIGURA 8 Escola da comunidade Floresta, durante uma aula de

alfabetização de adultos III

FIGURA 9 Borracha estocada na Associação: CVP e Placa Bruta III

FIGURA 10 Rondex - Seção onde se quebravam as castanhas III

FIGURA 11 Rondonbor vista por dentro III

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Inicialmente, faz-se mister analisar brevemente a Amazônia brasileira para que se possa contextualizar a questão extrativista em Rondônia, mais especificamente o extrativismo praticado na Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto, situada no município de Guajará-Mirim e objeto deste estudo. O extrativismo é uma atividade bastante tradicional na Amazônia e sua importância principal é devida à sua baixa influência no ecossistema, se comparada com outras opções de uso da terra, como a agricultura ou a mineração.

Em se tratando da vocação da Amazônia, Dubois (1990) coloca que é fundamentalmente florestal, tanto por ser local das “maiores remanescentes de madeiras em pé de toda a faixa tropical do nosso planeta” (Dubois, 1990, p. 164), quanto pelos solos amazônicos serem “de baixa a baixíssima fertilidade natural e, portanto, inadequados aos tipos de atividades agropecuárias praticadas em outras regiões” (Dubois, 1990, p. 164). A vocação florestal da Amazônia se traduz pela necessidade de conservação da riqueza genética animal e vegetal e pelos benefícios sócio-econômicos que o manejo sustentado dos produtos extrativistas traz. Para o autor as Reservas Extrativistas na Amazônia são vantajosas para o País, “não somente pelos serviços sociais e culturais que geram, como também, pelo

fato de que constituem, no momento, uma grande alternativa

conservacionista de baixo custo” (Dubois, 1990, p. 169).

A Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto é uma das quatro maiores Reservas da Amazônia criadas no governo Sarney, e encontra-se no Estado mais degradado da Amazônia. O extrativismo sob a forma de Reservas pode se constituir em uma possibilidade de manutenção da floresta e do meio ambiente amazônico como um todo, bem como poderá vir a permitir, igualmente, uma vida mais digna para a população, possibilitando soluções

(15)

tanto para os problemas ambientais quanto para os sociais que atualmente fazem parte do dia-a-dia amazônico.

A Amazônia brasileira vem passando, dentre outros problemas, por uma série de transformações ambientais causadas pela forma de ocupação do seu território. Por ser uma região estratégica, vem sendo alvo de vários instrumentos governamentais que têm como uma de suas finalidades ocupar o chamado vazio demográfico, visando permitir o desenvolvimento regional. Alia-se a este fato a pressão sobre a terra e sobre os recursos naturais em outras regiões do país, que veio transformando a Amazônia em um dos centros das ações dirigidas pelo Estado desde a década de 60. A modernização agrícola ocorrida no centro-sul do país gerou uma forte exclusão social, e com isso, ao invés de resolver os problemas sociais aonde eles foram gerados, a ação estatal caminhou no sentido contrário, ou seja, de estimular a migração daqueles que não possuíam nem terras e nem trabalho. Essa intensificação das ações estatais na região, e a urgência em ver resolvidos os problemas no centro-sul dificultaram uma ocupação ordenada da terra. Segundo Lisboa (1990), a Amazônia está passando atualmente pelo mesmo processo que levou ao desgaste ambiental nas outras regiões do país.

O extrativismo em Rondônia tem uma maior significância devido à existência das Reservas Extrativistas, criadas a partir de 1990 e localizadas no município de Guajará-Mirim. Procura-se aqui relacionar este novo modelo de extrativismo com o desenvolvimento sustentável, buscando analisar até que ponto as reservas são sustentáveis e se elas podem ser uma opção de vida qualitativamente melhor para a população do estado e da Amazônia como um todo. Buscar-se-á, ainda, analisar de que forma a agricultura se integra à atividade extrativista, e como ela contribui para a sustentabilidade das Reservas.

Sustentabilidade refere-se basicamente à capacidade de utilização dos recursos naturais de forma que as futuras gerações também os possam usufruir, possibilitando o desenvolvimento regional e uma convivência mais

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desenvolvimento é fundamental para qualquer localidade, especialmente as da Amazônia que, por serem muito isoladas pela floresta que as envolvem, necessitam de uma forma de sobrevivência que possua benefícios não só a curto mas principalmente a longo prazo. Guajará-Mirim apresenta-se, então, como um caso de estudo significativo, na medida em que deu um passo importante nesta direção.

Guajará-Mirim situa-se na parte oeste de Rondônia, sendo esta uma das regiões menos degradadas do estado. Sua importância advém, em primeiro lugar, do fato de ser uma área que faz fronteira com a Bolívia, sendo relevante estrategicamente por questões políticas e econômicas. Além disso, destaca-se por ser palco de importantes acontecimentos históricos, vindo desde a época da construção do Forte Príncipe da Beira, da Ferrovia Madeira-Mamoré, dos "Soldados da Borracha", das primeiras tentativas de colonização agrícola, até a instituição da Área de Livre Comércio e da Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto. O município possui também projetos de colonização e várias áreas indígenas, além de ter uma forte tradição extrativa, demonstrando o caráter diversificado da situação em que se vive.

A inexpressividade dos resultados da pecuária e agricultura, e o decréscimo pronunciado das atividades extrativistas, levaram a região a um estado de baixa produção e de abandono. Uma das soluções estatais encontradas foi no sentido da melhoria das atividades comerciais através da criação, em julho de 1991, da Área de Livre Comércio de Guajará-Mirim (ALCGM), que visa a promover o desenvolvimento das regiões fronteiriças do extremo oeste de Rondônia, bem como incrementar as relações com os países vizinhos segundo a política de integração latino-americana (Brasil,

1990).

A Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto foi criada a partir do movimento dos seringueiros de Guajará-Mirim, e surgiu com o objetivo de revitalizar tanto a região em si, quanto as práticas extrativas, de forma a assegurar condições de trabalho e de vida aos seringueiros restantes. A Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto foi então criada pelo Decreto n°

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99.166 de 13 de março de 1990, possuindo uma área de 204.583 ha (Wawzyniak, 1994), área esta que foi ampliada desde a apresentação da sua proposta de criação em 1989 pelo IEF - Instituto Estadual de Florestas, quando possuía 54.000 ha. Em julho de 1995, foi criada também a Reserva Extrativista dos Pacaás Novos, situada no mesmo município, vindo a demonstrar o aumento da demanda de Reservas.

Apesar do movimento dos seringueiros não ter sido historicamente muito expressivo em Rondônia, em 1985 ocorreram vários encontros visando formar a comissão que iria ao I Encontro Nacional dos Seringueiros, realizado em Brasília. Em 1989 houve o I Encontro dos Seringueiros de Guajará-Mirim, que tinha por meta discutir os problemas locais da categoria dos seringueiros. Foram ressaltados então os principais problemas, como descreve Wawzyniak (1994, pp. 153/154): "pagamento de renda, falta de garantia sobre as colocações, falta de assistência de saúde e educação, desmatamento, baixo preço da borracha e alto preço das mercadorias". Com relação às reivindicações, Wawzyniak destaca (1994, p. 154): "fim do pagamento da renda, garantia de permanência na colocações, melhor preço para a borracha, criação de uma cooperativa e assistência de saúde e educação". O I Encontro dos Seringueiros de Guajará-Mirim foi de extrema importância para a criação da Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto, bem como permitiu o fortalecimento da organização política dos

seringueiros no município.

A Associação dos Seringueiros de Guajará-Mirim (ASGM)1, criada em 1991, tenta buscar a melhor alternativa para manter os seringueiros na Reserva de forma que tenham boas condições de vida sem degradação do meio ambiente, esforçando-se assim para o estabelecimento de um desenvolvimento sustentável na região. É ela quem controla a entrada e saída de pessoas nas Reservas, juntamente com o CNPT (Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais), órgão pertencente ao IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente). A posse

1 A ASGM englobava tanto a Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto, quanto a Reserva Extrativista dos Pacaás Novos. Em 1996 a ASGM foi extinta, nascendo a Associação dos Seringueiros da Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto, a ASROP.

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das colocações2 é também controlada pela Associação, mesmo sem o Contrato de Concessão do Uso3 ter sido assinado. O 'dono' da colocação é aquele que consta no cadastramento feito pelo IEF em 1989, e portanto é aquele que já reside na colocação. Esta quase garantia de posse estimulou a adoção pelos seringueiros de um novo comportamento frente aos recursos naturais, de modo a recuperar a capacidade de produção das árvores seringueiras.

Este novo comportamento é dificultado por fatores históricos relacionados à produção. Na década de 70, o ritmo produtivo tinha que ser alto devido ao pagamento de uma cota anual exigida pelo seringalista. O fim deste regime seringalista/seringueiro representou um redirecionamento desta cota para a aquisição dos bens de consumo de que antes os seringueiros eram privados. O conceito de Reserva trouxe consigo a necessidade de mudança no ritmo produtivo de forma a permitir a regeneração das árvores seringueiras. Com isso, a antiga cota que era destinada ao pagamento da renda anual e que passou a ser usada integralmente no acesso aos bens de consumo, teve que ser abdicada em favor da sobrevivência da atividade extrativista. A agricultura passou a ser uma poderosa aliada para que se pudesse alcançar a sustentabilidade da área, uma vez que esta permite a sobrevivência básica dos seringueiros, diminuindo a necessidade da compra de mercadorias. A decisão de recuperar a área mostra, portanto, que para os seringueiros existe uma ligação entre permanência na colocação e adoção de práticas para a regeneração da espécie, de forma a garantir o uso da terra por mais tempo.

2 Fcmna tradicional de exploração baseada na unidade familiar de produção e nas estradas de seringa (Allegretti, 1994), ou “local no interior da floresta onde confluem diversas estradas de corte, e onde, também, se situam as barracas dos seringueiros” (Rancy, 1981, p. 252). Estrada é o “percurso aberto entre a floresta, onde estão espalhadas diversas seringueiras e no qual o extrator realiza o seu trabalho diário” (Rancy, 1981, p. 252).

3 Por serem de propriedade da União, as Reservas Extrativistas necessitam de um mecanismo de controle para que não ocorra o mesmo que aconteceu com os Projetos de Colonização: ocupação, desmatamento e venda do lote. Desta fim » foi estabelecido este contrato, que permite a concessão da terra por um período não inferior a 60 anos, mas somente à Associação dos Moradores de cada Reserva.

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As referências empíricas para esta dissertação constaram de duas pesquisas de campo iniciais em Guajará-Mirim, Rondônia, em maio de 1995 e em fevereiro de 1996, com as quais se tomou contato com a questão das Reservas Extrativistas e sua importância para a Amazônia como um todo. A aplicação dos questionários se deu em duas etapas, nas pesquisas de campo de julho de 1996 e de março de 1997.

Como o trabalho é fruto de mais de três anos de pesquisas realizadas juntamente com o Grupo de Planejamento Energético da Universidade de Brasília, a primeira parte da aplicação dos questionários foi realizada por um então membro do Grupo, Elisabete Moreira Dias, através da viagem de campo com mais dois outros membros, entre eles o coordenador, professor Marco A. Di Lascio. Nesta ocasião, devido à disponibilidade de recursos humanos e financeiros, pôde-se chegar até as comunidades de mais difícil acesso, como Ouro Negro, Petrópolis e Sepitiba, bem como foi possível entrevistar seringueiros das comunidades cujo acesso é um pouco mais facilitado, como Espírito Santo, Nossa Senhora dos Seringueiros e Floresta. Os questionários foram aplicados junto a um total de 20 seringueiros.

A segunda parte das entrevistas foi realizada por minha pessoa, sendo que não foi possível visitar os locais de acesso mais difícil uma vez que estava sozinha e contava com recurso financeiro limitado, este fornecido pelo Departamento de Sociologia. Além disso, houve muitos imprevistos no que diz respeito ao transporte fluvial. Dessa forma, as comunidades por mim visitadas foram a Espírito Santo, Floresta e Nossa Senhora dos Seringueiros. Foram aplicados um total de 11 questionários e 15 pessoas foram entrevistadas, entre membros do governo, do empresariado, um professor da Reserva e três líderes da Associação e seringueiros.

A partir das considerações feitas anteriormente, a presente

dissertação objetiva analisar como o extrativismo vegetal de produtos não- lenhosos e a agricultura, da forma que foi proposta e está sendo realizada nas Reservas Extrativistas de Rondônia a partir de 1990, concorrem para a promoção do Desenvolvimento Sustentável. Espera-se, portanto, contribuir para a discussão a respeito da sustentabilidade das Reservas, buscando

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analisar se estas se constituem ou não em uma opção viável para a manutenção da população amazônica bem como para a preservação das

florestas, permitindo assim uma convivência mais harmônica

homem/natureza. De uma forma mais geral, a pesquisa objetiva analisar como as Reservas Extrativistas podem contribuir para a resolução do dilema preservação/exploração dos recursos naturais que a Amazônia vive atualmente, bem como para a construção de novas relações do homem com a terra e com o trabalho.

No Capítulo I, apresenta-se a problemática aqui estudada do ponto de vista teórico, abrangendo a discussão sobre extrativismo, Reservas Extrativistas, movimentos sociais, políticas sociais e Estado, bem como desenvolvimento sustentável e agricultura sustentável.

No Capítulo II, descreve-se o processo histórico de ocupação de Rondônia e de Guajará-Mirim, mostrando todo o problema que a colonização gerou para o Estado e para o extrativismo da região. Da mesma forma, é apresentada a área de estudo, a Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto.

No Capítulo III, são mostrados os dados e observações colhidos durante a pesquisa de campo e analisados à luz da discussão teórica feita no capítulo anterior. O capítulo expõe a integração que há entre as diversas atividades praticadas na Reserva, mais notadamente o extrativismo e a agricultura, e dando destaque para o caráter diversificado da produção.

(21)

CAPITULO I

C onsiderações Teóricas

As referências principais do presente projeto estão ligadas ao extrativismo e às Reservas Extrativistas; aos movimentos sociais, às políticas sociais e ao Estado; às políticas públicas para Rondônia; ao desenvolvimento sustentável e à agricultura sustentável. A problemática localiza-se fundamentalmente no campo da Sociologia rural ou do meio ambiente.

Buttel (1987) aponta Dunlap & Catton como autores pioneiros a tratar claramente da sociologia do meio ambiente como disciplina, no começo da década de 70, onde o termo sociologia ambiental se referia à maneira pelo qual os fatores do ambiente físico moldavam e eram moldados pela organização e comportamento social. Buttel já adota o termo “nova ecologia humana”, já que este, ao invés de se referir a um equilíbrio com o meio ambiente natural de onde deriva o sustento, se concentra no fato de que os padrões básicos da organização social são moldados pelo fator imperativo das sociedades humanas de obter suas necessidades básicas pela biosfera. As sociedades modernas exibem um padrão oposto ao usado pelo termo sociologia ambiental, já que sua dinâmica social agrava a degradação do ambiente. Uma “ sociologia ambiental genuína” (Buttel, 1987, p.468) é aquela que é relevante aos problemas do mundo moderno, e que deve largar o seu antropocentrismo e rejeitar a noção de que os homens, devido a sua capacidade para a cultura e inovação tecnológica, são isentos das leis ecológicas que governam toda a existência de espécies menores.

Uma das mais importantes áreas de pesquisa da sociologia ambiental é a das atitudes, valores e comportamentos ambientais, que possuem três componentes básicos. A pesquisa sobre as bases sociais do problema ambiental enfoca as variáveis sócio-econômicas que refletem os vários

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interesses para se alcançar a proteção ambiental. A pesquisa psico-social enfoca os tópicos relacionados com a estrutura cognitiva das orientações ambientais e com a congruência na postura/comportamento. O último componente desta área de pesquisa se dedica à pesquisa específica dos comportamentos e atitudes ambientais, sendo que sua literatura maior é dedicada ao estudo dos comportamentos relacionados à energia e como estes são afetados por atitudes, incentivos, programas públicos e fatores relacionados. Este último componente relaciona-se diretamente com o caso em estudo - Rondônia, já que a própria orientação produtiva foi mudada por força estatal, vindo desde o estímulo à produção de borracha na Segunda Guerra Mundial, com ‘Soldados da borracha’, até os programas voltados para a agricultura a partir da década de 70.

O movimento ambientalista data de antes do início do processo de constituição da sociologia ambiental enquanto campo de conhecimento e foi extremamente considerado em meados da década de 80. Buttel (1987) coloca que três tipos de grupos especializados do movimento ambientalista têm recebido grande enfoque. O primeiro é o movimento antinuclear, que ganhou força após o acidente ocorrido em Three Mile Island em 1979. O segundo tipo diz respeito ao lixo tóxico e outros dejetos químicos e o terceiro busca saber se os temas sobre a tecnologia podem redirecionar o movimento ambientalista, ou podem dar base para um movimento maior que poderia ligar mais efetivamente ambiente com equidade. Com isso, o movimento ambientalista aumentou o interesse sobre os riscos que a tecnologia pode trazer, especialmente depois do acidente de Three Mile Island e de outros subseqüentes, levando à análise dos impactos e à pressão para o aparecimento de políticas que os regulamentassem.

As políticas ambientais constituem-se em uma das áreas da sociologia ambiental que cresceu bastante na década de 80, sendo que a década de 70 pode ser vista como fundamental para a reorientação da sociologia política (Buttel, 1987). Ao se remeter à Rondônia, pode-se perceber que a década de 70 foi realmente significativa em termos de políticas públicas.

(23)

O processo histórico de ocupação da terra em Rondônia, fruto das políticas públicas do Governo Federal, foi um fator determinante para a atual configuração sócio-política do estado. Em 1970, foi implantado o primeiro Projeto de Colonização, o Projeto Induzido de Colonização (PIC) Ouro Preto. O intenso movimento migratório que foi desencadeado por este Projeto gerou uma série de tensões sociais, obrigando as autoridades competentes a tomarem providências para contornar e resolver esse problema, surgindo daí outros Projetos de Colonização, não previstos no plano original. A ferrovia Madeira-Mamoré e a BR-364 possibilitaram a expansão da fronteira agrícola, representada pela colonização.

O Polonoroeste foi desenvolvido com o intuito de promover a ocupação da área de influência da BR-364, entre Cuiabá e Porto Velho, através da absorção das populações marginalizadas de outros estados, aumentando assim a renda da região e diminuindo as diferenças intra e inter-regionais. O governo de Rondônia, no entanto, perdeu o controle sobre suas terras, desencadeando assim o processo desordenado de ocupação do estado e originando vários conflitos entre as diversas camadas sociais. Portanto, é importante analisar as políticas públicas implementadas em Rondônia, visando a se compreender a situação em que o Estado se encontra e como podem ser indicadas soluções para resolver as dificuldades existentes.

Uma destas soluções tem sido as Reservas Extrativistas, criadas por uma ação governamental que é fruto, sobretudo, das pressões exercidas pelo movimento social dos seringueiros, assunto que trataremos a seguir.

1 - Extrativismo e Reservas Extrativistas

O extrativismo é colocado por Pinton e Emperaire (1992) como um fator histórico de povoamento. Os referidos autores colocam ainda que no Brasil, o extrativismo designa o conjunto das atividades de extração dos produtos naturais, de origem vegetal ou mineral, diferenciando-se das

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outras atividades de coleta por sua finalidade mercantil. A Amazônia é colocada simbolizando a ligação entre a crise ecológica e a crise do desenvolvimento, bem como representando um desafio à imaginação no sentido de encontrar novas visões que demonstrem as possibilidades de sinergia entre ecologia e desenvolvimento. O dilema amazônico se dá pela polarização existente entre os ecologistas radicais, para os quais a floresta deve ser intocada, e os adeptos do desenvolvimento econômico a qualquer custo, que defendem a exploração da floresta para resolver os problemas econômicos regionais. É justamente a este desafio que a proposta de mediação das Reservas Extrativistas procura resolver.

Nesta pesquisa, o termo extrativismo será utilizado para designar as atividades de coleta visando a uma comercialização de produtos não- lenhosos da floresta, que atinge uma parcela significativa da população rural amazônica. É importante ressaltar que os produtos florestais não- lenhosos são por excelência produtos sustentáveis pois não degradam tanto o meio ambiente como as outras formas de extrativismo (mineral, madeireiro, entre outros), ao mesmo tempo que permite sua utilização por tempo ilimitado, desde que seja racionalmente explorado.

Com relação às Reservas Extrativistas, a Comissão Interministerial para preparação da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, considera que a criação de Reservas Extrativistas é uma das alternativas para o uso sustentado dos recursos naturais renováveis da Amazônia pois “procura conciliar interesses de conservação com o desenvolvimento social” (Brasil, 1991, p.99).

O conceito de Reservas Extrativistas é definido por Allegretti (1994, p. 19), como sendo "espaços territoriais protegidos pelo poder público, destinados à exploração auto-sustentável e conservação dos recursos naturais renováveis, por populações com tradição de recursos extrativos, reguladas por contrato de concessão real de uso, mediante plano de utilização aprovado pelo órgão responsável pela política ambiental do país (Ibama)"1. O contrato de concessão inclui o Plano de Utilização2 realizado

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pelos moradores e submetido à aprovação do Ibama ( Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) através do CNPT

(Centro Nacional de Desenvolvimento Sustentado das Populações

Tradicionais)3, e será rescindido quando for detectado qualquer dano ao meio ambiente (Brasil, 1995).

Browder (1990) define Reservas Extrativistas como áreas de floresta natural nas quais o governo garante o direito exclusivo de selecionar a população residente, e cujo meio de vida básico é a extração de produtos florestais secundários (borracha, castanha, frutas e palmáceas). Em 1987, foi incorporada ao Programa Nacional de Reforma Agrária sob o nome de Projeto de Assentamento Extrativista. Até 1989, foram criadas 10 áreas, sob a tutela do Incra, com um total de 889.548 ha. para 2.924 famílias (Allegretti, 1994). O Decreto n° 98.897 de 30 de janeiro de 1990 regulamentou as agora chamadas Reservas Extrativistas, que passaram a

fazer parte do Programa Nacional de Meio Ambiente, sob a

responsabilidade do Ibama. Por este Decreto, as Reservas Extrativistas são espaços especialmente protegidos para uso sustentável dos recursos

naturais, beneficiando as populações extrativistas e permitindo a

regularização de áreas contínuas, como são os antigos seringais. Tal Decreto também permite a agilização do processo burocrático pois permite a criação de Reservas Extrativistas sem que para isso seja necessário a desapropriação prévia das áreas. No ato da criação devem constar os limites geográficos, a população a que se destina e as medidas que o Poder Público deve tomar.

As Reservas Extrativistas não são utilizadas somente para a extração de borracha e da castanha, apesar destas constituírem a sua base. Elas definem a forma de regularizar o acesso a um determinado espaço, estabelecendo como condição a sustentabilidade (Allegretti, 1994). As atividades são portanto, baseadas no extrativismo de produtos florestais, mas abrangem também a agricultura, a criação de animais domésticos e a

2 O Plano de Utilização “é o principal regulamento da Reserva Extrativista”, sendo que nele estão descritas “as regras de uso dos recursos naturais bem como os direitos e os deveres de todos aqueles que nela e dela vivem” (Brasil, 1995, p. 17). Foi institucionalizado pela Portaria IBAMA n° 27-N, D.O.U. de 19 de abril de 1995.

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industrialização do que é produzido, desde que atendam ao critério da sustentabilidade.

Menezes (1994), estabelece diferenças fundamentais entre uma

Reserva Extrativista e um Seringal. As relações de dependência

trabalhador/patrão ou trabalhador/intermediário desaparecem nas Reservas Extrativistas, pois a área é de concessão do seringueiro e de sua família. O seringal é uma estrutura criada pelo desejo de obter lucros cada vez maiores, e tem a força e violência como características de suas relações de trabalho. Nos seringais, os trabalhadores eram mantidos em constante dependência, através da contração de dívidas nos barracões, os comércios locais. As relações de trabalho dos seringueiros apresentavam traços escravocratas, e quando se começou a arrendar as colocações, na década de 70, a renda anual exigida de 50 quilos de borracha era extremamente alta, obrigando os seringueiros a trabalharem em um ritmo ainda maior. Com as Reservas, os trabalhadores ficaram livres das exigências dos seringalistas, passando então a controlar a produção tanto da borracha quanto das outras atividades complementares, como a agricultura e a criação de animais domésticos.

Em 1985, com a realização do Encontro Nacional de Seringueiros da Amazônia, pôde dar-se a organização de um movimento próprio e a definição clara de seus objetivos, que era o de viver na floresta de forma sustentada, incluindo inovações para a melhoria da produção e do modo de

vida. Essas necessidades foram reunidas no conceito de Reserva

Extrativista.

Para que fosse elaborada uma alternativa que se ajustasse aos seringueiros, algumas questões tiveram que ser consideradas, já que não havia na legislação brasileira instrumentos que expressassem com exatidão as suas necessidades. A primeira consideração era a respeito dos recursos naturais e do uso espacial exigido para o Extrativismo. A diversidade de espécies da floresta amazônica faz com que sejam necessários vários hectares para se obter uma produção considerável, especialmente no caso da borracha, que requer amplas áreas. A forma tradicional de exploração é

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a baseada na unidade familiar de produção e nas estradas de seringa que formam um conjunto de seringueiras, chamadas de colocação. Os limites não podem ser rígidos pois é freqüente a utilização de seringais da colocação vizinha. São necessários em média, 300 a 500 ha. de floresta para uma produção mínima anual de 500 kg de borracha. Para resolver esta questão foi delimitado um perímetro que reunia um conjunto de colocações, sem divisões internas, mas sempre reconhecendo cada unidade familiar (Allegretti, 1994).

Outra questão levantada no Encontro foi a respeito da gestão das áreas protegidas, visando a evitar que tais áreas caíssem no circuito do desmatamento, venda do lote e desmatamento novamente, como ocorreu com várias áreas de colonização. As Reservas Extrativistas são, portanto, de propriedade da União e têm o seu uso feito através de concessão por período não inferior a 60 anos, modalidade esta escolhida pelos próprios seringueiros de forma a evitar a fragmentação e desmatamento das

colocações. Foram criadas associações de moradores em cada Reserva, para serem estas as concessionárias do direito concedido pelo Estado, além de terem a função de gerir as áreas e controlar a utilização dos recursos.

Os benefícios sociais das Reservas Extrativistas são muitos. Entre eles destacam-se o reconhecimento dos direitos dos seringueiros pelas áreas ocupadas historicamente, a criação de áreas protegidas com possibilidade de utilização como bancos genéticos para pesquisa, a limitação dos desmatamentos e na especulação da terra, a permissão de serem implantados

programas para melhorar as condições de vida na floresta, o

estabelecimento e fixação da população na floresta, entre outros (Allegretti, 1994).

Contudo, apesar destes benefícios, Browder (1990) aponta três razões básicas porque a proposta das Reservas Extrativistas não conseguiria frear o processo de desmatamento ou não protegeria de forma significativa a biodiversidade. Em primeiro lugar, o autor considera que estas Reservas, por definição, são espaços sociais que não necessariamente coincidem com áreas de importância biológica. Além disso, Reservas Biológicas devem ser

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locais com ausência de população humana, e as Extrativistas necessitam de uma presença humana bem organizada.

Em segundo lugar, Browder coloca que, contrária à imagem popular de que os seringueiros vivem em total harmonia com a floresta em que habitam, muitos seringueiros da Amazônia são pobres e possuem muitas dívidas com donos de terra e/ou atravessadores (intermediários), sendo portanto perfeitamente capazes de esgotar os recursos renováveis dos quais eles dependem. O autor coloca ainda que o meio de vida de seringueiros autônomos do Acre depende do cultivo e da criação de gado nas clareiras que são abertas nas florestas.

Em último e mais importante lugar, está o fato de que os fundos recentes destinados às Reservas Extrativistas não podem diminuir a destruição das florestas tropicais em uma escala considerável. Segundo Browder (1990), a maior parte do desmatamento da Amazônia Brasileira se origina das 465.000 fazendas e ranchos, que em 1980 ocupavam 849.000 km2 (24%) da região norte. Em contrapartida, existem aproximadamente 68.000 colocações ocupando uma área estimada em 97.000 km2 (2,7%) da área da região. O autor coloca que se as Reservas Extrativistas pretendem representar um impacto significativo na prevenção do uso destrutivo da terra, devem então ser um modelo a ser adotado pela maioria dos usuários da terra, e não somente os seringueiros. Para ele, o desafio não é designar áreas de Reservas Extrativistas, e sim como integrar a extração sustentável e outras práticas naturais de manejo das florestas nas estratégias de produção das propriedades rurais, pequenas e grandes fazendas, que são as responsáveis pela maior parte da devastação das florestas amazônicas.

Louise Silberling (1991) discorda do ponto de vista de Browder. Com relação ao primeiro ponto abordado por este autor, Silberling coloca que os seringueiros que defendem a idéia das Reservas Extrativistas não possuem

como objetivos explícitos restringir o desmatamento, proteger a

biodiversidade ou salvar a Amazônia inteira. Uma parte das deliberações dos seringueiros visa a controlar o desmatamento, principalmente porque este os privarão do seu sustento básico, a borracha e a coleta da castanha.

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Além disso, apesar das Reservas não ocuparem regiões de grande diversidade biológica, os seringueiros ocupam estas áreas especificamente porque elas contém espécies valiosas, como as árvores seringueiras (Hevea brasiliensis) e as da castanha do pará (Bertholletia excelsa). A autora concorda que as Reservas podem ter uma diversidade menor de espécies do que outras partes da Amazônia, mas elas possuem uma diversidade muito grande se comparadas com as áreas não-tropicais.

A respeito do segundo ponto abordado por Browder, Silberling (1991) discorda totalmente da descrição apresentada por este autor. Apesar do empobrecimento dos seringueiros, fruto de anos de servidão, a sua nova organização está trabalhando na direção da melhoria das condições de saúde e de educação, bem como de proteger a floresta. Um dos seus objetivos é fugir do endividamento dos proprietários de terra e dos atravessadores, através da garantia de posse fornecida pelas Reservas e da criação de cooperativas para a venda direta nas vilas e cidades. Os seringueiros, além disso, reconhecem a fragilidade ecológica e estão trabalhando a partir desta constatação.

Com relação ao último ponto, Silberling (1991) coloca que o Conselho Nacional dos Seringueiros assinou um projeto com o Governo brasileiro para criar, nos próximos cinco anos, 50 milhões de acres de Reservas Extrativistas, que é uma quantidade significativa de terra. A autora afirma que seria melhor encorajar os esforços pioneiros da população local para achar suas próprias estratégias de sobrevivência em áreas ecologicamente sensíveis, ao invés de condenar as Reservas Extrativistas, como fez Browder.

Além disso, a Comissão Interministerial que preparou a Rio-92 considera que não se pode analisar a extração da borracha de seringais nativos pelo ângulo puramente econômico, já que esta atividade possui funções sociais, gerando emprego e renda, e ambientais, sendo não predatória e colocando os seringueiros para fiscalizar a floresta: Um dos possíveis dinamizadores da economia regional apontado pelo documento é a

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agregação de valor aos produtos ‘menores’ da floresta como resinas, óleos, frutos, amêndoas, plantas medicinais, entre outros (Brasil, 1991).

A presente dissertação visa a contribuir com esse debate no sentido de fornecer elementos para uma análise mais apurada de como ocorre a interação das várias atividades dentro de uma Reserva Extrativista, mais especificamente a Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto. A Reserva, além ser o reflexo do Movimento dos Seringueiros, é também bastante significativa enquanto objeto de estudo pois está localizada em um Estado onde as políticas públicas provocaram mudanças produtivas, ambientais, econômicas e sociais expressivas, e de certa medida, contrárias aos interesses extrativistas.

2 - Movimentos Sociais, Política Social e Estado

Como pôde ser visto anteriormente, o Movimento Social dos Seringueiros surgiu e ganhou força com o Encontro Nacional dos Seringueiros da Amazônia, em 1985. Os movimentos sociais, para Touraine (1989), possuem três sentidos principais. O primeiro é a “defesa nacional de interesses coletivos” (p. 181), supondo-se que estes interesses possam ser definidos em si mesmos e que possam ser defendidos em âmbito econômico ou político. O segundo sentido postula que “os movimentos sociais seriam reações à comoção de um dos principais aspectos do sistema social, quando as instituições políticas não têm capacidade para realizar os ajustes necessários” (Touraine, 1989, p. 181). O terceiro sentido, este sendo o adotado por Touraine, coloca movimento social como “um conflito social que opõe formas sociais contrárias de utilização dos recursos e dos valores culturais, sejam estes da ordem do conhecimento, da economia ou da ética” (Touraine, 1989, p. 182). Um dos principais problemas relativos aos movimentos sociais na América Latina apontado pelo autor é a sua subordinação à ação do Estado. Touraine coloca ainda a existência de novos movimentos sociais, sendo estes constituídos de uma mistura de

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demandas culturais, sociais e políticas, já que “a força e a fragilidade dos atores sociais e políticos na América Latina são o fato de que eles penetram no espaço político e de que, ao mesmo tempo, defendem as suas raízes culturais e são portadores de movimentos sociais” (Touraine, 1989, p.284).

Ao que tudo indica, o Movimento dos Seringueiros surgiu justamente dentro deste contexto de demandas culturais, sociais e políticas, já que as ações estatais em Rondônia mostraram-se contrárias aos seus interesses e necessidades. Ele pode ser inserido no rol dos movimentos sociais do campo, já que estes têm sua diversificação geográfica e social determinada pela variedade de contradições e pelos diferentes modos de vida encontrados pela população rural. Em sua base estão as múltiplas formas de inserção deste trabalhador na estrutura agrária e na produção agropecuária

(Grzybowski, 1987). Na origem do movimento estão as formas

contraditórias assumidas pelo capital, aliados à vontade dos trabalhadores de, a partir de interesses comuns e em oposição aos interesses de outros atores sociais, enfrentarem conjuntamente essas contradições apresentadas pelo capital, como foi o caso do movimento aqui analisado.

A expansão capitalista no campo ocorrida no centro-sul do país, determinou relações sociais desiguais e heterogêneas, especialmente nas regiões de fronteira agrícola. Grzybowski (1987) afirma que as categorias do movimento que lutam pela terra são determinadas pelas formas que o processo de expropriação vai tomando. As relações que tomam corpo no bojo da estrutura agrária brasileira não são somente relações fundiárias, mas também incluem a oposição trabalhador/expansão capitalista e trabalhador/apropriação dos frutos do trabalho.

Outro ponto fundamental ressaltado por Grzybowski e verificado no caso específico dos Seringueiros de Guajará-Mirim é a respeito da importância dos movimentos para a socialização política dos trabalhadores, ou seja, sua emergência enquanto classe e enquanto cidadãos. Os movimentos beneficiam os trabalhadores no sentido de que permitem, “em primeiro lugar, o aprendizado prático de como se unir, organizar, participar, negociar e lutar; em segundo lugar, a elaboração da identidade

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social, a consciência de seus interesses, direitos e reivindicações; finalmente, a apreensão crítica de seu mundo, de suas práticas e representações sociais e culturais” (1987, pp 59/60). Os sindicatos e associações aparecem, para o autor, na base dos movimentos, organizando as formas de luta, os encontros e as diretorias, como ocorre com o Movimento dos Seringueiros, que teve como frutos a criação das Reservas Extrativistas e das Associações. No caso estudado é a Associação dos Seringueiros de Guajará-Mirim, que organiza praticamente toda a vida da Reserva.

Complementar à idéia de Grzybowski, está a de Touraine (1995), que afirma que o Estado e o seu poder não devem ser categorizados ou identificados com determinados grupos. Ao contrário, o Estado deve ser claramente separado da sociedade civil e da sociedade política, pois a “democracia é gerir a diversidade” (1995, p.30). Nos países cuja situação é de pobreza, dependência e fratura social, é necessário que haja uma mobilização muito forte, geralmente assumida pelo Estado, para dispor de um certo tipo de projeto nacional, quer seja ele econômico, social, cultural, etc. O Brasil adequou-se à esta situação, especialmente com os Planos Nacionais de Desenvolvimento da década de 70. Touraine (1995) coloca que em alguns casos tal iniciativa pode dar certo, mas que em muitos casos foi necessário que tivesse sido promovida previamente a autonomia da sociedade civil para depois se constituir um sistema político mediador. O insucesso destes planos, especialmente em Rondônia, contribuiu para o que o autor chama de perda de confiança na filosofia do progresso, exatamente pelas crises econômicas e pela miséria gerada.

Telles (1987) afirma que na década de 70 houve uma ruptura nas formas de pensar a sociedade e a política, no sentido de que foi necessária a criação ou o engrandecimento da sociedade civil para defender a sociedade frente ao Estado. Esta ênfase na sociedade permitiu “a construção de novos critérios para o reconhecimento dos trabalhadores, para além dos sindicatos e partidos onde tradicionalmente se procurou identificar e avaliar sua presença na sociedade”(1987, pp.61/62). Os seringueiros de Guajará-Mirim

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e seus dramas cotidianos passaram a ter, então, a partir da construção do Movimento Social, uma nova visibilidade, transformando-os em sujeitos de práticas que motivaram uma revitalização de sua categoria contra a ordem vigente, significando a “reabertura de um espaço coletivo reiteradamente negado pelo Estado, e por onde foi possível pensar a sociedade e a política não mais como objetivação das estruturas ou da ação do Estado, mas como cenário criado e recriado pelas práticas de sujeitos em conflito” (Telles,

1987, p.65).

Doimo (1995) coloca, a respeito do pensamento de Touraine sobre os novos movimentos sociais, que a partir do final dos anos 70, estes deixaram de se concentrar somente na esfera econômica, representando tanto a tendência de se subordinarem a forças políticas, quanto de dificultarem “a formação de um verdadeiro movimento social capaz de oferecer uma ‘promessa de futuro’ na luta face a face com a classe dirigente” (1995,

P-41).

Ainda segundo Touraine (1995), atualmente “assistimos à crise das filosofias da história, não cremos mais na história como legitimação” (1995, p .32). Como não se tem mais o critério da história, ele aponta dois critérios possíveis: o da eficácia econômica e o da defesa da identidade. O primeiro é a “escolha da violência” (1995, p.33), na qual a base é o desenvolvimento econômico a qualquer custo, normalmente culminando com o acúmulo crescente de riquezas, gerando empobrecimento, miséria e injustiças. O segundo é a busca da identidade, para se combater essa visão economicista e unitária, o que leva à fragmentação cultural e política. A saída deste dilema está no que Touraine (1995) coloca como a teoria da subjetividade, sendo o Sujeito o que luta contra essa fragmentação, combinando os dois lados através da “capacidade que têm os indivíduos, os grupos, as categorias e as coletividades de construírem sua própria experiência” (1995, p .33), de elaborar seus próprios projetos com liberdade e responsabilidade, sendo esta a nova concepção dos movimentos sociais para o autor.

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O Movimento dos Seringueiros, por sua vez, caminhou nesta direção na medida em que tomou as rédeas do seu próprio destino, confrontando tanto a ordem econômico-produtiva imposta pelos Planos Governamentais, quanto o próprio esfacelamento gradual da categoria dos seringueiros. Pode-se dizer que este movimento está incluído no conceito de Touraine de novos movimentos sociais, já que estes sempre se constituem em uma “reivindicação de liberdade, ... de construir seu próprio projeto de vida, contra o autoritarismo político, contra a miséria econômica, ...” (1995, p .34), sendo “a expressão organizada de defesa do sujeito” (1995, p.34) e buscando reconciliar eficácia técnica e identidade cultural. O resultado foi sentido através das conquistas, especialmente da criação das Reservas Extrativistas, almejando o restabelecimento cultural e econômico da categoria dos seringueiros.

Por sua vez, Scherer-Warren (1987) coloca que os novos movimentos sociais contrapõem-se aos movimentos sociais tradicionais no sentido de que estes “ surgem enquanto expressão típica da sociedade industrial (e de sua consciência), dividida em classes sociais, das quais uma delas - o proletariado - encontrava quase a totalidade de seu cotidiano submetido ao mundo da produção e exploração de sua força de trabalho” , trazendo consigo também a idéia de “uma sociedade sem classes” (1987, p.36). Para a autora, a identidade dos novos movimentos é constituída de dois fatos, o estrutural, que lida com os projetos, objetivos e reivindicações dos movimentos sociais, e o cultural, que “dá a forma da organização e da práxis dos movimentos” (1987, p.40), sendo este o formador do verdadeiro caráter dos novos movimentos. Portanto, os novos movimentos são caracterizados pelas lutas que buscam o rompimento com os esquemas populistas adotados anteriormente, buscando também novas formas de participação que conectem mais a direção com a base do movimento, como é o caso do Movimento dos Seringueiros. Scherer-Warren (1987) ressalta também que os novos movimentos estão contribuindo significativamente para a consolidação de uma cultura política4 para o país, construída em

^Cultura política é aqui entendida no sentido dado por Viola e Mainwaring (1987), ou seja, como sendo “os valores políticos que provêm a base tanto do discurso das ideologias políticas como da prática política” (p. 107). Valores

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torno de três aspectos principais, reação ao autoritarismo e à repressão política e questionamento da forma de distribuição do poder, reação às formas de poder centralizadoras com a defesa da autonomia local, e reação ao excludente modelo econômico vigente no país.

O processo de escolha do Estado quando da criação dos projetos de colonização em Rondônia parece ser uma referência à primeira escolha de Touraine, que privilegia o desenvolvimento econômico mesmo gerando concentração de renda e miséria. O excesso de trabalhadores rurais gerados com a modernização no centro-sul foi redirecionado para as regiões de fronteira agrícola, não resolvendo e sim transferindo o problema, gerando com isso mais concentração de renda. O Estado sempre influiu na organização do território brasileiro, e como coloca Schmidt e Farret (1986, p. 15) "tem historicamente tentado ocupar plenamente o território nacional

por intermédio do redimensionamento dos fluxos migratórios, da

colonização dirigida ou subsidiada, através da implantação de novos eixos de comunicação, e da construção de novos núcleos urbanos", como ocorreu em Rondônia.

Faz-se necessário, portanto, algumas considerações a respeito do Estado, que apesar de não ser o objeto em estudo, influi constantemente na questão estudada. O Estado Moderno, segundo Offe (1994), pressupõe que os cidadãos estejam ligados à sua autoridade de três maneiras. Em primeiro lugar, são eles os criadores da autoridade e da vontade política. Ao mesmo tempo, eles são os sujeitos a serem ameaçados pela coerção do Estado, e dependem dos serviços que o mesmo fornece. O Estado moderno permite legalmente a liberdade, limitando formalmente o seu poder e formando uma estrutura protetora que equilibra seus meios controladores acumulados durante os anos.

O caso de Rondônia amolda-se a todas três maneiras apontadas por Offe, na medida em que seus cidadãos foram sujeitos da ação coercitiva do Estado através das políticas públicas, passaram a ser dependentes dos seus

políticos são as orientações que permitem a compreensão da realidade e estão presentes no discurso e na prática política.

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serviços e foram criadores da autoridade através do movimento social dos seringueiros.

Demo (1994) contribui para esta questão com a definição de política social, em cuja visão o Estado é o planejador que visa reduzir as desigualdades sociais, onde essa ocorre em qualquer tempo histórico, já que as formações históricas são conflituosas de forma que tenham que se superar enquanto fase. A política social possuiria três horizontes que se interpenetram, conservando cada um suas próprias características. A primeira delas é a política assistencial, na qual o Estado deve garantir assistência a grupos que não se auto-sustentam e a grupos que sofreram

alguma emergência, cabendo a ele garantir condições normais de

sobrevivência. As políticas sócio-econômicas delegam ao Estado o

planejamento do crescimento econômico, devendo com isso buscar atingir o social através do econômico, gerando emprego e renda. Infelizmente, em Rondônia o social não pode ser atingido de forma satisfatória, tudo levando a crer que um dos motivos foi a própria falta de assistência do Estado.

As políticas participativas remetem-se à formação de um sujeito social consciente, que seja capaz de definir seu destino e de entender a pobreza como socialmente injusta (Demo, 1994). O Estado deve servir como apoio e instrumentação, garantindo serviços públicos adequados ao exercício da cidadania, e não se utilizar desta ferramenta para impedir que a população se volte contra ele. A política participativa tem uma forte ligação com os novos movimentos sociais, já que estes também são formadores de consciência e do próprio sujeito social. O Estado aparece neste processo como o formalizador das conquistas do movimento, no caso do estudo em questão, as Reservas Extrativistas.

Aliado a esta idéia está a de Alves (1987), na qual o Estado é somente um dos modos de organização política e como tal, não deve ser identificado como a única forma de organização política possível. O Estado não deve pretender explicar todas as organizações de poder pois deve considerar as condições específicas de cada época e de cada modo de realização material da vida social, do modo capitalista de produção. O

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Estado existe sob a forma de regime político, e como tal, é resultado das lutas sociais e da divisão de classe, variando de acordo com a situação histórica e com a intensidade dessa luta. Para dar continuidade à acumulação, muitas vezes as elites têm de recorrer ao jogo das forças políticas, nem sempre acontecendo de forma pacífica. E essa mesma burguesia demonstra todo o poder que exerce sobre a sociedade ao fazer concessões em ocasiões especificas, quer seja ao proletariado, ao trabalhador rural ou à classe média (Alves, 1987).

Desta forma, o caso do Movimento dos Seringueiros de Guarajá- Mirim parece estar figurando como uma alternativa para este jogo de forças, sendo ele mesmo uma outra forma de organização política. Com sua ação organizada e incansável, o movimento conseguiu junto ao Estado uma ação que os privilegiasse, sendo que os moldes dessa ação foram, em grande parte, estabelecidos pela categoria dos seringueiros, podendo vir a confirmar a idéia de Alves, acima exposta.

3 - Políticas Públicas para Rondônia

Antes da Revolução de 1930, o Estado brasileiro buscou reduzir os problemas regionais através de políticas de incentivos à agricultura e à infra-estrutura. A partir daí, o Estado identificou-se com a acumulação industrial, fomentando o setor urbano. De 1930 a 1964 deu-se a criação de um proletariado urbano, sendo lançado o ‘pacto populista’ entre as burguesias industrial e rural. O resultado é que o desenvolvimento da região sudeste foi ‘sustentado’, em boa medida, pelo resto do país, intensificando-se as diferenças regionais.

No período de 1930-70, houve, portanto, uma participação crescente do Estado na economia, sendo que são as crises econômicas que estabelecem as condições dessa participação. Ianni (1979) coloca que neste período, a industrialização não resultou da combinação das forças de mercado com a atividade empresarial, acabando por resultar da ação direta

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