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Antes da Revolução de 1930, o Estado brasileiro buscou reduzir os problemas regionais através de políticas de incentivos à agricultura e à infra-estrutura. A partir daí, o Estado identificou-se com a acumulação industrial, fomentando o setor urbano. De 1930 a 1964 deu-se a criação de um proletariado urbano, sendo lançado o ‘pacto populista’ entre as burguesias industrial e rural. O resultado é que o desenvolvimento da região sudeste foi ‘sustentado’, em boa medida, pelo resto do país, intensificando-se as diferenças regionais.

No período de 1930-70, houve, portanto, uma participação crescente do Estado na economia, sendo que são as crises econômicas que estabelecem as condições dessa participação. Ianni (1979) coloca que neste período, a industrialização não resultou da combinação das forças de mercado com a atividade empresarial, acabando por resultar da ação direta

do Estado. A cada problema institucional que surgia, mais e mais era necessária a ação do Estado para racionalizar o sistema produtivo segundo as metas do setor privado. A estratégia predominante foi a do capitalismo dependente, não havendo crises profundas o suficiente para romper com a dependência.

A partir dos anos 70, os Planos Governamentais que tiveram influência direta no processo ocorrido em Rondônia foram o I Plano Nacional de Desenvolvimento, de 1972 a 1974; o II PND, de 1976 a 1979; e o III PND, de 1980 a 1985. O I PND teve como base objetivos de ordem econômica, que implicariam na modernização do setor produtivo, na implantação de grandes projetos, na melhoria das condições de competição internacional entre outros. O crescimento almejado seria baseado nos setores agrícola e industrial, de forma a evitar as disparidades. A intenção de desenvolver o Brasil de forma rápida e a qualquer custo deixou uma situação social caótica, com a marginalização de grande parte da população, demonstrando que o crescimento econômico não se deu em conjunto com uma melhor distribuição de renda (Vermulm, 1985). A grande empresa assumiu importância capital pois com ela viria a produção em larga escala, alto volume de capital e implementação tecnológica. Apesar de ter alcançado seus objetivos econômicos, a contrapartida foi o arrocho salarial e a dívida externa. Segundo Rodrigues (1994), o I PND buscava desenvolver a agricultura empresarial no Sul; transformar a agricultura de subsistência em economia de mercado no Nordeste; abrir novas fronteiras agrícolas no Planalto Central, Amazônia e Vale do São Francisco; e modernizar os setores de comercialização e transportes da produção agrícola.

O II PND tinha como cenário internacional a crise energética e a crise monetária internacional, crises estas que se estenderam em âmbito interno, com a contínua pauperização da população, maior concentração de renda e queda do crescimento do PIB (Vermulm, 1985). Sua estratégia visava a consolidar a agroindústria, aumentar a produtividade e aumentar sua base técnica. Incluía uma estratégia de integração Nacional entre

Centro-oeste, Nordeste e Amazônia, através do Programa de Pólos

Agropecuários e Agrominerais (Polamazônia), Programa de Áreas

Integradas do N ordeste ^Pelonordeste), o Programa Especial de

Desenvolvimento da Região Geoeconômica de Brasília (Polocentro), e o Programa Especial de Desenvolvimento do Pantanal (Rodrigues, 1994).

O cenário mundial do III PND ainda era de crise econômica, e a inflação, dívida externa, alta do petróleo e o desemprego foram fatores limitantes do planejamento. A agricultura foi a solução encontrada para resolver boa parte dos problemas, já que teoricamente este plano visava diminuir a pobreza, redistribuir melhor a renda e melhorar os níveis de emprego. Aqui, as metas sociais não são mais conseqüências das econômicas, elas passam a significar a legitimação do poder do Estado, pois esta não mais ocorreria baseada no desempenho econômico (Rodrigues, 1994). Os principais setores eram o social, como já foi visto, a agricultura e o setor energético, embora também incluísse setores não-prioritários, como a indústria, mineração, comércio e turismo (Vermulm, 1985).

O Polamazônia, criado em 1974, visava desenvolver 15 áreas específicas, porém em 1981 foi necessária a criação do Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil, Polonoroeste, financiado com recursos do Banco Mundial. Apesar de possuir objetivos que tentavam abranger um desenvolvimento mais completo, as ações não foram suficientes no sentido de minimizar os impactos de uma ocupação intensiva, dando-se um aumento dos desmatamentos e da pressão sobre as terras disponíveis, especialmente as indígenas.

Como o Polamazônia abrangia uma área muito extensa, sentiu-se a necessidade da criação do Programa Integrado de Desenvolvimento do Noroeste do Brasil, Polonoroeste, que por sua vez englobava o então Território Federal de Rondônia e as regiões oeste e noroeste de Mato Grosso. Tal programa tinha como objetivo principal absorver as pessoas oriundas de regiões que possuíam uma estrutura fundiária não condizente com sua capacidade econômica e financeira, através da ocupação racional e ordenada da área num processo de colonização. Era, portanto, um programa

regional voltado principalmente para os setores agrícola e de transporte, englobando os assentamentos de desenvolvimento rural.

As linhas de ação do Polamazônia abrangiam, além do apoio ao pequeno produtor rural, a preservação do meio ambiente e a proteção das

comunidades indígenas. Apesar disso, deram-se com intensidade

desmatamentos e queimadas, bem como conflitos originados através do avanço dos migrantes em áreas indígenas não demarcadas. A questão ambiental e a problemática indígena, embora fossem as novidades do Programa, não receberam um tratamento especial no sentido de prevenir ou até mesmo minimizar os efeitos de um processo intensivo de ocupação.

Em 1979, o Governo Federal utilizou-se de recursos externos para implantar o Polonoroeste. Tais recursos vieram do Banco Mundial,

tradicional financiador de programas de desenvolvimento. O Banco

Mundial, por sua vez, enviou uma Missão Multidisciplinar para analisar se um financiamento externo para o Programa era necessário. Apesar deste estudo ter demonstrado uma série de problemas e riscos a serem enfrentados, foi considerado que sua implantação implicaria em uma

possibilidade de reverter o quadro sócio-econômico insatisfatório,

reforçando o prognóstico favorável para a região. Com os recursos, foram estabelecidos os projetos de colonização, assunto que será tratado no capítulo seguinte.