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4. Os centros comerciais planeados

4.3. Evolução na Europa

Em termos contextuais, também na Europa a suburbanização se fazia sentir entre 1920 e 1930 através da crescente construção de habitação. Aliado a este crescimento, surgem centros comerciais de vizinhança nas áreas suburbanas. Estes caracterizavam-se por terem pequena dimensão e serviam a população residente. Possuíam entre 4 a 10 lojas acabando por

54 contrariar a tendência de loja dispersa e isolada incorporada no piso térreo de uma habitação. Segundo Dawson (1983), muitas centenas deste tipo de centros comerciais de vizinhança foram construídos. O mesmo autor refere que o crescimento suburbano não é a única causa para o aparecimento destes centros comerciais. Pode por um lado ter havido uma aceitação deste novo conceito, pode também ter resultado do aparecimento de uma nova teoria de planeamento ou ainda através do desenvolvimento imobiliário por parte do sector privado que pretende maximizar os lucros. No entanto, o aparecimento destes centros comerciais não se deve apenas a intervenções privadas. Também urbanizações da esfera pública e iniciativas do governo local têm permitido o surgimento destes. Este foi um modelo que teve sucesso nomeadamente por duas razões principais. Em primeiro lugar, pela fraca mobilidade da população e, por outro lado, porque o conjunto de lojas desses centros comerciais detinham o monopólio da oferta em muitas áreas residenciais (Dawson, 1983).

No Reino Unido a situação comparada com os EUA é contrastante. Aqui, o governo local participa no desenvolvimento dos centros comerciais, embora com diferente intensidade consoante a situação. Os governos locais tiveram também um papel importante no desenvolvimento dos centros das cidades e contribuíram para colocação de restrições ao crescimento suburbano através das suas políticas de expansão. Deste modo, o aparecimento dos centros comerciais no Reino Unido no período pós-guerra (entre 1945 e 1950) é uma continuação da tendência apresentada antes da guerra, ou seja, os centros comerciais de vizinhança. Surgem ainda em centros das novas cidades, em greenfields, em pequenas cidades em expansão ou então naquelas que se encontravam destruídas pela guerra. A partir de 1950, dado o sucesso destas construções, construíram-se também o mesmo tipo de centros comerciais nos centros das cidades como forma de regeneração (Dawson, 1983). Contudo, o crescimento económico foi mais lento na Europa do que nos EUA, e os grandes centros comerciais não surgem até 1960. Enquanto as áreas suburbanas dos EUA se expandiam, na Europa faziam-se programas de reconstrução com projetos de uso misto. No entanto, algumas alterações fizeram-se sentir também na Europa, como por exemplo o aumento do uso do automóvel privado. Dada a crescente motorização da população, que fazia com que as cidades ficassem cada vez mais congestionadas, aproveitou-se tal facto para reconstruir as cidades europeias para se separar as principais rotas de tráfego longe do centro da cidade e fazer-se recintos pedestres (Política de Buchana) (Coleman, 2006). Estes recintos geralmente eram bordejados de lojas. Temos como exemplo o Lijnbaan em Roterdão que fez parte de um dos projetos de uso misto para o centro da cidade onde houve também reabilitação de habitações (Coleman, 2006). Desde as arcadas, estas foram as primeiras construções propositadas para conjuntos de lojas arrendadas e com uma unidade de gestão. Até então as lojas localizavam-se aleatoriamente nas ruas. Esta foi uma importante evolução, paralela à evolução dos centros comerciais suburbanos nos EUA (Dawson, 1983; Coleman, 2006).

55 Após a fase de construção de centros comerciais de vizinhança, entra-se para uma nova fase que é marcada pela chegada de um novo tipo de centro comercial na Europa: o

enclosed shopping mall. O Bull Ring em 1964 (Birmingham) e o Elephant and Castle em 1965

(Southwark) foram os primeiros centros comerciais planeados do tipo enclosed no Reino Unido. Tornaram-se muito populares no Reino Unido e por isso várias cidades adotaram esta tipologia, seguindo os princípios do Bull Ring.

Importa referir que estes desenvolvimentos comerciais inseriam-se em programas de redesenvolvimento do centro da cidade, sucessores de planos que estavam preocupados com a revitalização e regeneração do pós-guerra. Estes desenvolvimentos comerciais resultaram de parcerias entre o setor público (sendo que este também pode ser um promotor) e o sector privado, pois o governo reconhecia a necessidade de se estabelecer parcerias com o sector privado pelo seu conhecimento e capital. Ao contrário dos EUA, a preocupação de construir centros comerciais não é somente o lucro. Estes são utilizados como um meio de reanimar o centro (Tallon, 2010). Desta forma, a propagação dos centros comerciais no Reino Unido torna-se mais uniforme uma vez que não se constrói apenas em áreas com os rendimentos mais elevados. Trata-se contudo de um crescimento mais tardio de centros comerciais mas isto não se deve ao facto de não existirem promotores privados mas sim pela simples razão das decisões tomadas pelo Land Use Planning Agency. Estes novos formatos possuíam algumas características vistas pela primeira vez na Europa: separação do tráfego pedestre e automóvel, um ambiente interno fechado, lojas arranjadas em vários níveis em volta de um recinto aberto, Iluminação interior artificial, um ambiente de ar condicionado, parque de estacionamento integrado, e ainda a integração do autocarro e do comboio. Este foi também parte de um dos projetos de uso misto, que incluiam também edifícios de escritórios e hotéis (Dawson, 1983; Coleman, 2006).

Embora a maioria das atenções estivesse voltada para os centros das cidades que necessitam de regeneração e revitalização, estima-se que outras evoluções tenham existido ancoradas noutros formatos. Segundo Dawson (1983), no início dos anos oitenta estimava-se que 30 000m2 de centros comerciais de vizinhança e strip centres tivessem sido construídos nos últimos 50 anos. Além disso, estimava-se também que em 1981 existissem mais 1000 centros comerciais de outras tipologias. O primeiro centro comercial regional e centro de lazer na Europa, incorporando um parque temático foi o Metro Centre, em Gateshead, que foi inaugurado em 1984. Até recentemente, a tradição de projetos de regeneração urbana ligada a centros comerciais permanece ativa no Reino Unido, sempre com a preocupação de equilibrar a distribuição do comércio entre o centro da cidade e os subúrbios (Lowe, 2005).

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