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2. REVISÃO DA LITERATURA E ESTADO DA ARTE

2.4 Evolução recente do ensino superior no Brasil

As Instituições de Ensino Superior (IES) são organizações que promovem a educação de nível superior, regulamentados pela Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), que regulamenta o sistema educacional público e privado do Brasil.

As IES podem ser públicas ou privadas. As instituições públicas de ensino são aquelas mantidas pelo Poder Público, na forma Federal, Estadual ou Municipal, e são financiadas pelo Estado, de forma que não cobram matrícula ou mensalidade (Ministério das Relações Exteriores – Itamaraty, 2014).

Quanto as IES privadas, seu acesso foi concedido a partir da Constituição Federal de 1988 e regulamentados pela LDB, e são administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito privado, com ou sem finalidade de lucro. As instituições privadas sem finalidade de lucro são:

 Comunitárias, que incluem em sua entidade mantenedora representantes da comunidade;

 Confessionais, que atendem a determinada orientação confessional e ideológica; e  Filantrópicas, que prestam serviços à população, em caráter complementar às

atividades do Estado (art. 20 da LDB).

As instituições privadas com finalidade de lucro possuem duas figuras jurídicas: as Mantenedoras, que são pessoas jurídica que provêm os recursos necessários ao funcionamento da IES, representando-as legalmente; e as Mantidas, definidas como as IES que realizam a oferta da educação superior.

Adicionalmente, uma outra classificação das IES se refere a ótica acadêmico-administrativa, de forma que podem ser divididas em Universidades, Centros Universitários, Faculdades e Institutos Federais, conforme apresentado no quadro 1.

A entrada das IES privadas visa atender ao crescimento exponencial da procura por educação superior, devido à expansão do ensino médio, a demanda reprimida de jovens que não obtiveram aprovação em processos seletivos de IES públicas e aos benefícios culturais e econômicos decorrentes do diploma de ensino superior. Acerca deste fato, Schwartzman (2005) discorre que estes benefícios decorrem da maior produtividade que leva a um diferencial de renda, oriundo de níveis educacionais mais altos, associado no caso brasileiro à escassez de mão de educação superior.

Quadro 1 - Classificação acadêmico-administrativa das IES.

Universidade

Instituição acadêmica pluridisciplinar que conta com produção intelectual institucionalizada, além de apresentar requisitos mínimos de titulação acadêmica (um terço de mestres e doutores) e carga de trabalho do corpo docente (um terço em regime integral). É autônoma para criar cursos e sedes acadêmicas e administrativas, expedir diplomas, fixar currículos e número de vagas, firmar contratos, acordos e convênios, entre outras ações, respeitadas as legislações vigentes e a norma constitucional.

Centro Universitário

Instituição pluricurricular, que abrange uma ou mais áreas do conhecimento. É semelhante à Universidade em termos de estrutura, mas não está definido na LDB e não apresenta o requisito da pesquisa institucionalizada.

Faculdade

A Faculdade tem duas conotações. A primeira é a de uma IES que não apresenta autonomia para conferir títulos e diplomas, os quais devem ser registrados por uma Universidade. Além disso, não tem a função de promover a pós-graduação. O segundo sentido é aplicado para se referir a unidades orgânicas de uma Universidade.

Institutos Federais

Unidades voltadas a formação técnica, com capacitação profissional em áreas diversas. Oferecem ensino médio integrado ao ensino técnico, cursos técnicos, cursos superiores de tecnologia, licenciaturas e pós-graduação. A denominação remonta à Lei 11.892/08, que renomeou os Centros Federais de Educação Profissional e Tecnológica (Cefets) e as Escolas Técnicas. Fonte: ITAMARATY (2014).

O crescimento do número de matrículas nas IES privadas entre 2001 e 2011 foi de 132%, impulsionado pela inclusão das classes C e D, cujo acesso foi viabilizado por meio da diminuição do valor das mensalidades e de projetos federais de crédito estudantil, como o Programa universidade para Todos (Prouni) criado em 2004 e Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) em novo formato a partir de 2010.

Por outro lado, houve um decréscimo de 2,8% em relação ao valor médio das mensalidades no período de 1999 a 2009, conforme gráfico 2. Assim, observa-se a adoção no setor de

estratégias similares de redução dos custos visando melhorar a rentabilidade do negócio, tais como: economia de escala e padronização dos processos; centralização das atividades em centrais compartilhadas de serviços; oferta do EAD como modalidade de ensino, abarcando também alunos presenciais, devido à possibilidade de oferta de 20% da matriz curricular nessa modalidade; e aumento da capilaridade, especialmente no interior.

Gráfico 1 - Crescimento do número de matrículas presenciais e EAD no Brasil.

Gráfico 2 - Valor médio das mensalidades em reais no ensino superior privado no Brasil.

Fonte: Elaboração própria com dados do Inep (2013)

Dentro deste contexto, houve também um crescimento da quantidade de IES atuando no mercado brasileiro de 74% entre os anos 2001 e 2012, conforme gráfico 3. O aumento é combinado a concentração de oferta nos cursos superiores, decorrentes dos seguintes aspectos: relação entre o número de instituições e o de mantenedoras, visto que as 2 112 IES pertencem a cerca de 1 400 mantenedoras; controle do mercado, visto que cerca de 40% da base de alunos estão matriculados nas 20 maiores empresas educacionais; concentração da receita, pois 15 grupos detêm 27% da receita. (HOPER, 2013).

Houve também um grande número de fusões e aquisições, ocorrendo mais de 200 na última década (HOPER, 2013). Por meio de aquisições e fusões, pequenas instituições passaram a integrar grandes grupos educacionais, além do crescimento expressivo de novas IES, especialmente no interior e fora da região Sul-Sudeste, aumentando a capilaridade e desconcentração regional. De fato, as regiões Norte e Nordeste tiveram um aumento no número de IES de 152% e 110%, respectivamente, sendo que muitas destas são faculdades isoladas que integram hoje sólidos grupos educacionais atuantes no país e no exterior.

Gráfico 3 - Número de IES no Brasil.

Fonte: Elaboração própria com dados do Inep (2013)

O segmento sofreu grandes transformações com a concentração nas mãos de grandes grupos educacionais, trazendo uma gestão mais profissionalizada, grande controle dos custos e economia de escala, redução das mensalidades e uma grande competitividade entre as IES. Uma prática diferenciada neste período foi à implantação de Centros de Serviços Compartilhados (CSC), visando a concentração de atividades e processos comuns, bem como redução de custos. Secca e Leal (2009) afirmam que há também uma grande quantidade de IES com capital aberto na bolsa de valores, concentradas nos níveis mais altos da governança corporativa, demonstrando o nível de evolução do setor. A estratégia dos grupos gera outra tendência do setor, que é o isomorfismo do setor privado de ensino superior (SAMPAIO, 2012), que adotam um modelo de governança de gestão estratégica centralizada e desvinculada do corpo acadêmico, combinado a gestão descentralizada por meio dos coordenadores de curso.

Desta forma, o nível crescente de competitividade dentro do setor requer uma grande profissionalização da gestão, a qual necessita de informações para controle e tomada de decisões. O ambiente das IES é extremamente regulado pelo MEC por meio de indicadores que mensuram e avaliam dimensões como organização didático-pedagógica, corpo docente e infraestrutura, o que requer uma visão sistêmica e atuação integrada da gestão.

Além disso, é necessário a consideração de outros indicadores de natureza financeira e não- financeira para avaliar a eficácia da implantação da estratégia organizacional, cuja abordagem será realizada na sequência.