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1. A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 0,47% em agosto (ante 0,24% em julho), arrefeceu para 0,18% em setembro e acumulou 2,99% nos primeiros nove meses de 2007, frente à taxa de 2,00% registrada no mesmo período do ano passado. Em doze meses até setembro, a inflação atingiu 4,15%, patamar superior àquele registrado em setembro de 2006 (3,70%). A aceleração do nível de preços ao consumidor reflete essencialmente o comportamento dos preços livres, que, em 2007, vêm subindo mais rapidamente do que os preços administrados, dinâmica inversa à observada ao longo dos últimos anos. De fato, os preços livres e os administrados registraram, respectivamente, aumentos de 3,82% e 1,16% até setembro, e de 5,07% e 2,12% no acumulado de doze meses. Note-se que, a despeito da apreciação cambial

observada em 2007, dentro do conjunto de preços livres os bens comercializáveis são os que mostram maior aceleração. Em doze meses até setembro, o grupo dos comercializáveis registrou inflação de 4,92%, ante 0,78% no mesmo período do ano passado, enquanto, na mesma base de comparação, os preços dos bens não-comercializáveisvariaram 5,20%, ante 4,36% em 2006. A despeito de desenvolvimentos recentes menos benignos do que o antecipado, a dinâmica dos preços ainda indica que a inflação tende a continuar evoluindo segundo a trajetória das metas.

2. A dinâmica recente das medidas de núcleo do IPCA tem sido similar à da inflação plena. O núcleo por exclusão de monitorados e de alimentos no domicílio apresentou elevação em agosto (0,35%, ante 0,08% em julho), mas desacelerou em setembro (0,25%). Da mesma forma, os núcleos por médias aparadas com e sem suavização também se elevaram em agosto (0,40% e 0,43%, ante 0,20% e 0,17% em julho, respectivamente) e desaceleraram em setembro (para 0,34% e 0,19%, respectivamente). Não obstante, o núcleo por exclusão mostra estabilidade da inflação acumulada no ano até setembro (2,70%, ante 2,67% em 2006), bem como em doze meses (3,60% ante 3,65% em 2006). Por sua vez, o núcleo com suavização mostra redução no acumulado e em doze meses (2,81%, ante 3,62%; e 3,82%, ante 5,21%, respectivamente). Finalmente, o núcleo sem suavização mostra elevação no primeiro critério (2,44%, ante 2,18% em 2006), mas recua no segundo (3,03%, ante 3,53% em 2006). Note-se que, em todos os casos, a inflação em doze meses encontra-se abaixo do centro da meta, mas mostra elevação, importante no caso dos índices por exclusão e médias aparadas sem suavização, em relação aos mínimos históricos observados em meses anteriores.

3. A inflação medida pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) se acelerou nos meses de agosto (1,39%) e setembro (1,17%), frente aos valores registrados em meses anteriores. Dessa forma, a variação acumulada do IGP-DI nos nove primeiros meses de 2007 atingiu 4,44%, contra 2,11% em igual período do ano passado. Em doze meses até setembro, a inflação medida pelo IGP-DI situou-se em 6,16%, ante 3,16% em 2006. O aumento da inflação mais ampla reflete tanto o

comportamento do Índice de Preços ao Consumidor – Brasil (IPC-Br), cuja inflação, na mesma base de comparação, deslocou-se de 2,51% para 4,50%, como do Índice de Preços no Atacado – Disponibilidade Interna (IPA-DI), cuja variação passou de 3,13% para 6,92%. Por sua vez, embora situada em patamar mais elevado, a inflação medida pela variação em doze meses do Índice Nacional da Construção Civil (INCC) mostra estabilidade (5,05%, ante 5,09% em setembro do ano passado). No que se refere especificamente aos preços no atacado, destaque-se o forte aumento no preço dos itens agrícolas, cuja variação em doze meses até setembro atingiu 19,50%, ante 1,98% observados em setembro de 2006. Por sua vez, os preços dos itens industriais apresentaram comportamento benigno nesse período, com elevação de 3,07%, ante 3,48% em setembro do ano passado, mas mostraram aceleração significativa no bimestre agosto– setembro frente ao bimestre anterior, quando registraram ligeira deflação. Conforme destacado nas Notas de reuniões anteriores do Copom, os efeitos do comportamento dos preços no atacado sobre a inflação para os consumidores dependerão das condições atuais e prospectivas da demanda e das expectativas dos formadores de preços em relação à trajetória futura da inflação.

4. A média móvel trimestral da série de produção industrial, segundo dados dessazonalizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cresceu 0,7% em julho e agosto, após expansão de 0,9% em junho, evidenciando o sólido crescimento desse setor. Ainda considerando-se a série dessazonalizada, após a queda de 0,4% registrada em julho, a primeira depois de nove altas consecutivas, agosto registrou crescimento de 1,3% na produção física da indústria. Dessa forma, a expansão de agosto sugere que o recuo ocorrido em julho foi pontual. Na comparação com o mesmo mês do ano anterior, agosto registra crescimento robusto de 6,5%, constituindo-se na décima terceira expansão consecutiva. Dessa forma, o crescimento acumulado no ano até agosto atingiu 5,3% e, em doze meses, 4,5%, mostrando aceleração na margem. Também em doze meses, a produção da indústria de transformação avançou 4,4% até agosto, enquanto a da indústria extrativa mineral se expandiu 6,2%. Para setembro, os indicadores antecedentes e coincidentes

disponíveis apontam para a continuidade do ciclo de expansão da produção industrial, que continuará a ser favorecida pelos diversos fatores de estímulo que atuam sobre a atividade econômica, inclusive a flexibilização monetária já realizada.

5. Entre as categorias de uso, destaque-se a forte expansão mensal da produção de bens de capital, com incremento de 4,0% em agosto, e da produção de bens de consumo duráveis, cuja expansão atingiu 2,7%, segundo dados dessazonalizados pelo IBGE. No acumulado do ano até agosto, também se destacam o forte aumento da produção de bens de capital (17,6%) e de bens de consumo duráveis (6,9%). O dinamismo da produção de bens duráveis reflete, em grande parte, a substancial melhora nas condições de crédito que a economia vem experimentando, quando comparadas aos padrões históricos. No caso da produção de bens de capital, a expansão acelerada decorre em grande parte da consolidação das perspectivas favoráveis de continuidade do crescimento da demanda interna, a qual tem refletido a melhora do nível de renda e a ampliação do volume de crédito, alicerçadas na percepção de consolidação da estabilidade macroeconômica. Além disso, cabe destacar a contribuição de fatores específicos, como a retomada do investimento no setor agropecuário. Na comparação com o mesmo mês de 2006, a produção na maioria dos ramos industriais pesquisados (22 de um total de 27) apresentou expansão em agosto, com destaque para o aumento da produção de máquinas e equipamentos (18,2%) e de veículos automotores (17,5%).

6. O mercado de trabalho continua apresentando desempenho favorável. A taxa de desemprego nas seis regiões metropolitanas cobertas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME) situou-se em 9,5% em agosto, o mesmo patamar do mês anterior. Note, no entanto, que, com relação ao mesmo mês de 2006, houve importante recuo de 1,1 p.p., o sétimo consecutivo nessa base de comparação. Assim, a taxa média de desemprego nos oito primeiros meses de 2007 situou-se 0,5 p.p. abaixo da observada no mesmo período do ano anterior. O poder de compra dos trabalhadores, por sua vez, diminuiu 0,5% em agosto em relação a julho, a terceira queda mensal consecutiva. Em relação ao mesmo período do ano passado, entretanto, houve aumento de 1,2% e, no acumulado do ano até agosto, o incremento atinge

3,8%. Em conseqüência, a massa salarial real aumentou 6,8% nos primeiros oito meses do ano, frente ao mesmo período de 2006, constituindo-se em um dos fatores-chave para o crescimento sustentado da demanda agregada. Com relação ao emprego na indústria de transformação, houve crescimento de 0,4% em agosto em relação a julho, e de 3,8% frente ao mesmo mês do ano passado, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) dessazonalizados pelo Banco Central. Por sua vez, dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) indicam continuidade do processo de forte expansão do emprego formal celetista. Em setembro houve crescimento de 0,5% do número de postos de trabalho ante o mês anterior, na série com ajuste sazonal, o que fez a expansão alcançar 5,0% nos nove primeiros meses de 2007 e 4,9% no acumulado em doze meses. Destaque-se o crescimento, em 2007, do emprego na indústria da construção civil (7,2%) e do comércio (6,0%). Em números absolutos, a criação de postos celetistas atingiu 1,6 milhão em 2007, e 1,5 milhão em doze meses.

7. Em linha com a evolução positiva do mercado de trabalho, e com a expansão do crédito, o comércio varejista continua registrando desempenho favorável, indicando que o ritmo de crescimento da demanda doméstica se mantém robusto, sem mostrar sinais consistentes de arrefecimento. De fato, em julho, o volume de vendas cresceu 0,5% comparativamente ao mês anterior, na série dessazonalizada pelo IBGE, sétimo incremento nessa base de comparação. No confronto com igual mês do ano passado, o aumento situou-se em 9,2%. Nos primeiros sete meses do ano, a expansão das vendas atingiu 9,7%, ante mesmo período do ano anterior, e em doze meses, 8,7%. Também em relação ao mesmo mês do ano anterior, entre os segmentos que mais se destacaram, encontram-se o de móveis e eletrodomésticos (com expansão de 18,2%) e o de tecidos, vestuário e calçados (10,4%). Esses desenvolvimentos reforçam avaliação constante de Notas de reuniões anteriores, no sentido de que tanto a expansão da renda quanto a maior facilidade de acesso ao crédito contribuem de forma decisiva para sustentar a demanda doméstica. De fato, no comércio varejista ampliado, conceito que incorpora, ao conceito de varejo geral, a comercialização de veículos, motos, partes e peças e

de material de construção, observou-se crescimento de 13,3% no volume de vendas na comparação com junho de 2006. Para os próximos trimestres, as perspectivas são de fortalecimento das atividades de comércio varejista, que continuarão a ser impulsionadas, essencialmente, pela expansão da massa salarial real e do crédito, aliada à própria recuperação da confiança do consumidor, que, até o momento, não parece ter sido abalada pelo aumento da volatilidade nos mercados financeiros.

8. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) na indústria de transformação alcançou 83,6% em agosto, atingindo o patamar histórico máximo da série calculada pela CNI. O nível de agosto situou-se 1,7 p.p. acima do patamar observado no mesmo mês de 2006, registrando a décima terceira expansão consecutiva. Nos primeiros oito meses do ano, a taxa média de utilização da capacidade situou- se 1,8 p.p. acima da observada em igual período de 2006 e 1,2 p.p. acima das taxas médias observadas nos mesmos períodos em 2004-2005. O aumento do nível de utilização da capacidade instalada reflete, inequivocamente, a aceleração da atividade econômica, manifesta-se em diversos setores e ocorre a despeito do expressivo aumento do volume de investimentos. De fato, no ano, até agosto, a absorção de bens de capital apresentou sólido crescimento (18,6%) e reflete o substancial aumento tanto das importações (33,0% em volume) quanto da produção de bens de capital (17,6%). Note-se, ainda, que a produção de insumos para a construção civil aumentou 4,2%. Os dados mais recentes sugerem que, embora o volume de investimento venha contribuindo para retardar a elevação das taxas de utilização da capacidade, ele não tem sido suficiente para evitar que essas se mantenham em níveis historicamente elevados, os quais, no passado, coincidiram com períodos de aceleração inflacionária. Tendo em vista o comportamento recente do nível de utilização da capacidade, a aceleração dos projetos de investimento, assim como a sua maturação tempestiva, que poderá ampliar a capacidade produtiva da economia, será fundamental para evitar descompassos relevantes no que se refere à evolução da oferta e da demanda agregada. Como ressaltado em Notas anteriores das reuniões do Copom, a trajetória da inflação mantém estreita relação com os desenvolvimentos correntes e

prospectivos no tocante à ampliação da oferta de bens e serviços para o adequado atendimento à demanda.

9. A balança comercial continua apresentando desempenho robusto em 2007, apesar da perda de vigor na margem, corroborando avaliações expressas em Relatórios de Inflação e em Notas de reuniões anteriores do Copom sobre mudanças estruturais importantes no comércio exterior brasileiro. O saldo acumulado até setembro totalizou US$30,9 bilhões, cifra 9,6% inferior à verificada no mesmo período do ano anterior. Esse resultado adveio do volume de exportações de US$116,6 bilhões e de importações de US$85,7 bilhões, com crescimento, respectivamente, de 15,5% e de 28,3%, na mesma base de comparação. Como observado em Notas de reuniões anteriores, as importações vêm crescendo em ritmo mais acelerado do que as exportações, em função tanto do fortalecimento do real como, principalmente, do maior nível de atividade econômica no País. O saldo em transações correntes registrou superávit de US$5,6 bilhões até setembro e de US$9,0 bilhões em doze meses, equivalentes a 0,75% do Produto Interno Bruto (PIB).

10. Ainda que os efeitos mais intensos da eclosão da crise no segmento de alto risco do setor imobiliário dos Estados Unidos (EUA) sobre os mercados financeiros pareçam ter sido superados, permanece um quadro de incerteza. Por um lado, diversos indicadores de volatilidade e de aversão ao risco experimentaram significativa melhora desde a última reunião deste Comitê. Por outro, a situação nos mercados interbancários das economias maduras ainda não se normalizou, e os desdobramentos dessa crise sobre a economia real ainda estão se materializando, e são de magnitude ainda não totalmente conhecida – em especial seus efeitos sobre o crescimento da economia dos EUA e, em menor escala, das economias européias. Não obstante as dificuldades remanescentes nos mercados financeiros e a incerteza quanto à evolução da economia global, a recuperação do apetite por risco vem sendo relativamente rápida, inclusive no que se refere aos ativos brasileiros. De fato, o comportamento dos preços de ativos brasileiros nesse último episódio de estresse nos mercados financeiros internacionais, assim como verificado em fevereiro e março deste ano, e em maio e junho de 2006, evidencia a consolidação

da confiança dos investidores internacionais na economia brasileira. Os principais bancos centrais reagiram à turbulência financeira assegurando adequada provisão de liquidez no interbancário e, no caso dos EUA, flexibilizando a política monetária com vistas a minimizar o risco de que o impacto das dificuldades do setor imobiliário sobre as condições de crédito levasse a uma desaceleração econômica mais pronunciada. Por sua vez, as expectativas de inflação nos EUA (derivadas a partir de ativos financeiros) elevaram-se nas últimas semanas, reagindo ao enfraquecimento do dólar frente às principais moedas e à tendência de alta dos preços de matérias primas, mas o fizeram para patamares ainda modestos. Em suma, o longo ciclo de aperto monetário nos EUA chega ao fim, e a discussão atual parece centrar-se no timing e na magnitude de reduções adicionais da taxa de juros. Na Europa e nas grandes economias asiáticas, a atividade econômica continua robusta, a despeito do aumento do risco de desaceleração, de um lado causado pelo que pode ocorrer com o cenário macroeconômico nos EUA e de outro pelo impacto das dificuldades do setor imobiliário americano sobre instituições financeiras, e das condições de crédito, nessas regiões. Nesse contexto, cabe adicionar que o atual vigor das economias emergentes tem se constituído em importante contraponto à desaceleração da economia dos EUA. A economia brasileira, especificamente, não parece ter sido impactada de forma significativa pela turbulência recente, e deverá continuar em sua trajetória de crescimento, sustentado essencialmente pela demanda doméstica, ao longo dos próximos trimestres. 11. O preço do petróleo, fonte sistemática de incerteza advinda do cenário internacional, que permanecia em níveis historicamente elevados nos últimos meses, teve incremento adicional importante desde a última reunião do Copom. Esse comportamento reflete não apenas mudanças estruturais no mercado energético mundial, mas também tensões geopolíticas, as quais se intensificaram recentemente. A despeito da considerável incerteza inerente às previsões sobre a trajetória futura dos preços do petróleo, permanece plausível o cenário central de trabalho adotado pelo Copom, que prevê preços domésticos da gasolina inalterados em 2007. A volatilidade dos preços de outras commodities também tem sido relativamente elevada nas últimas semanas, reflexo do aumento

da incerteza sobre as perspectivas para o crescimento da demanda mundial, bem como da turbulência nos mercados financeiros globais, mas os principais índices de preços de matérias primas apresentaram tendência altista nas últimas semanas. Nesse contexto, deve-se destacar a forte aceleração no preço dos alimentos que vem sendo observada em vários países, e que tem dificultado o controle da inflação por parte de diversos bancos centrais.

Avaliação prospectiva das tendências