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5. SISTEMA BRASILEIRO DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

5.1. O sistema de 1988 até 2003

5.1.3. Exame Nacional de Cursos (ENC)

Este exame tinha como propósito subsidiar os processos de decisão e de formulação de ações para a melhoria dos cursos de graduação, uma vez que ele

[...] visa complementar as avaliações mais abrangentes das instituições e cursos de nível superior que analisam os fatores determinantes da qualidade e a eficiência das atividades de ensino, pesquisa e extensão, obtendo dados informativos que reflitam, da melhor maneira possível, a realidade do ensino (PERGUNTAS ..., 2002).

Todavia, ele era tomado como o principal processo avaliador da qualidade dos cursos de graduação, não só pela sociedade, como também pelo próprio MEC, conforme explicitado no Manual do Provão:

O Exame Nacional de Cursos (ENC) visa constituir um indicador de qualidade do ensino nos cursos de graduação. O ENC verifica a aquisição dos conhecimentos e habilidades básicas dos grupos de concluintes dos cursos de graduação, e seus resultados produzem dados por instituição de ensino superior, categoria administrativa, município, estado e região. Assim, são constituídos referenciais que permitem a definição de ações voltadas para a melhoria da qualidade dos cursos de graduação, por parte de professores, técnicos, dirigentes e autoridades educacionais (BRASIL, 2001c, p. 11).

O INEP aplicava o ENC, anualmente, aos formandos, com vistas a avaliar os cursos de graduação sob o prisma do processo de ensino-aprendizagem. Em 1996 ele foi realizado, pela primeira vez, pelos formandos dos cursos das áreas de Administração, Direito e Engenharia Civil. A cada ano, gradativamente, cursos de outras áreas vinham sendo incorporados a essa avaliação. Em 2003, cerca de 6.500 cursos de 26 áreas do conhecimento participaram do ENC.

Segundo o Manual do Provão (BRASIL, 2001c), as diretrizes para a aplicação do ENC aos cursos de uma determinada área do conhecimento eram definidas por uma Comissão composta por especialistas de notório saber na área. Tais comissões eram designadas por Portaria Ministerial e constituídas após consulta ao Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, aos conselhos federais de profissões regulamentadas e a associações de instituições educacionais e científicas das respectivas áreas. Cada Comissão tinha a responsabilidade de definir os objetivos do Exame, o perfil profissional desejado, as habilidades e conteúdos programáticos a serem avaliados e o tipo de prova a ser aplicada.

A participação de um formando no ENC era condição sine qua non para a concessão do seu diploma pela IES e para o seu registro no MEC. Portanto, todos os formandos eram obrigados a participar do ENC, tanto os alunos que estavam em condições acadêmicas de concluir o curso de graduação durante o ano letivo da realização do Exame, como aqueles que já haviam concluído o curso, mas que ainda não tinham realizado o Exame. O INEP era responsável para fiscalizar a participação de cada formando no ENC e de preparar e encaminhar ao MEC o Relatório de Comprovação de Presença dos Graduandos e Graduados no Exame Nacional de Cursos.

Os deveres das IES com relação ao ENC encontravam-se expressas no Manual do Provão (BRASIL, 2001c). Entre eles destacam-se: (i) colaborar com as Comissões na definição da abrangência do Exame; (ii) manter atualizados junto ao INEP os dados das IES e de cada curso/habilitação; (iii) fornecer ao INEP a relação dos formandos obrigados ao Exame e dos formandos que tenham optado por realizá-lo novamente; (iv) fornecer ao INEP o cadastro dos professores dos cursos submetidos ao ENC; (v) registrar o comparecimento do aluno ao ENC, no respectivo histórico escolar, após receber o Relatório de Comprovação de Presença dos Graduandos e Graduados no Exame Nacional de Cursos; (vi) usar os dados

agregados dos resultados do ENC como subsídio à avaliação; e, (vii) (re)formulação do projeto e prática pedagógicos do curso.

As provas do ENC eram elaboradas e aplicadas por entidades jurídicas de direito público ou privado, contratadas pelo INEP. Antes de serem aplicadas, as provas passavam por um processo de avaliação prévia, restrito aos coordenadores dos cursos que seriam avaliados, que visava aferir aspectos operacionais como o nível de dificuldade e a extensão da prova, o tempo destinado à resolução da prova, a clareza e objetividade no enunciado das questões, bem como aspectos conceituais como a sua adequação em relação aos conteúdos, habilidades e projeto pedagógico do curso/habilitação.

A divulgação dos resultados do ENC se dava por meio de relatórios-síntese, gerais e por área, relatando os resultados globais, e por meio de relatórios de curso, relatando os resultados específicos de cada curso. Esses relatórios eram disponibilizados às IES na página da Internet http://provao.inep.gov.br. Cada graduando e graduado participante do processo recebia, exclusivamente, um boletim de desempenho individual do seu exame, sendo que os resultados individuais não eram divulgados em relatório. De 1996 a 2000, os resultados do ENC eram expressos pelos conceitos A, B, C, D e E, que, respectivamente, indicavam cursos de pior desempenho e que eram atribuídos em proporção fixa aos cursos avaliados de uma mesma área do conhecimento. Assim, 12,5% dos cursos recebiam A, 17,5% recebiam B, 40% recebiam C, 17,5% recebiam D e 12,5% recebiam E, com vistas à distribuição dos conceitos dos cursos de uma área do conhecimento poder ser representada por uma curva normal de Gauss. No entanto, com essa metodologia, os conceitos baseavam-se somente na ordem em que as notas médias dos cursos ocorriam e não no valor de cada média, e, conseqüentemente, o ENC perdia o seu poder de medir a qualidade de cada curso, pois a informação da nota absoluta dada pela média dos resultados dos concluintes era perdida e os cursos eram classificados em categorias, para efeito externo, e ordenados para efeito interno do INEP, pois as notas absolutas não eram tornadas públicas.

Apesar de as notas dos alunos expressarem valores absolutos, o fato de os conceitos serem relativos impedia que eles pudessem ser utilizados para uma análise da educação superior, uma vez que eles não permitiam a avaliação do

conjunto de cursos de uma mesma área, independente do desempenho dos concluintes nas provas e da evolução desse desempenho de um ano para outro.

No ano de 2001, aconteceram mudanças na metodologia de avaliação do ENC com relação à atribuição de notas. A referência para a distribuição dos cursos nas classes A, B, C, D e E passou a ser a média de cada curso avaliado em função da média e do desvio padrão da totalidade dos cursos. Ou seja, o conceito A passou a ser atribuído aos cursos cujo desempenho superava a média geral em mais de 1,0 desvio-padrão; o conceito B, aos cursos cujo desempenho superava a média geral entre 0,5 e 1,0 desvio-padrão; o conceito C, aos cursos cujo desempenho não se afastava da média geral mais de 0,5 desvio-padrão; o conceito D aos cursos cujo desempenho era superado pela média entre 0,5 e 1,0 desvio-padrão; e conceito E, aos cursos cujo desempenho era superado pela média geral em mais de 1,0 desvio- padrão. Assim, os conceitos passaram a ser definidos a partir do seu afastamento (desvio-padrão) do desempenho médio dos cursos similares. Essa mudança flexibilizou o conhecimento externo dos conceitos do ENC ao permitir à sociedade saber, pelo menos, a distância, em termos de desvio-padrão, entre dois conceitos iguais, como por exemplo, entre o primeiro curso a receber A e o último curso a também receber A. Muitos problemas, porém, ainda persistiram, destacando-se a obrigatoriedade do Exame para todos os alunos sem a fixação de uma nota de corte que refletisse um nível mínimo de conhecimento.

Por conseguinte, o Exame Nacional de Cursos era uma avaliação normativa, com características dos testes referenciados à norma (norm-referenced testing), muito utilizados nos Estados Unidos durante o Período da Eficiência e dos Testes, pois, como ocorreu naquele Período, o ENC também se valia de testes padronizados e apostava na sua objetividade, impondo um conceito relativo de excelência, a partir da valorização dos mais capazes de demonstrar competências nos testes, e por culminar com a identificação dos piores, incapazes e incompetentes.

Assim, o Exame Nacional de Cursos era um instrumento de elitização, pois ele primeiro discriminava, para depois buscar a melhoria. O princípio adotado pelo ENC parece ser o de que a avaliação gera competição e que a competição gera qualidade, semelhantemente aos Princípios da Administração Científica de Taylor (1990). Nessa perspectiva, o ENC, apesar de conceitualmente ter sido um instrumento para a classificação e seleção dos cursos, na prática era um processo

de exclusão, pois os seus resultados nada significavam se analisados fora do contexto dos cursos.

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