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5. SISTEMA BRASILEIRO DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

5.2. O sistema após 2003

As prementes críticas da opinião acadêmica e pública em geral sobre o sistema de avaliação da educação superior vigente até 2003, conduziram o governo a designar em abril de 2003, por intermédio do MEC, uma Comissão Especial da Avaliação da Educação Superior, com a finalidade de analisar esse sistema de avaliação vigente e propor alternativas para melhorá-lo. Os estudos da Comissão resultaram no documento SINAES - Sistema Nacional de Avaliação da Educação

Superior: Bases para uma Nova proposta de Avaliação da Educação Superior, que

foi submetido ao MEC em agosto de 2003 (BRASIL, 2003). Após a criação do SINAES pela Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004, esse documento foi publicado em 2ª edição ampliada, sob o título SINAES - Sistema Nacional de Avaliação da

Educação Superior: da concepção à regulação (BRASIL, 2004).

5.2.1. A criação do SINAES: Lei nº 10.861/2004

O objetivo do SINAES é o de “assegurar processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, dos cursos de graduação e do desempenho acadêmico de seus estudantes, nos termos do art. 9º, VI, VIII e IX, da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996”, com a finalidade de melhorar a qualidade da educação superior, orientar a expansão da oferta, aumentar a eficácia institucional e a efetividade acadêmica e social, e promover o aprofundamento dos compromissos e da responsabilidade social das IES, valorizando a missão pública da educação, promovendo valores democráticos, respeitando as diferenças e a diversidade e afirmando a autonomia e a identidade institucional (Lei nº 10.861/2004, Art. 1º).

Conforme o Art. 2º da referida Lei, cinco são os princípios que respaldam a fundamentação conceitual e política e a justificativa operacional do SINAES: globalidade; caráter público; respeito à identidade e à diversidade de instituições e cursos; participação; e regulação e supervisão.

Atendendo ao princípio da globalidade, a avaliação deverá contemplar análise integrada das estruturas, relações, compromisso social, atividades, finalidades e responsabilidades sociais das IES e de seus cursos. O caráter público da avaliação se refere à disseminação pública dos procedimentos, dados e resultados dos processos avaliadores. No que tange ao respeito à identidade institucional, entende- se que, apesar de cada IES dever se submeter ao cumprimento das normas oficiais e a critérios, indicadores e procedimentos gerais de avaliação estabelecidos por comissão coordenadora do Sistema de Avaliação, ela tem a liberdade de desenvolver processos avaliadores que correspondam aos seus objetivos e necessidades específicos, a fim de aumentar a consciência sobre sua identidade, identificando prioridades e desvelando potencialidades particulares. O princípio da participação estabelece a avaliação com o envolvimento dos stakeholders da educação superior, sejam os docentes, discentes e corpo técnico administrativo das IES e dos cursos, e da sociedade civil, por meio de suas representações. Por último, o princípio da regulação e supervisão vincula o (re)credenciamento das IES e a autorização e (re)reconhecimento de cursos de graduação à avaliação.

O SINAES é coordenado e supervisionado pela Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES) que também foi instituída pela Lei nº 10.861/2004 (Art. 6º). Observa-se que essa coordenação e supervisão incluem dentre outras atividades: propor e avaliar os instrumentos de avaliação a serem adotados; organizar comissões de avaliação; analisar relatórios, elaborar pareceres e recomendações e encaminhá-los às instâncias competentes. Quando a Lei atribui à CONAES “[...], avaliar as dinâmicas, procedimentos e mecanismos da avaliação [...]” (Art. 6º, inciso I), deve estar se referindo à promoção da meta-avaliação do SINAES.

Por outro lado, a Lei nº 10.861/2004, em seu Art. 11, determina que as IES constituam Comissão Própria de Avaliação, formada por representantes de todos os segmentos da comunidade acadêmica (professores, alunos e servidores técnico- administrativo) e de representantes da sociedade civil organizada, e encarregada da auto-avaliação institucional e de relatar os resultados ao INEP.

Os principais instrumentos de avaliação do SINAES são três:

• Auto-avaliação (AA) – coordenada pela Comissão Própria de Avaliação de cada IES; e

• Avaliação Externa (AE) – realizada por Comissões de Avaliação Externa constituídas pela CONAES;

b) Avaliação dos Cursos de Graduação (ACG) – realizada por comissões de avaliadores selecionados e capacitados pelo INEP; e

c) Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) – aplicado aos estudantes do primeiro e último ano de cada curso.

O Art. 3º da Lei nº 10.861/2004 estabelece que a avaliação das IES “[...] terá por objetivo identificar o seu perfil e o significado de sua atuação, por meio de suas atividades, cursos, programas, projetos e setores [...]”, cujas reflexões e valorações se darão em torno de 10 dimensões centrais: (i) missão e plano de desenvolvimento institucional; (ii) políticas de ensino, pesquisa, extensão e pós-graduação; (iii) responsabilidade social da IES; (iv) comunicação com a sociedade; (v) políticas de pessoal; (vi) organização e gestão da IES; (vii) infra-estrutura física; (viii) planejamento e avaliação; (ix) políticas de atendimento aos estudantes; e (x) sustentabilidade financeira.

A Auto-Avaliação é a primeira etapa da avaliação da instituição, que é complementada pela Avaliação Externa in loco. Para a realização dessa avaliação, o INEP disponibiliza, em meio eletrônico, as orientações gerais elaboradas a partir de diretrizes estabelecidas pela CONAES, que abrangem, no mínimo, as 10 dimensões de avaliação acima citadas, podendo ser ampliadas com as especificidades de cada IES. Entende-se que cada IES tem liberdade em complementar os procedimentos metodológicos de avaliação a serem adotados internamente, desde que eles forneçam as informações básicas requeridas. Essa avaliação resultará na aplicação de conceitos, ordenados em uma escala de cinco níveis, a cada uma das dimensões avaliadas e ao seu conjunto.

A Avaliação dos Cursos de Graduação, por sua vez, conforme o Art. 4º da Lei nº 10.861/2004, “[...] tem por objetivo identificar as condições de ensino oferecidas aos estudantes, em especial as relativas ao perfil do corpo docente, às instalações físicas e à organização didático-pedagógica”, utilizando procedimentos e instrumentos diversos, sendo o principal a avaliação externa in loco realizada por

comissões de especialistas das respectivas áreas do conhecimento. Esse instrumento de avaliação resulta na atribuição de conceitos, seguindo a mesma lógica da avaliação das instituições. Esse é um procedimento utilizado pelo MEC para o reconhecimento ou renovação de reconhecimento dos cursos de graduação representando uma medida necessária para a emissão de diplomas.

O Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes foi apresentado como processo substituto ao Exame Nacional de Cursos, na tarefa de avaliar os cursos de graduação por área do conhecimento, porém tendo como interlocutores preferenciais os estudantes. A diferença que existiria em relação ao ENC é que o ENADE não visaria somente avaliar a construção e reprodução do conhecimento, nem tampouco, mediria e classificaria os cursos, mas ele se preocuparia, principalmente,

[...] com as dinâmicas da formação, que deve ser crítica e criativa, do desenvolvimento e da inovação em cada área, considerando a interdisciplinaridade, as relações de fronteira, o significado social da formação, o valor público dos conhecimentos, os avanços das ciências, tecnologias e artes, na perspectiva da educação continuada e das exigências de toda ordem, que se renovam e que se complexificam a cada ano (BRASIL, 2004, p.112).

O ENADE, nos termos da Lei nº 10.861, tem como objetivo avaliar o desempenho dos estudantes dos cursos de graduação

[...] em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares do respectivo curso de graduação, suas habilidades para o ajustamento às exigências decorrentes da evolução do conhecimento e suas competências para compreender temas exteriores ao âmbito específico da profissão, ligados à realidade brasileira e mundial e a outras áreas do conhecimento (Art. 5º, § 1º).

Além disso, esse instrumento avaliativo também pretende levantar o perfil dos alunos dos cursos de graduação e é aplicado com periodicidade trienal a amostras de alunos, ao final do primeiro e do último ano do curso, sendo introduzido de maneira gradual, cabendo ao MEC a determinação dos cursos, cujos alunos participarão do exame a cada ano. A situação regular do aluno com relação a sua efetiva participação no exame ou, quando for o caso, dispensa oficial pelo MEC, é componente curricular obrigatório, inscrito no histórico escolar do estudante.

Quanto à operacionalização do ENADE, cabe aos dirigentes das IES inscreverem junto ao INEP todos os alunos habilitados a participarem do exame. O

não-atendimento a esse requisito sujeita as IES às seguintes penalidades (Lei nº 10.861, Art. 10, § 2º):

I – suspensão temporária da abertura de processo seletivo de cursos de graduação;

II – cassação da autorização de funcionamento da instituição de educação superior ou do reconhecimento de cursos por ela oferecidos;

III – advertência, suspensão ou perda de mandato do dirigente responsável pela ação não executada, no caso de instituições públicas de ensino superior.

Os conceitos de desempenho dos alunos no ENADE são expressos em uma escala de cinco níveis, tomando por base padrões mínimos de desempenho pré- estabelecidos. Todavia, os resultados não são tornados públicos nominal e individualmente, cabendo ao INEP informar exclusivamente a cada aluno o seu resultado individual. Como forma de incentivo para a continuidade dos estudos, o MEC concede aos estudantes de melhor desempenho bolsas de estudo, auxílio específico ou alguma outra forma de distinção com a mesma finalidade.

A realização da primeira edição do ENADE ocorreu em novembro de 2004, com a participação dos cursos das áreas de Agronomia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Serviço Social, Terapia ocupacional e Zootecnia. Em 2005 foram avaliados os alunos dos cursos das áreas de Arquitetura e Urbanismo, Biologia, Ciências Sociais, Computação, Engenharia, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras, Matemática, Pedagogia e Química. Para o ano de 2006 está prevista a avaliação dos alunos dos cursos das áreas de Administração, Arquivologia, Biblioteconomia, Biomedicina, Ciências Contábeis, Ciências Econômicas, Comunicação Social, Design, Direito, Formação de Professores Educação Básica (Formação de professor das séries iniciais do ensino fundamental, Formação de professor do ensino fundamental e Normal Superior), Música, Psicologia, Secretariado Executivo, Teatro e Turismo.

A regulamentação dos procedimentos de avaliação do SINAES, conforme previsto no Artigo 14 da Lei nº 10.861, se fez pela Portaria MEC nº 2.051, de 09 de julho de 2004.

Nos termos da Lei nº 10.861, a responsabilidade da realização das avaliações acima descritas, continua sendo do INEP, órgão responsável pelas avaliações desde o Decreto nº 3.860, de 9 de julho de 2001, cabendo ao MEC tornar público e disponível os resultados dos processos avaliadores. Todavia, com o propósito de que os resultados das avaliações direcionem ações para a melhoria da qualidade da

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