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5. ANÁLISE DOS DADOS

5.2 Formas de apresentação

5.2.3 Exemplos de uso

De acordo com os autores, os ‘exemplos de uso’ podem ser assim caracterizados: ”Apresentação de uma palavra em um contexto de uso possível. Segue-se ao exemplo sua versão ao português”. Ao observar as locuções, verifiquei, então, se os autores apresentavam o contexto de uso e a respectiva versão ao português.

No Dicionário Santillana, este tipo de apresentação é o menos encontrado: no total, no lado esp-port, foram registradas apenas 157 ocorrências. Além disso, no lado port-esp, não houve registro de ocorrências de exemplos de uso.

No lado esp-port, significativo para esse tipo de forma de apresentação, observei o registro de uma locução da língua espanhola, seguida de um exemplo de uso na língua espanhola e, logo após, de uma tradução desse exemplo para a língua portuguesa. Em alguns casos, observei também a presença de uma locução equivalente, ou de uma definição da locução apresentada em português, como pode ser constatado nos exemplos do quadro abaixo.

LEMA: ESP PORT

LOCUÇÃO DEFINIÇÃO EXEMPLO DE USO TRADUÇÃO

APARIENCIA Guardar las

apariencias.

Manter as aparências.

Fingian ser felices, pero se notaba que no se llevaban bien el uno con el otro, sólo se

guardaban las apariencias.

Fingiam estar felices, mas dava para se notar que não se davam bem; só mantinham as aparências.

APENAS Apenas si. Quase não. Era un rumor tan ligero, que

apenas si se lo oía.

Era um barulho tão fraco, que quase não se ouvia.

ARRIBA 2. Patas arriba. Totalmente fora de

ordem.

Su dormitorio está siempre de patas arriba.

O quarto dele está sempre de pernas para

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o ar.

ASTA A media asta. À altura da metade

da haste.

Las banderas fueron izadas a media asta en señal de luto.

As bandeiras foram içadas a meio pau em sinal de luto.

BARAJAR Barajárselas. Resolver bem as

situações. Virar-se.

A veces se ve apurado, pero él sabe barajárselas.

Às vezes se vê pressionado, mas ele sabe se virar.

Quadro 26- Exemplos de uso do Dicionário Santillana

Como se vê no quadro acima, com relação aos exemplos de uso, os dicionaristas parecem se preocupar em fornecer a tradução dos contextos exemplificativos; mas não seguem o mesmo rigor para a apresentação de equivalentes. Nos verbetes em que o contexto de uso aparece, nota-se a presença da definição analítica, mas ocorrem apenas poucos casos em que os autores fornecem a “versão ao português”, no campo dos equivalentes. Dessa forma, este tipo de apresentação, a do exemplo de uso, parece condicionar nesse dicionário a presença de outras formas de apresentação, fato que faz com que os verbetes que contenham exemplos de uso sejam os mais completos em termos de qualidade das informações registradas para as locuções no Dicionário Santillana.

Comparativamente, os três tipos de apresentação aqui examinados no universo de 1498 locuções registradas no Dicionário Santillana distribuíram-se da seguinte maneira.

Lado esp-port:

DEFINIÇÃO ANALÍTICA EQUIVALENTE EXEMPLOS DE USO

431 261 157

Tabela 1- Formas de apresentação do Dicionário Santillana, lado esp-port

No lado esp-port, a definição analítica foi a forma de apresentação mais utilizada, seguida da “versão ao português”, ou ‘equivalente’, e, após, pelos ‘exemplos de uso’. Percentualmente, do total de 849 locuções, 50,7% aparecem acompanhadas de ‘definições analíticas’; 30,7% apresentam ‘versão ao português’ ou ‘equivalente’; e 18,6% são registradas com ‘exemplos de uso’. Esses dados podem ser visualizados no gráfico abaixo.

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DEFINIÇÃO EQUIVALENTE EXEMPLOS DE USO

Gráfico 1- Formas de apresentação do Dicionário Santillana, lado esp-port

Os dados da tabela e do gráfico, levam-me a concluir que efetivamente não há uma coerência por parte dos autores na adoção dos critérios de apresentação das formas, especialmente no que diz respeito ao objeto deste trabalho que são as locuções Isto fica claramente evidenciado no fato de que quase a metade das locuções aparecem apenas com a ‘definição analítica’, a qual, como vimos, é imprecisa e muitas vezes gera uma rede sinonímica. Isto significa dizer que o consulente-aprendiz que consultar o verbete com lema em espanhol, em um grande número de casos, não terá à sua disposição as informações de que necessita para conhecer o significado da locução.

Vamos observar agora o que acontece com o lado port-esp com relação às formas de apresentação propostas pelos autores. Observe os dados numéricos abaixo.

Lado port-esp:

DEFINIÇÃO EQUIVALENTE EXEMPLOS DE USO

4 636 0

118 Estes dados revelam uma situação extremamente problemática no lado port-esp, no que diz respeito às formas de apresentação adotadas pelos autores. Do total de 640 locuções encontradas nos verbetes que compõem essa direção do dicionário, apenas 1% aparece com definição analítica, ou seja, 4 ocorrências. Mas, o mais grave é que não há registro de nenhuma ocorrência de ‘exemplos de uso’ , ou de ‘contextos de ocorrência’.

Esta alta concentração de ‘equivalentes’, ou de ‘versão ao espanhol’, parece revelar a grande preocupação dos autores com o emprego imediato da locução na L1. Fato que denota pouca reflexão dos autores sobre os processos de aquisição de uma língua estrangeira, especialmente, por adolescentes e jovens adultos, como é o caso do aprendiz de espanhol como L2 nas escolas brasileiras. Parece, então, que os autores desconsideram o fato de que esses aprendizes, por terem a língua materna internalizada e conseqüentemente um léxico mental ativo do idioma fonte, neste caso, precisam entender o que de fato as locuções significam e em que situações podem efetivamente serem usadas.

Os dados da tabela podem ser visualizados de forma mais clara no gráfico abaixo.

DEFINIÇÃO EQUIVALENTE EXEMPLOS DE USO

Gráfico 2- Formas de apresentação do Dicionário Santillana, lado port-esp

Este gráfico revela a preponderância dos equivalentes na forma de apresentação das locuções no lado port-esp. Apenas uma pequena parcela, quase ínfima, de locuções apresenta ‘definição analítica’, como se pode observar.

119 Nesta seção, procurei analisar a coerência dos autores com relação à aplicação dos próprios critérios de apresentação das formas, isto é, quando, nas páginas introdutórias do dicionário, eles afirmam que as palavras, locuções, refrões, etc. serão apresentados em ambos os lados a partir de três perspectivas, de fato, não é o que fazem. Há nitidamente um cuidado maior na apresentação dos fraseologismos do lado esp-port, mas, mesmo assim, esse cuidado não é sistemático. No lado port-esp, os critérios propostos pelos autores mostraram-se completamente inoperantes.

Observado, então, o nível de coerência interna da obra, à medida que examinei a proposição inicial dos autores e a construção das apresentações que efetivamente foram realizadas no dicionário, concluo que a falta de sistematicidade na aplicação dos próprios critérios revela sérios problemas na elaboração desse dicionário.

Passo agora a apresentar a terceira, e última, perspectiva de análise: os tipos de locuções mais freqüentes no Dicionário Santillana. Para tanto, como já anunciei ao longo desta dissertação, adotarei a tipologia proposta por Casares (1992).

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