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CAPÍTULO III – RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.2 Análise dos dados da pesquisa

3.2.4 Exercício profissional docente

Este item foi respondido somente pelos pedagogos que estão no exercício da docência, num total de 29 professores. Aqui se analisa o professor enquanto responsável pelo processo ensino-aprendizagem e o seu envolvimento com as ações desenvolvidas pela escola.

Para compreender o trabalho docente, é preciso ver o professor como uma pessoa que possui características, valores e princípios. Tem problemas, frustrações e anseios que interferem no trabalho cotidiano na sala de aula. Além disso, a imprevisibilidade e a violência também fazem parte do dia-a-dia dos professores. A qualquer momento, um episódio como, uma briga pode trazer o “caos” para a sala de aula. Pensando mais especificamente o que ocorre em uma sala de aula, observa-se que vários aspectos acontecem simultaneamente, sendo o professor obrigado a conviver com a complexidade, imprevisibilidade, incerteza, instabilidade, etc. (SACRISTÁN, 1998).

Para Santos (2001), a necessidade de reinventar a emancipação social passa também pela participação dos estudantes. Não se trata de dizer que eles são iguais aos outros, trata-se de respeitar as visões do grupo social. O desejável é que aconteça uma aprendizagem mútua e recíproca. Isso também requer um trabalho dos adultos sobre eles mesmos, algo que produza rupturas com os atrofiamentos da fantasia, da afetividade e da sensibilidade, atributos com os quais desvendamos a vida quando somos crianças e que muitos de nós perdemos frente às demandas de um mundo globalizado, em lugares em que nos encontramos reféns das leis do mercado e da competição (GUATTARI, 1987).

Delgado (2008) comenta que podemos reaprender a não massificar e universalizar nossas idéias sobre os estudantes, sobre suas diferentes formas de conhecer e agir no mundo e sobre suas organizações familiares. Torna-se necessário estetizar nossas experiências com eles, o que é profundamente ético e político. É exercitar as possibilidades de perguntas, mais do que ensinar certezas sobre educação, é saber ouvir e aprender com as eles, é um princípio educativo político, é um ponto de partida, é um desvio para se apreender a complexidade, cada dia maior, da experiência de um mundo que se transforma.

Aos professores foi perguntado se os alunos aprendiam os conteúdos trabalhados em sala de aula, 15,0% responderam que algumas vezes eles aprendiam e 85,0% responderam que freqüentemente seus alunos aprendem o que eles ensinam em sala de aula. Afirmaram que sempre que trabalham os conteúdos fazem:

• Contextualização com a vivência dos alunos;

• Atividades diversificadas para os alunos fixarem a aprendizagem; • O maior esforço para garantir o melhor para os alunos;

• Avaliações permanentes dos conteúdos trabalhados com os alunos; • Trabalho adequando à realidade e maturidade dos alunos;

• Debates em sala de aula para reforçar a aprendizagem; • Diversas atividades para alfabetizar todos os alunos;

• Reforço escolar com todos os alunos sempre que há necessidade; • Interdisciplinaridade com as atividades dos alunos.

Percebe-se que pode existir uma contradição nas respostas dos professores quando comparadas com as respostas dadas a outras perguntas, pois quando se pergunta se a escola oferece condições de aprendizagem para os alunos com mais dificuldade de acompanhar as aulas, tem-se o seguinte resultado: 17,2% afirmam que a escola em que trabalha nunca desenvolveu nenhuma atividade para os alunos que não acompanham as aulas, 6,8% afirmam que raramente é realizada alguma atividade nesse sentido, 38,0% afirmam que só algumas vezes são realizadas atividades de acompanhamento dos alunos e 38,0% afirmam que a escola em que trabalham desenvolve com freqüência atividades de acompanhamento com os

alunos considerados mais fracos. Pelos resultados, pode-se concluir que 62,0% das escolas da rede de ensino municipal de São Luis não desenvolvem atividades com os alunos que não conseguem acompanhar as aulas ministradas pelos professores. A responsabilidade pela aprendizagem do aluno é vista como algo externo ao trabalho da escola e do professor. Os argumentos dos professores são:

• O acompanhamento pedagógico é freqüente, a clientela é que não contribui para melhorar a aprendizagem;

• Considero que o ensino noturno tem que contar mesmo é com o nosso esforço;

• Nas escolas existem poucas condições, não temos espaço físico adequado; • No final do ano, dois dias da semana, após o lanche, alguns alunos são

liberados para o professor ficar com os alunos com mais dificuldade;

• Existe apoio didático prestado por professores com carga horária reduzida, mas nem sempre resolve;

• A direção não se mobiliza a esse respeito;

• Não existe trabalho na escola voltado para essa necessidade.

Quanto ao trabalho com o projeto didático-pedagógico, desenvolvido pelo professor em sala de aula para melhorar a aprendizagem dos alunos, 10,3% responderam que raramente desenvolvem projeto em sala de aula com os alunos, 34,5% responderam que algumas vezes, em datas comemorativas desenvolvem projetos em sala de aula com os alunos e 55,2% responderam que desenvolvem freqüentemente. Os professores que desenvolvem projetos com os alunos disseram que “a escola trabalha com a metodologia de projetos didáticos”, “trabalhamos com

projetos de prática de leitura e escrita”, “a escola adota em todos os bimestres o desenvolvimento de projeto em sala de aula”, “a escola desenvolve projetos relacionados às temáticas das datas comemorativas”.

Dentre as dificuldades encontradas pelos professores em trabalhar os conteúdos escolares por meio de projetos, 44,8% responderam que não sentem dificuldade em trabalhar com projetos, 6,9% responderam que raramente sentem dificuldades, 41,4% responderam que algumas vezes sentem dificuldades e 6,9%

responderam que sempre sentem dificuldades em trabalhar com projetos em sala de aula com seus alunos. Observa-se que 48,3% dos professores sentem dificuldades em trabalhar com projeto com seus alunos em sala de aula, é preciso que se orientem, na formação continuada dos professores, estudos sobre projeto didático- pedagógico para que os professores possam se sentir mais seguros quanto a esse tipo de trabalho que tem apresentado resultados extremamente positivos pelas escolas que desenvolvem seus trabalhos com essa metodologia. Em resumo, os professores responderam:

• Trabalhando com as séries iniciais, fica mais fácil desenvolver projetos; • Já desenvolvo na escola há muito tempo;

• Não é fácil situar os conteúdos de aprendizagem na metodologia de projetos; • A questão é desenvolver o projeto sem perder de vista o objetivo principal,

não desviar dos conteúdos a serem trabalhados;

• A dificuldade acontece na realização das atividades do projeto direcionadas aos conteúdos;

• O projeto facilita o trabalho do professor; • O projeto traz muitas contribuições;

• Falta material didático para a realização do trabalho com projeto.

Quanto ao envolvimento e participação dos professores nas atividades desenvolvidas pela escola, 7,0% nunca participam de atividade alguma na escola, entendem que “tem gente para isso”, 48,2% afirmaram participar quando são solicitados e 44,8% freqüentemente participam de tudo que a escola realiza, afirmam que “todos da escola devem se sentir responsáveis pelo que acontece nela”,

“planejamos nosso trabalho de forma coletiva aqui na escola”. Quando perguntado

aos professores se eles se sentem responsáveis pelo fracasso ou sucesso dos seus alunos, o resultado foi: nunca sou responsável 17,2% “sou consciente daquilo que

faço em minha sala de aula”; “Não, pois, planejo as atividades, incentivo e apoio os alunos nas suas dificuldades de aprendizagem; cumpro o calendário escolar e a carga horária; diversifico atividades; sou presente”; 3,5% raramente se sente

responsável; 58,7% algumas vezes se sentem responsáveis, mas “às vezes o

depende só do professor” e 20,7% freqüentemente se sentem responsáveis pelo

que o aluno aprende ou deixa de aprender, “ao professor recai o sucesso ou

insucesso dos alunos”, “se eles vão bem é porque eu estou bem, se vão mal, eu devo fazer uma auto-avaliação”.

Para os professores o fracasso escolar dos alunos tem como principais responsáveis: o sistema de ensino com 65,5%, os pais com 55,2%, o professor com 41,4%, o aluno com 37,9%, a escola com 24,1% e o diretor da escola com 17,2%. Nesta pergunta, o respondente tinha a opção de responder mais de uma alternativa.

Quanto à participação dos professores na elaboração do projeto pedagógico da escola, ainda não se tem os resultados que demonstrem envolvimento de toda a comunidade escolar. Os dados mostram que 3,5% dos professores nunca participam das discussões e elaboração do projeto pedagógico da sua escola, cuja resposta foi:

“não estou envolvida diretamente no processo, só recebo informações”, 17,2%

raramente participam, pois “normalmente é feito pela direção e supervisão, o

professor pouco participa” “geralmente já está pronto o projeto pedagógico da escola”, 37,9% algumas vezes participam, “na jornada pedagógica de início do ano letivo” e 41,4% sempre participam da elaboração, pois “na nossa escola temos a prática do trabalho com representação de todos os segmentos” e “atualmente sempre nos reunimos para a elaboração do projeto da escola”.

A avaliação feita pelo professor dos resultados alcançados pela escola em que trabalha mostra que 10,4% conceituam sua escola como muito boa, “temos uma

equipe de profissionais comprometidos” 51,7% conceituam como boa, “existe integração com o corpo docente da escola”, “a escola melhorou, eu via a escola crescer”; 17,2% conceituam como razoável, “cada um tenta fazer a sua parte” e

20,7% conceituam a escola em que trabalham como ruim, pois “falta uma política de

valorização da educação”, “as escolas públicas de modo geral ainda estão a desejar”, “precisamos ainda de outros espaços além da sala de aula para melhorar a aprendizagem e atender as necessidades dos alunos”, “poderia ser melhor se houvesse mais recursos didáticos, mais espaços, mais conforto e seguranças nas escolas”, foram os depoimentos mais comuns.

Para os professores, o que mais tem dificultado o seu trabalho em sala de aula na escola, para que seus alunos possam aprender e ter uma aprendizagem mais significativa, tem sido na sua grande maioria a ausência dos seguintes aspectos:

• Acompanhamento mais sistemático da família; • Freqüência e assiduidade dos alunos;

• Interesse dos pais pelos seus filhos; • Recursos didáticos nas escolas;

• Espaço físico adequado para desenvolver as atividades com as crianças; • Seriedade com a educação, pois superlotam as salas de aula;

• Sala de aula com espaço físico e imobiliário adequados;

• Preparo dos alunos nas séries anteriores, alunos com níveis bem diferentes de aprendizagem;

• Condições para visitas, passeios, excursões com as crianças;

• Gestão democrática, competente e compromissada com a educação;

• Professores com conhecimentos atualizados, muitos são retrógrados, apáticos e descompromissados;

• Ambiente limpo, motivado e valorização da carreira de magistério; • Disciplina e punição dos alunos que são agressivos e violentos;

• Tempo para planejamento do trabalho a ser realizado na sala de aula. • A idade dos alunos, distorção idade-série;

• Dificuldade para enxergar, muitos apresentam problemas de vista; • A falta de esforço e empenho por parte do aluno em aprender;

• Atender individualmente os alunos com necessidade de atenção específica; • Falta de concentração e motivação das crianças para o estudo;

• A hiperatividade e rebeldia dos alunos;

• Motivar todos em um mesmo momento para aprender os conteúdos trabalhados, a quantidade de alunos é muito grande na mesma sala de aula; • Pouco tempo de estudo, o aluno vai para casa e não dá continuidade no que

foi estudado na escola;

• No dia-a-dia falta tudo, as condições para as crianças aprenderem são mínimas;

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