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2.1 Breve histórico da IURD

2.1.2 Expansão

O crescimento de igrejas evangélicas em geral se dá essencialmente pela difusão geográfica de seus templos. Cada denominação tem sua forma de encarar esse projeto ou missão. Possuir templos em grandes capitais, cidades de médio porte e em boa localização proporciona grandes expectativas de implantação de outros templos ao redor dessas cidades e também no interior dos estados. Nesse sentido, a expansão da IURD impressiona desde o seu início. Como enfatiza Mariano (2004), nenhuma “outra denominação evangélica cresceu tanto em tão pouco tempo no Brasil”.

Seus dados realmente impressionam:

Em 1985, com oito anos de existência, já contava com 195 templos em catorze Estados e no Distrito Federal. Dois anos depois, eram 356 templos em dezoito Estados. Em 1989, ano em que começou a negociar a compra da Rede Record, somava 571 locais de culto. Entre 1980 e 1989, o número de templos cresceu 2.600%. Nos primeiros anos, sua distribuição geográfica concentrou-se nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Salvador. Em seguida, expandiu-se pelas demais capitais e grandes e médias cidades. Na década de 1990, passou a cobrir todos os Estados do território brasileiro, período no qual logrou taxa de crescimento anual de 25,7%, saltando de 269 mil (dado certamente subestimado) para 2.101.887 adeptos no Brasil, de onde se espraiou para mais de oitenta países. Em todos eles, conquista adeptos majoritariamente entre os estratos mais pobres e menos escolarizados da população (MARIANO, 2004).

O investimento pesado em telecomunicações (rádio e tv), que proporciona à IURD ampla exposição midiática, o envolvimento na política partidária e em atividades diversas do mercado empresarial, a constitui como uma das mais fortes igrejas brasileiras (com cerca de 1. 873. 243 de fiéis); no entanto, ainda encontra-se numericamente menor do que as Assembleias de Deus (12. 314. 410), a Congregação Cristã do Brasil (2.289.634) e, por fim, a Igreja Batista (3.723.853), segundo dados do último Censo do IBGE (2010).

Não obstante, dessas mencionadas, pode-se dizer que somente a Congregação Cristã do Brasil sirva de paralelo para uma comparação sólida com a IURD. Isso porque desde sua fundação, a CCB mantém-se quase inalterada em seus costumes e tradições e, mais importante para nós, em seu sistema de governo. Já as Assembleias de Deus constituem, na verdade, um conglomerado de redes de igrejas/ministérios que compartilham do mesmo nome (como um sistema de franquia)5 em função de uma identificação com o tipo específico de pentecostalismo; e os Batistas, por sua vez, subdividem-se entre os da Convenção Batista Brasileira, Convenção Batista Nacional (Renovados) e Aliança de Batistas do Brasil (isso sem falar nas pequenas igrejas independentes que se consideram batistas mas não se encontram filiadas em nenhum desses grupos). A partir dessa análise, a IURD, enquanto denominação coesa, una, encontra-se apenas atrás da CCB.

Mesmo assim, essa posição no ranking talvez ainda seja insatisfatória para seus líderes, mais exatamente para “o cabeça” da instituição, Edir Macedo. Leia-se o nome da denominação. Aliás, esse é um ponto interessante, o “espírito” de expansão das denominações neopentecostais pode ser notado em seus próprios nomes (Igreja Internacional da Graça de Deus, Igreja Mundial do Poder de Deus, Igreja Cristã Mundial, dentre outros mais peculiares). E, de fato, a IURD está espalhada por toda a América Latina e também fora dela. Em seu site, a igreja se gaba de estar presente em cerca de 200 países6 e em um dos portais de internet pertencentes ao grupo empresarial de Edir Macedo, o R7, uma nota sobre o aniversário da igreja a enaltece por possuir fieis advindos das “diferentes classes sociais, como médicos, juízes e trabalhadores mais humildes.”7

Acerca disso, Freston havia comentado que, desde a sua fundação, a denominação já havia conseguido “em pouco mais de uma década o que levou gerações para outros grupos pentecostais: a diversificação substancial de sua base (1994, p. 135)”. Tal conquista pode ser atribuída a diversos fatores, dentre eles o diversificado “cardápio” oferecido nos cultos da

5 Para conhecer mais sobre as Assembleias de Deus e suas estruturas, bastante oportuna é a leitura da tese

de doutorado (PUC-SP) de Marina A. dos Santos Corrêa (2012), A operação do carisma e o exercício do

poder: A lógica dos Ministérios das igrejas Assembleias de Deus do Brasil. Certamente um trabalho de

fôlego, que ousou esmiuçar esse complexo aspecto de um dos mais importantes grupos pentecostais brasileiros.

6 <http://www.arcauniversal.com/institucional/noticias/vai-viajar-para-fora-do-brasil-visite-a-iurd-no-

exterior-10616.html> visitado em 25 de agosto de 2013, às 01h59min.

7 <http://noticias.r7.com/brasil/noticias/expansao-da-igreja-universal-pelo-mundo-ja-atinge-quase-200-

Universal. Havendo ministrações voltadas para a resolução de questões amorosas, doenças físicas e problemas financeiros. Independente da necessidade dos fiéis, na visão iurdiana, o problema é sempre de ordem espiritual. Daí a IURD se constituir basicamente em um “supermercado” da fé. E não só na oferta de bens de acordo com a demanda, mas também em sua estratégia de ocupação dos espaços geográficos dos locais em que pretende se instalar.

No geral, igrejas pentecostais e protestantes clássicas iniciam seus trabalhos evangelísticos em “pontos de pregação”, os quais frequentemente consistem em residências de pessoas que já se converteram à religião evangélica ou mesmo gente simpatizante das atividades em questão. Posteriormente, conforme a comunidade de fé começa a se estabelecer, é que se inicia a movimentação para o aluguel ou construção de um templo a fim de comportar os fiéis. Não se dá assim com as grandes denominações neopentecostais,

primeiro é instalado o templo para depois se obter adeptos. E, ao contrário das paróquias católicas, que fundam centralidades locais, os templos da Universal são construídos em lugares com intensas dinâmicas urbanas já estabelecidas. Não por acaso eles se encontram próximos a terminais de ônibus e pequenos centros comerciais (ALMEIDA, 2009, p 54).

A Universal já raramente investe em um estabelecimento nos moldes do pequeno salão em que o Bispo Edir Macedo iniciou suas atividades religiosas,

Sua estratégia de localização (...) e a arquitetura dos templos (catedrais com amplos salões e poucas subdivisões espaciais) sugerem uma prática religiosa de fluxo e massa bastante adequada à dinâmica urbana. Seus templos, assim como os da Igreja Católica, permanecem com as portas abertas durante todo o dia, e neles são realizados de três a cinco cultos diariamente. A qualquer momento é possível recorrer com facilidade a um templo da Universal e ao seu “socorro espiritual” (ALMEIDA, 2009, p 55).

O “socorro espiritual” é oferecido nos moldes da sociedade de consumo. Os templos, como fora dito por Almeida, salões amplos abertos durante a maior parte do dia, podem muito bem ser equiparados a “supermercados”, neste caso, supermercados da fé. Os “produtos”

oferecidos, ainda que de apelo espiritual, são compatíveis com as demandas do mundo contemporâneo, geralmente são bênçãos materiais. O que não difere, em geral, do histórico de outras denominações. Afinal, como asseverou Weber, fazendo menção ao verso 3 do capítulo 6 do livro de Efésios: “A ação religiosa ou magicamente motivada, em sua existência primordial, está orientada para este mundo. (...) ‘para que vás bem e vivas muitos e muitos anos sobre a face da Terra.’” (1991, p. 279).

Para tanto, observaremos mais adiante o perfil neopentecostal iurdiano em relação ao seu tempo. Como ela interage com as demandas de uma sociedade de consumo ávida por conquistas imediatas, utilitárias e que permita ao indivíduo encontrar a realização pessoal aqui e agora.

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