• Nenhum resultado encontrado

Expectativas dos profissionais no atendimento de mulheres com pré-eclâmpsia

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.4. Percepções e vivências da pré-eclâmpsia: profissionais de saúde

4.4.2. O atendimento de gestantes com pré-eclâmpsia

4.4.2.2 Expectativas dos profissionais no atendimento de mulheres com pré-eclâmpsia

“Acho que muito mais do que ele vem fazendo, né? ... dar mais atenção, né?, eu acho que a gente ainda faz muito pouco pra elas ... é, como pessoa, né? como ser humano”.

Todos os profissionais demonstraram vontade de melhorar o atendimento às gestantes. Alguns demonstraram maior sensibilidade em relação à dimensão emocional da assistência e esperavam que o serviço se aproximasse mais de sua clientela e desenvolvesse ações voltadas para acolhida e escuta, sem manifestar, no entanto, preocupação com a dimensão organizacional do serviço. Já outros, com uma visão mais biológica da assistência tiveram suas expectativas voltadas para aquisição de equipamentos e contratação de profissionais, com o intuito de melhorar o tratamento da pré-eclâmpsia e garantir a sobrevida da mãe e do feto, sem a preocupação com os aspectos subjetivos do tratamento. Porém, havia também um pequeno grupo de profissionais com uma visão mais abrangente da saúde que esperava avanços tanto nos aspectos emocionais quanto biológicos contemplando assim, a saúde em sua totalidade e se aproximando mais da real humanização da assistência, que requer a articulação entre os avanços tecnológicos e o acolhimento reforçando o caráter holístico do processo saúde-doença94 (Ministério da Saúde, 2004) e rompendo com a dicotomia entre tecnologia das ciências médicas e humanização no cuidado121,122.

A preocupação com a melhoria no atendimento da clientela pode ser encarada como um fator positivo, pois demonstra que os profissionais não

estão acomodados à sua rotina de trabalho a ponto de achar que tudo está ocorrendo da melhor forma possível, até porque a realidade da saúde no Brasil dificilmente não demandaria mudanças.

A expectativa de um atendimento mais humanizado foi demonstrada em algumas falas ao longo das entrevistas: “mais atenção como ser humano”, “ver a saúde em sua totalidade”, “maior apoio psicológico”, “mais sentimento”, “mais acolhimento”, “mais escuta”, “explicação dos direitos da paciente”, “maior esclarecimento sobre a doença”, entre outras. Porém, poucos profissionais falaram concretamente de humanização enquanto política de saúde a ser implantada na MEJC120.

“Com essa luta desse serviço de humanização, da política de humanização [...] porque muitas vezes pode até faltar aquele tratamento específico, mas quando você é bem assistido, é bem atendido, é bem escutado, é bem orientado, aí você sabe como caminhar, você sabe onde buscar, você sabe como se acalmar [...]”

“[...] tanto a maternidade quanto outros hospitais do SUS que tenham um maior, um sentimento, a coisa do acolhimento, da humanização, né? tem médico que trata o paciente com uma certa indiferença, não chama pelo nome do paciente, [...] acho que o fato da humanização dá mais... dá menos temor, né? menos temor até para a gravidez, pra tranqüilidade dela [...]”.

A humanização é uma questão complexa que demanda atitudes concretas em termos de uma gestão compartilhada entre direção, profissionais e usuários do serviço não sendo, portanto apenas uma questão de sensibilidade de um ou outro profissional123,124. As ações de humanização na assistência pré-natal ainda são muito pontuais e pessoais não se configurando, portanto em uma

política plenamente estabelecida, pois ainda prevalecem entraves burocráticos, materiais e pessoais dificultando seu completo desenvolvimento123. A fala que se segue mostra justamente a preocupação de um profissional com a burocracia do serviço e também com a falta de condições físicas e materiais do local que obriga as pacientes a recorrer a outros serviços para completar seu tratamento.

“ [...] não tá melhor porque a gente bate um pouquinho de frente com a questão da burocracia, então muitas delas são jogadas de um lado pro outro, tanto pra fazer exame ou pra ser atendida e elas acham que a gente tá atendendo de qualquer maneira [...] mas na verdade é a questão da burocracia. Questão organizacional.”

Tratar a doença numa perspectiva apenas biológica não atendia as expectativas de alguns profissionais que achavam necessário investir em atividades educativas.

“Olha, eu, eu gostaria que realmente além do tratamento, né? que elas saíssem daqui esclarecidas [...] se realmente ela é atendida e educada prá que numa próxima gravidez ela tenha cuidado pra não chegar até essa pré-eclâmpsia, é a questão da educação, do esclarecimento”.

Esta orientação deveria ser realizada também depois da gestação, como bem colocou outra profissional, pois assim o serviço além de cumprir com seu papel na prevenção de doenças e na educação para a saúde, não deixaria a mulher desamparada após o parto, como é comum acontecer na atenção básica, também em outros países107.

“[...] eu acho que esse serviço pode não só dar um bom suporte durante a gestação, mas no seguimento que elas têm que voltar depois; tentar ver se consegue fazer com que essa paciente possa entender que ela vai ter que mudar hábitos de vida [...] tentar melhorar o prognóstico aí futuro dessas pacientes[...]”

No tocante a estrutura física, os profissionais mostraram a necessidade da aquisição de novos equipamentos e melhorar os já existentes, melhorar espaço e a estrutura organizacional do serviço, sempre com o objetivo de melhor servir a clientela.

“Ah! Eu espero que esse serviço melhore bastante com relação ao atendimento à gestante, o atendimento, embora seja referência, ainda é muito precário. Quanto a organização de marcação de consultas, de referência, contra-referência, quanto a necessidade de vários profissionais [...]”

Tais reivindicações são percebidas pelos profissionais que no dia-a-dia se deparam com situações difíceis de serem resolvidas e que não permitem que o atendimento tenha a resolutividade que se espera. Infelizmente, estes problemas não podem ser resolvidos somente pelos profissionais, pois dependem de decisões políticas em nível de gestão destes serviços. Mesmo assim, estes profissionais podem e devem reivindicar melhores condições de trabalho.

Duas profissionais se mostraram preocupadas com o ambiente de atendimento. Uma do ambulatório explicou que deveria haver um mínimo de conforto para que as gestantes se sentissem bem-vindas ao serviço, como bancos mais confortáveis na sala de espera, a oferta de um lanche, pois as gestantes chegavam muito cedo e permaneciam durante toda a manhã no

ambulatório. E a outra do internamento se referiu ao setor de alto risco como sendo um local improvisado parecendo um corredor, onde as mulheres ficavam “umas por cimas das outras”, sem privacidade.

A expectativa em termos de pessoal estava praticamente voltada para o aumento do número de profissionais, não sendo mencionada uma questão importante que é a capacitação para o melhor atendimento das necessidades físicas e emocionais desta clientela especial. Dessa forma, a preocupação com a quantidade de profissionais para atuar no serviço foi maior do que a preocupação com a qualidade. Além disso, a expectativa era de aumento do número de médicos (especialistas, plantonistas e cirurgião geral), não sendo comentado a necessidade de aumento, ou mesmo a inclusão de nenhum outro profissional que compõe a equipe de saúde.

Poucos profissionais esperavam que ações voltadas para melhoria da estrutura física e de pessoal acontecessem em conjunto com melhorias na acolhida, apoio e orientação da clientela. Mesmo com as dificuldades encontradas na saúde, a esperança era poder atender as mulheres de forma integral cobrindo todos os aspectos do tratamento.

“Não, eu espero que cubra todas, assim, as carências que elas têm, tanto em termos da saúde como no emocional, como tudo que ela precisa, eu espero isso, a gente, pelo menos da equipe, faz o possível, [...] nem sempre é possível, mais em todo canto, né?, mas a gente tenta fazer o possível”.

Todos profissionais manifestaram vontade de oferecer uma assistência de qualidade no pré-natal, parto e puerpério, independente da percepção que cada um tivesse sobre o que seria um cuidado ideal.

4.5. Relação profissional – paciente no atendimento da