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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2. Significados de gravidez e pré-eclâmpsia para gestantes, segundo análise do TALP.

4.2.2. Significados da pré-eclâmpsia

Para o estímulo indutor pré-eclâmpsia, um total de 165 evocações foi reproduzido pelas gestantes sendo 87 diferentes. Os profissionais reproduziram 241 evocações, com 99 diferentes.

As categorias medo, risco e cuidado foram comuns tanto às gestantes quanto aos profissionais (figuras 4 e 5). Somente os profissionais utilizaram os principais sintomas da pré-eclâmpsia (pressão-alta, proteinúria e edema) para representá-la e as gestantes, mesmo com baixa freqüência chamaram a atenção para a falta-de-informação acerca da doença.

Para as gestantes a pré-eclâmpsia foi fortemente representada pelo medo principalmente o medo de morrer, que foi até mais freqüente do que o medo de perder o bebê. Algumas palavras evocadas, como “pavor”, “agonia”, “pânico”, “trauma”, “loucura” e “apavorada” mostraram a força deste medo. Tal sentimento foi tão intenso que provavelmente deslocou uma categoria tão importante quanto cuidado para o quadrante inferior direito onde se localizam as evocações menos freqüentes e consequentemente menos importantes (figura 4).

Como era de se esperar o cuidado e o parto foram categorias de relativa importância, pois fazem parte do cotidiano destes profissionais. Também neste quadrante se localizou felicidade mostrando que não somente as gestantes ficam felizes com este momento, como também os profissionais que dele participam. A categoria responsabilidade que surgiu como elemento de contraste foi importante para um grupo não tão pequeno de profissionais e provavelmente reforçou as categorias da primeira periferia, no quadrante superior direito (figura 4).

O risco de que algo pudesse acontecer com elas e com o bebê também foi significativo. Só que desta vez, o risco estava diretamente relacionado às conseqüências da doença, que segundo a percepção das mulheres poderia recair sobre a mãe (“ficar-deficiente”, “ficar-doente”, “eclâmpsia”, “pressão”) e sobre o bebê (“criança-ficar-deficiente”, “criança-ter-problema”, “nascer-com- defeito”). OME < 1,9 MEDO 70 (1,8) Fr ≥ 41,0 OME ≥ 1,9 RISCO 64 (1,9) Fr ≥ 41,0 Fr < 41,0 FALTA-INFORMAÇÃO 08 (1,6) OME < 1,9 Fr < 41,0 CUIDADO 23 (2,4) OME ≥ 1,9

Figura 4. Quadro de quatro casas para o estímulo indutor pré- eclâmpsia segundo gestantes da MEJC. Natal-RN, 2007.

*Ordem Média de Evocação ** Freqüência Média de Evocação

Os profissionais representaram a pré-eclâmpsia por seu principal sintoma, que é a pressão-alta (figura 5). Com uma freqüência menor, embora também importantes surgiram outras categorias como o cuidado que se deve ter com a doença, o risco que ela traz para a gestante e seu filho e o medo que as mulheres apresentavam quando eram vítimas desta doença. Os profissionais perceberam o quanto as gestantes ficavam amedrontadas diante da doença e

isto poderá contribuir para que a dimensão emocional presente no processo de saúde e doença seja mais explorada durante a assistência pré-natal.

A categoria risco apresentou uma estreita relação com a sintomatologia da doença (“epigastralgia”, “cefaléia”, “sinais-de-iminência”, “convulsão”), com as conseqüências para o bebê (“prematuridade”, “sofrimento fetal”, “morte fetal”) e também com a própria morte (“risco-de-morte”, “mortalidade-materna”).

OME < 1,9 PRESSÃO-ALTA 40 (1,6) Fr ≥ 40,0 OME ≥ 1,9 CUIDADO 73 (2,1) MEDO 41 (1,9) Fr ≥ 40,0 Fr < 40,0 PROTEINÚRIA 07 (1,8) OME < 1,9 Fr < 40,0 EDEMA 10 (1,9) RISCO 31 (1,9) OME ≥ 1,9

Figura 5. Quadro de quatro casas para o estímulo pré-eclâmpsia segundo profissionais da MEJC. Natal-RN, 2007.

*Ordem Média de Evocação ** Freqüência Média de Evocação

Além da pressão alta, os outros dois sintomas relacionados à pré- eclâmpsia – proteinúria e edema – formaram categorias, mesmo que com baixa freqüência mostrando a forte presença da dimensão orgânica da doença nas representações dos profissionais.

De acordo com análise estatística realizada apenas com as categorias medo, cuidado e risco presentes em ambos os grupos observou-se que os

significados da pré-eclâmpsia foram proporcionalmente diferentes entre gestantes e profissionais, sendo esta diferença estatisticamente significativa (p< 0,005). Para o primeiro grupo, o medo e o risco foram as categorias que mais se destacaram, já para o segundo, a categoria mais marcante foi cuidado (tabela 5).

Tabela 5. Freqüência das categorias evocadas por gestantes e profissionais de saúde - estímulo indutor pré-eclâmpsia. Natal-RN, 2007

Categorias Gestantes (n= 165) Profissionais (n = 241) Qui2 P N % N % Medo 70 42,42 41 17,01 31,84 <0,001 Cuidado 23 13,94 73 30,29 14,5 <0,001 Risco 65 39,39 31 12,86 38,19 <0,001

O resultado do teste de associação livre de palavras demonstrou que os significados da gravidez foram bem semelhantes entre os dois segmentos, principalmente no tocante à categoria bebê que teve maior freqüência e menor ordem de evocação.

Com relação aos significados da pré-eclâmpsia observou-se claramente que o maior significado da pré-eclâmpsia naquele momento de suas vidas era o medo, principalmente de morrer e de não saber o que poderia acontecer com

elas e com os bebês. Já os profissionais, por terem o domínio do conhecimento científico, por

serem os responsáveis pelo tratamento e cura das pacientes e pela sua formação biomédica percebiam a doença pelos seus aspectos fisiopatológicos,

sintomas e sinais físicos. A pressão-alta foi a expressão maior do significado da pré-eclâmpsia.

O TALP ajudou na construção de duas questões importantes e que poderão ser percebidas ao longo da análise dos próximos dados da pesquisa. A primeira, que as mulheres se preocupavam com a doença devido ao grande medo que sentiam colocando em segundo lugar o cuidado que poderiam ter com sua saúde e a segunda, que os profissionais se preocupavam mais com os sintomas e sinais de complicação da doença e pouco investiam na dimensão emocional e psicológica da doença.

Desta maneira pode-se dizer que os significados da pré-eclâmpsia diferiam entre as mulheres que sofriam com a doença e os profissionais responsáveis pelos seus cuidados havendo, portanto, a necessidade de um ponto de interseção entre estas duas formas de percepção do mesmo fenômeno, para que o tratamento da pré-eclâmpsia possa ocorrer de forma integral abrangendo todas as dimensões associadas a esta doença.