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4 TIPO DE PESQUISA

5.2 A EXPERIÊNCIA DA PESQUISA DE CAMPO

A Pesquisa de Campo foi planejada como uma das formas, juntamente com a revisão bibliográfica e documental, de enriquecer o tema do trabalho, acrescentando a vivência e a experiência dos profissionais da Educação, trazendo dessa forma, a análise para a realidade da escola.

A experiência foi muito rica, todos os objetivos traçados no planejamento da Pesquisa de Campo foram atingidos, uma vez que o material obtido nas entrevistas e nos questionários aplicados, auxiliou de forma positiva o desenvolvimento do trabalho. Além disso, a visita às escolas, o contato com os profissionais e com a realidade e o ambiente das diferentes unidades escolares, superou em muito as expectativas traçadas para essa fase do trabalho.

No momento do primeiro contato, feito por telefone com a unidades escolares, buscando agendar horário para a realização da entrevista com o diretor, e também, a

aplicação dos questionários, houve uma certa resistência; isso ocorreu em todas as escolas.

Tal fato pode ser descrito como uma real resistência em atender a uma pessoa de fora do sistema educacional. É interessante notar que todo o sistema educacional, desde os funcionários, os professores, o diretor, os supervisores de ensino e até mesmo o delegado de ensino – cargo mais elevado considerando o universo da pesquisa de campo – respondem e prestam contas, sobre suas atividades, unicamente aos elementos internos ao sistema. Diante disso, há uma resistência muito acentuada em passar informações, para alguém que não seja parte constituinte do sistema.

Contudo, quando houve o encontro, para a realização da entrevista, houve colaboração e grande interesse de todos os diretores entrevistados. A mudança de postura diante da entrevista, pode ser identificada, principalmente, após a explicação do objetivo do trabalho, e especificamente, quando os diretores perceberam que eles, através de seu trabalho, eram o alvo principal da pesquisa. Diversos entrevistados, comentaram que era a primeira vez que alguém, considerando aqui pessoas inseridas ou não no sistema educacional, se interessava em saber suas opiniões a respeito da unidade escolar e seu funcionamento. Enfim, diretores com anos de experiência e vivência no sistema escolar, vários dos quais prestes a se aposentarem e deixar o sistema, acostumados a enfrentar e solucionar problemas em suas unidades de trabalho, nunca foram questionados sobre suas experiências e opiniões, não tendo a chance de dividi-las com o sistema, contribuindo assim, para a superação de problemas, que muitas vezes são similares nas diferentes unidades escolares.

Além da interação positiva que houve no momento da entrevista com os diretores, o que propiciou um auxílio importante das unidade escolares para a aplicação dos questionários, a visita às diversas unidades escolares foi essencial para identificar o ambiente interno de cada uma delas, e tão importante quanto a esse aspecto, identificar o entorno das unidades escolares, ou seja a comunidade na qual estão inseridas. As diferenças e características identificadas, foram muito distintas do esperado. Pode ser notado que as unidades escolares, refletem intensamente o ambiente social em que estão inseridas, ou seja, as condições sociais e econômicas da comunidade, mas, o desempenho e postura da equipe de trabalho da escola, são decisivos para determinar a qualidade e forma de atuação da unidade escolar.

Duas escolas foram essenciais para tal análise. Ambas escolas de periferia, bairros com uma precária condição de vida e graves problemas sociais.

Inicialmente, uma escola que consideramos como o exemplo daquilo que o trabalho em equipe, direcionado, determinado, bem organizado e competente pode representar para uma unidade escolar e acima disso, para melhoria das condições de vida de toda uma comunidade carente, onde possibilidades positivas de mudança surgem muito raramente. Essa escola, de médio porte, situada num bairro afastado da periferia de Piracicaba, impressiona e demonstra aspectos de cuidado e eficiência, já num primeiro contato visual. A escola é bem cuidada, o atendimento cordial. A equipe da direção e também a maioria dos professores trabalham juntos há alguns anos (12 anos). Isso

parece ser, ao lado da filosofia de trabalho da direção, o fator mais importante para o sucesso da unidade escolar.

É importante identificar que, em especial para as escolas situadas na periferia, manter um grupo de trabalho é sempre um grande, senão o maior desafio, em geral são comunidades com sérios problemas de violência e os professores, por questões óbvias, optam por unidades escolares situadas nas regiões centrais da cidades. Por esse motivo, essas escolas enfrentam o problema da alta rotatividade dos professores, o que sem dúvida alguma interfere negativamente no processo de ensino.

Na unidade escolar em questão, estabeleceu-se uma relação muito positiva de confiança entre a equipe de trabalho e a comunidade, que tem como maiores resultados:

• A continuidade dessa equipe durante um longo período de tempo, a maioria dos professores atuam nessa escola há mais de cinco anos, criando laços de amizade e confiança com aos alunos e a família. Dessa forma, além do aspecto educacional, a escola cumpre parte de sua função social, qual seja, servir como local de interação da comunidade. A direção busca, muitas vezes, aconselhamento e auxílio para casos que não seriam, necessariamente, sua responsabilidade, tais como acompanhamento psicológico para crianças que apresentem problemas.

• Um alto grau de interação entre a unidade escolar e a comunidade, que possibilita o bom funcionamento da unidade escolar e traz contribuições

para o dia a dia da comunidade. Por exemplo, um representante da comunidade tem a chave do portão da escola, e nos finais de semana, a comunidade utiliza as quadras no interior da escola. Isso é de suma importância, uma vez que o bairro não possui nenhuma outra área de lazer. Além disso, essa confiança, faz com que a comunidade se sinta prestigiada e responsável pela escola, ela passa a “cuidar” da escola, a zelar por ela.

Contudo é muito importante ressaltar que para atingir esses resultados houve um longo, constante e trabalhoso processo, que se estende até hoje. Pode ser salientado como parte desse trabalho, a presença constante e quase que total, todos os dias, de uma das duas pessoas responsáveis pela direção da escola, durante todo o período de atividade letiva. Com especial ênfase para o horário da noite, o mais problemático. Essas duas pessoas, buscam através de uma rotina de trabalho integrada, montar horários de forma a deixar a escola sozinha o menor período de tempo possível. É importante considerar que além da presença na unidade escolar, as reuniões na Delegacia de Ensino, oneram em muito o dia a dia do diretor escolar. Além disso, estabelecem comunicação diária sobre os acontecimento em cada um dos turnos, de forma a estarem sempre inteiradas da dinâmica da unidade escolar.

Em termos de auxílio pedagógico, há o acompanhamento constante do conteúdo que os professores estão ministrando aos alunos, com conversas e trocas de opiniões entre os professores e a direção. Esse tipo de suporte foi identificado apenas nessa escola, dentre todas as que foram pesquisadas.

E finalmente, há um compromisso dos professores com a direção, de sempre comunicar, preferivelmente com antecedência, a ausência em sala de aula, dessa forma, é possível buscar substituição, não deixando assim os alunos sem aula, outro grande problema identificado nas demais escolas.

É claro que todo esse comprometimento da direção, dos professores e funcionários traz resultados excelentes para o funcionamento da unidade escolar, o que acarreta uma sobrecarga de trabalho, responsabilidade e especialmente, exige muita dedicação, contudo, pudemos testemunhar a satisfação dos atores envolvidos com os bons resultados obtidos.

Segue trecho da entrevista com o diretor dessa unidade escolar, para ilustrar os comentários acima:

Entrevista - Trata-se de uma escola muito "diferenciada", a diretora esta nesse cargo há doze anos, e acredita que essa continuidade é um dos fatores responsáveis pela bom trabalho que esta sendo desempenhado na escola.... Sobre a importância da atuação do diretor na atuação de ensino do professor. É um todo, é importante a presença do diretor, pois estando presente, junto ao professor perto e informado do problema, está o tempo todo ajudando, formando uma equipe. Não é o diretor, é mais um ajudando... Mas para isso é essencial a presença física do diretor, pois está o tempo todo junto aos problemas, sabendo tudo o que acontece. A participação no dia a dia. Só estando presente pode saber como tudo está acontecendo, a presença física é essencial. Uma coisa muito positiva identificada nessa escola é a conservação, cartazes são

preservado, a escola é muito bem cuidada, não há atitudes hostis em relação a escola. Mesmo tratando-se de uma comunidade carente, muitas vezes com realidade de pessoas problemáticas, a comunidade utiliza a escola, tem a chave da escola, são realizados campeonatos e jogos nos finais de semana. Pais de alunos, ex alunos e alunos utilizam a área de lazer (provavelmente a única no bairro) proporcionada pela escola e zelam pela escola. A questão que se coloca é se quando a diretora (que está na direção há doze anos) assumiu já havia essa boa convivência da escola com a comunidade? Não, pois a estrutura física era diferente, não havia asfalto nas proximidades da escola, houve uma grande melhoria nesse aspecto de estrutura física, um trabalho longo prazo e constante.

A questão da presença do diretor já ajuda no processo educativo, para as crianças a presença do diretor, do diretor chama-la pelo nome é muito importante; são crianças carentes, sem estrutura social. O reconhecimento, a atenção é muito importante para essas crianças e jovens. Procura-se conquistar esses aluno com essa atenção, essa afetividade. São muito carentes de atenção e afetividade.

A outra unidade escolar que despertou a atenção do entrevistador, trata-se de uma unidade escolar de grande porte, em um bairro de periferia, afastado da cidade, com graves problemas sociais e alta taxa de violência. O diretor está atuando nesta unidade escolar há alguns anos, e conseguiu significativa melhora na relação entre a comunidade e a escola. Entretanto, apesar dessa melhora, a relação ainda é frágil e delicada. O ambiente tenso da unidade escolar pode ser notado assim que se chega, a conservação é

precária, muitas grades ao redor da escola, nenhuma área verde, muito alunos e pouca infra estrutura.

Segundo testemunho do diretor escolar, quando assumiu o cargo a situação da escola estava totalmente degradada, tanto em termos de relação humana quanto em estrutura física. Todos os banheiros estavam destruídos, os bebedouros e janelas quebradas, enfim, sem a menor condição de utilização. Iniciou-se, então, um trabalho de buscar conscientizar os alunos da importância da escola (é a única unidade escolar no bairro), estabelecer uma relação de confiança entre o ambiente escolar, os alunos e a comunidade em geral. Foi um processo lento e complexo, aos poucos os banheiros foram sendo consertados, assim como as janelas; buscou-se melhorar toda a estrutura física da escola, e acima de tudo, ter o compromisso dos alunos e da comunidade de não mais destruir a unidade escolar.

Mesmo com tais conquistas, a escola ainda é bastante problemática, muitos professores não querem atuar nessa unidade escolar, e como citado abaixo na entrevista, os cargos de inspetor de alunos não são preenchidos porque pessoas que residem em outro locais da cidade têm medo de trabalhar nessa unidade escolar. O ponto mais delicado constatado na unidade escolar, é que o frágil equilíbrio estabelecido entre a unidade escolar, os alunos e a comunidade está pautado na pessoa do diretor escolar, um profissional extremamente dedicado e preocupado com a realidade da comunidade, um pessoa que soube entender as dificuldades da comunidade local, conquistar sua confiança, e através disso, criar comprometimento entre a comunidade e a unidade

escolar. Diante disso, considera-se improvável que tal equilíbrio se mantenha, caso esse profissional deixe de atuar na unidade escolar.

Entrevista - O aspecto disciplinar é muito difícil, porque praticamente só se passa a melhorar a disciplina em sala de aula com o diretor presente, pois os alunos não respeitam os funcionários responsáveis pela parte disciplinar. Essa escola em especial, situa-se num bairro problemático e tem grandes problemas disciplinares, isso pode ser evidenciado pelo fato da escola comportar cinco inspetores de alunos e no momento não ter nenhum profissional nesse cargo, uma servente foi designada pelo diretor para assumir essa função, no período noturno. O motivo da não ocupação dos cargos de inspetores de alunos é o medo das pessoas em assumirem tal posição numa escola com uma situação tão perigosa. Os alunos de um modo geral desafiam tais funcionários. O diretor acredita que disciplina em sala de aula cabe ao professor resolver, não a direção e muito menos o inspetor de aluno, mas os professores, muitas vezes, ou a maioria das vezes, chamam o diretor para ir até a sala de aula e resolver o problema de disciplina. Seria necessária uma mudança, em primeira instância, como forma de tentar melhorar a questão da disciplina dentro da escola, seria uma mudança na postura do professor. A partir do momento em que o professor perceber que ele é o educador, e se ele for uma pessoa querida, um líder consentido dentro da sala de aula, tudo se transforma em maravilha, pois o aluno passa a fazer coisas que até desconhece, surpreendentes. Quando o aluno passa a gostar do professor, ai ele se interessa pela matéria, pela disciplina.

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