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Experiência de Firmo Rodrigues em escola particular de São Gonçalo

A primeira experiência escolar de Firmo teve como cenário, uma escola primária particular da Freguesia de São Gonçalo. Rodrigues (1959, p. 7), recordando que, aos 7 anos de idade ingressou na escolar particular do mestre Manuel Leopoldino do Nascimento. Essas aulas, provavelmente, ocorreriam na residência do professor, pois, conforme os relatórios da Diretoria Geral da Instrução Pública, datados de 1874 e 1880, os três únicos prédios do governo, que funcionavam com escolas na capital, situavam-se na Freguesia da Sé.

O estudo de Xavier (2007) indica que o espaço escolar nas freguesias da Província, independentes de serem públicos ou particulares, eram constituídos de apenas um ou mais cômodos, realizando-se nas residências dos professores, uma vez que o governo de Mato

Grosso não dispunha de edifícios públicos para servir de escola primária. No caso da Freguesia de São Gonçalo, nem mesmo a Escola de Aprendizes Artífices funcionava em próprio provincial, mas sim no interior do Arsenal de Guerra.

O ingresso de Firmo Rodrigues no ensino elementar particular, possivelmente ocorreu no ano de 1878 ou 1879, uma vez que o memorialista nasceu em 1º de junho de 1871 e as legislação educacional da época especificava o período letivo para os estabelecimentos de instrução pública. Conforme os regulamentos de 1873114 e 1878115, o ano letivo escolar de instrução primária deveria começar no mês de janeiro de cada ano e terminando em dezembro. Já o ensino particular e o privado ou doméstico eram livres a quem o quisesse exercer, devendo se sujeitar, apenas, à fiscalização do governo, quanto à higiene, à moral e à estatística. Tais disposições põem em dúvida se as escolas particulares eram obrigadas ou não a seguir o mesmo período letivo dos estabelecimentos públicos, o que impossibilitou precisar o ano em que ele iniciou o ensino primário.

Conforme o relatório da Diretoria Geral da Instrução Pública, de 1878, na Província havia 28 cadeiras públicas de instrução primária, sendo 22 do sexo masculino e 6 do sexo feminino. Dessas 28 aulas públicas, 25 estiveram em exercício em 1877, sendo 20 do sexo masculino e 5 do sexo feminino; das 3 que ficaram vagas, 2 eram para meninos e 1 para meninas. Das 22 aulas do sexo masculino distribuídas em toda a Província, 3 estavam localizadas na Freguesia de São Gonçalo. Das 5 aulas do sexo feminino, 1 estava instalada na em São Gonçalo. Por esse relatório é possível dizer que, no ano de 1877, havia 4 escolas públicas no 2º Distrito, sendo 3 masculinas e 1 feminina. Ainda, de acordo como o relatório da Diretoria Geral da Instrução Pública de 1878, pelos poucos mapas de instrução primária particular remetidos à referida repartição, consta o funcionamento de 5 escolas dessa natureza, sendo 1na Freguesia de São Gonçalo.

No relatório apresentado pelo Presidente da Província, João José Pedrosa, em outubro de 1879, ele afirma que quando assumiu a administração de Mato Grosso, em 1878, havia 28 escolas criadas, sendo 22 do sexo masculino e 6 do feminino. Segundo ele, mais 21 escolas públicas foram criadas em sua administração, totalizando 49 aulas públicas, das quais 44 estavam providas, sendo do sexo masculino 27 e 17do feminino. Nesse relatório, Pedrosa preocupou-se apenas em enfatizar que além das escolas públicas citadas por ele, existiam

114 De acordo com o art. 25º “As escolas funcionarão de 20 de janeiro a 7 de dezembro, a exceção dos domingos, dias santos, e festas de Páscoas, começando estas do domingo de Ramos até o de Páscoa e feriados estabelecidos em lei”.

115Segundo o artigo 127º o “ano letivo nas escolas de instrução primária começará a 7 de janeiro de cada ano e terminará a 7 de dezembro.

105 também mais 21 particulares, sendo 16 do sexo masculino, 2 do feminino 2, e 3 mistas. Contudo, não especificou a distribuição escolas públicas e particulares por freguesia.

O Relatório da Diretoria Geral da Instrução Pública, de 17 de agosto de 1880, indica a existência de 48 escolas públicas primárias, sendo 28 do sexo masculino e 20 do feminino. Dessas, 35 achavam-se funcionando, sendo 25 do sexo masculino e 10 do feminino. Dentre as escolas em funcionamento, 7 situavam na Freguesia de São Gonçalo, sendo 5 do sexo masculino, 2 do feminino, estando 1 aberta e outra fechada. Em relação às escolas particulares, as autoridades da época só tiveram conhecimento da existência de 15, a saber: 12 do sexo masculino e 3 do feminino.

Nota-se, pelos relatórios de 1878, 1879 e 1880, que houve um significativo acréscimo no número de escolas públicas e particulares nesse período. Ademais, é possível observar que as escolas particulares foram ganhando espaço no âmbito do sistema educacional, sendo mais uma forma de alcance ao ensino de primeiras letras.

Nesse breve levantamento das escolas existentes na Freguesia de São Gonçalo nos anos de 1878 e 1879, correspondentes aos prováveis períodos de ingresso de Firmo Rodrigues no ensino elementar, é curioso que sua família tenha escolhido uma escola particular, que dependia de pagamento, ao invés de escolas públicas da Freguesia.

Cabe ressaltar que, a inserção da criança, aos 7 anos de idade, numa escola particular indicou o investimento familiar na escolarização, numa comunidade que poucos indivíduos, em idade escolar conseguiam sequer aprender a ler e escreve, e muito menos podiam frequentar a escola.

O Censo de 1872 também apresenta dados da população em idade escolar, de 6 a 15 anos de idade. Conforme essa estatística, dos 580 indivíduos em idade escolar de São Gonçalo, apenas 11 frequentavam a escola, enquanto 569 não tinham acesso à instituição. Esses números revelam que menos de 2% da população de 6 a 15 anos estava matriculada em escolas de primeiras letras. Quanto à relação com a escola por sexo, o Censo de 1872 indica que, dos 11 alunos que frequentavam escola, 8 eram do sexo masculino e 3 do feminino. Já no

quesito “não frequenta escola” dos 569 sujeitos apresentados, 214 eram do sexo masculino e

355 do feminino.

Esses números censitários, apesar de apontar para um crescimento na oferta de instrução elementar, em Mato Grosso, no final do século do XIX, também indicam um número reduzido de pessoas teve possibilidades de acesso à cultura letrada, como a família Rodrigues.

O menino Firmo Rodrigues estudou um ano na escola particular do mestre Manuel Leopoldino do Nascimento. Entre os conteúdos ministrados nessa escola, no primeiro ano, lembra que foi ali que ele aprendeu o ABC116.

Os mapas escolares dos professores que atuaram na Província de Mato Grosso, de 1837 a 1888 analisados por Xavier (2007, p. 114), indicam que o aprendizado da leitura e da escrita nas escolas era iniciado com Cartas do ABC, seguido das sílabas, da carta de nomes e de textos impressos e manuscritos.

Além do ABC, Firmo Rodrigues também se recorda que, no seu primeiro ano de escolarização primária, ele gostou muito de estudar na escola particular do mestre Manoel

Leopoldo do Nascimento, “[...] porque, sendo reduzido o número de alunos, nos intervalos de estudo, ia brincar com uma menina, irmã do professor”. (RODRIGUES, 1959, p. 9).

Ao se referir ao número reduzido de alunos da escola particular, possivelmente, o autor teve por base, a exigência legal quanto ao número de alunos das escolas públicas e pela sua própria vivência em ambos os espaços escolares.

Conforme o Regulamento de 1878:

Artigo 175º - Serão encerradas as cadeiras de ensino público primário, que não contarem durante um ano, na capital, 30 alunos freqüentes, e nas outras localidades 15.

Artigo 176º - As escolas, que forem fechadas pelos motivos indicados no artigo antecedente, poderão ser novamente instaladas, se na Inspetoria Paroquial respectiva se inscrever número legal de alunos, a saber: na Capital, 40 nas freguesias e povoados 20 (apud SÁ; SIQUEIRA, 2000, p. 142).

Nesse regulamento é possível notar o número mínino de 30 alunos para as escolas públicas. Já em relação ao ensino particular, a legislação não estabeleceu número mínimo de alunos. Sendo assim, as aulas particulares poderiam ser providas por um grupo menor de 10 crianças.

Ao que parece, o professor Manoel Leopoldino do Nascimento não enviava, à Diretoria Geral da Instrução Pública, os mapas de matrícula de sua escola, uma vez que a presente pesquisa não localizou nos relatórios da Presidente de Província e Inspetoria de Ensino, sequer um registro do referido docente. Possivelmente, o mestre da escola particular frequentada por Firmo deixou de residir na Capital, pois o nome do mesmo não foi identificado nos quadros da população urbana de Cuiabá, no Censo de 1890.

116

107 Acredita-se que Firmo enfatizou o reduzido de alunos da escola particular, com base em suas subsequentes experiências em escolas públicas da Capital, nas quais o número de alunos era maior que o das escolas particulares.