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4. ALTERNATIVA PARA A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

4.2. Experiência internacional de privatização dos presídios

A ideia contemporânea de privatização das prisões surgiu em meio a um sistema penitenciário falido, em que a pena de prisão se encontra em franco declínio, marcada pelo flagrante desrespeito aos direitos humanos, inviabilizando por completo a ressocialização do indivíduo.

Atualmente existem cerca de 200 presídios privados no mundo, sendo a metade deles nos Estados Unidos. Esse modelo penitenciário atende 7% dos condenados naquele. Em meados do século XIX, algumas cidades norte-americanas, como Nova Iorque, entregaram a gestão de estabelecimentos penitenciários a empresas privadas, a exemplo das prisões de Auburn e Sing-Sing. Porém, a experiência restou fracassada diante das várias denúncias de maus-tratos e abusos físicos cometidos contra os reclusos. (MILARÉ, 2014).

Outro fator que contribuiu para o fracasso dessa empreitada foi a utilização de mão-de-obra gratuita dos presos pelos empresários gestores das prisões, propiciando-lhes menor custo na produção e, consequentemente, colocando os demais concorrentes numa posição de evidente desvantagem, o que gerou grandes protestos.

No século XX, alguns fatores foram decisivos para que a ideia de privatizar fosse retomada pelos Estados Unidos: a ideologia do mercado livre, o aumento exacerbado do número de prisioneiros, o aumento dos custos da prisão. Há bem pouco tempo, o preso passou a ser visto como sujeito de direitos, deixando de ser considerado mero objeto da execução penal, devendo, portanto, ser-lhe assegurado o respeito à dignidade por meio de um tratamento humano e justo, possuindo a pena um caráter inquestionavelmente ressocializador. (MILARÉ, 2014).

Diante da comprovada incapacidade do Estado para administrar o sistema prisional, assegurando aos presos os direitos humanos fundamentais, e em face da total impossibilidade de propiciar meios para que a pena cumpra os objetivos de retribuição, prevenção e ressocialização, têm sido realizadas algumas experiências quanto à forma de gerenciamento prisional. É nesse contexto que vem ganhando espaço o discurso em favor da privatização ou, para alguns, da terceirização do sistema prisional, inicialmente levado a efeito pelos Estados

Unidos da América.

A prisão de Saint Mary, localizada numa área rural do Kentucky, é tida como o primeiro estabelecimento prisional privatizado nos Estados Unidos. A empresa U.S. Corrections Corporation administra Saint Mary desde 1986. Não há armas na prisão, e os presos, todos, estão próximos do livramento condicional e foram selecionados para que a empresa pudesse operar sem maiores problemas. (BRANT, 1994).

A privatização de estabelecimentos penitenciários nos EUA inicialmente foi mais bem-sucedida no setor de confinamento secundário e no nível de cadeias locais. Um número crescente de Estados tem contratado à iniciativa privada serviços relacionados às halfway houses, como centros de saúde mental, centros de tratamentos para viciados em drogas, centros de pré-liberação e reentrada no sistema.

No caso das cadeias locais, em tese, teriam de abrigar presos que estivessem aguardando julgamento, porém, diante da superpopulação, já abrigavam presos condenados pela justiça.

Um traço singular do processo de privatização de presídios nos EUA é o estreito vínculo entre as principais empresas privadas envolvidas no programa de privatização e o aparato burocrático público e formal do sistema penitenciário. As empresas mais bem-sucedidas frequentemente mantêm nos quadros dirigentes e ex-autoridades do sistema, além de contar com uma poderosa rede política de influência, notadamente entre os conservadores. (BRITO, 2010).

No final da década de 1980, o sistema carcerário da Inglaterra atingiu um quadro de superpopulação que, somado ao alto custo de manutenção, levou o país a adotar um modelo de sistema prisional privado. A escassez do número de vagas nos presídios foi um dos vários problemas enfrentados pela Inglaterra e País de Gales e foi resolvido com a privatização. O governo inglês assinou contratos com consórcios de empresas privadas para a construção de nove penitenciárias. Atualmente, dos 138 presídios existentes na Inglaterra, nove são estabelecimentos privados. (VELOSO, 2016).

As empresas que assinaram contratos com o governo inglês construíram as penitenciárias e tiveram como contrapartida financeira o recebimento de valores do governo por um prazo de 25 anos. Os presídios privatizados estão sendo construídos desde 1992 e as empresas são responsáveis por todos os setores, exceto, transporte de presos para audiência ou julgamentos, executado por uma empresa privada de segurança, que não é a mesma que gerencia o estabelecimento prisional. Não há guaritas nem cercas elétricas e os guardas

trabalham desarmados. Em 1999 e 2000, não houve fugas ou resgates no sistema de regime fechado. (VELOSO, 2016).

Os presídios são monitorados por câmeras de TV móveis na parte interna e externa. Nas penitenciárias, entre o alambrado e a muralha, existe no chão um sistema de alarme com fibras ópticas que impede o preso de cavar túneis. Cada cela abriga, na maioria dos presídios, dois detentos. O preso primário jamais fica na mesma cela que o reincidente. Mais de 15.000 condenados de uma população carcerária de 65.000 cumprem penas alternativas fiscalizadas, orientadas e supervisionadas por comissões. Além de aparelhos de segurança como os detectores de metais, a revista pessoal é feita em todas as autoridades, inclusive, nos advogados, sendo que, no Reino Unido, apenas a família real está isenta da revista ao entrar no presídio. (BRITO, 2010).

A adoção britânica da privatização de penitenciária difere do modelo norte-americano por centralizar o poder nas mãos do Estado e ainda ser financiada com dinheiro arrecadado por meio de impostos ou de empréstimos ao mercado, contrariamente ao que ocorre nos Estados Unidos, onde as receitas para construção de prisões são financiadas com títulos públicos que necessitam de aprovação legislativa para ser emitidos e são limitados a determinado valor.

Na França, a ideia da privatização dos presídios também surgiu por causa da crise em que vivia o sistema. Havia superlotação, que conduzia ao questionamento não só da política penitenciária seguida ou a se seguir, porém, mais genericamente, sobre a política criminal adotada. No sistema de privatização francês há uma dupla gestão, incumbindo ao Estado e também ao grupo privado o gerenciamento e a administração conjunta do estabelecimento prisional.

Ao Estado incumbe a indicação do diretor-geral do estabelecimento e a responsabilidade pela segurança interna e externa da prisão, bem como, a relação com o juízo da execução penal; enquanto à empresa privada compete fornecer e gerir o trabalho, educação, transporte, alimentação, lazer, assistência social, jurídica, espiritual e saúde física e mental do preso, e recebe um valor, pago pelo Estado, para cada preso. No modelo, portanto, todos os serviços penitenciários podem ser privatizados, com exceção da direção, da secretaria e da segurança. O modelo francês, portanto, adota o sistema misto, no qual poder público e iniciativa privada se unem para propiciar aos detentos melhores condições de reintegração na sociedade, bem como o respeito aos direitos previstos em lei.