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4. ALTERNATIVA PARA A CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

4.4. Moldes de uma proposta de privatização para o brasil

Os princípios ambientais específicos possuem grande relevância social, pois trazem consigo valores sociais e, pelo fato de serem vinculantes, propiciam a conscientização da sociedade e, consequentemente, a preservação do meio ambiente prisional. No que tange à

relevância científica, esses valores contribuem ainda para a privatização moderna e eficaz, na medida em que atribuem ideias, fundamentos e diretrizes a serem seguidas, sendo, portanto, indispensáveis para a gestão de excelência do setor privado.

Observe a relação entre a aplicação das regras jurídicas ambientais e as diretrizes normativas decorrentes dos princípios e a análise dos fundamentos dos princípios ambientais que buscam a conscientização da sociedade acerca da importância de manter o meio ambiente prisional preservado. Tais objetivos serão alcançados através da aplicação da técnica dogmática jurídica, intimamente ligada à interpretação, construção e sistematização dos preceitos e institutos do ordenamento jurídico.

A ideia nestas linhas é de uma proposta oriunda de reflexões sobre as modernas e recentes experiências, que, nesse sentido, vêm sendo colocadas em prática em estabelecimentos prisionais dos EUA, França, Inglaterra e Austrália. Tem o objetivo de reduzir os encargos e gastos públicos, introduzir no sistema penitenciário um modelo administrativo de gestão moderna, atender ao preceito constitucional de respeito à integridade física e moral do preso e aliviar, enfim, a dramática situação de superpovoamento do conjunto penitenciário nacional. (VELOSO, 2016).

Tal proposta prevê a criação de um Sistema Penitenciário Federal, ao qual caberia a responsabilidade pelo cumprimento da pena privativa de liberdade em regime fechado (estabelecimento de segurança máxima), permanecendo com os Estados a responsabilidade pelo cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semiaberto e aberto. A admissão das empresas seria feita por concorrência pública e os direitos e obrigações das partes seriam regulados por contrato. (BEZERRA, 1990). O setor privado passaria a prover serviços penitenciários, tais como alimentação, saúde, trabalho e educação aos detentos, além de poder construir e administrar os estabelecimentos.

A administração se faria em sistema de gestão mista, ficando a supervisão geral dos estabelecimentos com o setor público, cuja atribuição básica seria supervisionar o efetivo cumprimento dos termos fixados em contrato.

Destarte, em relação à fonte de recursos, o estado arcaria com um percentual mínimo para a manutenção do sistema e receberia, ainda, recursos advindos do trabalho dos próprios condenados, da colaboração das suas famílias e da comunidade (...). Com a medida, espera-se iniciada a solução de um dos mais delicados problemas da sociedade, qual seja a situação prisional do país, de forma a assegurar tranquilidade à comunidade com a efetiva aplicação da pena aos criminosos, sem, contudo, deixá-los à mercê da desumanidade que hoje é encontrada

no interior das prisões.

Diante da situação atual de intensa criminalidade e da superlotação carcerária, dos custos do encarceramento, bem como dos efeitos nefastos da pena de prisão e da corrupção, que corrói o aparelho estatal, faz-se imperiosa a criação de novas possibilidades de cumprimento das penas, além da penitenciária. Considera-se que a pura e simples adoção de medidas repressivas e de encarceramento têm se mostrado insuficiente para lidar com o fenômeno da criminalidade.

Em virtude desse quadro, o chamado monitoramento eletrônico tem surgido como uma interessante alternativa ao encarceramento em diversos países do mundo. É dizer, o monitoramento eletrônico é uma alternativa tecnológica à prisão utilizada na fase de execução da pena, bem assim na fase processual e, inclusive, em alguns países, na fase pré -processual. A decisão de recorrer ao monitoramento eletrônico pode ser naturalmente tomada neste momento de crise. Neste diapasão, o monitoramento eletrônico de presos surge como um avanço e uma alternativa às prisões, uma vez que as condições conferidas pela solução tecnológica são capazes de potencializar a reintegração social do apenado, afastando o preso das nefastas consequências do encarceramento, além do baixo custo econômico, preservando valores de direito ambiental no cumprimento da pena.

Não há dúvida que os riscos (reais, iminentes e de toda sorte) que a pessoa corre ingressando nas cadeias prematuramente são infinitamente maiores aos que correria estando solta sob vigilância eletrônica. Assim, qualquer solução, que venha a rechaçar o encarceramento ou a proporcionar a extração do sistema para reintegração à sociedade deverá ser acolhida.

Não se pode negar que os benefícios de um cumprimento de pena monitorado fora do cárcere são infinitamente superiores aos prejuízos causados no agente que se vê ob rigado a cumprir sua pena intramuros.

Todavia, nota-se que, da maneira como a lei federal normatizou, o ordenamento brasileiro acolheu a monitoração eletrônica de condenados apenas excepcionalmente, em hipóteses restritas. Em lugar de buscar o desafogamento das penitenciárias e a solução da ineficácia do regime aberto, a medida mostra-se somente como auxiliar na fiscalização da saída temporária e da prisão domiciliar.

A colocação de dispositivos para o rastreamento representará desse modo, um “plus” no controle dos condenados, e não uma alternativa à privação de liberdade tendente a reduzir a superpopulação prisional. Em nenhum momento o monitoramento eletrônico se

apresenta como alternativa à prisão e sim como um acréscimo na privação ou restrição à liberdade.

Nesses casos, pode-se até vislumbrar alguma utilidade no uso do equipamento, já que essencialmente permite a localização do condenado. Ou seja, a utilização do monitoramento eletrônico atingirá, na maior parte, os infratores que já se encontram fora dos estabelecimentos prisionais. É dizer que a grande maioria dos condenados não terá, assim, oportunidade de evitar o encarceramento por meio da utilização da pulseira eletrônica. Por isso, talvez o próximo passo, seria implantar como regra o monitoramento para casos de prisões processuais, que poderiam ser substituídas por essa medida que não encarcera.

Outro ponto que se percebe, é que os beneficiários imediatos da imposição do monitoramento são os fabricantes e comerciantes destes dispositivos de controle. Tal atividade deve ser altamente rentável, a contar pelo investimento que está sendo feito com a divulgação na mídia sobre suas supostas vantagens. O monitoramento eletrônico representa um mercado (de segurança privada) em expansão, baseado na privatização (terceirização) da justiça penal (e controle de infratores), que outorga uma visão muito mais difusa do futuro em relação à regulamentação e ao controle social.

O controle privado do crime constitui-se num negócio internacional e, ao lado de outras “tecnopunições”, tem se tornado parte de um complexo comércio punitivo – mercado comercial de tecnopunições. Ainda, representa uma potencial visão de futuro do controle social além da prisão e através da vigilância. Tecnologias estão sendo usadas agora para monitorar o paradeiro de pessoas que já cumpriram suas penas. A vigilância perpétua de condenados por meio do monitoramento, após a liberação da prisão, representa a proliferação do uso programas alternativos e a expansão inteligente do sistema de controle social.

É certo que qualquer inovação traz receio e ansiedade, e, normalmente, nasce em meio a desconfianças e temores. Todavia, o monitoramento eletrônico deve ser entendido não como panacéia para todos os males do sistema penal, não possui o condão de, persi, reverter o quadro atual. Porém, apesar de prima facie parecer “perfumaria”, merece ter, assim como em outros países de tradição garantista, uma chance em nosso ordenamento, pois, trata-se, de medida inovadora que busca minorar os malefícios do sistema penitenciário que não preserva valores ambientais nem a dignidade do homem.

Se a medida será positiva ou negativa, só o tempo dirá. Mas a melhor reforma do direito penal seria a de substituí-lo, não por um direito penal melhor, mas por qualquer coisa melhor que o direito penal e, simultaneamente, mais inteligente e mais humano que ele, isto é, o monitoramento apresenta-se como uma alternativa. Melhor seria se inexistisse o controle, mas, diante da amarga necessidade, é o monitoramento algo melhor que o encarceramento e a pena de prisão (uma amarga necessidade em uma sociedade de seres imperfeitos).

Portanto, melhor seria que o Estado passasse a observar a CF/88 e a LEP em todas as suas dimensões, ao passo de implementar políticas criminais à luz do principio da intervenção mínima e construindo políticas econômico-sociais capazes de proporcionar à população condições dignas de vida (englobando aqui os direitos a saúde, à educação, ao emprego, ao lazer, em suma, todos aqueles relacionados à dignidade da pessoa humana). Porém, enquanto esta condição não imperar no país, há que se buscar medidas para minimizar a realidade que nos aflige.

Por fim, deve-se ponderar – a luz do princípio da razoabilidade, os pós e os contras do monitoramento eletrônico, onde um deverá prevalecer em face do outro. Além de que, optar pelo uso da “pulseira”, “bracelete”, “apetrecho”, “adorno”, “penduricalho”, “tornozeleira eletrônica” – o nome pouco importa – é uma decisão pessoal de cada infrator. Não há por que proibir de usá-la a alguém que prefira o cárcere às suas expensas e em seu endereço residencial, talvez esta seja a via de ressocialização mais eficaz do condenado.