• Nenhum resultado encontrado

EXPERIÊNCIA NEOLIBERAL

No documento Theo Darlington Mano de Oliveira (páginas 37-40)

CAPITULO II – DA RIGIDEZ DO TAYLORISMO-FORDISMO À

2.2 EXPERIÊNCIA NEOLIBERAL

Em 1939, economistas e políticos que se autoproclamaram neoliberais se reuniram na França para um debate que ficou conhecido como Encontro de Paris.

Participaram do evento vários expoentes dessa corrente de pensamento econômico, entre os quais se destacam Louis Rougier, Friedrich von Hayek, Wilhelm Röpke, Alexander

Rustöw e Raymond Aron, com o propósito de repensar o papel do Estado passados 10 anos da

grande depressão de 1929. Era imperativo discutir o liberalismo clássico, como um modelo permeado de crises que conduziam ao socialismo, o keynesianismo que aumentava os gastos sociais e retirava a liberdade econômica aumentando a presença reguladora do Estado sobre a economia e, a partir dessas experiências passadas, propor uma nova versão do liberalismo, denominada por eles como neoliberalismo.

Enquanto o liberalismo clássico, com sua política do laissez-faire, não se opunha à formação de monopólios, mantinha práticas de proteção a alguns setores em detrimento de outros e admitia a interferência estatal para corrigir problemas como o desemprego, os neoliberais sustentavam que as intervenções do Estado eram inaceitáveis, a não ser para demolir barreiras alfandegárias, tributárias e fiscais preexistentes, proteger o mercado das atividades monopolistas e garantir a livre concorrência.

Por sua vez, o keynesianismo, que de fato era uma corrente de pensamento econômico e não de pensamento político, tinha duas funções principais: exercer forte atuação do Estado no cumprimento do seu papel de indutor do desenvolvimento econômico, e simultaneamente atuar

como criador e mantenedor de políticas sociais abrangentes, para isso, tributando fortemente a atividade econômica com a qual competia como forma de regulação.

Essas discussões esbarraram na Segunda Guerra Mundial, no subsequente período de reconstrução do velho continente e o período da Guerra Fria, que opunha o mundo capitalista, capitaneado pelos Estados Unidos, aos países da Cortina de Ferro, liderados por Moscou até a queda do muro de Berlim.

Nesse período, o socialismo que ameaçava se expandir para a Europa e colocava em risco o capitalismo principalmente na Itália, Espanha e, de certo modo, na França, requeria a manutenção de políticas de bem-estar social em praticamente todo o continente, o que acabou por retardar a adoção do modelo neoliberal.

Em 1970, a ditadura de Pinochet no Chile resgata muitas das propostas discutidas no Encontro de Paris de 1939 e, sob a truculência do um regime militar e com apoio irrestrito dos Estados Unidos, promove o desmonte gradual do Estado e a adoção do receituário neoliberal, que produziu temporariamente um certo avanço econômico, difundido mundialmente como o milagre chileno.

No entanto, foi com Margareth Thatcher, na Inglaterra, em 1980, que se abriram para o mundo as reais perspectivas de adoção das ideias neoliberais.

Entre suas principais premissas, o neoliberalismo se empenhou no desmonte do Estado, suprimindo-o das estruturas de proteção social, privatizando tudo que representasse custos, suspendeu bolsões protegidos da economia, impôs políticas de não intervenção do Estado na atividade econômica, mantendo-as apenas como instrumentos de proteção, amparo e cuidados para com os mercados. Esses cuidados implicavam basicamente na implantação de políticas de vigilância sobre os mercados, com vistas a evitar a formação dos monopólios, que julgam ter sido um calcanhar de Aquiles do liberalismo clássico.

Na pauta neoliberal, apareciam três grandes desafios: Como evitar bolsões monopolistas? Como pensar a atividade econômica retirando proteções e incentivando as leis do mercado como responsáveis pela sua própria regulação? Como realizar a mudança do Estado, até então, com papel interventor e protetor social, para um Estado neoliberal terapeuta (DUNKER, 2014), numa alusão ao psicanalista terapeuta que observa sem intervir?

O Estado neoliberal, com sua “prática terapeuta” de não intervenção e com sua pregação minimalista de custos, tem como premissa estimular ações para que o próprio sistema produtivo, o “paciente”, reduza aquilo que ele mesmo reconhece como excesso em sua vida, queime gordura, reduza prazeres e desapegue daquilo que não é fundamental para a vida

econômica, se torne mais leve, enxuto e ágil. Todos esses predicados têm a conotação e o simbolismo do moderno, do eficiente, atual e, portanto, do imprescindível, indispensável, urgente e essencial para a sobrevivência e sobretudo para a vitória final.

Para enfrentar as questões relacionadas aos monopólios concentradores de renda, capital e lucro, o neoliberalismo propõe a abertura antimonopólio, através de quebras das barreiras jurídicas, políticas, fiscais e econômicas, que estejam impedindo o livre comércio e a livre circulação de mercadorias. Somado a isso, conceder ampla flexibilidade nas relações de trabalho derrubando as proteções legais e incentivar amplamente o empreendedorismo individual, o aumento da produtividade e a redução de custos fixos e variáveis no processo produtivo.

Na prática, porém, o que se estabelece é uma concorrência artificial, na qual os monopólios se confundem com grandes conglomerados transnacionais e as barreiras fiscais e alfandegárias não são desmanteladas em todos os setores da economia.

Em geral, as aberturas de mercado e as quebras de barreiras são exigências e motivos de sansões sobre os países periféricos, mas quase sempre ignoradas e justificadas para os países centrais que, assim, mantêm seus mercados protegidos da concorrência externa dos países mais pobres.

Curiosamente, reduzir custos nem sempre é suficiente para aumentar a competitividade. No mercado em que todos concorrem, cada qual com as suas armas e estratégias, pode ser necessária uma redução dos lucros como estratégia de competitividade. Segundo a prescrição neoliberal, ser ganancioso é uma velha característica aceitável no liberalismo clássico, mas um ranço do passado que deve ser abandonado nos novos tempos.

No neoliberalismo, o que está em questão é a competitividade. E, para ser competitivo, qualquer sacrifício é válido, até mesmo suportar lucros menores, embora efetivos, como mecanismo para gerar excedentes. A verdadeira acumulação poderá se realizar em um segundo momento, através do investimento no mercado financeiro.

Para o setor produtivo, a receita neoliberal é uma redução radicalizada e sem limites de custos. Ao setor financeiro, cabe usar formas de incentivo e incremento da oferta de crédito destinado ao empreendedorismo, com o propósito de fomentar a criação de mais e mais indivíduos empresários de si.

No documento Theo Darlington Mano de Oliveira (páginas 37-40)