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5.1 Pesquisa na base de dados da Scielo

5.1.1 Base Scielo – experiências intersetoriais com participação do MPT

5.1.1.1 Experiência de vigilância no setor canavieiro: desafios para interromper a “maratona”

em prol das condições de vida e de saúde dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro (MINAYO-GOMEZ, 2011)

Na pesquisa, identificamos o artigo Experiência de vigilância no setor canavieiro: desafios para interromper a “maratona” perigosa dos canaviais, em que os autores foram também atores das ações de ST do trabalhador canavieiro no estado de São Paulo, nos anos de 2006 a 2009. Eles investigaram as denúncias de morte por exaustão e agravos à saúde decorrentes do processo produtivo, bem como as condições de moradia e alojamentos, visto que, até aquele momento, os alojamentos não haviam sido abordados como de interesse da saúde. A ação intersetorial envolveu articulação do poder legislativo municipal de Piracicaba com setores da sociedade civil, órgãos de vigilância sanitária, o Cerest, o MTE, sindicatos de trabalhadores, comissões de direitos humanos e a Pastoral do Migrante, com a criação de um Fórum de Cidadania, Justiça e Cultura da Paz.

No artigo Produção de conhecimento e intersetorialidade em prol das condições de vida e de saúde dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro, Minayo-Gomez (2011) trata do mesmo caso, mas sob a perspectiva da Fiocruz, que se envolveu na capacitação.

Especialmente da leitura do primeiro artigo, extraímos que as ações interinstitucionais deram origem a diversas e importantes práticas e regulamentações sobre o setor, que foram replicadas para outras regiões. A articulação com o MPT, cuja participação em ações intersetoriais na saúde do trabalhador é objeto desse trabalho, teve sua importância ressaltada, pois, após a definição das medidas a serem adotadas, ele passou a monitorar e cobrar das empresas e dos órgãos públicos a execução delas.

Resgatam Vilela et al. (2014, p. 4-5) que a “atuação de vigilância no âmbito regional foi ampliada por meio de assinatura, em março de 2008, de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) entre o MPT e 28 Municípios da região”, e que “o TAC foi construído de modo participativo, estabelecendo fluxo de atuação dos órgãos municipais om prazos e obrigações”. Além disso, o MPT cooperou na elaboração de um checklist que possibilitou a padronização das inspeções e, ainda, criou uma plataforma em seu próprio site para divulgar os relatórios de inspeção, tornando pública a realidade dos trabalhadores canavieiros.

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É importante ressaltar aqui uma das conclusões de Vilela et al. (2014, p. 7): a assinatura do TAC “conferiu aos agentes de Visa [Vigilância Sanitária] maior autonomia e poder de ação especialmente importante, tendo em vista o poder político do setor econômico que frequentemente tenta inibir as ações locais das Visas”. Ademais, “este ‘empoderamento’ pode explicar a adesão e participação ativa dos profissionais das Visas na redação e discussão dos itens constantes do TAC, bem como das ações executadas em seu cumprimento”. Portanto, na presente iniciativa, extrai-se dos relatos que a intervenção do MP foi de vital importância, por ter passado a monitorar as empresas e os próprios órgãos públicos, bem como por ter se valido de instrumentos próprios de sua atuação, como a realização de audiências públicas, celebração de TACs e ajuizamento de ACPs.

Chamou-nos a atenção a informação de que o TAC delimitou as obrigações atinentes a cada um dos órgãos envolvidos e que foi construído com o auxílio dos demais atores, sendo, portanto, o resultado da ação intersetorial. Também se extrai a constatação de que a intervenção do MPT deu respaldo à atuação dos demais órgãos e instituições envolvidos, fortalecendo as suas ações.

Por sua vez, Minayo-Gomez (2011, p.1) destacou “o importante papel desempenhado por setores do MPT e do Poder Legislativo na articulação de atores institucionais e da sociedade civil, que potencializa uma atuação de maior alcance de cada órgão público responsável [...]”. Ressaltou, ainda, que

determinados procuradores dessa região vêm desempenhando sua função constitucional no acolhimento e no tratamento dado a questões de saúde e de condições de vida dos trabalhadores canavieiros migrantes, enquanto verdadeiros promotores de articulações intersetoriais para formulação das propostas necessárias para enfrentar os principais problemas desse setor, tendo como base os conhecimentos existentes e a utilização dos instrumentos jurídicos. Ao longo destes últimos anos, vem se constatando a contribuição desse Ministério, a partir dos desdobramentos que vem acontecendo no grande número de audiências públicas realizadas, na construção dos vários termos de ajuste de conduta (TAC) firmados com empresas e nas diversas ações civis públicas encaminhadas. (MINAYO- GOMEZ, 2011, p.4, grifo nosso).

Das conclusões de Vilela et al. (2014), extrai-se um desabafo por não se ter, naquele momento, combatido com eficácia a remuneração por produção, identificada como principal fator das mortes por exaustão. Por outro lado, observou-se que houve avanços, como a constatação de que os problemas que afetavam os trabalhadores passaram a fazer efetivamente parte da agenda do SUS; a aproximação de órgãos regionais antes considerados pouco

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acessíveis; a importância das articulações intersetoriais como meio mais efetivo para ampliação da escala de ações em saúde do trabalhador; e a necessidade de ampliação dos debates para alcançar determinantes organizacionais, como a qualidade dos alojamentos e as formas de remuneração por produção e prêmios, que induzem o aumento da carga de trabalho.

Contudo, especificamente quanto ao pagamento por produção, Minayo-Gomez (2011, p. 5) relembra que, “em um dos TAC emitidos, se assegura a todos os trabalhadores uma remuneração diária, no mínimo, equivalente ao piso da categoria por dia de trabalhado”.

Vale o registro de que o MPT ajuizou diversas ACPs contra usinas, principalmente no estado de São Paulo, visando coibir a prática de remuneração por produção no corte manual de cana-de-açúcar. Na ACP nº 0000435-92.2013.5.15.0157, por exemplo, houve resposta favorável do Judiciário, segundo noticiado no site da Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região:

Apesar da queda dos postos de trabalho no corte manual de cana no Estado de São Paulo, o fim do salário por produção é um pedido recorrente nas ações civis públicas movidas pelo Ministério Público do Trabalho contra usinas do interior. Os pedidos dos procuradores têm contado com o respaldo do judiciário, refletindo em decisões favoráveis ao órgão. Para o MPT, o fim dessa forma de remuneração beneficia diretamente os trabalhadores do segmento, especialmente no tocante à saúde e segurança do trabalho, já que isso resultará na redução dos riscos de morte pela exposição ao estresse térmico e, consequente, evitará o desenvolvimento de doenças cardiovasculares e cardiorrespiratórias. (MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, 2017k).

5.1.1.2 Processo de trabalho e condições de trabalho em frigoríficos de aves: relato de uma