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5.1 Pesquisa na base de dados da Scielo

5.1.2 Base Scielo – experiências intersetoriais sem participação do MPT e as possibilidades

5.1.2.1 Reflexões e contribuições para o Plano Integrado de Ações de Vigilância em Saúde do

No artigo Reflexões e contribuições para o Plano Integrado de Ações de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (MS) de Populações Expostas a Agrotóxicos, os autores apresentam as contribuições do Plano de Avaliação e Controle da Exposição Humana e Ambiental a Agrotóxicos no Distrito Federal (Projeto DF/2007-2009), coordenado pela Fiocruz, para o Plano Integrado de Ações de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a

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Agrotóxicos do MS, iniciado em 2008, cujo foco foi relatar a experiência intersetorial do Projeto do DF, extraindo as possíveis contribuições para o Plano Nacional do MS.

O Projeto DF foi coordenado por pesquisadores da Fiocruz, mas contou com a participação de integrantes de diversas outras instituições do Distrito Federal e do MS, sendo eles representantes das áreas de Vigilância em Saúde Ambiental, da Vigilância Sanitária, da Diretoria de Saúde do Trabalhador (Disat), do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciat), do Instituto Brasília Ambiental, da Secretaria de Agricultura, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-DF), da Universidade Nacional de Brasília (UnB), do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal (Ibram- DF), da Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental (CGVAM) e da Coordenação de Saúde do Trabalhador (Cosat) do MS.

Foram relatados grandes avanços proporcionados pelo Projeto DF, tanto em relação a construções intra e intersetoriais, como na área de atenção à saúde para vigilância das populações expostas a agrotóxicos no Distrito Federal. Como exemplo, identificamos diversas ações diretamente relacionadas à saúde do trabalhador exposto ao agrotóxico, como a implementação das ações da (Cist), a reestruturação da DISAT e a organização de uma unidade de atenção em saúde do trabalhador, que

tem o propósito de oferecer assistência aos trabalhadores vítimas de agravos relacionados ao trabalho. [...] Na sua estrutura, encontram-se os ambulatórios de Clínica Médica, Endocrinologia, Ginecologia, Pediatria, Toxicologia ocupacional, Assistência Social, Odontologia, Fisioterapia, Psicologia, Nutrição, Acupuntura, Homeopatia e Enfermagem. (SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO DISTRITO FEDERAL, 2016).

Além disso, houve um movimento no sentido de promover ações de sensibilização e capacitação de profissionais, em específico das equipes de saúde rural (ESF); treinamento em serviço com exemplificação da Equipe de Saúde da Família na Área Rural; organização e realização do curso de Instrutor em Saúde do Trabalhador; inserção das ações na rede de saúde, em todos os níveis da atenção, e formação de facilitadores na rede; e desenvolvimento de ações de apoio à saúde do trabalhador rural e às ações promocionais de educação em saúde com produtores rurais. Portanto, do relato dos participantes obtidos pelos autores do estudo, houve interessante avanço no estabelecimento de uma vigilância e assistência em saúde das

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populações expostas a agrotóxicos integrada à vigilância e assistência em saúde do trabalhador.

Contudo, como não poderia deixar de ser, várias dificuldades e desafios também foram narrados pelos participantes do Projeto DF. Especialmente quanto à ST, foram relatados os seguintes aspectos desfavoráveis à construção das ações de saúde das populações expostas a agrotóxicos:

- existência de servidores com poucos conhecimentos e informações sobre agrotóxicos;

- falta de interesse das empresas em submeter os registros e repassar informações sobre os produtos e o monitoramento e a análise dos produtos utilizados por empresas que eliminam insetos para os Cerests;

- desconhecimento médico e da população sobre a assessoria dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIAT’s) e consequente existência da problemática de subnotificação; despreparo profissional para o diagnóstico;

- desconhecimento médico sobre toxicologia; - falência da toxicovigilância e da fiscalização;

- inexistência de fontes sistematizadas de registro. (MOISÉS et al., 2011, p. 5).

Os autores narraram que o Projeto DF serviu como piloto para o Projeto Nacional do Ministério da Saúde, que passou a contar com participantes do projeto distrital, traçando metas e ações a serem praticadas por cada um dos atores e órgãos envolvidos. Entretanto, não foi mencionada a participação do MPT na formulação do projeto nacional ou em qualquer outro momento dos programas.

Não obstante, em 2013, como já citado anteriormente, no 2º Encontro Nacional do Ministério Público e Movimentos Sociais, do CNMP, um dos dez temas debatidos foi o combate ao uso indiscriminado de agrotóxicos. Os participantes discutiram sobre o que esperar da atuação do MP no tema, considerando todos os seus ramos:

- atuação do MP no sentido de garantir à população o direito à informação e educação a respeito dos impactos dos agrotóxicos e transgênicos;

- exigência do MP em implementar o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO), que integra a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO);

- exigência da implementação do PRONARA (Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos), criado no âmbito da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO);

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- exigência e acompanhamento do MP na execução do PARA (Programa Nacional de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos) e de outros programas semelhantes nos Estados;

- atuação do MP em coibir a pulverização aérea de agrotóxicos;

- atuação do MP para desestimular incentivos fiscais ao uso dos agrotóxicos;

- execução do poder de investigação e responsabilização do MP quanto aos danos à saúde da população, dos trabalhadores e ao ambiente, decorrentes do uso de agrotóxico.

- diálogo dos TACs com os movimentos sociais e especialistas, buscando efetividade e informando a sociedade a respeito de sua execução.

- atuação administrativa e/ou judicial do MP para fins de fortalecimento do setor regulatório e conclusão dos processos de reavaliação dos agrotóxicos.

- Estruturação, qualificação e priorização do MP na atuação dessa temática, de modo a atender as demandas da sociedade.

- acompanhamento do MP nas novas biotecnologias e seus impactos na saúde e no ambiente.

- acompanhamento intensificado do MP nas decisões da CTNBio e suas implicações na saúde, no ambiente e no uso de agrotóxicos, assegurando transparência e publicidade. (CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2014, p. 26).

Os participantes identificaram, ainda, as oportunidades de atuação conjunta do MP com os movimentos sociais no tema, apontando as seguintes ações:

-Realizar fóruns estaduais de combate aos impactos dos agrotóxicos. - Realizar audiências públicas.

- Elaborar dossiês (diagnósticos e recomendações) acerca dos impactos dos agrotóxicos e transgênicos.

- Propor análise conjunta dos estudos a respeito dos impactos decorrentes do uso de agrotóxicos e transgênicos.

- Incluir indicadores dos impactos dos agrotóxicos nos termos de referência dos estudos de impacto ambiental e respectivos relatórios de impacto ambiental.

- Estimular/apoiar a autodeterminação de comunidades/territórios/áreas livres de agrotóxicos e transgênicos.

- Monitorar as novas biotecnologias e seus impactos.

- Realizar encontros, seminários e espaços de formação e capacitação em torno da temática.

- Acompanhar decisões da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), integrante do Ministério da Ciência, Tecnologia, e Inovação, e de suas implicações na saúde, no ambiente e no uso de agrotóxicos. (CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2014, p. 28).

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No 3º Encontro Nacional do MP em 2015, ficaram registrados a necessidade de cobrança imediata da implementação do Programa Nacional de Redução de Uso de Agrotóxicos (Pronara), o fomento à criação de fóruns de combate aos impactos dos agrotóxicos nos estados onde ainda não existem, o fortalecimento dos fóruns já existentes para dar maior efetividade às suas ações e, ainda,

o diálogo com o setor produtivo para buscar a redução do uso de agrotóxicos e o incentivo da produção orgânica e a agroecologia, bem como a adoção de medidas para a retirada das isenções tributárias dos produtos agrotóxicos. Por fim, é preciso cobrar a existência de controles efetivos dos impactos dos agrotóxicos sobre a água bruta, os alimentos, a saúde dos trabalhadores e da sociedade e intensificar a fiscalização sobre a utilização de agrotóxicos banidos em seus países de origem. (CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2016, p. 39).

Aqui vale citar a existência do Fórum Nacional de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, atualmente coordenado pelo MPT, por meio do Procurador Regional do Trabalho Dr. Pedro Serafim. Consoante informação na página nas mídias sociais, o Fórum Nacional é

um instrumento de controle social que congrega entidades da sociedade civil com atuação em âmbito nacional, órgãos de governo, o Ministério Público e representantes do setor acadêmico-científico. Espaço aberto e diversificado de debate de questões relacionadas aos impactos negativos dos agrotóxicos na ST, do consumidor, da população e do ambiente, possibilitando a troca livre de experiências e a articulação em rede da sociedade civil, instituições e Ministério Público. (MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, 2017b)

O Fórum Nacional tem tido protagonismo nessa luta por meio dos seguintes atos, que citamos de forma exemplificativa:

- participação na construção da plataforma on-line #Chegadeagrotoxicos (chegadeagrotoxicos.com.br), para coletar assinaturas para aprovação da Política Nacional de Redução de Agrotóxicos e barrar o Projeto de Lei (PL) 6299/2002, conhecido como “Pacote do Veneno” (CHEGA DE AGROTÓXICOS, 2017);

- participação do 3º Encontro Nacional do MP e dos Movimentos Sociais em 2015, organizado pelo CNMP, como já citado (CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 2016);

- expedição de Nota Pública de Repúdio, em 31 de março de 2015, à atuação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, em descumprimento à

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Política Nacional de Biossegurança no que se refere à aprovação dos organismos geneticamente modificados (OGMs), por constatar-se atuação na defesa de interesses opostos aos que deveria, tanto em sua função regulamentadora, quanto impondo sigilo e restringindo a participação da coletividade e o acesso à informação em processos administrativos de aprovação de OGMs, dentre diversas outras irregularidades patrocinadas pelo CTNBio (CONTRA OS AGROTÓXICOS, 2015); - participação de reunião do Fórum em 2016 para discussão acerca do PL 3200, que

pretende alterar a Lei Federal de Agrotóxicos, provocando o que os integrantes do Fórum consideraram “retrocessos”, como a não participação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) na análise dos processos de entrada de agrotóxicos no país. Ficou deliberado, então, que os Fóruns estaduais deverão promover reuniões e debates com a academia e políticos para tratar da gravidade do PL” (MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ, 2016).

5.1.2.2 A experiência do Observatório de Saúde do Trabalhador (Observatoriost) no Brasil