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2.1 O modelo APAC

2.1.2 Experiências de implementação do modelo no Brasil

Mais do que falar sobre o trabalho das APAC, é preciso visualizar resultados na prática. Por este modo, este item abordará os modelos de aplicação das APACs que deram certo, e que estão aí até hoje mostrando o quanto são importantes para toda a população, seja apenado ou não.

Em Minas Gerais, na cidade de Pouso Alegre, APAC foi instaurada a partir da lei nº 15.299 de 9 de agosto de 2004 que acrescentou o inciso VIII a lei nº 11. 404 de 25 de janeiro de 1994 que rege sobre as normas de execução penal no Estado (CARVALHO, 2015).

De acordo com dados trazidos no artigo acadêmico de João Francisco Sarno Carvalho (2015), a APAC de Pouso Alegre foi fundada no ano de 2003. Entre 2004 e 2007 cooperação auxiliando a polícia civil na casa do albergado. E somente em 2008 iniciou suas atividades como instituição APAC, gerindo por próprias mãos, sem auxílios de policiais ou agentes penitenciários. Nessa unidade existe uma parceria com a Vara de

58 Execuções Penais da Comarca de Pouso Alegre. A Lei Municipal nº 4.262/2004 declara que este estabelecimento é considerado de utilidade pública ao município. (CARVALHO, 2015)

Segundo Carvalho (2015) a APAC de Pouso Alegre conta com ajuda de voluntários e também colaboradores que trabalham desenvolvendo atividades úteis em sua sede, que é denominada de Centro de Reintegração Social (CRS) Dr. Mário Ottoboni, que está localizada em uma propriedade rural às margens da rodovia MG 290.

Essa estrutura abrigava na época do artigo, no ano de 2015, 176 (cento e setenta e seis) recuperandos, sendo 102 (cento e dois) no regime fechado, 53 (cinquenta e três) no regime semi-aberto e 21 (vinte e um) no regime aberto. Visando à formação profissional desses recuperandos são oferecidas diversas oficinas profissionalizantes em diferentes áreas: Sítio Escola (Agricultura), Serralheria, Cozinha, Funilaria e Pintura, Padaria e Confeitaria, Marcenaria e Torrefação de Café. Além de contar com essas oficinas, a instituição também possui uma escola regular, atendimento médico e psicológico e oficina de laborterapia para a elaboração de artesanatos diversos.

Figura I – Sala de Laborterapia, onde é realizado o trabalho de artesanato de mosaicos no Regime Fechado da APAC de Pouso Alegre (MG).

59 Figura II – Vista aérea da unidade da APAC em Pouso Alegre (MG). Fonte:Carvalho, 2015.

Figuras III e IV – Cela da APAC em Pouso Alegre (MG). Fonte: Carvalho, 2015.

A APAC de Pouso Alegre é um retrato da outras espalhadas pelo País. Essas fotos demonstram a qualidade de vida oferecida por esses estabelecimentos, onde o reeducando é tratado como ser humano digno de respeito, e que merece ter um lugar adequado para cumprir sua pena.

Como se pode ver na figura II o espaço da APAC em território é grande, com campo de futebol e diversas áreas de lazer. Pode se perceber que na maior parte não há muros ou cercas. Nota-se nas figuras III e IV o cuidado com o preso, pois ali está retratado um ambiente totalmente diferente das prisões comuns, onde o preso não tem local adequado para dormir, tampouco para fazer as suas necessidades fisiológicas. Essas imagens mostram a boa qualidade dos quartos e o banheiro da cela com paredes.

60 Claro que a APAC não é uma colônia de férias onde é tudo maravilhoso. Existem regras a serem cumpridas e quem as descumpre perde a confiança dos gestores, demorando mais para avançar de regime. O trabalho é utilizado para ocupar o tempo dos detentos, pois tempo sobrando é uma fábrica de pensamentos e nesse caso, pensamentos negativos ou de vingança. Por isso a importância de mantê-los ocupados, dando chances de se profissionalizar, estudarem a fim de que consigam um emprego e uma vida melhor. A APAC salva o preso, a família dele e o restante da sociedade, pois a família ganha um novo parceiro e a sociedade perde um criminoso.

A APAC-PA traz como um dos pilares desse método de ressocialização a Jornada de Libertação com Cristo, que é um dos doze elementos citados anteriormente. Carvalho (2015) conta que em 2014 aconteceu a II Jornada de Libertação com Cristo com o tema “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei” que contou com a participação de noventa recuperandos do sexo masculino, membros da FBAC, Juiz da vara de execução penal da comarca de Pouso Alegre, voluntários e funcionários da associação.

Com o suporte de uma máquina fotográfica e um caderno de campo, realizamos durante os quatro dias de jornada uma observação de natureza antropológica, buscando captar a compreensão da natureza do trabalho da APAC na visão de todos os atores envolvidos com a instituição. Nos acomodamos no alojamento destinado para os recuperandos do regime aberto – aqueles que trabalham fora do estabelecimento prisional e retornam para dormir – lá foram destinados beliches e chuveiro para todos os voluntários que trabalharam na jornada. A Jornada funciona inspirada no Movimento de Cursilhos de Cristandade, da Igreja Católica Apostólica Romana. Consiste em um evento de reflexão espiritual e moral, contudo, para a adaptação na penitenciária, há a inclusão de falas de representantes de outras religiões, de representantes do poder legislativo e de voluntários. Cabe à jornada proporcionar uma reflexão de vida com inspiração religiosa para todos os membros que participam. (CARVALHO, 2012, p. 18-19)

Durante a jornada era possível ouvir a fala dos recuperandos exaltando as APAC, comentando sobre como elas se diferenciam das penitenciárias comuns brasileiras. Mencionaram ainda que as APACs oportunizam maior ressocialização e reintegração, que antes não tinham. O sentimento dos recuperandos é de valorização para o trabalho realizado na associação, mas em nenhum momento percebe-se o caráter público do trabalho de ressocialização (CARVALHO, 2015).

61 Em Minas Gerais tem-se o exemplo da APAC de Nova Lima, pelas palavras de Luiz Claudio de Almeida Teodoro, lá em 2018 possuía cerca de 80 recuperandos, sendo 49 no regime fechado, 27 no regime semi-aberto e no regime aberto 4.

Na APAC de Nova Lima foi iniciado um projeto de reinserção via trabalho que iniciou em agosto de 2018 e estava previsto para o fim de 2019. Nesse programa os recuperandos praticam trabalhos laborterápicos no regime fechado, cuida-se de obra especializada no regime semi-aberto e no aberto o trabalho tem enfoque na reinserção social, pois o recuperando trabalha fora prestando serviços à comunidade. O programa oferece também assistência a família do recuperando e a vítima ou seus familiares, há um número menor de presos juntos, evitando formação de quadrilha ou de facções (TEODORO, 2018).

Para desenvolver o programa a equipe conta com ajuda de professores, alunos bolsistas e voluntários. Segundo Teodoro (2018) o primeiro passo foi reunir-se com a direção da APAC, para pactuar o projeto. Em seguida, realizada reunião com os recuperandos para apresentar ações. Nesse sentido cabe enfatizar que a participação dos detentos é fundamental não só na execução das atividades, mas principalmente na formulação destas. A ideia do programa é construir uma cumplicidade juntamente com uma responsabilidade dividida por todos os participantes.

Segundo dados oficiais contidos no site da ‘Associação de Proteção e Assistência aos Condenados de Porto Alegre/ RS’ – Partenon, desde o ano de 2012, existe um grupo de trabalho no Estado do Rio Grande do Sul que busca divulgar e implementar a metodologia APAC em diferentes municípios. A primeira APAC do RS, foi criada juridicamente em Canoas, mas foi no município de Porto Alegre que a comunidade esteve mais envolvida, criando a pessoas jurídica APAC PORTO ALEGRE/ RS - PARTENON, no ano de 2017 e inaugurando o primeiro Centro de Reinserção Social - CRS da APAC do Rio Grande do Sul, no ano de 2018, que hoje encontra-se em pleno funcionamento(APARTENON, 2020).

Atualmente a APAC possui parcerias com o Poder Executivo, Poder Judiciário, Ministério Público, OAB e demais entidades, que através de um

62 Protocolo de Intenções, assinado no ano de 2017, estabeleceu a cessão de uso e destinou o desativado Albergue Instituto Penal Padre Pio Buck à APAC e também estabeleceu que a viabilização da reforma do prédio, a ser adaptado para trabalhar a metodologia, viriam através dos termos de ajustamento de conduta do MPRS e das penas pecuniárias do TJRS. (PARTENON, 2020, p1)

Ainda de acordo com o site, foi durante o ano de 2018 que um dos prédios do complexo Padre Pio Buck foi reformado para receber em primeiro momento recuperandos do regime fechado. E essa se mantém através de doações e de trabalho voluntário, bem como do valor de manutenção prisional que o Estado do RS repassa a entidade através de um Termo de Fomento.

A Partenon é uma associação sem fins lucrativos, dedicada à recuperação e reintegração social dos condenados a penas privativas de liberdade. É amparada pela Constituição Federal para atuar nos presídios e possui seu Estatuto resguardado pelo Código Civil e pela Lei de Execução Penal.

A APAC opera como entidade auxiliar dos Poderes Judiciário e Executivo e na administração do cumprimento das penas privativas de liberdade nos regimes fechado, semiaberto e aberto, através de seu Centro de Reintegração Social - CRS. O principal objetivo da APAC é promover a humanização das prisões, sem perder de vista a finalidade punitiva da pena, evitando a reincidência no crime e oferecendo alternativas para o condenado se recuperar e retornar a sociedade (PARTENON, 2020).

A APAC de Porto Alegre começou a receber os recuperandos em 24 de dezembro de 2018. Conforme a presidente, Isabel Cristina Oliveira, entrevista ao jornal gaúcha ZH (2018), os presos acordam às 6h e vão dormir às 22h. Logo cedo, arrumam suas celas e fazem um momento de reflexão. Logo após os presos tomam café, depois lavam, guardam e organizam os utensílios e a cozinha. Depois disso, começam as atividades como artesanato por exemplo.

A PARTENON possui uma página na rede social Facebook, onde realiza postagens de suas ações, dos trabalhos dos reeducandos. E em meio a pandemia anunciaram que os recuperandos estavam confeccionando máscaras laváveis como forma de doação a quem precisa. A ação foi e está sendo possível graças a doações

63 realizadas por simpatizantes do projeto pela Associação dos Procuradores do Estado do Rio Grande do Sul, grande parceira da APAC (PARTENON, 2020).

No dia 21 de Novembro o tema das APACs foi abordado do Jornal da Pampa. A Tesoureira da Associação, Elizana Delatorre, falou sobre a aplicação do Método APAC na cidade de Porto Alegre e explicou o funcionamento da casa. Disse que a APAC respeita estritamente a Lei de Execução Penal, e que busca colocar em prática todos os direitos que a lei garante ao preso. O recuperando Perceval fala da sua experiência e da expectativa por uma nova vida, a partir da sua vivência na APAC Porto Alegre. Diz que está ali pagando pelos seus erros cometidos no passado e que irá voltar para sua família como era antes, ressalta que além de não tem armas nem guardas a APAC é sim uma prisão, pois eles têm regras a cumprir, precisam acordar cedo e seguir o determinado pela instituição, cada hora ele tem uma tarefa a cumprir.

Diante desses fatos é possível concluir que a APAC é um método que vem funcionando perfeitamente em todos os lugares onde é estabelecida. As APAC são a salvação para um futuro melhor, com menos criminosos e mais seres humanos reintegrados e disposto a ajudar o próximo.

2.2 Dignidade humana e reinserção social do apenado: a necessária superação