2 CONCEITOS E PRÁTICAS DE TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA
2.3 Experiências de turismo de base comunitária na Amazônia Brasileira
As discussões sobre o TBC se inicia no Brasil a partir de 1997, no primeiro encontro científico denominado I Encontro Nacional de Turismo de Base Local (ENTBL) realizado em São Paulo.
A partir daí, iniciou-se a trajetória do TBC no Brasil e reflexões teóricas acerca das iniciativas, principalmente na Amazônia em contraponto ao turismo convencional.
Segundo Costa (2011, p. 50), o Brasil ganha destaque por ser:
O segundo país a possuir mais experiências no que diz respeito às iniciativas de TBC, com trinta e sete cadastradas na REDTURS, ficando atrás apenas do Equador. Destas, oito está na região Norte do país.
Assim como o Brasil, o Estado do Amazonas em meados de 1990 recebeu o título de “Estado Referência”, possuindo várias experiências de TBC, dentre elas estão:
Quadro 1- Comunidades Tradicionais do Estado do Amazonas com iniciativas de TBC.
12 O mapeamento das comunidades indígenas foi baseado nas informações da Empresa de Turismo do Amazonas (AMAZONASTUR, 2014).
13 Informação obtida da Dissertação de mestrado de OLIVEIRA, F. T. Ecoturismo no rio Puraquequara: alternativa para inclusão social e proteção ambiental. UFAM, 2009.
Comunidades Municípios
Comunidade Tatulândia - Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Tupé. Manaus
Comunidade Julião - Reserva de Desenvolvimento Sustentável Tupé.
Manaus Comunidade Colônia Central - Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Tupé. Manaus
Comunidade Livramento - Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Tupé. Manaus
Comunidade Agrovila - Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Tupé. Manaus
Comunidade Indígena Nova Esperança - Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Tupé12. Manaus
Comunidade Indígena Três Unidos - Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Tupé. Manaus
Comunidade Igarapé da Floresta - Lago do Puraquequara13.
Manaus Comunidade Santa Luzia – Lago do Puraquequara. Manaus
Comunidade São Francisco do Mainã. Manaus
Comunidade Vila da Felicidade. Manaus
Comunidade Tarumã. Manaus
Comunidade São Sebastião do Rio Cuieiras. Iranduba
Comunidade Lago do Catalão. Iranduba
Comunidade Paraná do Xiborena. Iranduba
Comunidade São Thomé. Iranduba
Fonte: Sousa (2016) conforme informações das Secretarias Municipais de Turismo do estado do Amazonas (2015).
14 Informação obtida da Dissertação de mestrado em Ciências Florestais e Ambientais de SOUSA, Roberta Maria de Moura. Ecoturismo e Desenvolvimento Comunitário em Silves (AM): A Experiência da Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural (ASPAC. UFAM, 2011. Essas comunidades são geridas pela Pousada Aldeia dos Lagos.
15 Disponível em: <COSTA NOVO, C. B. M. Turismo de Base Comunitária a Região Metropolitana de Manaus (AM): caracterização e análise crítica. Dissertação de mestrado em Ciências (Geografia Humana). SP, 2011.
Comunidade Nossa Sra. do Perpétuo Socorro do Acajatuba.
Iranduba
Comunidade São Sebastião do Saracá. Iranduba
Comunidade Santa Helena do Inglês. Iranduba
Comunidade Santo Antônio do Lago do Tiririca. Iranduba
Comunidade Indígena Sahu-Apé. Iranduba
Comunidade Janauari. Iranduba
Comunidade Paricatuba. Iranduba
Comunidade Lago das Pedras - Reserva Extrativista do Rio Unini.
Barcelos Comunidade Terra Nova - Reserva Extrativista do Rio Unini.
Barcelos Comunidade Patauá - Reserva Extrativista do Rio Unini.
Barcelos Comunidade Vila Nunes - Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Amanã. Barcelos
Comunidade Braga - Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Piranha. Manacapuru
Comunidade Betel - Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piranha.
Manacapuru Comunidade Boa União - Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Piranha. Manacapuru
Comunidade Nossa Senhora do Bom Parto14. Silves
Comunidade São João. Silves
Comunidade Santa Luzia do Sanabani. Silves
Comunidade São João do Miriti15. Rio Preto da Eva
Comunidade São José. Rio Preto da Eva
Comunidade Ramal do Banco. Rio Preto da Eva
Comunidade Beija-Flor Rio Preto da Eva
Comunidade Airão Velho Novo Airão
Comunidade Sobrado Novo Airão
Comunidade Madadá Novo Airão
Comunidade Seringalzinho Novo Airão
Comunidade Indígena Pacatuba Novo Airão
Comunidade Vila de Balbina
Presidente Figueiredo
Comunidade Boa União
Presidente Figueiredo
Comunidade Ramal da Morena
Presidente Figueiredo
Comunidade do Assentamento Canoas e Rio Pardo
Presidente Figueiredo
Comunidade Cristo Rei Careiro da Várzea
Comunidade São José Careiro da Várzea
Comunidade Boca do Mamirauá - Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá Tefé
Comunidade São João - Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Vale ressaltar que dessas iniciativas citadas anteriormente, dez recebem apoio da Amazonastur, a saber: comunidade São José (Careiro da Várzea), comunidades apoiadas pela pousada Aldeia dos Lagos no município de Silves (Nossa Senhora do Bom Parto, São João e Santa Luzia do Sanabani), Comunidade Indígena Sahu-Apé (Iranduba), comunidade Lago do Catalão (Iranduba) Comunidade Paraná do Xiborena (Iranduba), Comunidade Paricatuba (Iranduba), Comunidade Vila da Felicidade (Manaus) e Comunidade Indígena Beija-Flor (Rio Preto da Eva).
Percebe-se que apesar da existência da prática de TBC ocorrer no Brasil desde a década de 1990, essa atividade só ganhou visibilidade por parte do poder público federal no ano de 2008, por meio do Edital Nº001/2008 do Ministério do Turismo, o qual foi contemplado 50 projetos em 19 estados brasileiros sendo eles: o Rio de Janeiro, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Mato Grosso, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo, Pará e Amazonas.
Nesta tese optamos por apresentar somete às experiências de TBC na Amazônia, mas, precisamente nos estados do Amazonas e Pará, conforme o (Quadro 2).
Quadro 2- Projetos de TBC aprovados pelo Ministério do Turismo em 2008 nos estados do
Amazonas e Pará. Fonte: Sousa (2016).
16 Comunidades localizadas o rio Cuieiras (AM).
17 Comunidade inserida na RDS do Tupé (AM), parte pertencente ao município de novo Airão e parte em Manaus.
18 Organização formada por filhos de agricultores, pescadores e educadores residentes locais (SOUSA; PEREIRA, et al., 2014).
Projetos Estados Parceiro
Turismo de base comunitária o baixo rio Negro, desenvolvido a comunidade São Sebastião e a comunidade indígena Nova Esperança16.
Amazonas
Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)
TBC na comunidade Julião17. Amazonas
Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) TBC na RESEX do rio Unini Amazonas
Fundação Vitória Amazônica (FVA) Projeto VEM: Viagem Encontrando Marajó. Pará Associação das
Mulheres do Pesqueiro Cooperativa de Ecoturismo Comunitário de Curuçá. Pará Instituto Peabiru e
Instituto Tapiaim (IT)18 Ecoturismo de base comunitária no Polo Tapajós. Pará Projeto Saúde e Alegria
Essas iniciativas comunitárias demonstram a resistência das comunidades em serem tratadas pelos agentes externos, encontrando no TBC uma forma de gerir o seu próprio negócio sem depender de atores hegemônicos que atuam no setor turístico.
Para Bartholo et al. (2009, p. 15), embora esse seja os primeiros passos do governo federal em apoiar uma nova modalidade de turismo, não podemos definir como uma política pública, onde as populações tradicionais, os trabalhadores rurais, os pescadores, os representantes das culturas indígenas são os principais protagonistas.
Contudo, nota-se o interesse de estudiosos em se aprofundar sobre a temática, afim de, fortalecer o debate, construir vínculos e estabelecer relações.
Nesta perspectiva, será apresentado um marco conceitual do TBC a partir das pesquisas de estudiosos tais como: Sousa (2011) o qual se dedicou aos estudos do Ecoturismo de base comunitária no município de Silves (AM), dentro de uma perspectiva interdisciplinar, em busca de analisar a experiência da gestão do ecoturismo, tomando como referência a ASPAC e a Pousada Aldeia dos Lagos em Silves (AM).
Já no Estado do Pará, tomamos como referência os projetos “Vem: Viagem encontrando Marajó” deu-se destaque os trabalhos desenvolvidos pela professora Dra. Maria Goretti Tavares, o qual a pesquisadora fez uma caracterização do TBC no Pará e como ele se relaciona com o espaço. Convém ressaltar ainda os trabalhos de Angelim (2013) desenvolveu pesquisa sobre o “Projeto VEM: Viagem Encontrando Marajó” busca analisar o TBC como fator de desenvolvimento sócio-espacial sob o olhar da geografia e Barreto (2015) que estuda o “Ecoturismo de Base Comunitária no Polo Tapajós” procurando identificar e analisar o papel do Estado e dos agentes ligados a essa atividade e suas respectivas funções, apontando o TBC como possível vetor desenvolvimento sócio-espacial. Assim como, também as experiências do Projeto Saúde e Alegria (PSA)19, uma instituição sem fins lucrativos, que atua na Amazônia desde 1987, mais precisamente nos municípios do Oeste do Pará, como, Santarém, Belterra, Juruti e Aveiro com projetos cujo objetivo é contribuir com o bem-estar das comunidades tradicionais na busca de políticas públicas que contemple uma melhor qualidade de vida, gestão participativa nas atividades, em prol da autogestão comunitária e da sustentabilidade.
No ano de 2002 em parceria com o projeto Bagagem20 passou a planejar o roteiro denominado “Amazônia Ribeirinha” nas comunidades. O PSA adotou como modelo de
19
Informações obtidas do site. Disponível em<: http://www.saudeealegria.org.br/>.
20 É uma ONG Cujo objetivo principal é a criação de uma Rede de Economia Solidária de Turismo Comunitário o Brasil. Informações obtidas do site. Disponível em<:: http://www.projetobagaem.org>.
desenvolvimento comunitário tais como: Desenvolvimento Territorial, Integração Institucional, Saúde, Educação, Cultura e Comunicação. A partir dessa parceria, surgiram outras, que passaram a organizar expedições anuais com pequenos grupos de turistas com aproximadamente (entre 10 a 15 pessoas).
A ONG PSA atualmente atua em quatro comunidades ribeirinhas do município de Santarém, dentre elas: Anã, Atodi, Arimun e Vila Amazonas21. A seleção das comunidades para participação no projeto foi feita pela ONG PSA de forma democrática com as comunidades. Contudo, era uma escolha que dependia principalmente do próprio interesse das comunidades em participar do mesmo, e este foi um dos pontos avaliados pela ONG no momento em que esta levava a proposta às comunidades.
As experiências nos dois Estados apresentam aspectos comuns, tais como, o TBC se configura no território como uma complementação de renda para as comunidades envolvidas; há uma forte relação de pertencimento com o lugar; os roteiros são elaborados de acordo com o que a comunidade considera como atrativo, principalmente voltados para a contemplação da natureza e visitação à casa dos comunitários e venda de artesanato; há um protagonismo comunitário e ao mesmo tempo empreendedorismo ribeirinho, e por fim, as comunidades são assessoradas por ONG, principalmente na comercialização dos pacotes turísticos.
O TBC é uma atividade rentável que gera benefícios para as comunidades envolvidas, e que, portanto, não pode ser encarada como assistencialismo. Exige uma série de cuidados, para não impactar de forma negativa a região.
A atividade permite uma nova forma de desenvolvimento econômico, social e ambiental, pautados nos princípios da sustentabilidade. Promove também, singularidades culturais, laços de proximidade, o fortalecimento da identidade e o encontro com o “outro” onde o receptor dessa atividade é o principal protagonista.
3 ESTADO E O TERCEIRO SETOR NA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO PARA O