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Explorando o objeto e a origem do desejo da pesquisa

Foto 7 Sala de Inclusão

2 PERSPECTIVA AVALIATIVA E METODOLÓGICA EM FOCO

2.2 Percurso metodológico da pesquisa avaliativa

2.2.1 Explorando o objeto e a origem do desejo da pesquisa

Para inicio de conversa, vale apena destacar alguns fatos da minha história de vida que envolvem a escolha da temática em avaliação e circunscreve o meu lugar na avaliação pretendida.

O tema Politicas Públicas de Inclusão digital é complexa e despertou-me interesse por volta de 1997, quando o estado do Ceará incorporou às políticas federais de inclusão das Tecnologias de Informação e Comunicação, implantando o Programa Nacional de Informática na Educação – PROINFO.

O PROINFO, criado pela portaria do Ministério da Educação – MEC nº 522 em 09 de abril de 1997, um programa voltado para informática educativa, ganha destaque dentre as iniciativas governamentais por ter abrangência nacional, estabelecer como meta a distribuição de 100 mil computadores para as escolas públicas, dar ênfase na formação dos professores para o uso das tecnologias de informação e comunicação como ponto forte na consolidação da política de informática na educação, relacionar a utilização das TIC com a melhoria da qualidade dos processos de ensino e aprendizagem e por defender a democratização da utilização dos recursos computacionais como possibilidade de melhoria da qualidade de vida. De acordo com o projeto oficial do PROINFO:

Uma nova sociedade jamais será desenvolvida se os códigos instrumentais e as operações em redes se mantiverem nas mãos de uns poucos iniciados. É, portanto, vital para a sociedade brasileira que a maioria dos indivíduos saiba operar com as novas tecnologias da informação e valer-se destas para resolver problemas, tomar iniciativas e se comunicar. Uma boa forma de se conseguir isto é usar o computador como prótese da inteligência e ferramenta de investigação, comunicação, construção, representação, verificação, análise, divulgação e produção de conhecimento. E o locus ideal para deflagrar um processo dessa natureza é o sistema educacional (Brasil, 1997).

Em 1999, o PROINFO trazia no seu programa de formação, o curso de especialização de Informática na Educação, para professores da rede pública de ensino, por meio das parcerias com a Universidade Federais do Ceará e Universidade Estadual do Ceará. Nesse período foi realizada uma seleção de cinco professores para compor a equipe do Núcleo de Tecnologia Educacional – NTE, para fazer o curso de especialização.

No decorrer desse tempo de curso, o interesse pelo tema começou a ganhar atenção logo no inicio do semestre, com as atividades voltadas para o eixo tecnologia e

sociedade. Com o interesse, veio à necessidade de ampliação de leituras sobre a inclusão digital de indivíduos nesse novo contexto que se revelava.

Essa primeira interação com o campo e com o tema inclusão digital fez com que brotassem os primeiros questionamentos: O que é de fato inclusão digital? Quais são seus reais objetivos? Como garantir que essa seja efetiva? Daquele momento em diante, não foi mais possível desvincular da temática inclusão digital.

No Ceará, o PROINFO se efetivou por meio dos Núcleos de Tecnologia Educacional – NTE, seu processo de implantação propiciou além da incorporação, a criação de uma política própria, a elaboração do documento Tempo de Aprender.

A proposta do documento Tempo de Aprender, foi elaborada trazendo consigo o componente Multimeios, que propunha a integração das diversas tecnologias educacionais disponíveis para a democratização do acesso dos alunos da rede pública de ensino aos instrumentos mínimos que permitissem uma aprendizagem significativa com o uso das ferramentas tecnológicas. Esse projeto foi desdobrado em dois programas: Informática Educativa e Arte, Cultura e Ciências na Escola.

Atuando desde 1998, no estado do Ceará, no Núcleo de Tecnologia Educacional - NTE da Secretaria de Educação, pude, - eu, a pesquisadora - acompanhar por doze anos dessa política inclusiva. Tive a oportunidade de atuar como tutora em cursos a distancia, fazer parte da equipe de implantação dos Núcleos de Tecnologias Educacionais – NTE, Coordenar equipes de tutores de vários programas e projetos voltados para temática em referencia. Atuar, ainda, como técnica pedagógica, fazendo o acompanhamento das ações de formação com as TICs desenvolvidas pelos NTE, elaborar e implantar diretrizes e políticas de inclusão digital para educação em todo Estado do Ceará.

Foram diversas ações e estratégias de promoção à Inclusão Digital no contexto educacional postas em prática na esfera federal, estadual chegando à esfera municipal nesse período. Contudo, as ações que foram implantadas, à maioria delas faltava um planejamento amplo, inexistia uma proposta de acompanhamento e/ou avaliação que desse conta de averiguar os resultados dessas políticas. Muitos dos documentos oficiais, dados sobre a implementação de projetos, relatórios, conteúdo produzido por alunos/professores/gestores perderam-se nos servidores da própria instituição, nos NTE e nas escolas, ficando impossível realizar um acompanhamento e avaliação dos seus impactos, comprometendo assim o cumprimento de metas dos respectivos programas e projetos.

Com o passar do tempo e a falta de conhecimento dos impactos dessas políticas implantadas e em andamento, propiciaram questionamentos e inquietações acerca da

necessidade de um aprofundamento sobre a temática Avaliação de Politicas Publicas, em especial as de Inclusão Digital voltadas para o uso de tecnologias educacionais.

Com o ingresso no Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas, comecei a tecer estratégias de como poderia avaliar as politicas de inclusão digital no contexto educacional, de forma a verificar em que medida essas políticas estariam impactando na aprendizagem e na inclusão social dos alunos da escola pública estadual do Ceará, e como estariam promovendo uma efetiva inclusão, não de maneira pontual, feita de forma isolada, mais dentro de uma perspectiva para todos, ou seja, uma politica pública universalizante.

A ideia de avaliar o Projeto de Inclusão Digital surgiu da conversa informal com o Professor orientador Alcides Gussi, no qual fui instigada a considerar este objeto de pesquisa avaliativo. Sair da área da educação formal e ir para outro contexto educacional no âmbito da educação não formal. Na ocasião, o professor relatou sobre o Projeto Inclusão Digital, um projeto financiado pelo o Banco do Nordeste do Brasil – BNB, implementado pelo o Instituto Nordeste Cidadania – INEC, desenvolvido nos Espaços Nordeste que tem como objetivo

“Capacitar jovens e adultos para serem multiplicadores dos conhecimentos acerca do uso da

informática, repassando para as demais pessoas da comunidade. Democratizar o acesso a novos conhecimentos e ao uso da informática. Melhorar a qualidade de ensino e criar

alternativas didáticas, por meio do uso do computador como instrumento pedagógico.”

(INEC, 2012).

De início veio à insegurança. Fiquei angustiada, pois estava saindo do universo da escola, no qual tinha todo domínio e controle para adentrar em algo completamente novo, uma instituição bancária. Ao passar o susto, pensei no aspecto de um maior distanciamento no processo de avaliação. Viver essa experiência do distanciamento seria algo novo e único, no qual gostaria de vivenciar como pesquisadora em avaliação. Então, a partir daí, o interesse foi imediato, tomei como um desafio. Sem conhecimento das estruturas organizacionais do projeto, da trajetória de sua concepção, elaboração, implantação, mentores e executores, iniciei a busca por informações sobre o Projeto.

Em visita ao INEC busquei contato inicialmente com a senhora Karine Oliveira, então coordenadora da dimensão social dos Espaços Nordeste. Esta, por sua vez, encontrava- se bastante ocupada e indicou para realização da entrevista o Assessor Técnico o senhor Pedro Henrique de Melo Costa, responsável pelos Projetos de Inclusão Digital e Espaço Leitura dos Espaços Nordeste. O mesmo se mostrou disponível e solícito para realização da entrevista, demonstrou bastante tranquilidade, segurança possibilitando um momento agradável e descontraído.

As informações colhidas por meio da entrevista foram fundamentais para a captura de dados e sistematização necessária para pesquisa de campo. Apesar de não dispor de dados sobre os resultados do projeto, identifiquei na fala do senhor Pedro um discurso institucional, em muitos momentos de caráter pessoal e até mesmo ingênuo, quando avalia o programa dentro de uma perspectiva positiva, porém, sem material suficiente para aferir o verdadeiro impacto do programa na comunidade onde está inserido. Vejamos o que fala sobre o assunto:

“Na verdade nossa maior dificuldade atualmente é essa, nós não temos avaliação para poder valorar esses impactos sociais no EN. O que temos hoje, são depoimentos de jovens da zona rural lá de Quixadá, falando dos benefícios do programa, mais não temos dados concretos, estamos nos organizando tem termo de dados, porque é assim... o EN é o ideal para realizar um pesquisa, o que tempo são dados oriundo dos relatório que recebo, lá vejo em números, a quantidade de acessos, quantidade de pessoas que utilizam os EN e a frequências.

Na verdade nunca fizemos uma avaliação de impacto. Ontem mesmo, nos reunimos para fazer uma imersão e avaliamos todos os projetos, mais não foi realizado um avaliação ampla das ações e projetos que são desenvolvidos nos EN.” (Pedro Costa, responsável pelo Projeto Inclusão Digital, INEC, 2012)

Durante a entrevista, identifiquei que não havia nenhuma ação institucionalmente de cunho avaliativo que desse conta de averiguar em que medida o projeto estava sendo efetivo. O ato de avaliar é realizado em alguns Espaços Nordeste de maneira isolada e fragmentada. Os Espaços na sua maioria são acompanhados e avaliados por meio de relatórios mensais, onde são registrados os índices diários de frequentadores. Esta contabilidade é usada como referencia para mensurar os resultados dos projetos, ou seja, quanto mais procurado, mais eficaz está sendo em sua comunidade e promovendo a inclusão digital.

Esse momento da pesquisa foi especial para se ter acesso às referências e aspectos do objeto em estudo, para assim, partir para os passos seguintes: a sondagem sobre a viabilidade do tema, definição do objetivo e do percurso metodológico da pesquisa avaliativa.