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Eia, pois, apliquemo-nos e examinemos cada um na medida em que pode ser inteligido e apreendido. Pois, assim como parece ter sido dito de maneira excelente, é próprio do homem instruído tentar obter certeza a respeito de cada um do modo como ele é. Ora, há três partes da especulativa: a natural, no movimento, o inabstrato, s. Considera, de fato, as formas dos corpos com a matéria, que não podem ser separadas em ato dos corpos, os quais corpos são no movimento, como a terra é levada para baixo, o fogo para cima e a forma da matéria conjunta tem movimento. A matemática, sem movimento, o inabstrato. De fato, esta considera as formas dos corpos sem a matéria e por isto sem movimento, as quais formas, como são na matéria, não podem ser separadas destes. A teologia, sem movimento, o abs- trato e separável. Pois, a substância de Deus é isenta de matéria e de movi- mento. Portanto, será preciso tratar raciocinativamente no que é natural, disciplinativamente no que é matemático e intelectivamente no que é divino, sem estender-se a imaginações, mas antes inspecionar a própria forma.

Boécio apresentou acima [no capítulo primeiro] o ensina- mento da fé católica a respeito da unidade da Trindade e ex-

pôs a razão do ensinamento. Pretende agora proceder à in- vestigação do que foi dito. E como, de acordo com o ensina- mento do Filósofo no livro II da Metafísica, antes da ciência é preciso investigar o modo de proceder da ciência, esta parte é dividida em duas. Na primeira, Boécio mostra o modo pró- prio desta investigação, que é acerca das coisas divinas. Na segunda parte, porém, procede, de acordo com o modo indi- cado, à investigação do apresentado onde diz a qual é verdadei-

ramente forma etc. A primeira parte é dividida em duas. Na primeira, estabelece a necessidade de mostrar o modo de investigação. Na segunda, mostra o modo adequado à pre- sente investigação, onde diz Ora, há três etc.

Diz, portanto, pois, pelo que consta que este é o ensina- mento da fé católica acerca da unidade da Trindade e que a não diferença é a razão da unidade. Eia, advérbio de exortação,

apliquemo-nos, isto é, inquiramos a fundo, considerando os próprios princípios recônditos das coisas e perscrutando a verdade como que velada e escondida; e isto do modo ade- quado; daí, acrescentar examinemos cada um dos a serem ditos,

na medida em que pode ser inteligido e apreendido, isto é, pelo modo pelo qual possa ser inteligido e apreendido. E diz os dois, pois o modo, pelo qual algo é examinado, deve ser adequado tanto às coisas como a nós; de fato, se não fosse adequado às coisas, as coisas não poderiam ser inteligidas; se, porém, não fosse adequado a nós, nós não poderíamos apreender. Pois as coisas divinas, por sua natureza, exigem que não sejam co- nhecidas senão pelo intelecto; donde, se alguém quisesse seguir a imaginação na consideração delas, não poderia inte- ligir; pois as próprias coisas não são inteligíveis deste modo; se, porém, alguém quisesse ver as coisas divinas por si mesmas e compreendê-las com a certeza assim como são compreen-

didos os sensíveis e as demonstrações matemáticas, não po- deria apreender deste modo por causa da fraqueza de seu intelecto, embora as próprias coisas sejam, no que lhes res- peita, inteligíveis deste modo. E prova que o modo adequado deve ser observado em qualquer investigação introduzindo a autoridade do Filósofo no princípio da Ética e isto é o que acrescenta, Pois, assim como parece ter sido dito de maneira excelente, isto é, por Aristóteles, no princípio da Ética, é próprio do homem

instruído tentar obter certeza a respeito de cada um do modo como ele é, isto é, pelo modo adequado à própria coisa. Pois, não é pos- sível que seja guardada igual certeza e evidência de demons- tração acerca de todas as coisas. As palavras do Filósofo no livro I da Ética são estas: “De fato, é próprio do que é ins- truído buscar tanta certeza de acordo com cada gênero, na medida em que a natureza da coisa comporta”.

Depois, quando diz Ora, há três etc. investiga o modo de proceder adequado a esta investigação pela distinção em re- lação aos modos de proceder que são observados nas outras ciências. E, por o modo de proceder dever ser adequado à coisa acerca da qual trata a pesquisa, esta parte é dividida em duas. De fato, na primeira distingue as ciências de acordo com as coisas acerca das quais determinam. Na segunda, mostra os modos de proceder adequados a cada uma delas, onde diz Portanto, no que é natural etc.

A respeito do primeiro, faz uma tríplice consideração. Primeiro, mostra acerca de que a filosofia natural considera. Em segundo lugar, acerca do que a matemática, onde diz O

que é matemático etc. Em terceiro lugar, acerca do que a ciência divina considera, onde diz A teologia, sem movimento etc. Diz portanto: bem se disse, que, assim como cada um é, assim deve ser obtida certeza a seu respeito.

Ora, há três partes da especulativa, isto é, da filosofia – diz isto para diferenciar da ética, que é ativa ou prática – e em todas requer-se um modo de proceder conveniente à matéria. Ora, há as três partes citadas: a física ou natural, a matemática, a divina ou teologia. Visto, digo eu, haver três partes, a natural, que é uma delas, é no movimento, inabstrata, isto é, sua consi- deração trata acerca das coisas móveis não abstraídas da maté- ria, o que prova através de exemplos, como é patente no texto. Mas, o que diz e a forma conjunta da matéria tem movimento deve ser entendido da seguinte maneira: o próprio composto de matéria e forma, enquanto tal, tem o movimento que lhe é de- vido, ou a própria forma existente na matéria é princípio de movimento; e assim, a consideração das coisas na medida em que são materiais e na medida em que são móveis é a mesma.

Em seguida expõe acerca do que trata a matemática: A ma-

temática é sem movimento, isto é, sem consideração do movimen- to e dos móveis, no que difere da natural, inabstrata, isto é, considera as formas que, de acordo com seu ser, não são abs- traídas da matéria, no que coincide com a natural; e expõe como isto se dá. De fato, esta, isto é, a matemática, considera as formas

sem a matéria e por isto sem movimento, pois onde quer que há mo- vimento, há matéria, como se prova no livro IX da Metafísica, pelo modo pelo qual há aí movimento e, assim, a própria con- sideração do matemático é sem matéria e movimento. As quais

formas, isto é, acerca das quais o matemático considera, como

são na matéria, não podem ser separadas destes de acordo com o ser. Depois, mostra acerca do que trata a terceira, isto é, a di- vina: A teologia, isto é, a terceira parte da especulativa, que é denominada divina ou metafísica ou filosofia primeira, é sem

movimento, no que coincide com a matemática e difere da natu- ral, abstrata, isto é, da matéria e inseparável, por ambos os quais difere da matemática. De fato, as coisas divinas são abstraídas

da matéria e do movimento, de acordo com o ser, mas as ma- temáticas inabstratas são porém separáveis pela consideração; mas, as coisas divinas, inseparáveis, pois, nada é separável, a não ser que esteja conjunto. Donde, as coisas divinas não serem separáveis da matéria de acordo com a consideração, mas abstratas de acordo com o ser; no entanto, as coisas matemáticas ao contrário. E prova isto pela substância de Deus, acerca da qual a ciência divina considera primordial- mente, donde ser denominada a partir daí.

Depois, quando diz Portanto, no que é natural etc., mostra qual é o modo de proceder adequado às partes mencionadas. Acerca disto, faz uma dupla consideração: primeiro, conclui quais são os modos de proceder adequados a cada uma das partes citadas e a exposição desta parte é deixada para a dis- cussão; em segundo lugar, expõe o último modo de proce- der que é próprio à presente investigação. E isto de duplo modo: primeiro, removendo o que é um impedimento, di- zendo que não convém entregar-se a imaginações no que é divino, de tal modo que, julgando a respeito disto, sigamos o juízo da imaginação; em segundo lugar, mostrando o que é próprio onde diz mas, antes inspecionar a própria forma sem movimento e matéria, cujas condições expõe em seguida adentrando a in- vestigação proposta.

Há aqui uma dupla questão: a primeira, a respeito da divisão da especulativa que sustenta no texto; a segunda, a respeito dos modos de proceder que atribui às partes da especulativa.

Questão 5

A respeito do primeiro, há quatro perguntas: primeiro, se é adequada a divisão pela qual a especulativa é dividida nas três partes seguintes: natural, matemática e divina; segundo, se a filosofia natural trata do que é no movimento e na ma- téria; terceiro, se a consideração matemática trata, sem mo- vimento e matéria, do que é na matéria; quarto, se a ciência divina trata do que é sem matéria e movimento.