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Antes de se pensar nos lucros, na comodidade e nas diversas vantagens que o comércio eletrônico oferece, há que se “compreender bem as alterações advindas dessa nova forma de comercializar”, pois a contratação a distância exige informação e cautela, especialmente por parte do contratante (MIRAGEM, 2016). Além disso, é preciso que o consumidor conheça seus direitos, pois mesmo sendo um contrato virtual, poderá ser submetido à legislação.

Lopes (2008, p. 05), afirma que os contratos celebrados pela internet têm a mesma validade jurídica dos contratos presenciais, e serão submetidos “à legislação compatível em vigor, inclusive ao Código de Defesa do Consumidor, quando presentes os respectivos pressupostos autorizadores de incidência”.

Observa-se, portanto, que os contratos realizados entre fornecedor e consumidor no comércio eletrônico, embora não tenham o contato pessoal no momento da declaração de vontade (princípio da autonomia), assim como quaisquer outros contratos, devem atender às exigências impostas pelo disposto no art. 104 do Código Civil (CANUT, 2007).

Os contratos eletrônicos são firmados com base nos mesmos princípios dos contratos presenciais e a validação do contrato mediante o simples acordo entre as partes, qualquer alteração neste contrato demanda concordância de ambas as partes, sob pena de aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor, como ensina (LOPES, 2008).

Sendo assim, a formação do contrato depende de negociações preliminares, que se constituem a base do acordo de vontades entre os celebrantes e onde será feita a oferta e o contratante dos serviços manifestará o aceite. Estas manifestações são elementos indispensáveis e responsáveis pela formação do vínculo contratual entre as partes.

A declaração de vontade manifestada pelo proponente no momento da oferta visando à formação de contrato e aceita pelo oblato, que deverá se manifestar aceitando a oferta, gera um caráter obrigacional, um vínculo entre o ofertante e o oblato em todos os seus termos (MIRAGEM, 2016).

Nos contratos realizados pela Internet, tem-se um contrato como outro qualquer, mesmo que estas manifestações se deem entre ausentes. No entanto, sendo a proposta expedida por meios eletrônicos (e-mail, websites, etc.), firmado o acordo, ele é válido e passível de ações jurídicas.

Conforme destaca Marques (2004), o contrato é o mesmo, mas a vulnerabilidade do veículo eletrônico gera essa sensação de insegurança, o que se justifica em muitos casos em que não ocorre o cumprimento da prestação imaterial e exige a aplicação da legislação.

A realização de contrato virtual possui características muito peculiares: a declaração de vontade é unilateral, emitida pelo proponente visando à manifestação da parte destinatária, que pode ser o público ou particular; possui força vinculante com relação a quem a formula, exceto nos casos previstos nos arts. 427 e 428 do CC (LOPES, 2008).

Verifica-se que, mesmo sendo efetuado pela internet, o contrato não perde a responsabilidade entre as partes, ao contrário, se reveste de seriedade e precisão e contém os mesmos elementos que são necessários para a formulação do acordo proposto de outras formas que não as virtuais. O método utilizado para a realização do acordo é atual, e difere do convencional apenas por que depende somente do aceite do oblato em relação ao preço do produto ou serviço; forma de pagamento, quantidade, qualidade, prazo proposto etc. (MIRAGEM, 2016).

O consumidor deverá atentar-se para os elementos contidos na proposta, verificando se ela contém todos os componentes necessários para a formação do contrato, a proposta incompleta não possibilitará aperfeiçoar a avença, caso essa venha a ser necessária (LOPES, 2008).

Em casos de compras de produtos pela Internet, por exemplo, a falta de definição de preço, prazo de entrega ou cumprimento deste, mesmo que o oblato não tenha percebido isso antes de firmar o contrato, poderá implicar em aplicação da lei sobre a empresa contratada (LOPES, 2008).

Cabe ressaltar aqui que um contrato só poderá ser firmado com a manifestação do aceitante, aderindo a sua vontade à do ofertante, cujo pressuposto é o consentimento convergente das duas partes envolvidas. O oblato poderá ainda manifestar uma contraoferta, dentro do prazo de vigência da oferta, caso seja aceita pelo ofertante, se firmará o contrato. Mas é preciso observar a concordância de ambas as partes, sob pena da aplicabilidade da lei.

Conforme ressalta Poyares (2005), são inúmeras as salvaguardas contidas no CDC brasileiro, no entanto, a dinâmica da evolução tecnológica está à frente da aplicabilidade das leis referentes ao comércio eletrônico.

Conforme observação de Canut (2007 p. 113):

[...] afim de que este fato não afaste o consumidor do comércio eletrônico, estão sendo continuamente desenvolvidas tecnologias com o escopo de viabilizar maior segurança quanto a estas questões relacionadas aos contratos online. Destaca-se, neste âmbito, o empenho cada vez maior na difusão das assinaturas e certificações digitais.

Além dessas tecnologias, a legislação também conta com diversas maneiras de proteger o consumidor, especialmente aqueles que realizam compras das quais, por algum motivo se arrependem, podendo voltar atrás após o prazo de reflexão, conforme estabelece o artigo 49 do CDC.

2.2.1 Aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos contratos eletrônicos

Por certo que a Internet intensificou ainda mais a massificação do consumo posto que traz um gama de opções de produtos e serviços, além da praticidade e comodidade oferecida ao consumidor, que pode adquirir o que deseja sem ter que sair de casa, ou de qualquer outro lugar. (ALBERTIN, 2010)

Constata-se que a maior parte dos contratos, decorrentes do comércio eletrônico, celebrados pela grande rede aberta são de consumo, na medida em que as regras emanadas do Código de Defesa do Consumidor merecem especial destaque, já que se aplicam a tais negócios jurídicos. (ALBERTIN, 2010)

O primeiro ponto relevante é a presença das figuras que formam os polos da relação jurídica consumerista, isto é, o consumidor e o fornecedor. O consumidor é a parte hipossuficiente da relação, posto que não detém nem os conhecimentos técnicos sobre o que está contratando e tampouco a capacidade econômica do fornecedor, que por muitas vezes, determina o conteúdo do contrato, cabendo a parte mais fraca apenas aderir ou não. É o chamado contrato de adesão. (BARBAGALO, 2001)

Ao se deparar com esta realidade, o Estado percebeu a necessidade de implementar, no ordenamento jurídico brasileiro, regras cogentes e de interesse social visando resguardar a vulnerabilidade do consumidor, e consequentemente, estabelecendo o equilíbrio das relações consumeristas. Destarte, verifica-se, primeiramente, no artigo 48 dos Atos de Disposições Constitucionais Transitórias, o ato autorizatório para formulação do estatuto de defesa do consumidor e em seguida a proteção expressa nos artigos 5º, inciso XXII, e 170, inciso V, da Lei Suprema e por fim a Lei 8078 de 1990, o Código de Defesa do Consumidor. (BARBAGALO, 2001)

É mister, o Projeto de Lei nº 4906 de 2001, que trata de comércio eletrônico, dedicou o capítulo II de seu texto legal somente para relações consumeristas e seus efeitos jurídicos no ambiente digital tal como o artigo 13 do projeto de Lei 1.589 de 1999 que expressamente prevê a submissão do comércio eletrônico as regras da lei de defesa e proteção do consumidor. (BRASIL, 2001)

O artigo 2º da lei de defesa do consumidor define o que é consumidor. E Leal (2007, p.89) o identifica nos contratos eletrônicos, preceituando:

[...] é toda pessoa física ou jurídica, ente despersonalizado ou coletividade de pessoas, sem exclusão dos equiparados por lei, que, por meio eletrônico, manifesta sua vontade para utilizar ou adquirir, como destinatário final, produto ou serviço ofertados pela Internet.

A figura do fornecedor está prevista no artigo 3º do mesmo texto legal supracitado, que define “é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. (LEAL, 2007)

O principal comprometimento do fornecedor é o dever de informar, reflexo do princípio da transparência, conforme artigo 6º, inciso III combinado com artigo 4º do CDC, onde as informações devem ser prestadas de forma clara e correta sobre as características do produto ou serviço oferecido ao consumidor, consoante com artigo 31, bem como sobre o conteúdo a ser contratado, previsto no artigo 46 do Codex do Consumidor. (ALBERTIN, 2010)

Para conectar-se ao ambiente digital é necessário realizar mais um contrato de consumo, contudo este pode ser ou não celebrado pela rede mundial de computadores. Será por meio do provedor de acesso ou de informação, o fornecedor, que pela sua prestação de serviços, permitirá o acesso à Internet do usuário, consumidor. (ALBERTIN, 2010)

Identifica-se, também, a responsabilidade do provedor de acesso sempre que causar algum tipo de prejuízos à parte hipossuficiente, seja por uma ação ou omissão ao prestar os serviços de conexão e transmissão de informações.

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