• Nenhum resultado encontrado

Exposição e prevenção de rituais para pensamentos ou impulsos sexuais impróprios

No documento VENCENDO O TRANSTORNO OBSE O-COMPULSIV (páginas 157-159)

Vencidas essas primeiras etapas (psicoeducação e exposição imaginária) e claramente identificadas as obsessões, é interessante reconhecer as evitações e os rituais associados às referidas obsessões e programar exercícios de exposição e prevenção de rituais, semelhantes aos descritos para obsessões de conteúdo agressivo: imaginar intencionalmente as cenas que invadem a mente, durante certo tem- po, fazer um pequeno script de uma história em que o pensamento sexual impróprio é praticado, apro- ximar-se das pessoas ou dos objetos das obsessões, que são evitados, conviver com eles e tocá-los.

Exemplos clínicos

Um paciente considerava-se um monstro, pois tinha pensamentos sexuais impróprios de abusar de sua irmã de dois anos, razão pela qual pensava em suicídio. A elaboração de uma história na qual praticava o abuso e a leitura perante o grupo, por mais chocante que tenha sido, junto com as medidas psicoeducativas, produziram grande alívio. A partir desse momento, ele voltou a brincar com a irmã e a pegá-la no colo, o que não fazia há muito tempo, com receio de “cometer” seus pensamentos. Entendeu que eram apenas manifestações do TOC e que não tinham relação com a possibilidade de cometer o ato.

Uma paciente sentia-se muito envergonhada, a ponto de ficar ruborizada, só pelo fato de relatar seu impulso de fixar os olhos nos genitais masculinos. O exercício prescrito foi o de ir até uma banca de revistas e folhear revistas de nus masculinos, olhando demoradamente os genitais nas fotografias, até sua aflição desaparecer.

Um dos tipos de obsessão que mais aflige os portadores do TOC são as relativas a ser ou não homossexual. São pessoas que jamais sentiram qualquer desejo, atração ou que nunca tiveram ou desejaram ter qualquer envolvimento com indivíduos do mesmo sexo, e se sentem extremamente aflitos com suas dúvidas.

Exemplos clínicos (Continuação)

Um jovem pai tinha a sua mente invadida pelo pensamento de abusar sexualmente (tocar nos genitais) de sua filha, um bebê de 6 meses, o que o deixava horrorizado, a ponto de não mais trocar as fraldas dela ou pegá-la no colo. Estava apavorado, pois comentara tais pensamentos com a esposa, que, imediatamente, pegou a criança e saiu de casa. A compreensão, por parte do casal, do que significavam tais obsessões, de que tê-las nada tinha a ver com cometê-las, os exercícios de exposição, em que ele voltava a segurar o bebê no colo e trocava fraldas, além da orientação de não dar importância a seus pensamentos e parar de vigiá-los foram suficientes para eliminar por completo tais obsessões e para a esposa aceitar voltar para casa e deixar o marido cuidar do bebê.

Dúvidas relacionadas à homossexualidade: exemplo clínico

T.S., 45 anos, engenheiro, procurou tratamento por ter sido assaltado pela dúvida sobre ser ou não homossexual, o que o perturbava intensamente. Era casado, tinha forte atração pela esposa, com a qual mantinha relações sexuais freqüentes, e jamais tivera qualquer interesse, fantasia ou inclinação sexual por outros homens ou mesmo curiosidade em freqüentar lugares de encontros de homossexuais (“Deus me livre!”). Ao contrário, tivera sempre relacionamentos afetivos intensos, e em suas fantasias sexuais sempre estavam envolvidas mu- lheres. Além das dúvidas quanto a uma possível inclinação homossexual, ao avistar objetos como desodoran- tes, canetas e estatuetas, ocorria-lhe a idéia de introduzi-los no ânus, como forma de verificar se sentiria ou não algum prazer, pensamento que considerava verdadeira aberração e que o deixava chocado. Caso viesse a sentir qualquer sensação prazerosa, tomaria essa sensação como prova de sua hipotética homossexualidade.

Tinha, ainda, o impulso de olhar os genitais masculinos, mas, ao mesmo tempo, sentia medo de querer tocá-los, o que tomava como uma prova de sua homossexualidade latente. Mesmo considerando totalmente absurdos seus impulsos, temia vir a praticá-los em momento de grande angústia, ainda que fosse para obter alívio da inquietação. Para se proteger, escondera em gavetas e armários todos os objetos que incitavam tais pensamentos. Ao tomar banho e tocar na região anal, prestava muita atenção às sensações. Temia ter qualquer sensação agradável, o que, no seu entender, seria indicativo de inclinação homossexual, razão pela qual evitava tocar no ânus.

Tais dúvidas constituíam uma verdadeira tortura, pois tomavam conta da sua mente durante muitas horas do dia ou, como preferia dizer, o tempo todo, e eram particularmente intensas no banheiro, devido aos desodo- rantes e aos banhos. Além da angústia, sentia muita tristeza, a ponto de muitas vezes não conseguir trabalhar adequadamente. Com freqüência ocorriam pensamentos de morte ou dúvidas sobre se não seria melhor dar fim à sua vida, como forma de acabar com seu sofrimento. Para ele, descobrir que era um homossexual seria a maior tragédia que poderia lhe ocorrer, um horror. Não poderia viver com tal possibilidade, e, além disso, ele representaria grande decepção para toda a sua família.

O primeiro objetivo do tratamento desse paciente foi psicoeducativo: levá-lo a compreender que suas dúvidas eram manifestações (sintomas) do TOC, e não indicativos de homossexualidade latente. Com essa finalidade, foi feito o questionamento socrático: evidências a favor da hipótese da homos- sexualidade e contrárias a ela (toda sua história pessoal de preferências heterossexuais, ausência de qualquer prática homossexual, de fantasias, de desejo e de excitação diante de figuras masculinas, etc.). Foi repetidamente utilizada a técnica das duas alternativas, ou duas hipóteses (Capítulo 9). O que é mais provável: as dúvidas serem manifestações de homossexualidade latente ou sintomas do TOC?. Com essas intervenções cognitivas, houve diminuição da ansiedade, o que permitiu a progra- mação de exercícios de exposição e prevenção de rituais.

Em seguida, foram programados exercícios de exposição aos objetos que ele escondera e evitava tocar: carregar na pasta um desodorante, no qual acabava tocando inadvertidamente ao longo do dia; passar por lugares freqüentados por homossexuais; recolocar em lugares visíveis os objetos que ocultara; assistir a filmes ou a cenas na TV de conteúdo homossexual, etc. O paciente apresentou resposta satisfatória ao tratamento.

Esses pacientes permanecem durante um longo tempo repetindo para si mesmos argumentos intermináveis para elucidar a dúvida sobre se são ou não homossexuais, sem nunca chegarem a uma conclusão e, menos ainda, a uma certeza. Um paciente chegava a afirmar que gostaria de chegar logo a uma conclusão, mesmo que fosse a de ser um homossexual, idéia que lhe provocava um verdadeiro horror, porque, como comentava: “muito pior é ficar com essa dúvida”. Às vezes, a dúvida é em relação a tornar-se um homossexual no futuro. O melhor que o terapeuta pode fazer nessas circuns- tâncias é levar o paciente a compreender que, em muitas questões envolvendo o futuro, é impossível ter certeza, inclusive na questão da opção sexual. Ele se tranqüilizou quando o terapeuta comentou: “certeza, mesmo, é de que, um dia, iremos morrer. Sobre vir ou não a ser homossexual, nem eu mesmo posso garantir!”

No documento VENCENDO O TRANSTORNO OBSE O-COMPULSIV (páginas 157-159)

Documentos relacionados