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O TOC é uma doença crônica

No documento VENCENDO O TRANSTORNO OBSE O-COMPULSIV (páginas 195-197)

O TOC é uma doença crônica, como foi várias vezes dito ao longo deste livro. Dificilmente os sinto- mas desaparecem de forma espontânea, sem tratamento. Na maioria dos casos, acompanham os indivíduos ao longo de toda a vida, ocupando boa parte do seu tempo. Uma pesquisa que acompa- nhou 144 portadores de TOC ao longo de 40 anos verificou que em apenas 20% deles os sintomas haviam desaparecido por completo sem tratamento.7 Outras pesquisas constataram que a maioria

dos pacientes que não buscavam tratamento (entre 64 e 85%) tendia a ter sintomas crônicos, com pequenas oscilações, e que aproximadamente 10% tendiam a evoluir, com o passar do tempo, para deterioração progressiva, acarretando grave incapacitação. Apenas uma minoria (2 a 26%) apresen- tava a doença sob a forma de episódios, permanecendo sem sintomas durante os intervalos.5,6,8

A questão é: o tratamento modifica ou não o curso da doença que, ao natural, tende a ser crônico? Ou melhor: quando se consegue diminuir os sintomas ou eliminá-los, esse benefício se mantém ao longo do tempo, ou os sintomas acabam voltando?

Pesquisas têm demonstrado que a maioria dos pacientes consegue, com a TCC, uma redução significativa dos sintomas. Existe, inclusive, um pequeno grupo de pacientes que, mesmo apresentan- do sintomas graves e de longa data, responde à TCC de forma rápida, livrando-se completamente dos sintomas do TOC em poucas sessões. Mas são poucos. São pacientes altamente motivados, com uma grande curiosidade sobre o TOC, boa capacidade de introspecção, altamente motivados para fazer os exercícios (em geral fazem até mais do que é sugerido), que têm uma boa consciência de que são portadores de um transtorno, reconhecem os sintomas e rapidamente aderem às tarefas. Infelizmen- te, 20 a 30% dos pacientes que buscam o tratamento não respondem ou não conseguem se beneficiar com a abordagem terapêutica. A ciência não conseguiu, até o presente momento, esclarecer as di- ferenças entre um e outro grupo nem as razões dessa resposta tão diferente ao tratamento. Sabe-se que as recaídas são freqüentes em casos de interrupção dos medicamentos, quando estes são utiliza- dos. Com a terapia cognitivo-comportamental, parece que as recaídas são menores e os benefícios geralmente são mais duradouros, embora ainda não se saiba por quanto tempo. É interessante mencio-

nar, ainda, que as pesquisas têm mostrado que a intensidade dos sintomas pode continuar diminuin- do com o passar do tempo, mesmo depois de encerrado o tratamento. Esse fato foi observado em uma pesquisa realizada no Brasil e também foi relatado por investigadores de outros países.6

Lapsos

Pela natureza crônica do transtorno, por sua etiologia neuropsiquiátrica e pela possibilidade de que fatores genéticos concorram, criando uma predisposição que não pode ser removida, é de se esperar que, com o tempo, aconteçam recaídas. O mais comum, entretanto, é que na fase final do tratamento, quando as melhoras ainda não estão bem consolidadas, lapsos passageiros ocorram. Contudo, eles não significam o retorno dos sintomas e não constituem recaídas.

Mesmo depois de praticamente todos os sintomas terem sido eliminados, é comum que, por distração ou por descuido, ocorram episódios isolados, de curta duração. Nesses casos, é possível que você realize rituais ou evite contato com objetos ou pessoas sem se dar conta, como era habituado a fazer antes do tratamento. Tais episódios são chamados de lapsos e se manifestam sob a forma de falhas, esquecimentos ou pequenos “escorregões”. Em geral, são involuntários e de curta duração – minutos ou horas – e muitas vezes você só os percebe durante ou após sua ocorrência. Em outras ocasiões, os lapsos são conscientes, e você se sente frustrado, interpretando a falha como recaída e, portanto, como fracasso do tratamento e de todo o seu esforço, acreditando que não tenha valido a pena. Isso o deixa deprimido, culpado, sentindo-se incapaz de lutar contra o TOC e pensando seria- mente em desistir de tudo e entregar-se novamente aos rituais, pois nada dá resultado.

Pequenos lapsos são muito comuns, particularmente na fase da mudança. Isso ocorre porque os rituais constituíam hábitos arraigados, e é difícil, de uma hora para outra, desaprender comporta- mentos automatizados, realizados sem que o indivíduo se dê conta. Nesse sentido, os lapsos não têm significado maior e não representam recaídas. É mais preocupante quando você faz um ritual de forma consciente – o que não deixa de ser um comportamento voluntário, sobre o qual poderia ter controle. A forma como esses lapsos podem ser interpretados (recaídas ou fracasso terapêutico) é importante, pois a interpretação negativa pode fazer com que você desista de continuar lutando, transformando o lapso em verdadeira recaída.

Interpretando um lapso como uma recaída: um exemplo

Um paciente, funcionário e dirigente de uma empresa multinacional, sempre teve excelente desempenho pro- fissional, mesmo em épocas em que era atormentado por obsessões de conteúdo violento e agressivo. Diante do retorno das obsessões durante dois dias, relatou a seguinte série de pensamentos catastróficos que o deixa- vam deprimido e desanimado:

“A presença desses sintomas significa que estou tendo uma recaída do TOC!”

“Os sintomas vão interferir no meu desempenho profissional!”

“A empresa vai notar e vai me despedir!”

“Não poderei mais garantir o sustento da minha família!”

Também pode ser considerado lapso o retorno, por curto espaço de tempo (menos de duas semanas), de obsessões não-acompanhadas de rituais, mas de nível de ansiedade suficiente para causar desconforto. Normalmente, isso ocorre em conseqüência dos pensamentos automáticos que são ativados nessas circunstâncias, os quais, por sua vez, podem produzir uma cascata de outros pensamentos negativos ou catastróficos distorcidos e, como conseqüência, a necessidade de executar rituais ou de evitar contatos.

Tais pensamentos atormentam o paciente citado no exemplo, pois, em um primeiro momento, ele os considerava verdadeiros e, portanto, com grande possibilidade de virem a acontecer, desconsi- derando todas as evidências contrárias (sua própria história pessoal), como acontece com os pensa- mentos automáticos em geral. Particularmente a última dúvida ativava um ciclo interminável de ruminações obsessivas, relacionadas à elevada necessidade de ter certeza, o qual ele tinha dificuldade de interromper. O questionamento socrático (exame das evidências) de cada uma das afirmativas cessou o ciclo.

No documento VENCENDO O TRANSTORNO OBSE O-COMPULSIV (páginas 195-197)

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