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A expressão “the making” foi usada pelo historiador E.P Thompson nos estudos relativos à formação

da classe operária na Inglaterra. Com ela, Thompson conseguiu romper com a idéia de cultura enquanto reflexo, remetendo-a às noções de tradição e processo. THOMPSON, E.P. A formação da classe operária. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

trabalhada e passou a ser vista tanto como direito de acesso a bens culturais – materiais ou simbólicos – quanto como produção humana, não só de sujeitos singulares – aqueles reconhecidos como “artistas” – mas de todos. A compreensão deste projeto cultural diferenciado passa necessariamente pela história do Partido dos Trabalhadores pelo qual Luiza Erundina se elegeu naquela ocasião, um partido que surgiu e cresceu em um contexto de amplos conflitos políticos e de acirramento das lutas sociais. Fundado em 10 de fevereiro de 1980, o PT nasceu em meio a um cenário de intensa agitação social pelas greves – primeiro as chamadas paralisações “brancas” quando os trabalhadores entravam nas fábricas mas não operavam as máquinas e, a seguir, nas formas clássicas de enfrentamento direto com assembléias, piquetes, etc. - que começaram com os metalúrgicos do ABC e se estenderam para outras cidades e estados do país, fortemente reprimidas pelo Estado ditatorial, com intervenção em seus sindicatos, prisão de seus dirigentes e seqüestros de militantes por agentes de “segurança”; tratava-se de um partido que se colocava como sendo especificamente operário. A idéia de sua fundação já existia desde 1978 e desembocou no movimento pró PT, intensificado no ano seguinte, quando foi apresentada uma Carta de Princípios contendo aqueles que viriam a ser os pilares da atuação partidária petista em seus primeiros anos de existência. Em fevereiro de 80, uma comissão provisória e milhares de simpatizantes – intelectuais, estudantes, profissionais liberais, setores do clero, artistas e trabalhadores de diversas categorias profissionais - reunidos no Colégio Sion, em São Paulo, aprovaram um

manifesto e, mais tarde, em junho daquele mesmo ano, foram oficializados o programa e o estatuto do partido10. Nestes primeiros documentos oficiais, o caráter de classe, a defesa do socialismo e a luta contra a ditadura eram explicitamente colocados:

“ (...) O PT afirma seu compromisso com a democracia

plena, exercida diretamente pelas massas, pois não há socialismo sem democracia e nem democracia sem socialismo. O Partido dos Trabalhadores entende que a emancipação dos trabalhadores é obra dos próprios trabalhadores, que sabem que a democracia é participação organizada e consciente e que, como classe explorada, jamais deverá esperar da atuação das elites privilegiadas a solução de seus problemas (...)” (Trecho

da Carta de Princípios, 1º de maio de 1979);

10

. Desta comissão provisória faziam parte vários líderes sindicais, tais como Luís Inácio da Silva presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, Olívio Dutra, presidente do sindicato dos bancários de Porto Alegre e Jacó Bittar, presidente do sindicato dos petroleiros de Campinas.

“ (...) Em oposição ao regime atual e ao seu modelo de desenvolvimento, que só beneficia os privilegiados do sistema capitalista, o PT lutará pela extinção de todos os mecanismos ditatoriais que reprimem e ameaçam a maioria da sociedade. O PT lutará por todas as liberdades civis, pelas franquias que garantem, efetivamente, os direitos dos cidadãos e pela democratização da sociedade em todos os níveis (...)” (Trecho

do Manifesto, 10 de fevereiro de 1980)11.

Tratava-se, é claro, do início e, para alcançar o poder de forma institucional, ou seja, através dos mecanismos de eleição, muito deste arrojo inicial foi, paulatinamente, sendo retrabalhado; ainda assim, a história do Partido dos Trabalhadores se constitui num acontecimento singular. Na primeira experiência eleitoral, em 1982, e sob o slogan “Terra, Trabalho e Liberdade”, os resultados ficaram bem abaixo das expectativas dos militantes; no ano seguinte, a fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e os movimentos por eleições diretas para presidência da República trouxeram novos rumos para o partido pois se a unificação do movimento sindical podia contribuir para a expansão dos filiados e simpatizantes, o movimento pelas diretas passava a colocar, num mesmo palanque, os líderes do PT e parte daqueles que eram vistos como seus opositores, iniciando o período de arrefecimento do radicalismo e de busca de apoios. Quando são observados, por exemplo, os documentos resultantes dos encontros nacionais do PT, percebe-se que, nos primeiros, o discurso “tipicamente” socialista - quer seja pelos conceitos utilizados quer seja pela forma - era ainda predominante. A partir do 3º Encontro Nacional em 1984, contudo, e diante dos frustrantes resultados das eleições de 1982, este discurso caminha cada vez mais no sentido de consolidar alianças que possam trazer benefícios, nas urnas, aos candidatos. Assim, por exemplo, expressões tais como “derrubada do poder” vão sendo paulatinamente substituídas por “ter acesso a condições e meios para ajudar as transformações econômicas, sociais

11. Para a reconstrução da história do Partido dos Trabalhadores são utilizadas nesta tese, basicamente, as

seguintes obras bibliográficas: HARNECKER, Martha. O sonho era possível. São Paulo: Casa das Américas, 1994; PEDROSA, Mário. Sobre o PT. São Paulo: CHED, 1980. Páginas da WEB cujos endereços são: www.pt.org.br;www.fpabramo.org.br;

e políticas desejadas” pelos trabalhadores e pela maioria da população12. Do mesmo

modo, constata-se por esses documentos que, oficialmente, o partido vai minimizando o uso da palavra “socialismo”, substituindo-a pelas idéias de democracia e justiça, situação que se explica não só pela necessidade de alianças mas também pela conjuntura internacional de queda dos regimes de esquerda no leste europeu13. Em 1988, finalmente, eram obtidos resultados mais positivos nas eleições com a conquista de 36 prefeituras, inclusive a de São Paulo. Entender o que a eleição de uma prefeita petista para o governo da cidade de São Paulo significou, no final de década de 1980, exige uma visão de contexto. Os anos 80 assistem ao processo de implementação de uma política econômica de caráter neoliberal que altera o perfil do país e agudiza as contradições sociais evidenciadas pela elevação dos índices de concentração de renda, desemprego e violência, entre outros. Os processos de privatização de empresas públicas, iniciados no final daquela década e no começo dos anos 90, apenas reforçam essa direção adotada ao elegerem as estatais como símbolos da crise econômica, uma espécie de “bode expiatório” para a panacéia que vigorava no país. A intensificação de medidas econômicas pertinentes a este projeto político neoliberal, promoveu um processo de fragmentação social à medida que impôs o individualismo como atitude indispensável, inclusive para a permanência dos trabalhadores no mercado formal de trabalho. Em outras palavras, o neoliberalismo criava, por seus princípios de competitividade, livre negociação e “mercado”, uma postura de individualização14. Na implantação do Plano Collor no início de 1990, esta política neoliberal recebeu contornos ainda mais trágicos com a radicalização de uma proposta monetarista de controle da inflação através de medidas recessivas que só fizeram agravar a situação de estagnação econômica já grave na década anterior. O choque monetário promovido pelo confisco tanto impediu que novos investimentos fossem realizados quanto aumentou a

12. PARTIDO DOS TRABALHADORES. Resoluções de Encontros e Congressos. São Paulo: Fundação

Perseu Abramo, 1998, p. 31.

13. Assim, por exemplo, nas resoluções do I Congresso de 1991, lê-se: “(...) para o PT, socialismo é

sinônimo de radicalização da democracia.” In. PARTIDO DOS TRABALHADORES. op. cit., p. 499.

14. GENRO, Tarso. Um debate estratégico. In. MAGALHÃES, Inês, BARRETO, Luiz, TREVAS,

descrença em relação ao Estado que não cumpriu suas históricas prerrogativas de zelar pela poupança privada gerando, ao lado do desemprego e das perdas salariais, um clima de temor e desconfiança constantes. Ambiguamente, porém, desde o movimento pelas eleições diretas e a frustração de amplos setores da população com os seus resultados, os partidos de esquerda deixaram de ser vistos como “perigo” eminente e passaram, cada vez mais, a serem encarados como porta-vozes de vontades políticas populares. Simultaneamente, cresceram as organizações da sociedade civil - não governamentais, centrais de trabalhadores, sociedades de bairro, entre outras - agora, entretanto, dirigidas mais para as ações locais, numa espécie de deslocamento dos espaços institucionais do fazer político da União para as cidades. Este contexto contribui para a compreensão da emergência de prefeituras petistas como resultado dos processos eleitorais de 1988, primeira grande vitória do partido nas urnas. No município de São Paulo, esta vitória foi ainda mais significativa com a eleição de Luiza Erundina que, ainda que pesem os “chavões”, representava uma mudança bastante radical: pela primeira vez, uma mulher, não pertencente à tradição dos quadros políticos da cidade “quatrocentona”, ligada aos setores populares, migrante e eleita por um partido nascido de bases trabalhadoras e sindicais, ganhava a disputa eleitoral e herdava um governo que, na administração anterior, esteve nas mãos de Jânio Quadros...

As administrações municipais petistas entre 1989 e 1992 pautaram-se por quatro princípios básicos: “inversão de prioridades”, “investimentos no social”, “participação popular” e “geração de empregos”, metas estas que explicam essas vitórias eleitorais obtidas pelo Partido dos Trabalhadores mas que, ao mesmo tempo, revelaram-se cada vez mais difíceis de serem alcançadas diante das heranças recebidas, da inexistência de qualquer projeto de desenvolvimento por parte do governo federal, das dificuldades de diálogo e acordo com o governo estadual, da ausência de maioria junto à Câmara de Vereadores e, finalmente, diante das próprias divergências internas entre os militantes do PT que viviam uma nova experiência, a de governar. Assim, ao assumir prefeituras municipais importantes, o partido teve que encarar o desafio de “ser governo”, buscando cumprir tanto as diferentes expectativas de seus quadros quanto da própria sociedade. Talvez não seja incorreto mesmo afirmar que a gestão municipal de Luiza Erundina teve que lutar contra os governos federal e estadual de um lado e, de outro, contra os setores

do PT que exigiam uma maior radicalização das ações políticas15. Em outras palavras,

Luiza Erundina e outros prefeitos do PT então eleitos tiveram que enfrentar o desafio de encaminhar a difícil equação entre o “fazer política” e o “fazer governo”. De qualquer modo, e em meio a tantas instabilidades, a política de “inversão de prioridades”, constituía-se numa resposta à tradição política da cidade de São Paulo em particular, e do país em geral, produzida historicamente e marcada por investimentos em áreas consideradas não prioritárias do ponto de vista dos interesses e direitos das classes populares. Mas estava longe de ser facilmente implantada, seja porque implicava no aumento da arrecadação com uma maior cobrança de impostos por parte daqueles que podem pagar mais, acirrando sua resistência, seja porque a história de São Paulo contribui para uma identificação entre obras “faraônicas” e boa administração, inclusive por parte de setores populares. O investimento em áreas sociais apresenta, neste sentido, uma visibilidade menor pois se constitui em ações nos serviços públicos cotidianos, sem materialidade imediata. Tratava-se, ainda, de “remar contra a maré” neoliberal que, defendendo o Estado “enxuto”, tendia a afastá-lo das áreas sociais prioritárias. Estas discussões aparecem de forma constante nas próprias publicações do PT, tal como se pode constatar no texto a seguir:

“(...) É preciso ter claro que a força política de obras faraônicas não provém apenas de seus laços com o poder econômico; reside, muito mais, em sua eficácia política: grandes obras costumam identificar, para a própria população, boas administrações. O desafio maior, por conseguinte, está na transformação dos valores que norteiam o julgamento de uma administração pública. Inverter prioridades - a partir da economia de recursos em grandes obras e de uma reforma tributária - é contrapor uma imagem consolidada de administração, de caráter conservador, a uma outra, vinculada ao respeito dos direitos sociais e da cidadania (...). Como garantir a visibilidade social, isto é, a eficácia política dos resultados da inversão de prioridades?”16.

15.TREVAS, Vicente. O Partido dos Trabalhadores e suas experiências de governo. In. MAGALHÃES,

Inês. et al. op. cit. pp. 51-58.

16. DANIEL, Celso. Relação mal resolvida. Teoria e Debate. São Paulo: Partido dos Trabalhadores, maio

A própria Luiza Erundina, em entrevista datada de 1990, falou sobre as dificuldades quanto ao atendimento das expectativas da população paulistana, de um lado, e do partido, por outro. Governando uma cidade que então contava com cerca de 12 milhões de habitantes e dívidas públicas que também atingiam as cifras de muitos milhões, parte dos quatro anos de mandato foi usada para tentar administrar este caos financeiro, negociando valores, prazos e condições de pagamento. Além disso, enquanto poder executivo, o PT teve que enfrentar greves de trabalhadores, como por exemplo a dos motoristas e cobradores de ônibus, o que o colocava numa situação inusitada: sendo governo devia zelar pela garantia dos serviços básicos à população e, ao mesmo tempo, lutar contra a tradição de apoio dos movimentos grevistas do interior dos quais, aliás, tinha nascido. Outra dificuldade enfrentada foi a de efetivar os conselhos populares enquanto canais para a participação na gestão pública, pois se eles podem - e devem - ser acolhidos e ouvidos, sua formação não é tarefa exclusiva do Estado e sim da própria população que deve tomar a iniciativa de organizá-los a fim de que não se transformem em órgãos institucionais. Assim, entre as metas da administração pública há pouco citadas e o cotidiano do poder político municipal havia toda uma realidade ambígua e contraditória a se interpor. Sobre a difícil equação entre o “fazer política” e o “ser governo”, Erundina assim se colocou: “(...) Você tem que ter clareza do seu papel de

administrador do interesse público. O interesse público inclui o dos trabalhadores, mas é o interesse da população em geral ... Nós e os companheiros da militância temos que aprender a conviver com as contradições...”17.

Dentre aqueles que participaram do PT desde sua fundação até esse momento de conquista do poder municipal em São Paulo está Marilena Chauí, então empossada como Secretária da Cultura18. Em sua administração, Marilena teve também que lidar

com essas contradições e ambigüidades e o modo como tentou fazê-lo aparece nas exposições organizadas pelo Departamento do Patrimônio Histórico que serão aqui analisadas. A implantação de uma nova política pública de cultura, mais adequada aos

17. Entrevista de Luiza Erundina a Alípio Freire e Ricardo Azevedo. Teoria e Debate. São Paulo: Partido

dos Trabalhadores, agosto de 1990, pp. 10-15 (nº 11).

princípios e valores propagados pelo PT, encontrou barreiras bastante difíceis de serem transpostas. Em primeiro lugar, pelo fato de que as Secretarias de Cultura – em todos os níveis de governo – possuem orçamentos bastante reduzidos e, via de regra, seus projetos são vistos como um “luxo”, uma “perfumaria”; raramente são encarados como prioridades19. Era preciso, ainda, lutar contra uma arraigada tradição que transformou aquela secretaria – e que, como foi apontado, parece ser uma situação comum a outros municípios – em lugar de práticas pouco autônomas, quase sempre ligadas a interesses políticos e econômicos determinados em outras instâncias do poder institucional, numa relação de subjugo. Por isso, ao longo de sua existência, a Secretaria de Cultura do Município de São Paulo ora funcionou como cenário para artistas “ilustres” e “intelectuais” cujo contato com as classes populares era bastante distante, ora como agência de shows grandiosos voltados ao entretenimento da população. Em outras palavras, a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo vinha realizando, historicamente, um programa estabelecido com base em duas tradições: a erudição absoluta que distancia a maioria dos cidadãos do acesso aos bens culturais e a massificação da cultura que os transforma em consumidores de produtos culturais, muitas vezes de qualidade bastante questionável. Esta última alternativa tem sido, infelizmente, a mais constante, refletindo a definição de uma política cultural que retoma a velha tradição romana do “pão e circo” e que entende a cultura como uma distração necessária e “anestésica”. Assim caracterizadas, essas “repartições” públicas, freqüentemente, realizam atividades desvinculadas umas das outras que apenas atendem a interesses imediatistas, aproximando a idéia de cultura ao simples lazer que, embora se constitua igualmente em um direito social, implica num reducionismo evidente.

Neste contexto, a própria noção de cultura é distorcida porque reduzida à idéia de espetáculo, apartada das demais esferas da experiência humana forjando falsas dicotomias e, finalmente, porque considerada como uma necessidade menor diante das demais emergências do cotidiano; a cultura é transformada em “objeto” e não encarada como conjunto de práticas e representações em constante movimento. Além disso, no

19. Prova disto são, por exemplo, os orçamentos municipais, não só de São Paulo, destinados à cultura,

raramente superiores a 2% . FARIA, Hailton. Uma política cultural para a cidade de São Paulo. In. FARIA, Hailton, SOUZA, Valmir de (orgs.). Revista Pólis: São Paulo: Instituto Pólis, 1997, pp. 11-21 (n.º 28).

interior de uma política econômica liberal, ela tende a ser pensada sempre em função do mercado e seu “valor” medido pelos mesmos parâmetros de quaisquer outras mercadorias. Em outras palavras, a cultura é vista exclusivamente como um bem material, desprezando-se seus conteúdos simbólicos, e gerenciada pela mesma lógica de lucro que rege os demais setores do “mercado”. O resultado deste tipo de procedimento faz com que, na maioria dos casos, as secretarias de cultura ou se tornem agências de publicidade e empregos criados pela própria indústria cultural, igualmente gerida pela lógica do lucro, ou unidades especializadas em reproduzir os símbolos com os quais esta ordem se legitima.

Apesar de todas essas dificuldades, a “cultura” recebeu em São Paulo, entre 1989 e 1992, um tratamento bastante diferenciado e, para aquele período, é possível se falar efetivamente em uma “política pública”, ou seja, em um conjunto de idéias, conceitos, propostas e práticas administrativas orientadas por princípios e objetivos comuns e por uma escolha que lhes dá sentido. Este trabalho pretende, exatamente, analisar os pressupostos que sustentavam esta política cultural e o modo como se efetivaram em algumas das ações daquela Secretaria. Particularmente, pretende discutir as ações do Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo a partir de projetos que tiveram na questão da memória e da produção do conhecimento histórico seus eixos centrais. Para isto, está dividido em quatro capítulos. No primeiro deles – A Secretaria de Cultura de São Paulo: de Mário de Andrade a Marilena Chauí – buscou-se reconstruir a história desta instituição bem como os conceitos de cultura e a presença (ou não) de valores de cidadania que orientaram sua atuação desde a fundação, em 1935, até 1992; nos capítulos seguintes, são analisados eventos promovidos pela gestão Marilena Chauí que trabalharam diretamente com a questão da memória. No segundo capítulo, trata-se da construção da memória operária através da exposição “Cem Vezes Primeiro de Maio”; no terceiro, aparecem as questões da memória urbana e do patrimônio arquitetônico, analisadas a partir da exposição “Paulicéias Perdidas”; por fim, no quarto capítulo, as discussões sobre a memória nacional através da exposição “Pátria Amada Esquartejada”. Embora cada um deles pareça encerrar-se em si mesmo por discutir uma exposição específica, sua continuidade é dada não só pelo eixo “memória” mas também por sua temporalidade, por aquilo que indicam tanto para o ensino de história quanto sobre políticas públicas e pelo conceito de cultura que os

atravessa. Em comum, todos esses projetos carregam a problemática do processo de (re)construção constante do passado pelo presente, da memória enquanto campo de luta e conflito social, da reconstituição da história a partir de uma perspectiva crítica que se coloca a serviço do desvendamento das contradições sociais e não mais de sua homogeneização. Todas estas exposições citadas se esforçaram por divulgar a história, pautadas pelo princípio do direito, de todos, de acesso ao conhecimento e ao passado enquanto condição fundamental para a inserção mais atuante na realidade social. São projetos que tratam da produção do passado ligado à questão da identidade social que,