• Nenhum resultado encontrado

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

No documento Penal (páginas 43-47)

Já sabemos que a punibilidade não é elemento do crime. Porém, aqui trataremos das hipóteses de extinção da punibilidade. Elas estão presentes em um rol não taxativo no art. 107 do CP. Por exemplo, neste dispositivo veremos que a primeira hipótese é a morte do sujeito ativo.

A morte da vítima, por outro lado, em apenas um caso extingue a punibilidade (não constante do artigo citado): é a hipótese em que temos uma ação penal privada personalíssima. Logo, se o sujeito morrer, o direito de prosseguir com a queixa crime não passa para ninguém. É por isso que a morte da vítima extingue a punibilidade do criminoso. Recorde-se que a hipótese de ação penal privada personalíssima é raríssima, constante da disposição do art. 236 do CP, que é o crime de erro essencial sobre a pessoa no casamento e de ocultação dolosa de impedimento ao casamento, desde que não seja outro casamento.

Regressando ás hipóteses do art. 107, a primeira delas é a morte do agente. Diante de certidão de óbito falsa, pode o juiz dar seguimento a processo criminal anteriormente extinto (reabrir)? Tal discussão é relevante, pois aprendemos em direito penal que não há revisão criminal pro societate (em benefício da acusação), somente pro reo. O juiz pode sim reabrir o processo, não se configurando revisão criminal pro societate, pois o STF entende que não houve coisa julgada material. Para o STF, o que marca a coisa julgada material é o enfrentamento do mérito (materialidade e autoria).

A segunda hipótese é da abolitio criminis. Essa expressão não é a utilizada pelo CP, pois, é termo em latim. Nada mais é que a hipótese descrita no inciso III, ou seja, quando sobrevém lei que não mais considera o fato como criminoso. Ela faz cessar todos os efeitos penais de uma eventual condenação. Os efeitos extrapenais não cessam. O mais importante dos efeitos extrapenais é tornar certa a obrigação de indenizar a vítima.

Também extinguem a punibilidade a anistia, a graça e o indulto. A anistia é hipótese de extinção da punibilidade promovida por lei (federal). O melhor exemplo foi a lei de anistia de crime políticos. Por meio dela foram anistiados os crimes praticados com motivação política ocorridos desde 1967 até 15/08/1979. A anistia é lei federal que perdoa

fatos ocorridos no passado e por determinada razão. Não se confunde com abolitio criminis, pois o fato continua sendo criminoso, apenas não sendo mais punível. Por essa razão, quem cometesse crime político a partir de 16/08/79 poderia ser punido.

Obs: os crimes hediondos e assemelhados não admitem anistia, graça e indulto.

Sobre o Indulto, em verdade, pode ser coletivo ou individual. A esse indulto individual denominamos ‘Graça’. Logo, graça é um tipo de indulto. O indulto é ato de atribuição exclusiva de Chefe do Poder Executivo. O sujeito que recebe o indulto teve sua punibilidade extinta. Por isso, não se confundem com saída temporária.

Cabe falar em extinção da punibilidade ainda nas hipóteses em que tivermos a renúncia do ofendido ou o seu perdão aceito. A renúncia ocorre antes da ação penal privada. Renunciar é abdicar de ingressar com a ação penal privada. A renúncia pode ser expressa ou tácita. O agressor é obrigado a aceitar que o ofendido não o processe? Não, o ato depende apenas do ofendido. É ato unilateral.

Por sua vez, o perdão ocorre depois de estar em andamento a ação penal privada. É a desistência da ação penal privada. O perdão, diferentemente da denúncia, é ato bilateral. Ou seja, o perdão depende da concordância do réu (querelado). Isso, pois, por já ter sofrido muitos ônus, o réu não queira o perdão, mas sim ir até o final para provar inocência. Lembrando que tanto a renúncia como o perdão se estendem a todos os ofensores, mas, no caso do perdão, surfe efeito em relação apenas àquele que aceitar.

Outra causa de extinção da punibilidade é a hipótese da retratação do agente quando a lei admitir. A retratação, até o advento da sentença, no processo em que houve a mentira, extingue a punibilidade. Na calúnia e na difamação se extingue. O mesmo não ocorre na injúria. O mesmo ocorre no caso de falso testemunho, falsa perícia, etc.

A penúltima hipótese de extinção da punibilidade é o perdão judicial. Ele ocorre quando a lei permite ao juiz deixar de aplica a pena. Por exemplo, no homicídio culposo, admite-se o perdão judicial na hipótese em que o crime traz consequências tão graves ao próprio criminoso que o juiz pode deixar de aplicar a pena. Durante muito tempo discutiu-se qual seria a natureza jurídica da decisão judicial que concede o perdão. O entendimento que prevalece é de que não e nem sentença condenatória nem absolutória, mas sim declaratória da extinção da punibilidade.

Como últimas hipóteses de extinção da punibilidade, temos a prescrição, a decadência e a perempção. As semelhanças entre o prazo prescricional e decadencial para o direito penal são:

- Os dois prazos são de direito material. Significa dizer que na contagem do prazo se inclui o dia do início (ao contrário do prazo processual), contando-se dia a dia e desconsiderando-se frações de dia.

- O prazo não se prorroga (improrrogável). Isso significa que se o prazo vai vencer em dia não útil, ele não se prorroga para o primeiro dia útil subsequente. Ou seja, ocorre a prescrição, por exemplo, no Domingo.

- Na prescrição pode haver suspensão ou interrupção do prazo. Já na decadência o prazo nem se suspende nem se interrompe.

A decadência é prazo para que o ofendido adote alguma providência. Não existe, logo, prazo decadencial na ação penal pública incondicionada, nem na ação penal pública condicionada à requisição do ministro da justiça. Por exemplo, na ação penal pública condicionada à representação o prazo de decadência é de 06 meses, contados do conhecimento da autoria.

Além do prazo decadencial para formular representação, temos prazos decadenciais para que o ofendido ingresse com a queixa-crime, ou seja, com a ação penal privada. Na ação penal privada exclusiva o prazo decadencial é o mesmo da representação (06 meses, contados do conhecimento da autoria). Na ação penal subsidiária da pública o ofendido terá o prazo de 06 meses contados a partir da inércia do MP para ingressar com a queixa-crime. Por fim, na ação penal privada personalíssima temos que o prazo decadencial é de 06 meses contados do trânsito em julgado da ação civil de anulação do casamento.

Perempção, por sua vez, que também só vale para ação penal privada, é a hipótese em que o querelante (ofendido) passa a agir de forma desidiosa com a ação penal, deixando de adotar diligencias obrigatórias. Desta feita, o juiz extingue a punibilidade do agente, e, consequentemente, o processo. As hipóteses de perempção estão no art. 60 do CPP. São elas:

I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos;

II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo;

III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações finais;

IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor. Para encerrar, trataremos da prescrição, inicialmente recordando que ela é a perda do poder de punir (aplicar a pen) ou de executar a pena aplicada. Recorde-se que dois crimes são imprescritíveis: o racismo e a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional ou o estado democrático.

Os prazos prescricionais são computados a partir da pena prevista. Esses prazos estão contidos no art. 109 do CP. São eles:

I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;

II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro

V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;

VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.

Esses prazos são reduzidos pela metade se o criminoso tinha menos de 21 anos na data do fato ou mais de 70 anos na data da sentença. Essa redução é uma condição pessoal (não elementar do crime) e não se comunicará ao comparsa.

Para usuário de drogas a prescrição é de 02 anos, não se utilizando como parâmetro a pena privativa de liberdade, pois, para ele, não cabe prisão.

A prescrição da pena restritiva de direitos é a mesma da privativa de liberdade. No caso da pen de multa, quando aplicada isoladamente, a prescrição será de 02 anos. Quando aplicada cumulativamente com uma pena privativa de liberdade, será a mesma prescrição desta última. Lembrando que, após transitada em julgado, o sujeito tem o prazo de 10 dias para adimplir ao pagamento, sob pena da multa ser convertida em dívida de valor, não se trabalhando mais com prazo de prescrição do direito penal, mas sim da Fazenda Pública, prescrevendo em 05 anos.

Como hipóteses de interrupção da prescrição, fazendo com que o prazo volte a contar a partir do zero, temos:

- O recebimento da denúncia ou queixa;

- A decisão (sentença) de pronúncia (aquela que encaminha o sujeito ao tribunal do júri – só existe em crime doloso contra a vida);

- A decisão confirmatória da pronúncia (o juiz não pronuncia, mas a acusação recorre e o tribunal confirma a pronúncia);

- A publicação da sentença ou acórdão recorríveis; - O início ou continuação do cumprimento da pena; - A reincidência.

Os prazos de prescrição são contados a partir: I - do dia em que o crime se consumou;

II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;

IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido;

V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.

CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

No documento Penal (páginas 43-47)

Documentos relacionados